ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

UM NINHO DE VESPAS


O parlamentarismo clássico está ultrapassado e desadequado às circunstâncias actuais, tal como a “democracia do confronto” em que se baseia deixou de ser a mais própria para resolver os problemas que são cada vez maiores, mais complexos e não se resolvem com ideologias ou crenças populistas, sejam elas quais forem.
Jamais algum partido político respeita o princípio, implícito no ideal democrático, de que o povo escolhe uma maioria e que o governo por ela formado será o governo de todos. Nenhum partido respeita este princípio porque a guerra da disputa do poder começa logo no dia a seguir às eleições, sendo um estado de confronto permanente e não de solidariedade e de cooperação o que se instala e não permite avançar com projectos de longo prazo, com reformas estruturais ou seja com o que for e, muito menos, dá tempo para estudar os problemas e para eles encontrar a melhor solução. São sempre soluções de inspiração oportunista ou de recurso as que acabam por ser adoptadas, longe das que a os problemas reais reclamam.
Com o tempo da fartura também passou o tempo das soluções de curto prazo, as únicas de que a democracia tradicional é capaz. Hoje, com o que cada vez melhor sabemos, a Humanidade necessita de soluções de fundo, de longo prazo que o confronto permanente jamais permitirá.
O dia de amanhã deixou de ser o que mais interessa quando é o futuro que está em causa numa sociedade que vai acumulando problemas que a “política” finge estar preocupada em resolver mas não resolve porque lhe não convém resolver ou porque as forças que a controlam lho não consentem. E, deste modo, os problemas crescem, ficam mais difíceis de resolver. Em consequência, o futuro será mais difícil.
A discussão do OE 2013, em curso na AR é uma prova autenticada do que acabo de dizer. É um campo de batalha aquele plenário onde se cospem ferozes acusações em vez de se procurarem melhores soluções para um orçamento que todos afirmam poder ser melhorado!
É nítida a não existência das alternativas que todos dizem possuir para tirar o país da crise e, até mesmo, quando é chegada a hora de assumir o empenhamento que seja proposto para participar em melhores soluções, logo é rejeitado com desculpas que apenas fazem sentido numa guerra pelo poder e nunca numa campanha para salvar o país e dar mais conforto a tanta gente que dele cada vez mais necessita!
Em vez da colmeia de trabalhadoras abelhas que nos ofertariam o seu mel, a Assembleia da República tornou-se um ninho de vespas que cada vez nos espeta mais fundo o ferrão doloroso desta austeridade sem fim.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

TARDE DEMAIS PARA SALVAR O PAÍS?


Se bem entendi, Passos Coelho fez, no primeiro dia de discussão do orçamento, uma afirmação clara de que o que era possível cortar na despesa tinha chegado ao fim. Penso que se referia aos cortes significativos, com peso decisivo no orçamento e não àqueles que, apesar de o não terem, manda o bom senso e a equidade que sejam feitos, também.
A partir daqui, apenas uma reestruturação profunda do Estado permitirá ir mais longe nos cortes na despesa que evite mais aumentos de impostos, o que, naturalmente, exige consensos fortes e decididos nos representantes do povo na Assembleia da República. Por isso, Passos Coelho os pediu.
É uma situação grave que precisa de rápido esclarecimento e de rápida solução, sem o que não parece que o país possa evitar o caos financeiro e social que tudo faz temer.
Sempre tenho procurado ser objectivo nas análises que aqui deixo e, nesta altura, a crítica a fazer será sobre o momento em que de tal facto o governo se dá conta. Não teria sido possível que de tal se tivesse apercebido mais cedo? Não tenho modo de o saber porque a organização do Estado não é uma coisa muito clara, mais parecendo um labirinto onde, ao longo de muito tempo, se foram implantando organismos diversos, alguns dos quais quase passam despercebidos nas razões da sua existência e, até, na sua inutilidade.
Ao pedido do Primeiro Ministro respondeu o líder do PS com a inacreditável atitude de a considerar resultante do desnorte do governo,  de a considerar tardia e, por isso, inaceitável!
Francamente, que poderá dizer-se desta nega na participação no esforço para evitar piores males a este povo já tão causticado por duras medidas? Não será isto colocar os próprios interesses acima dos interesses do país? É, sem qualquer dúvida.
Depois, como diversas vezes já aqui referi, há imposições legais que não permitem alterações no que a Constituição considera “direitos” ou “princípios” intocáveis, ainda que as circunstâncias claramente mostrem que não são adequadas às potencialidades do país para suportar os custos do que a Constituição consagra mas não paga.
Na impossibilidade de adaptar a realidade à Constituição, terá de ser esta adaptada à realidade. Por mais que a todos nos custe.
Mas muito mais custará se o não fizermos.
Então, por muito que custe ao PS que jamais deveria esquecer a culpa que lhe cabe no drama que o país vive, a resposta de Seguro deveria ser MAIS VALE TARDE DO QUE NUNCA em vez de dizer tarde demais!

