ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

REFLEXÕES SOBRE A “CRISE”...

Todos opinam sobre se a crise assim ou assado e quase todos, deslumbrados com o brilho dos seus pontos de vista, não conseguem, para além deles, vislumbrar outras razões e outros motivos sem os quais a procura da verdade não poderá deixar de seguir por caminhos enviesados.
Deixam-me estarrecido as certezas absolutas de alguns que nem sequer o contraditório admitem, deixam-me receoso as atitudes dos que fazem das manifestações populistas o seu modo de participar na solução dos problemas que enfrentamos, mas deixam-me curioso e um pouco menos preocupado as dúvidas que os mais sensatos não podem deixar de manifestar, pela esperança que me dão de, ainda a tempo, podermos evitar o pior e aproximar-nos de uma verdade mais razoável do que a daqueles que julgam ter consigo toda a razão. A certeza de que a verdade absoluta não existe apenas nos deixa a abertura mental, a humildade da dúvida e a força da vontade para dela, tanto quanto possível, nos aproximarmos. Por isso devemos procurar em toda a parte, sem a cegueira que a prosápia de certeza sempre causa.
Uma questão, entre muitas, que me parece óbvia de considerar é que passámos a viver num mundo que se globalizou e no qual os raros recantos que ainda se mantêm distantes da sua influência não são, com certeza, aqueles onde mais nos apeteceria viver.
Deste mundo global fazem parte mundos tão diferentes que só razões como as que os interesses económicos podem justificar os podem ver como iguais, tão distintos são os valores por que se regem e, por isso, tão díspares fazem os princípios que aceitam os meios que utilizam.
Nestas circunstâncias, como se estabelecem regras comuns de concorrência saudável e séria? Como se faz respeitar a dignidade humana e se podem impedir as agressões que os mais fracos são, todos o sabemos, obrigados a suportar?
Apenas os princípios das vantagens que cada um deseja maiores para si valem neste gigantesco “xadrez” em que a maioria dos seres humanos não passa de peões que, sem remorsos, se dão à morte para proteger os senhores do jogo! Então, onde está a igualdade que a globalização pressuporia em vez das diferenças maiores que aceleradamente vai cavando?
Também não é corrente, nas análises que são feitas, ver ponderados os problemas que resultam desta economia que exaure, a ritmos cada vez mais velozes, os recursos que a alimentam e destrói, até limites inaceitáveis, o ambiente que suporta a vida que, supostamente, a economia deveria tornar melhor. Apetece perguntar onde está a inteligência de um Ser que se deixa destruir pela própria ambição.
Por tudo isto, na apreciação dos efeitos da austeridade que os que nos “resgatam” nos impõem, dizem uns, como Oli Rehn, “… que Portugal está a fazer firmes progressos para restaurar a sustentabilidade orçamental, garantir uma desalavancagem gradual do setor bancário e avançar nas reformas estruturais para aumentar a competitividade e impulsionar o crescimento e emprego", o Chefe do Governo, Passos Coelho, afasta novas medidas de austeridade, um Prémio Nobel da Economia, Paul Krugman, diz que salários devem ser ainda reduzidos vinte a trinta por cento e o secretário geral do PCP diz que o programa da Troika vai bem mas o país vai de mal a pior…
É isto mesmo: a Economia não passa de ser a “teoria da pele curta”, um mercado em que cada um cuida dos seus interesses e uma bagunça onde ninguém se entende.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

EM BICOS DE PÉS PARA CRITICAR O PRESENTE, MAS CEGOS A OLHAR O FUTURO

Quando todos sabemos que o governo não tem grandes alternativas para as decisões que está a tomar, se é que tem algumas, uns por umas razões e outros por outras, criticam-no de modo mais aberto ou mais velado.
Se os partidos de extrema esquerda criticam por motivos de princípio, porque de ideologia não é com certeza, Seguro critica por dever de ofício porque é assim o é hábito nas democracias anquilosadas e falhas de ideias. Por sua vez, Cavaco Silva esforça-se a tentar recuperar alguma da popularidade perdida com certos percalços como o caso das reformas.
É fácil criticar a dureza porque popular é ser-se magnânimo, mesmo que tal seja uma forma de tentar fazer esquecer o mal que antes se fez.
Não posso duvidar de que é a contragosto e não por paixão que o governo nos impõe austeridade, assim como não duvido que a aliviaria se tal estivesse ao seu alcance.
Mas de uma coisa não tenho dúvidas também: não nos reconduzirá à abastança esta austeridade que, em boa medida, apenas nos levará a um nível de vida compatível com os recursos de que dispomos, uma regra de bom senso de que nos esquecemos por tempo demais. Por isso, equivocam-se os que esperam que o milagre do crescimento nos devolva a "riqueza" perdida.
Se, finalmente, Portugal proceder como deve, poderá alcançar uma qualidade de vida muito agradável, com um nível de vida satisfatório o que, porém, me não parece atingível com algumas das reestruturações em curso porque a riqueza do nosso país, pelas suas características espaciais, está na ocupação humana do território em vez das grandes concentrações próprias de uma economia globalmente decadente.
Mas, seja qual for o caminho que as coisas irão levar depois, a reposição do equilíbrio financeiro é indispensável e, como acontece a quem se excede, apenas se alcança depois de uma dura ressaca!
Não me parece, pois, que deva ser a inevitável austeridade a razão das críticas, mas sim o projeto de futuro que se tenha em mente.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