(Sporting Clube de Portugal) UM MESTRE DE OBRAS FALHADO

(foto: A Bola) 

Depois de uma gestão ruinosa e desastrosa como jamais se viu no Sporting Clube de Portugal, depois das manifestações violentas de desagrado dos muitos milhares de sportinguistas que presenciaram, ontem, mais uma péssima exibição da sua equipa, eu pergunto-me, sinceramente intrigado, o que fará Godinho Lopes manter-se num lugar que, na realidade nunca foi seu!
Todas as atitudes deste empossado presidente não passaram, desde sempre, de mera ficção onde o Sporting voltaria a ser o que já não era há muito tempo, desde que lhe roubaram a identidade que os seus fundadores lhe deram. Mas na continuidade que representava, Godinho manteve a linha de descaracterização que tornou o corajoso leão num cão lazarento a que todos atiram pedradas.
Quanto a factos, não é preciso recordar aqui tantos que, desde as eleições cuja transparência o empossado presidente não teve a coragem de demonstrar aceitando a reverificação dos votos e das contagens até ao empate de ontem com a Académica que coloca o Sporting numa posição humilhante na tabela classificativa, mostram a continuação dos erros de gestão financeira e desportiva que sucessivas direcções, desde Roquete, praticaram e que Godinho Lopes conseguiu levar ao sublime estado de DESASTRE!
Aos que exigiram a demissão de Godinho eu digo que o fizeram tarde demais, que ficaram demasiado tempo a ver o barco a afundar.
Aos que afirmam serem os mandatos para cumprir até ao fim eu pergunto se não têm entendimento bastante para imaginar o que poderá ser o Sporting dentro de pouco tempo se nada for feito para o livrar das mãos deste carrasco.
Ao próprio Godinho Lopes eu pergunto se já chegou ao ponto de não ter noção do que faz e se as vaias que recebeu lhe não fizeram sentir quanto não é desejado ou, até, o não fizeram corar de vergonha pelo que de si ouviu.
Mas também cogito, muitas vezes, se haverá alguma coisa para salvar neste Sporting destroçado, flácido e frouxo que nem força tem para se reerguer por si mesmo, limpando da pele tanto parasita que lhe suga o sangue.
Reconstruir é, agora, a palavra de ordem de um mestre de obras falhado! Mas reconstruir o que? Sobretudo, reconstruir como?
Não seria, de longe, bem melhor encontrar quem o possa fazer, porque de não saber o que faz já Godinho deu sobejas provas?
O Sporting Clube de Portugal, ainda o maior clube desportivo de Portugal de todos os tempos, faz falta ao desporto nacional e faz falta, muita falta, aos que lhe dedicam a sua paixão. Por isso, fica cada dia mais pobre o desporto português com esta caminhada para o abismo que o Sporting resolve continuar e será, por isso, necessário impedir que assim continue.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O QUE SERÁ A REFUNDAÇÃO DO ACORDO COM A TROIKA?

Os inêxitos óbvios da política de recuperação que decorre em conformidade com o acordo que o último governo socialista fez com a Troika, aos quais se juntam as análises do FMI que Christine Lagarde deu a conhecer sobre os malefícios da austeridade excessiva, tornam cada vez mais evidente a necessidade de uma revisão profunda do caminho que deva ser seguido.
Em face das circunstâncias, pouco ou nada haveria a fazer nos primeiros tempos após o pedido de resgate senão cumprir as imposições que, para evitar a bancarrota, nos foram ditadas.
Agora, porém e em face dos resultados, é indispensável questionar tal acordo e as medidas que contém e, tudo leva a crer, nos encaminha não para a recuperação mas para uma situação que fez dos gregos um povo infeliz e destroçado.
Não se pode ser demasiadamente apressado quando se fazem certas coisas ou se têm certas intenções, mas há um momento para além do qual, as hesitações fazem perder tempo e meios que jamais se recuperam. Creio ser isto que o governo quis dizer. Por isso, julgou ser chegada a hora de Portugal fazer uma forte frente comum que possa dizer à Troika que queremos seguir outro caminho que honre os nossos compromissos, sem dúvida, mas que nos permita o desafogo sem o qual jamais chegaremos ao fim deste que estamos a percorrer. Por isso pede ao PS que se lhe junte nessa tarefa árdua.
Marcelo Rebelo de Sousa considera um disparate monumental esta atitude do governo que, assim, libertaria o PS do que, de algum modo ainda o responsabiliza nos maus momentos que o país vive. É verdade, mas de que serve ao país, de que serve a todos nós que se continue um disparate apenas por esta razão? Não será uma razão mesquinha, como o costumam ser as picardias da política, que deve ser substituída por outra mais nobre que é a salvação do país? Eu julgo que sim.
Ao mesmo tempo, sem justificação digna de um homem de Estado é a reacção de Seguro, o Secretário Geral do PS, quando, antecipando medos que nada justifica temer, como o desmantelamento do Estado Social, faz a pergunta: o que é a refundação?
Tanta ingenuidade só pode trazer-me à ideia uma história antiga como aquela da Maria que saía de casa apressada e com vestes que não eram as de andar todos os dias. Foi o que intrigou uma amiga que lhe perguntou:
  • onde vais tão bem arranjada e tão apressada, Maria?
  • o meu António chega do quartel e pediu-me para ir ter com ele para fazermos um pouco de amor platónico...
  • o que é isso de amor platónico, Maria?
  • Olha que não sei, mas à cautela tomei banho!

domingo, 28 de outubro de 2012

RASGAR A CONSTITUIÇÃO OU AJUSTÁ-LA À REALIDADE?


(foto JN) 

A Constituição é uma lei que, como outra qualquer, apenas vale se for aplicável. Esta é uma questão que muitas vezes se coloca quando, apesar de uma aparente boa lei, os efeitos que, com ela, se pretende atingir não são alcançados.
Há muito tempo já que, de diversos modos mas quase sempre muito tímidos, a revisão da Constituição Portuguesa é sugerida, o que sempre acaba envolvido na suspeita de uma atitude censurável pelas intenções que envolve, como se de um sacrilégio se tratasse.
É um erro quanto a mim, porque a Constituição não deve ser um travão ao que as circunstâncias recomendam que se faça em prol de um futuro melhor, como acontece quando, para além da definição de princípios fundamentais, contém disposições que as impedem em nome de “direitos” materiais que não haja como cumprir.
É o que sucede nesta altura de dificuldades financeiras extremas, bem diferentes das que, em 1974, Portugal dispunha, com reservas significativas e uma dívida pública inferior a 20% do PIB.
Desde então, muita coisa mudou em Portugal e no mundo, os conhecimentos evoluíram e sabemos hoje que a capacidade de suporte do Planeta se tornou um problema sério, para além de outros que condicionam a forma de viver consumista que se tornou insustentável.
Não adianta estabelecer constitucionalmente direitos materiais que a realidade não permite garantir, porque tal exige meios financeiros que a nossa realidade por demais mostra estarem para além das nossas capacidades.
É urgente acabar com os preconceitos que disfarçam uma realidade que a cada dia se revela mais exigente de um modo de viver mais contido e mais esforçado do que certos “direitos constitucionais” nos fazem crer ser possível.
É urgente repensar o futuro, sim! É indispensável rever a Constituição para que, como com outras leis acontece, não seja necessário contorná-la para fazer o que as circunstâncias impõem.
Não prestam um bom serviço à comunidade os políticos que, por interesses partidários ou pessoais, até em nome de ideologias que o tempo já desqualificou, insistem na preservação de princípios ou de leis que não consentem a preparação de um futuro melhor e se prestam a causar graves danos a todos nós.
De resto o que é mais democrático, ser intransigente ou enfrentar a realidade?

QUE ESTADO SOCIAL?


Pela primeira vez oiço colocar a questão com alguma clareza, o que não é fácil neste mundo de tantos interesses desviados, mas onde as condições de vida reais fatalmente nos empurram para uma reflexão sobre o que aquilo de que dispomos nos pode proporcionar. É a questão de sobrevivência a que a dimensão finita deste espaço que habitamos nos obriga. É a questão da solidariedade para com o próximo, seja o que connosco convive seja o que depois de nós virá e a quem devemos legar um lugar adequado para viver.
Uma crise sem fim à vista, com soluções de austeridade crescente e a irresponsável ânsia de recuperar o estilo de vida que a ela nos fez chegar é uma boa razão para reflectir sobre o futuro sustentável que, afinal, podemos ter.
Não me surpreende, pois, que tantos desaires nas previsões convencionais numa economia que já não é mais o que era, tenham, finalmente, mostrado ao Governo a necessidade de redefinir o Estado Social que, tudo o indica, entrou em falência.
Tendo em vista esta reestruturação de objectivos possíveis, o Governo procura agregar o PS à reflexão e convida-o para participar na discussão do que deve ser o Estado Social que o país pode ter. É este, sem dúvida, o ponto de partida sem o qual toda a discussão cairá no vazio e não irá além do discurso conflitual característico da constante luta pelo poder que descura e, até, se opõe aos interesses nacionais.
Esta discussão ou estudo, como prefiram chamar-lhe, há muito que devia estar feito entre nós, porque há muito o fizeram pessoas para quem pensar o futuro é a missão. Há dezenas de anos que o chamado “walfare state” que providenciaria todas as necessidades dos cidadãos, não passa de uma miragem que uma visão atenta da realidade demonstra inalcançável.
Entre o nada a que a falta de senso por certo nos condenará e seja o que for que uma reflexão sensata nos mostre ser possível, está a diferença na qualidade de vida que poderemos garantir com as medidas que tomarmos, as sensatas que o Governo propõe para repensar o futuro ou as demagógicas que levam o PS a recusá-las!

sábado, 27 de outubro de 2012

QUE ESPERANÇA?