“ANTENAS ABERTAS”, TELENOVELAS E ALGO MAIS...

Se fizessem destes programas de “antena aberta”, agora tão em voga, oportunidades para esclarecer, eu poderia ver neles melhores razões para existirem, sobretudo em tempos em que ter noções corretas das coisas, saber exatamente o que se passa muito ajudaria a superar as dificuldades. Porém e já que existem do modo como são, dão para ter uma ideia de como as pessoas os utilizam, umas simplesmente para revelarem o que pensam, mas outras para descarregarem a raiva que certas correntes de ideias lhes sugerem ou a que lhes causa a vida difícil a que as circunstâncias as obrigam.
É óbvio que as diversas “antenas” não fazem destas iniciativas um serviço público, uma participação na valorização do país, mas uma oportunidade para disputarem “tempos de antena” e iniciativas que nada têm de inovadoras porque são iguaizinhas em todas elas.
São monótonas e falhas de imaginação estas televisões generalistas que são quase cópias umas das outras tanto no tipo de programas que apresentam como nas horas a que o fazem, no número crescente de telenovelas que nos impingem e, até, na publicidade que descarregam aos magotes durante intermináveis intervalos que, curiosamente, são coincidentes. Quanto a isto, ainda não percebi por que os que pagam balúrdios por aquela publicidade a granel ainda não se deram conta que, assim tão longos, aqueles são intervalos que todos utilizam para ir ver como está a cozedura das couves e das batatas para o jantar ou, mesmo, para aliviar certos incómodos próprios da natureza humana.
As telenovelas, essas, são a descoberta mais macabra da caixinha mágica. Literariamente pobres, imaginativamente desastradas e formalmente deseducativas, as telenovelas conseguem ser o contrário de qualquer boa narrativa que condensa numa breve descrição de minutos o que se passa em muitas horas, dias ou meses até. São uma fantasia que se alonga ou encurta à medida de interesses de programação, por vezes com sequências que nem a mais fértil imaginação consegue apreender e fazem perder a noção do tempo e do modo, por tanto que confundem e baralham os acontecimentos. As “antenas abertas” não lhes ficam atrás na baralhação que causam. Por vezes, parecem batalhas campais em que se confrontam ideias feitas, por isso inaproveitáveis para conclusões que espelhem qualquer realidade.
Tenho reparado que há interventores crónicos e também que, consoante o tema, sempre aparecem os que tentam fazer opinião e debitam, num chorrilho cuidadosamente decorado, ideias que muito bem conhecemos, deste ou daquele partido, desta ou da outra central sindical.
Quanto ao “convidado”, raramente consegue evidenciar o saber e o distanciamento dos interesses instalados que lhe permitam ser o farol que ilumine a confusão que vai neste país, por enquanto ainda mais ressabiado e oportunista do que democrático.
Hoje estive a ouvir um desses programas que pediam a opinião sobre a iniciativa de o governo proibir a tolerância de ponto no Carnaval e ouvi as coisas mais díspares, ditas das maneiras mais diversas, umas com nexo e outras nem por isso, umas de modo cordato e outras prenhes de azedume e, algumas vezes, reveladoras de uma falta de educação confrangedora!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

SEMPRE A ETERNA DÚVIDA...