Muito se tem falado no desespero em que esta crise diabólica tem lançado muita gente, na falta de perspectiva para os sacrifícios que fazemos e em como é difícil suportar dores sem a esperança do alívio que ha-de chegar.
Tudo quase se resume numa frase que a Srª Ministra da Justiça terá dito nas Jornadas Parlamentares conjuntas PSD/CDS, uma afirmação que quase diria nem ser preciso faze-la de tão natural que é pois, quem sofre, sempre espera por melhoras. “É preciso dar esperança aos portugueses”, disse ela.
Tem, pois, a ministra toda a razão porque sem esperança o caminho que vamos seguir corre o risco de ser muito desagradável e perigoso, porque será o daquele que, perdida a esperança, tanto se lhe dá...
Admitamos que uma ministra lúcida fez aquela afirmação de boa consciência. E porque não? Mas continua a questão de saber que esperança nos pode dar e quem..
Depois de uns governos absolutamente paranóicos, com atitudes maníacas que só poderiam levar-nos a esta confusão a que chegámos, tive a esperança de que um novo governo nos guiasse por caminhos que nos reconduzissem à realidade da vida que, pelas nossas capacidades e pelo nosso esforço, pudéssemos viver.
E aceitei, sem reclamações, toda aquela austeridade que me afectava, apesar de me sentir inocente de culpas por tanto disparate feito, porque não contribuí, de modo algum, para a loucura que a mania das grandezas instalou na nossa sociedade de novos-ricos perdulários.
Reformei-me com 74 anos e passei a viver de uma reforma que o dinheiro que fui entregando ao estado, ao longo de décadas, me deveria garantir integralmente. Uma atitude simples num “negócio” entre duas partes que se crêem sérias. Eu paguei. O Estado teria de me devolver! Mas não devolve nas condições que acordámos! Corta na minha reforma e volta a cortar e, sei-o bem, nem terá sido esta a última vez que cortou porque o Estado entrou num negócio falido no qual teima em envolver-nos cada vez mais.
Perdi a esperança quando verifiquei que, após um ano, as contas estavam erradas, o abate das gorduras em que todos acreditámos para nos devolver uma vida mais calma era uma ilusão e um novo orçamento não tinha qualquer perspectiva de futuro menos austero. Tudo isto me mostrou que continuávamos por um caminho errado. Outro caminho, mas tão errado quanto o anterior do qual apenas se tornou um natural corolário! Como, talvez, não pudesse deixar de ser pelas condições a que nos obrigaram, dizendo que para sair da bancarrota em que nos puseram.
Tornámo-nos escravos de um mundo que não tem muito mais para nos dar senão, mesmo, a austeridade que também lhe bate à porta mas que, melhor do que nós, ainda conseguem disfarçar, mas que jamais afastarão definitivamente.
Que poderemos pensar de países poderosos com dívidas imensas que nem a produção maciça de dinheiro disfarça, de economias emergentes que todos os dias perdem clientes a quem vender o excesso das porcarias que produzem mesmo com os preços que a desvalorização da moeda permite reduzir, de “mercados” que já quase se não atrevem a emprestar a uns e pagam a outros para lhes guardar o dinheiro?
Tudo me parece um mundo de pernas para o ar.
Os entendidos já gastaram todas as explicações nos disparates que dizem e nós, os pacóvios que lhes dão atenção, continuamos a ser castigados pelos erros que nos levaram a cometer.
Voltámos ao tempo dos exploradores que se arriscavam por caminhos desconhecidos, de onde, tantas vezes, não chegaram a regressar. Ninguém sabe, ao certo, qual o caminho a percorrer, mas todos teimam em seguir na direcção que já mostrou só poder levar ao precipício.
Mas poderá, afinal, haver alguma esperança quando se tem o estúpido desejo de voltar à vida que nos perdeu?

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

RESISTÊNCIA


Tudo tem a sua resistência própria, a sua capacidade de resistir aos esforços a que é sujeito.
Um material qualquer, quando sujeito a um esforço, deforma-se. De modo temporário se, suspenso o esforço, retomar totalmente as suas características iniciais e de modo definitivo se o esforço provocar deformações das quais o material não recupera totalmente depois de aliviado. Em qualquer destes casos a deformação será tanto maior quanto maior o esforço o for, também. Porém, quando o esforço ultrapassa um certo valor, nem será sequer necessário aumentá-lo para que a deformação prossiga até à completa ruptura que se torna inevitável! Por isso, quando o propósito não for destruir o material, haverá que evitar sujeitá-lo a esforços dos quais não possa recuperar.
Investigamos em laboratório, caso a caso, como o material se comporta perante os esforços a que é submetido, a fim de conhecermos as condições em que pode ser utilizado.
Sucederá assim quando, em vez de um material qualquer, for um ser humano aquilo que é esforçado? Dizem que sim os especialistas em tortura que fazem das suas “câmaras” autênticos bancos de ensaios. Eles sabem haver um ponto para lá do qual a “resistência” é quebrada e o indivíduo perde toda a sua capacidade para recuperar do esforço a que é sujeito.
Muitas vezes me pergunto se estas serão conclusões aplicáveis quando o “esforço” se traduzir nos tormentos físicos e mentais a que a austeridade, de modo continuado e em crescendo, nos submete. E não posso deixar de pensar que sim porque haverá uma capacidade de suporte para além da qual apenas a ruptura poderá acontecer porque se anula a esperança em melhores dias, se perde a coragem necessária para vencer e se teme que, a maus dias, outros dias piores se possam seguir.

A CRISE E A CONSTITUIÇÃO



Os magistrados adiantaram-se na hipótese da inconstitucionalidade de algumas das medidas previstas no Orçamento do Estado para 2013, mesmo ainda antes deste haver sido entregue e, à semelhança do que sucedera com a anterior decisão do Governo sobre os subsídios de férias e de Natal de funcionários públicos e reformados que o Tribunal Constitucional reprovou, ficou no ar a ideia de que muitos processos de impugnação se seguiriam à promulgação pelo Presidente da República.
Por isso, Marcelo Rebelo de sousa recomendou que fosse antecipada de uma semana a votação do OE para que o Presidente da república pudesse pedir a sua “fiscalização” preventiva ao Tribunal Constitucional sem atrasar a sua entrada em vigor logo no início de 2013. O PS aceitou a sugestão mas os outros partidos da AR rejeitaram-na. Bem ou mal, foi assim. Uns, os autores, disseram que não faria sentido acompanhar tal pedido pois até pareceria que estariam a propor coisas inconstitucionais, os outros, os acérrimos opositores, porque a AR tem os seus tempos e os seus direitos na ficalização da Lei e, por isso, deles não abdicariam. O que pensam, na realidade, uns e outros, eu não sei porque, na política, não interessa o que se diga mas o que se queira dizer. E sendo assim, só indo à bruxa, porque se atendermos ao que dizem os "intérpretes", apenas ficaremos com uma série de hipóteses para escolher...
Desde a sua decisão contra o corte dos subsídios de funcionários públicos e reformados, o TC tornou-se numa arma de arremesso nas mãos dos que discordam das medidas de combate à crise que facilmente poderão afrontar alguns daqueles princípios mais latos e mais populistas, que a Lei Fundamental contém, resquícios da natureza revolucionária do momento em que foi feita, o que, como em qualquer lei, dá sempre azo a entendimentos diversos. Sobretudo esta que teve em mente condicionar ajustamentos futuros, no que se contradiz com os seus preceitos declarados princípios democráticos!
Numa Constituição que define tantos direitos, princípios e tendências como acontece com a portuguesa, sempre se poderá encontrar, sobretudo em tempos de medidas excepcionais, maneira de considerar inconstitucional qualquer medida de austeridade que seja decidida, já que, implicitamente, a própria Lei define, todas elas, como inconstitucionais, porque nada pode ser feito em desfavor dos trabalhadores que, também, não podem ser prejudicados nos seus direitos e nas suas conquistas. Apenas a Constituição não diz onde estão os meios que, garantidamente, permitem que seja assim.
Poder-se-á, deste modo, temer que a questão da constitucionalidade do OE se constitua num problema sério que ponha em risco a aplicação oportuna e indispensável deste importante documento, bem como a própria Constituição se torne a maior dificuldae a contornar nas reformas e nas mudanças que a realidade nos imporá num próximo futuro.
Por em causa a constitucionalidade do OE seria mais um pedregulho no caminho já difícil da recuperação. Mas não tenho dúvidas de que haverá muita gente que lá tentará coloca-lo.
Tem a palavra, como já teve, o Tribunal de Contas porque vai entrar nesta guerra. Isso vai! Mas não terá como se livrar das responsabilidades que, pelas suas decisões, assumir.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A DEMOCRACIA DA SOLIDARIEDADE