Conta-se que, um dia, alguém chegou ao pé de um amigo a quem a mulher era infiel, contando-lhe o que se passava. Disse-lhe, até, onde os atos de infidelidade tinham lugar e em que dias. Mais ainda, indicou ao amigo de onde os poderia observar e, deste modo, confirmar o que lhe dissera.
Por isso, em dia e hora adequados, o “enganado” ficou de plantão até ver a mulher chegar acompanhada de um homem com quem se dirigiu ao local onde lhe fora dito que as coisas aconteciam. Atento, o homem viu os dois entrarem num quarto, despirem-se e, depois, fecharem a janela! Sem ter conseguido a prova definitiva da infidelidade da mulher, o homem voltou noutro dia e noutro ainda, mas sempre as coisas se passaram do mesmo modo. Desesperado, o homem desabafou: “bolas, sempre a eterna dúvida!” E assim resolveu por termo à investigação.
Foi desta velhíssima história que me lembrei quando ouvi o resultado de um julgamento em que alguém era acusado do rapto do infelizmente famoso Rui Pedro desaparecido há muito tempo, tanto que consumiu a vida de uns pais inconformados mas que poderiam, agora, ver condenado quem, como tudo parecia indicar, lhes desviou o filho e lhes tornou a vida num inferno.
Deu o Tribunal como provado que o acusado aliciou o rapaz e o transportou no carro para ir ter um encontro com uma prostituta cujo depoimento, contudo, foi julgado de credibilidade duvidosa, talvez pelo modo como ela ganha a vida, porque o rapaz que lhe foi trazido poderia ser um outro qualquer que não o Rui Pedro!!!
E, deste modo, o Tribunal considerou insuficientes as provas contra quem estaria envolvido no desaparecimento de um miudo de 11 anos por quem os pais choram há quase 14 anos!
Parece-me uma história fantástica, mas foi assim que a ouvi.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A VISITA DA TROIKA

Nesta terceira visita da Troika voltam a levantar-se vozes sobre a dureza do acordo celebrado e algumas até exigem que a Portugal seja concedido mais tempo para cumprir o que lhe foi imposto em troca do auxílio financeiro.
Dos partidos mais à esquerda apenas se poderiam esperar as críticas que sistematicamente fazem e que nada nem condições algumas alteram. Porém, do partido Socialista que negociou o acordo com a Troika e com ela definiu as condições do seu cumprimento, esperar-se-ia muito mais do que um discurso demagógico e bizarro que pode soar bem aos ouvidos dos que sofrem a austeridade mas não pode enganar os que não se deixam iludir por fantasias que, todos sabemos, não passam disso e nos podem sair muito caras.
Decerto sabe Seguro que não se concedem bónus a quem, antes, não demonstre merece-los. Depois sabe, com certeza também, que se não negoceiam alterações de acordos como este pressionando quem ajuda, mas sim convencendo quem o faz! Não se alcançam proveitos com manifestações de protesto contra os que nos podem virar costas e, simplesmente, dizer: governem-se!
Fomos um país leviano no modo como tentámos dar um passo maior do que a perna, vivendo muito além do que estava ao nosso alcance. Tivemos um governo cujo primeiro ministro teve a ousadia de publicamente se vangloriar de ter tido a coragem de aumentar a dívida e, depois, levou para além do momento razoável o pedido de ajuda do qual disse não necessitarmos!
Pela segunda vez um governo do partido socialista expôs Portugal à voragem dos mercados, pelo que, pela segunda vez e em consequência de uma miragem inalcançável, o socialismo, fomos parar às portas da bancarrota!
Não se sai de uma situação como a nossa apenas com austeridade e até talvez seja necessária uma ajuda suplementar, mas não teremos mais ajudas enquanto nos não mostrarmos dignos dela.
Os dados publicados pelo Banco de Portugal sobre as dívidas dos sectores não financeiros públicos e privados, dão-nos conta da situação a que chegámos e dizem-nos de onde vieram os meios financeiros que nos fizeram julgar ricos, para os devaneios sociais que nos fizeram ficar preguiçosos, exigentes de mais benefícios e descuidados, assim como para as “conquistas” que agora o governo se vê forçado a anular. São oriundos dos empréstimos contraídos e hoje constituem a dívida monstruosa que nos atola.
Todos somos, de um modo geral, culpados de uma situação complicada, mas não se pode deixar de dizer que falharam os governos – sejam eles quais forem – porque permitiram os desmandos que até esta situação nos levaram e muito mais falharam os que para o aumento da dívida contribuíram.
É óbvio que mais um ano no prazo para reequilibrar as contas poderia significar algum alívio e, a ser possível, não será o governo a desprezá-lo, com certeza. Pode até acontecer que esteja previsto, mas mandam a prudência e o bom senso que tudo se faça de modo discreto e ponderado, não sendo de esperar que tal aconteça sem as provas seguras que Portugal ainda terá de dar.