(publicado no nº de Outibro do Notícias de Manteigas)
Quando se remexe a terra ela passa a ocupar um volume maior. Mas nem por isso tem mais matéria e, com o tempo, volta a assentar e a ficar como era antes.
É o que me faz lembrar tudo o que, por via desta “crise”, acontece. Esta barafunda enorme em que vivemos, esta confusão de problemas e de complicações cujas tentativas de entendimento já esgotaram todas as explicações e, pouco a pouco, vão destruindo teorias e descredibilizando os que, com base nelas, procuram fazer reviver um modo de vida que, em boa verdade, já expirou!
Termina, deste modo, o empolamento de uma economia que a ambição de bancos, de outras instituições prestamistas e de oportunismos sem medida fez crescer demais. Agora, a economia não consegue voltar a ter um crescimento seguro, nem com todas as injecções de dinheiro que lhe façam, porque o dinheiro não consegue fazer o que as disponibilidades de recursos naturais outrora permitiam. Corrigiam-se os erros e ultrapassavam-se as crises gastando mais e mais, desperdiçando meios escassos e, por tantos gastos, chegámos ao fundo da “arca” que agora vemos quase vazia. É que, ao contrário deste túnel escuro que insistimos em percorrer, a arca tem fundo!
Pelo excesso de consumo, tornou-se exíguo o que críamos ser inesgotável e a exiguidade tornou evidente a impossibilidade de gastar mais do que aquilo que podemos ter. Sendo assim, a solução torna-se clara, mas o problema continua difícil de resolver.
É óbvio que escapam à maioria de nós as razões de ser assim, uma ignorância que interessa aos que, no final, serão os mais penalizados pelo acabar de um ciclo de falsa prosperidade que, deste modo e para que dure um pouco mais, nos alimentam a esperança vã de que voltarão os dias em que habilidosos artifícios financeiros pareciam aliviar-nos do trabalho duro a que a condição de seres vivos deste planeta, sem apelo, nos condena. Tal como os demais, teremos de lutar para viver. E se alguma coisa aprendi com os economistas é que “não há almoço de graça”. Um princípio que não estão a ser capazes de aplicar em tempos de novas “verdades” ou deixaram de querer compreender.
Continuamos, em maioria, a não conhecer as razões por que tudo isto acontece, as quais, ainda que simples e óbvias, ficam perdidas na confusão das explicações urdidas pelos que, para além dos malabarismos financeiros, disfarçam a realidade que, apesar disso, cada vez mais ostensivamente se nos mostra. Fazem-no porque sabem que alimentam o nosso próprio egoísmo e, talvez também, na esperança de um milagre que teima em não surgir. Por isso, num mundo em que, antes, os sucessos de uns compensavam os desaires de outros, hoje se vai instalando a “crise global” que, tudo o indica, não irá poupar ninguém.
Arrisquei dizer isto em tanta coisa que escrevi, dando conta dos meus temores por piores dias que, para mal de todos nós, já chegaram.
Não existem previsões optimistas para além das daqueles que, de quando em vez, julgam ver luzinhas que, infelizmente, não passam de fogos fátuos que a decomposição adiantada deste tipo de vida que a Natureza não comporta, alimenta.
Depois dos que, levianamente, delapidaram os nossos mais preciosos recursos à maneira da última bocada do glutão que, depois, parece ainda querer comer o fundo do tacho, não adianta criticar os que, sem modo de fugir à realidade que a todos impõe uma dura penitência, andam, de tentativa em tentativa, á procura da solução que não existe para repor o crescimento económico impossível mas que outros se empertigam a dizer que podem restaurar, tal como garantem ser capazes de manter o Estado Social como era, ainda que saibam que, para subsistir, está condenado a seguir caminhos de rigor sem os quais se transformará numa inutilidade para todos.
Já se aceita que não haja como pagar pensões de reforma no futuro, ainda que os descontos para ela continuem a ser feitos. Porque não aceitar, em vez disso, que outros benefícios acabem, em especial as enormidades que se pagam com base em “valores de mercado” que dizem justifica-los ou em consequência de conquistas que a realidade não permite conservar?
Não adianta tomar partido por um qualquer dos que agora disputam a oportunidade de arrebanhar as últimas migalhas em “democráticas” manobras de efeitos imediatistas que tiram a vez ao planeamento cuidadoso do futuro, porque não será a “democracia do confronto” que permitirá construir o modo de viver mais feliz que apenas a “democracia da solidariedade” conseguirá. É esta a mudança de base que se vai tornando urgente, mas que não sei se as características da natureza humana consentirão. Não gostaria que, um dia, fosse provado que a Humanidade contém em si a patética capacidade de se autodestruir, como não gostaria de ver este planeta transformado na “casa onde não há pão, todos ralham mas ninguém tem razão”.
A solidariedade do futuro, se dela formos capazes, começará por ser a da sobrevivência, sem lugar para os oportunismos que a tantos fizeram prosperar enquanto diziam preocupar-se com o bem-estar dos outros. Será continuada, depois, na aceitação dos princípios da contenção e do respeito mútuo que nos permitirão viver valorizando o que tivermos.
A corrupção não teria mais de que se alimentar, os impostos deixariam de ser a arbitrária e oportunista transferência de meios que obriga que uns trabalhem para outros fazerem o que entendam, o Serviço de Saúde não se prestaria mais a manobras fraudulentas em que boa parte dos seus actores se envolveram e nem o Estado seria o refúgio dos que pretendem um emprego garantido, porque os cargos públicos deixariam de ser oportunidades de privilégios para serem prestação de serviços à comunidade como, infelizmente, apenas muito poucos os entendem.
Apenas depois poderíamos voltar a crescer, não tanto na quantidade dos bens que hoje, sem necessidades que o justifiquem, o mercado nos impinge, mas na qualidade daquilo que, para viver melhor, de facto necessitamos.
Mas estou, decerto, a sonhar porque são tantas as coisas que teriam de mudar, tantos os interesses que teriam de acabar, tantos os egoísmos que teríamos de vencer que seria preciso muito tempo para o conseguir, tempo de que a “democracia do egoísmo e do confronto” não dispõe.
Rui de Carvalho

CIÊNCIA OU ARTE DE PREMONIÇÃO?