A LIÇÃO DA VELHA FÁBULA

No “Novo capítulo do Boletim Estatístico relativo ao endividamento do setor não financeiro”, o Banco de Portugal publicou os valores das dívidas dos sectores não financeiros público e privado e a conclusão a tirar é que somos um bando de gastadores inveterados. Deixámos que as dívidas atingissem valores exorbitantes, muito para além do que as mais elementares regras de bom senso recomendariam.
São dívidas de tal modo elevadas e crescentes ao longo de muito tempo que nem se consegue entender como quer os endividados quer os prestamistas pensariam resolver a situação criada de um modo razoavelmente controlado.
Diz o relatório que “No final de 2011, a dívida não consolidada do setor privado não financeiro situava-se em 479 mil milhões de euros, perfazendo 280% do PIB (281% em 2010). As empresas registavam um nível de endividamento de 178% do PIB (177% em 2010) e os particulares um nível de endividamento de 103% do PIB (104% em 2010). O endividamento dos particulares ascendia, em 2011, a cerca de 121% do rendimento disponível (cfr. quadro K.1.1 do capítulo K do Boletim Estatístico)”.
Se a esta dívida privada, de empresas e de particulares, somarmos a dívida pública não financeira, na ordem de 200 mil milhões de euros, teremos o total de uma dívida que ultrapassa, no total, os 400% do Produto Interno Bruto.
Em quaisquer circunstâncias, a dívida total excede o que o país produz em quatro anos completos de atividade.
Duas conclusões poderemos tirar dos números que o Banco de Portugal revela: adotámos um estilo de vida cujos custos são, pelo menos, quatro vezes superiores à nossa produção de riqueza e, por isso, a correção deste desequilíbrio será, inevitavelmente, penosa e longa!
É difícil de compreender como foi possível deixar que as coisas chegassem a este ponto. Por isso será cada vez mais necessário apurar factos e responsabilidades que esclareçam, de vez, o que se não deve repetir!
Em face do valor excessivo da dívida, não é razoável acreditar que o país possa crescer tanto que recupere o “nível de vida” que tinha antes da crise e, por isso, será inevitável passarmos a ter um nível de vida significativamente mais baixo do que o que artificialmente criámos, facto a que muitos chamam empobrecer! Mas é, simplesmente, o adaptar o nosso nível de vida à nossa capacidade financeira. Infelizmente é a lição da velha fábula da formiga e da cigarra: Folgaste? Aperta o cinto, agora!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

AS EMPRESAS DE NOTAÇÃO FINANCEIRA

Tendo em conta as circunstâncias, não consigo afastar a ideia de que as empresas de notação financeira, as famigeradas empresas de rating, vão descendo as notações de quem lhes apetece a um ritmo aleatório mas constante, mesmo sem que tenham analisado as circunstâncias como lhes competiria fazer.
Ontem escutei com satisfação o presidente do BPI que, com muita clareza, as desacreditou e deduziu que os maiores prejudicados são os investidores que acabam por ser enganados pelo mau trabalho que elas lhes prestam.
Depois, o Presidente da Câmara de Lisboa passa-lhes, também, o mais claro diploma de incompetência ao fazer notar a incongruência da baixa de notação de Lisboa quando as sua situação financeira tem sucessivamente melhorado ao longo dos últimos anos.
Se a tudo isto juntarmos a lembrança de anteriores “feitos” destas empresas que teimam em querer comandar a economia mundial, como as excelentes notações atribuídas a gigantes falidos, só poderemos pensar que a única solução possível será ignorá-las como, aliás, os mercados também parecem já faze-lo. De facto, mesmo depois de tudo o que têm feito, Portugal conseguiu vender dívida nos mercados a juros que há muito não conseguia.
Há interesses duvidosos nestas atitudes de empresas às quais parece que ninguém consegue tirar o protagonismo que, como tudo parece demonstrá-lo, ganharem sem o merecer.