Chocou-me a notícia da condenação de seis cientistas italianos por não terem previsto o sismo que arrasou Aquila em 2009, matando 309 pessoas.
As notícias dão conta de que um magistrado denunciou a “Comissão de Cientistas” que, em vez de alertar para o perigo e iminência de um forte sismo, apenas referiu "informações banais, inúteis, auto-contraditórias e falaciosas".
Um dos membros da Comissão terá, até, afirmado que afastava a hipótese de um forte sismo, o que terá reforçado a convicção do tribunal na presunção do crime pelo qual acusa e condena os cientistas.
A um tribunal que talvez se vanglorie de uma atitude inovadora de jurisprudência eu contraponho a estupefacção de quem julgava que a Justiça se fazia segundo preceitos de legalidade bem definidos, baseados no conhecimento científico aceite ou em princípios e valores definidos pela sociedade que confere aos juízes o poder de, em função deles, julgar, absolver ou condenar.
Não conheço lei ou regulamento que defina os princípios de avaliação do risco de ocorrência de um sismo nem sei de qualquer “ciência” que os permita estabelecer, tanto mais que a Ciência se declara ainda incapaz de uma previsão temporal, mesmo quando são conhecidas circunstâncias que levam a reconhecer a possibilidade, maior ou menor, de que venham a ocorrer.
No nível actual do saber, prever a ocorrência de um sismo com antecedência bastante que torne eficaz qualquer alerta é tarefa quase impossível e a crença, antecipada, na ocorrência ou não ocorrência de um sismo mais forte ou mais fraco, não passa de uma opinião pessoal que nenhum procedimento técnico ou científico pode suportar ou qualquer lei pode regular.
Estranho, pois, a insólita decisão de um tribunal italiano tão preocupado com a prevenção das consequências de fenómenos naturais aleatórios, mas que não põe em causa o elevado risco dos planos de urbanização na zona de Nápoles, permitindo construir em locais onde a possibilidade da ocorrência de erupções vulcânicas intensas é muito elevada. Neste caso o que a Ciência diz é que, mesmo sem saber quando, ela ocorrerá! Nesse dia a Itália assistirá a um drama maior do que o de Pompeia.
E dessa vez haverá razões para condenar alguém.

domingo, 21 de outubro de 2012

A GREVE DA LUSA FAZ SENTIDO?

Aceito, sem reservas, que a informação é um bem precioso que, por isso, deve ser preservado. Mas também reconheço que nem sempre esse bem é da melhor qualidade e que, muitas vezes até, se mostra de qualidade contrária à que a sociedade necessita para se transformar naquilo que, inevitavelmente, terá de ser no futuro.
Não tem a informação contribuído para compreender melhor esta “crise de fim de ciclo”, depois da qual um novo modo de viver será inevitável.
A par de profissionais de evidente qualidade que trabalham muito para que aquilo que digam seja o que merece ser ouvido, lido e conhecido, outros há, não tão poucos assim, que não me parece que merecessem, sequer, a carteira de jornalista.
Falo disto a propósito da Greve da LUSA, a agência de informação a que o Governo, neste tempo de absoluta falta de meios financeiros, decidiu cortar cerca de 30% no orçamento do próximo ano.
Por muitas razões me não parece que seja justificável todo este escarcéu com greve e tudo, primeiro porque o corte resulta da absoluta necessidade de “cortar”, depois porque competirá também à Lusa, como a todos nós, suprir com espírito de sacrifício, imaginação e organização as carências que a austeridade nos impõe.
Há sempre maneira de fazer melhor, de organizar melhor e poupar em muita coisa que nestas circunstâncias se revela dispensável.
De resto, todos estamos de acordo que é preciso poupar desde que não seja naquilo que nos afecta.
Penso que perdeu a Lusa, perderam os jornalistas da Lusa uma excelente oportunidade de mostrarem a sua real utilidade e a sua solidariedade num país que precisa de todos, que precisa de tudo e não especialmente de jornalistas que não consigam contribuir para a sua recuperação.
Tenho a certeza de que não ficará o país sem informação apenas porque os jornalistas da Lusa fazem greve. Depois não se queixem se for notado que, afinal…
Eu penso que a greve da Lusa não faz sentido, com o o não fazem a dos estivadores que prejudicam outros trabalhadores que ganham bem menos, assim como fazem mais pobres os que já o são e, até, passam fome.
Somos livres de nos manifestar, mas temos o dever de colaborar na recuperação do país.
 

sábado, 20 de outubro de 2012

QUANDO O DECORO FALTA!