A TERCEIRA TENTATIVA DE HEGEMONIA ALEMÃ

Ainda me lembro de quando Hitler e os seu sequazes puseram a Europa a ferro e fogo e cometeram as mais crueis barbaridades. Foram anos terríveis durante os quais muita gente sofreu às mãos de um povo que não conseguiu, ainda, erradicar do seu ADN a sua original condição de bárbaro.
A Grécia está entre os países mais severamente castigados pelas tropas do III Reich do austríaco paranóico que conseguiu ter consigo mais de 80% do povo alemão e que, estou crente, voltaria a ter se regressasse.
A Segunda Guerra Mundial foi a “obra prima” deste povo que se não conformou com o resultado da sua primeira tentativa de dominar a Europa e, por isso, fez uma segunda.
Mas lá diz o povo que “cesteiro que faz um cesto faz um cento...”. Como se pode acreditar que a Alemanha não o tente uma terceira vez. Já não será com a infantaria da primeira nem a cavalaria da segunda, mas é com o poder económico que os “vencedores” lhe consentiram que refizesse que trava a terceira guerra.
No centro da Europa, a Alemanha fez seus inimigos os europeus de Leste e de Oeste cujos países invadiu, pilhou e obrigou a prestarem vassalagem ao seu poder demoníaco. Ao lado, a França julga-se segura por uma agora imaginária Linha Marginot que, tal como a real, os deixará desprotegidos, disso apenas se dando conta quando for tarde demais.
A Alemanha tornou-se, assim, uma excrescência no Velho Continente, no tumor da própria Europa que agora tenta dominar de novo!
Acreditei em homens que, como Konrad Adenauer e outros, tentaram que a Alemanha recuperasse uma credibilidade que a sua belicosidade constante lhe fizera perder. Mas não acredito nesta senhora que veio da dita “Alemanha Democrática” onde cresceu a ter como referência o espírito bárbaro que ali tudo determinava.
Neste momento tenta, da maneira mais despudorada, humilhar a Grécia. Em seguida fá-lo-á a Portugal que, talvez deslumbrado com os conselhos que a amiga Merkel dava a Sócrates, se deixou cair numa situação de dependência financeira profunda. Outros depois se seguirão até se afirmar como o comandante único de uma Europa que só tarde acordará do pesadelo que vive.
Não pode a Europa submeter-se aos caprichos de um povo com a mania da superioridade e deve superar os seus medos para ser capaz de lhe dizer: alto, na Europa mandamos nós!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

RECURSOS NATURAIS CADA VEZ MENOS ABUNDANTES

(Publicado no número de Fevereiro do Notícias de Manteigas)
Depois de uma vida de nómada que o fez vaguear pela Terra para encontrar o que necessitava e, também, para se proteger, o Homem foi-se fixando aqui e ali, onde julgou encontrar condições para um modo de vida mais cómodo, mais seguro e sem carências. Aos poucos, domesticou animais, aprendeu a cultivar plantas e, depois de trabalhar a pedra e a madeira, aprendeu a dominar o fogo, descobriu a roda e utilizou metais para produzir utensílios que lhe facilitassem as tarefas.
Durante dezenas de milénios foi lenta a evolução das tecnologias rudimentares de que dispunha mas que tão úteis foram para a sua proteção, na agricultura e na caça, bem como em muitas outras circunstâncias. Assim, o Homem fez das ferramentas que criou a extensão que tornou mais poderoso o seu braço.
Igualmente lenta foi a evolução da sua atividade económica que se desenvolveu com base nas artes, na agricultura e na pecuária, até que tudo se alterou profundamente com a mecanização e, mais ainda, com o desenvolvimento das técnicas de planeamento e do apuramento de tecnologias avançadas.
Aos poucos, foi-se alterando o modo de viver de um ser que começou em competição com os demais no meio natural onde vivia, mas no qual, pelos poderes que foi adquirindo, se tornou dominante. Desde então, enquanto as outras espécies vivem em harmonia com o seu meio, ao qual se adaptam, o Homem julga-se desinserido da própria Natureza a que, apesar de tudo, não pode deixar de pertencer, crente de que poderá dominá-la e explorá-la sem contenção. Para evitar a incomodidade de adaptação ao meio, o Homem adapta o meio às suas necessidades e, até, aos seus caprichos. Nisto difere de todos os outros animais, o que é um erro tremendo que a Natureza não consentirá por muito tempo mais. Disso, os sinais são cada vez mais preocupantes, pese, embora, a capacidade para descobrir novas vias que substituam as que a natureza finita do mundo em que vivemos vai fechando, mas que são cada vez mais estreitas e mais difíceis de percorrer.
Para além do consumismo que nos torna dependentes de “necessidades inúteis” e vai exaurindo recursos a um ritmo bem mais elevado do que o da sua renovação, tanto mais quanto mais gente a eles vai acedendo, outras questões relacionadas com o número cada vez maior de seres humanos que habitam a Terra são motivo de grande apreensão. Entre elas está a alimentação que em conjunto com o ambiente, outro problema não menor, constitui a base das necessidades vitais.
Há dezenas de anos que a questão dos recursos naturais preocupa estudiosos e investigadores que alertaram para as consequências perigosas de uma economia devoradora que foi deixando de fazer jus a um nome que se não adequa ao esbanjamento em que se tornou. Dezenas de anos depois, a pequena diferença entre as previsões e a realidade que se aproxima de situações de rutura, é motivo de preocupação que um estudo recente de uma empresa de consultoria americana, a PricewaterhouseCoopers (PwC), confirma num relatório a que deu o nome “bomba relógio”. Nele se afirma que "há muitas indústrias que só agora reconhecem que temos estado a viver acima dos meios do planeta. Novos modelos de negócio vão ser fundamentais para que se consiga responder aos riscos e oportunidades colocados pela escassez de metais e minerais".
Afirma, ainda, o principal autor do relatório que "eu penso que tanto os governos como as empresas devem estar cientes da abrangência, da importância e da urgência da escassez de matérias-primas renováveis e não-renováveis: energia, água, terra e minerais". Chamada de atenção mais firme não poderia ser feita. Infelizmente, outras como esta foram desprezadas por políticos e economistas para quem esta realidade é um problema que não sabem resolver e, por isso, preferem ignorar.
Quanto à alimentação que uma população em crescimento acelerado reclama em quantidades maiores a cada dia que passa, a situação é, porventura, a mais grave de todas. Para além do excessivo número de pessoas para quem a fome é já uma companheira fiel de todas as horas, as técnicas mais modernas para aumento da produção não conseguem atingir as quantidades que as necessidades crescentes exigem, verificando-se, em vez disso, um declínio alarmante. Para além deste aspeto quantitativo, as consequências funestas de certos processos adotados e que foram já causa de graves problemas de saúde pública como a doença das vacas loucas, a gripe das aves, infeções por E coli e outras, criam problemas de segurança que não devem ser menosprezados.
Por outro lado, a qualidade de muitos produtos alimentares está a degradar-se progressivamente, o que se revela na sua decrescente capacidade nutritiva e, ainda, nos elementos tóxicos que contêm em quantidades cada vez mais elevadas.
Numa outra importantíssima fonte de alimentos, o mar, o excesso de pesca reduziu a quantidade de peixe disponível e o perigo de extinção de muitas espécies obriga a uma forte contenção nas capturas, não havendo outro modo de evitar ruturas que teriam as mais terríveis consequências.
A escassez de petróleo, sobretudo a que resulta da ultrapassagem do “pico de produção” a que se segue uma regressão que pela conjugação com o aumento da procura mais se acentua, tornou a produção de energia concorrente da alimentação pela produção de biocombustíveis. A utilização de óleos vegetais mobiliza enormes quantidades de solo para o cultivo de plantas utilizáveis para esse fim, mais se acentuando a escassez da área destinada a culturas para a alimentação e, por isso, mais elevado se torna o preço dos alimentos.
A penúria é inevitável quando os recursos escassos são utilizados como se fossem inesgotáveis.
Esta é mais uma das questões que o futuro nos coloca mas que a “Economia” ainda não compreendeu e para o qual os políticos não olham com a atenção que merece porque não sabem o que fazer com esta preocupante realidade.

Rui de Carvalho
13 janeiro 2012

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

QUE EUROPA?

Sempre achei estranho que se fizessem alargamentos a seguir a alargamentos na União Europeia quando se sentia que nada estava, ainda, consolidado. Mas depois, vinham os entendidos da coisa que defendiam o alargamento a todo o custo, dizendo que seria benéfico para Portugal.
Nunca entendi por que, mesmo sem se estender a União a qualquer país com economia forte, se entendia ser benéfico o alargamento que dividiria um “bolo financeiro” que pouco ou nada aumentaria por um número mais elevado de países. Mas o político não sou eu e tinha de me render, mesmo a contragosto, à “sabedoria” de pessoas cuja obra pouco vai além de palavras, mas...
Hoje ouvi o Presidente do parlamento alemão, falando na Universidade Católica, dizer que seria disparate alargar mais a União Europeia antes de uma consolidação absolutamente necessária.
Fiquei um tanto aliviado mas minhas dúvidas sobre o meu entendimento das coisas, nomeadamente sobre os alargamentos de um espaço que, perante tantas incoerências, me parece, extemporaneamente, já largo demais.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

VOLTÁMOS ÀS MANIFS...

Com um Secretário Geral que pertence ao Comité Central do PCP, a CGTP é agora o próprio PCP! Mais do que nunca será assim.
Numa entrevista que ouvi, à pergunta se agora a CGTP seria uma extensão do PCP, o SG recém eleito reagiu perguntando se era uma provocação e a locutora encolheu-se. Mas devia ser mesmo porque ninguém pode acreditar que alguém se possa dividir de tal modo que, ao tomar atitudes na CGTP, esqueça que pertence ao Comité Central do PCP.
Em conclusão, num golpe de uma mestria que só pode enganar os tolos, o PCP pode agora manobrar uma clientela bem mais ampla do que a que constitui o seu eleitorado e, deste modo, voltar às “manifs” de que tanto gosta, distraindo o país das suas responsabilidades em momento tão grave como o que vive.
O que se pode passar é de uma extrema gravidade que só os loucos podem consentir.

A KEISER QUE VEIO DO LESTE

De repente, dei comigo a escutar um discurso da Angela Merkel porque algo do que ela dizia me chocou. Falava da Madeira e de Alberto João Jardim. Falar de alguém como Jardim não é coisa que me surpreenda porque o homem esforça-se por dar nas vistas com tanto disparate que diz.
Mas desta vez fiquei a saber que não é o único.
Dizia a Merkel que na madeira, imaginem, não havia onde comer chucrute e que uma amiga que pretendia abrir uma casa onde se pudesse comer, viu o seu pedido dificultado por burocracia... Não ouvi muito bem, mas foi mais ou menos isto.
Depois, a Merkel disse que a amiga lhe fez queixas do Senhor da Madeira que gastou demasiado dinheiro em auto estradas, viadutos e outras coisas e que era um louco!
O que, no meio disto tudo, mais me choca é que a chefe do governo alemão faça um discurso com base numa conversa de amigas! Andará tudo louco?
Não vou fazer a defesa do jardim que, em meu juízo, dá azo a que o julguem como o faz a amiga da senhora Merkel, mas se algum defeito lhe aponto é ter querido andar depressa demais a fazer o que a Madeira, cuja maior fonte de receita é o turismo, necessita para o poder atrair.
Ao contrário do que muito gente fez, achei bem o fogo de artifício no final do ano porque é isso que muita gente que, nessa época procura a Madeira quer ver.
Não entendo muito bem estes “economistas” que pensam que se um sapateiro partir a sovela não deverá, por razões de economia, comprar uma nova...
De que viveria depois?
Nota: a sovela é uma ferramenta dos sapateiros para coser as solas dos sapatos...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

FUI O PRIMEIRO, GRITA SEGURO!

Custa-me ver o líder do maior partido da Oposição a fazer tristes figuras, em vez de cooperar nos valores de Estado que Portugal necessita urgentemente reforçar para poder livrar-se da cadeias que o prendem e obrigam os portugueses a esta penúria em que estão a viver.
É triste ver Seguro por-se em bicos de pés a gritar: eu disse, eu disse, fui o primeiro a dizer que era necessário renegociar a dívida, apenas porque teve conhecimento de um episódio em que o ministro das finanças alemão terá dito ao português que a Alemanha estaria disponível para suavizar o acordo com a Troika, o que tornaria menos dura a austeridade.
Pensará Seguro que o povo português ainda não abriu os olhos e que o pode continuar a comer por parvo?
Pense um pouco Sr Seguro e diga-nos lá porque será que o ministro alemão manifestou tal abertura?
Reflita um pouco e demonstre-nos que se reclamássemos a renegociação antes de mostrar capacidade para cumprir o acordo feito pelo seu Partido com a Troika se obteria a mesma disponibilidade.
Diga-nos por fim, Sr Seguro se acha bem que as estratégias dos negócios, neste caso os nacionais, devem ser gritadas aos quatro ventos quando sempre se disse e se sabe que “o segredo é a alma do negócio”!
Depois, essa conversa pateta da pieguice que não tem pés nem cabeça.
Será que Seguro não tem mais em que pensar, não encontra melhores argumentos para se afirmar ou será que a colaboração que pode dar para que Portugal supere a sua crise é arranjar diversões que possam lançar o descrédito sobre o Primeiro-Ministro?
Esta é a tática dos fracos e incapazes, dizer mal dos outros para que se notem menos os seus defeitos.
Não está fácil esta questão da crise portuguesa que a crise europeia mais complica porque, diz-se, a Europa está sem líderes à altura da suas tradições. É uma verdade. Mas o partido Socialista tem um líder à altura das suas. Tenho pena.

HOJE FOI DIA DE LIXAR O AUTOMOBILISTA...

Quando compramos um carro pagamos, para além do seu preço, o IVA e mais outro e outro imposto e sei lá o que mais, o que faz com que o estado arrecade uma parte muito significativa do que pagamos. Depois temos de, a cada ano, pagar o Imposto Anual. Ao comprar o combustível sem o qual o carro não anda, quase metade do que pagamos vai para o Estado... É só pagar, pagar...
Mas que contrapartidas dá o Estado a quem paga tanto? Parece-me que nenhumas. Nas auto-estradas pagamos portagens e na cidade pagamos o estacionamento e as MULTAS DE ESTACIONAMENTO...
Hoje parece-me que foi um dia desses em que os polícias resolveram fazer a vida ainda mais difícil aos automobilistas.
Todos os dias me deparo com atitudes de condutores que deveriam ser punidas e não são, talvez porque daria muito trabalho. Todos os dias vejo carros estacionados de modo que, sem a menor dúvida, prejudicam a circulação de outros automóveis e ninguém os chateia, mas também vejo carros estacionados onde não incomodam ninguém nem estorvam o trânsito, porque a cidade não oferece condições para estacionar devidamente os carros pelos quais ao Estado tanto se pagou.
Hoje foi uma barrigada de multas, de fitas a envolver os carros e bloqueios de rodas!
Bem sei que àquele imposto anual se chama, também, Imposto de Circulação e não de Estacionamento. Mais que raio, francamente, achei demais, perfeitamente descabido!

VAMOS OU NÃO BRINCAR AO CARNAVAL?

Com o argumento de que não faz sentido manter a tolerância de ponto no Carnaval quando, para aumentar a produção, se anulam alguns feriados, a terça-feira gorda, assim se lhe chama também, será um dia como outro qualquer, sem o divertimento que, para muita gente, é quase uma razão de ser.
Nunca fui e continuo a não ser um amante do divertimento próprio do Carnaval, mas não acho mal que outros o sejam. Aliás, o Carnaval acabou por fazer parte das iniciativas turísticas mais importantes de muitos lugares, tornando-se famosos alguns deles que chamam muita gente que anima as economias locais e são o ganha-pão de muitas pessoas.
O Carnaval faz parte, também, da cultura popular e de uma sequência de emoções que, na Quarta-Feira de Cinzas, lembram ao homem a sua passagem breve por este mundo que, por vezes, se esquece das suas origens e do seu destino, do pó de que foi feito e no qual, de novo, se transformará.
Quanto aos feriados, a discussão que a anulação deste ou daquele possa gerar, não passa para mim de argumentação pouco interessante quando a maioria dos que os gozam apenas deles faz uso para passear, descansar ou se divertir como em qualquer fim de semana, quase sempre nem sabendo a razão pela qual têm esse dia livre para o fazer.
Há muito que o significado dos feriados foi varrido da memória da maioria do povo que cada vez menos tem noção da sua razão de ser. As escolas, os meios de comunicação social e o próprio Estado raramente os divulgam como o deveriam fazer e não têm os cuidados de pedagogia que a preservação da memória colectiva merece. Alguns feriados que eram profusamente comemorados, como acontecia, por exemplo, com o 1º de Dezembro na minha juventude, passam agora despercebidos, enquanto outros, como o 5 de Outubro mais me parecem festas de amigos que desejam manter vivo um acontecimento, a implantação da República que, para quase toda a gente, já pouco ou nada diz! Por outro lado, há datas importantíssimas do nosso passado das quais ninguém fala, algumas bem mais significativas e dignas de serem relembradas do que aquelas que, pretensamente, se comemoram.
Por tudo isto, soam-me ridículos os argumentos dos que dizem ser incompreensível acabar com este ou com aquele se a maioria das pessoas nem ideia faz do que se trata.
Mesmo assim, continuem os feriados que tanto gozo dão a tanta gente!
O que não me parece fazer sentido é que se tenha acabado com a tolerância de ponto no Carnaval deste modo tão abrupto, uma festa que o era para muita e muita gente, tal como o são, por exemplo, as festas dos Santos Populares e outras festas locais e regionais de grande expressão e significado popular.
Para ser diferente e os feriados voltarem a ter o significado que devem ter e a participação comemorativa que alguma vez tiveram, talvez fosse de rever os próprios eventos cuja memória, com eles, se pretende perpetuar, passando as comemorações a ser evocações autênticas e não apenas meros pretextos para não trabalhar!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

VETO DE DOIS MEMBROS PERMANENTES DA ONU MATA MILHARES NA SÍRIA

Depois das revoltas na Tunísia, na Líbia e no Egito que depuseram regimes ditatoriais, é a Síria que deseja ver-se livre de Al Assad o senhor que ali tudo pode e do qual todos os sírios há muito são vassalos.
Perante as evidências de um povo que não o deseja e do massacre com que responde aos que se lhe opõem, natural seria que o resto do mundo reagisse de modo a fazer uma prova inequívoca de repúdio pela atitude daquele “governo” desumano.
Todos esperaríamos que a ONU condenasse o governo sírio sem margem para dúvidas, mas a realidade é que não condenou porque a isso se opuseram dois países com direito a veto!
Não creio que possa haver argumentos válidos para não tentar por fim ao morticínio que artilharia pesada contra civis está a causar. Mas são estas as regras de um organismo em que os interesses dos maiores são privilegiados, mesmo quando valores como a vida humana estão em jogo.
Depois de tantos e tantos casos em que o mundo já consentiu e consente que povos ou etnias inteiras fossem vítimas de interesses particulares, preferiríamos que, desta vez, o mundo fosse firme no repúdio e no castigo de uma atitude bárbara que já matou muitos milhares de cidadãos sírios.
A minha atitude apenas poderá ser de desacordo com os que consentem que um morticínio nojento prossiga ou até, mais do que isso, se sinta legitimado para prosseguir.