"O Governo português é mais papista que o papa, só faz asneiras todo o tempo, um dia diz uma coisa, no outro, diz outra", disse o ex-presidente numa entrevista à Rádio francesa France-Culture.”
Esta é uma notícia que li no Expresso e que, tal como as que antes referi de D Januário e de Otelo, se tornaram em cassete que podia ser gravada uma vez e, depois, distribuída.
Mas desta vez, este político que, por certo, perdeu certas memórias e não sabe falar das coisas senão numa óptica de democracia conflitual que, estou convencido, não será a que pode perdurar num mundo onde os males da Humanidade já se não curam com mezinhas, resolveu dar esta imagem de Portugal no estrangeiro a qual, por certo, nos não trará benefícios.
Ficaria mais agradado se S Exa, pessoa de meios que não necessita do dinheiros dos contribuintes para viver, abdicasse das regalias que lhe pagamos e, como um dos mais velhos políticos vivos, desse aos outros a quem parece gostar tanto de ensinar, um exemplo que os levasse a abdicar, também, dos excessos que se permitem, enquanto não houvesse condições para a Segurança Social evitar a fome que afecta já, a muitos de modo impiedoso, milhões de portugueses.
Decidiu o Ex-Presidente juntar-se ao coro dos que preferem a catástrofe que, para uns, será aquele "mal de muitos" que parece ser conforto e, para os socialistas, o apagar da memória dos loucos festins de leviandade dos quais, como na AR disse o Ministro das Finanças, esta austeridade é a factura!
Hollande tornou-se o herói dos socialistas portugueses que ainda se não deram conta de como a austeridade vai tomando conta dos franceses que ele governa, das coisas que ele prometeu e não conseguiu cumprir, como a outros aconteceu também.
Para Soares as coisas continuam a ser traduzidas por números abstractos e não pelo entendimento que delas se possa ter, o que se nota na sua expressão "mobilização dos portugueses, de todo o país, de norte a sul, e de todas as classes sociais, o medo mudou de campo"…  Uma expressão popularucha que não traduz o que aconteceu em 15 de Setembro mas, apenas, as mini manifestações orquestradas e insultuosas nas quais os maestros são sempre os mesmos.
Não se deu conta o ex-Presidente que, no mundo, muita coisa mudou que tornou obsoletos os conceitos e os princípios que, no seu tempo de democrata a qualquer preço, eram adoptados pelos que criam tudo ser possível desde que o povo o desejasse!
Agora é diferente. Já não é o povo “quem mais ordena” mas sim a Natureza revoltada por tantas mazelas que a ganância lhe causou e a realidade que nos mostra que o tempo das vacas gordas já acabou neste mundo onde os recursos não são inesgotáveis. Agora não basta querer porque ser possível é a base do êxito de qualquer coisa que se pretenda fazer.
Por isso, não sou dos que esperam desta política do Governo, afinal de contas igual a tantas outras que esperam recuperar o modo de viver que faz do consumismo excessivo a base indispensável da sua existência, os resultados que melhores seriam para o futuro a curto prazo, nem penso, sequer, que toda esta austeridade tivesse de ser o preço a pagar pelos erros de outros governos loucos, mas prefiro-a às consequências desastrosas de uma crise política da qual jamais Portugal recuperaria.
Lamento, pois, que um ex-Presidente da República do meu país tome as atitudes que Soares toma, as quais, sem dúvida, não podem deixar de revoltar os portugueses honrados e de escandalizar todos os que, lá fora, ficam a pensar ser este um país de pacóvios que permitem ao Primeiro Ministro e ao Presidente da República “só fazerem asneiras, todo o tempo!". 
É o que pensarão em vez do que deveriam pensar, porque este político que os portugueses já, por duas vezes, claramente rejeitaram, continua tão ressabiado como, por isso, ficou!
 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

OS PONTOS E AS VÍRGULAS

Quando não há dinheiro e não interessa aqui por qual razão o não há, os cortes são inevitáveis. Pois, que outra coisa se pode fazer?
Uns atrás de outros, os cortes lá vão chegando a todo o lado e o resultado é sempre o mesmo, a estupefacção é sempre a mesma: por que a mim, se o que eu faço é da maior importância?
Hoje foi a vez da Lusa reclamar e fazer a sua greve! Como é possível cortar (vou citar de memória) três ponto oito milhões num serviço indispensável como é este de informar?
Não me interessa aqui comparar as indispensabilidades de tantos serviços que viram os seus orçamentos diminuídos porque entraria em conflito com todos que, cada um de per si, se julga o de maior importância seja lá para o que for.
O que, francamente me chateia é que jornalistas de uma agência noticiosa portuguesa não falem português e façam aquela confusão entre pontos e vírgulas que até alguns deputados e governantes também fazem.
De uma vez por todas, não se diz três ponto oito milhões quando se quer dizer 3,8 milhões, porque é assim que se diz em português.

O PLANETA DOS MACACOS?

Ainda não entendi muito bem, ou até nada, o papel da Comunicação Social neste momento tão difícil da vida de Portugal, quando tanta coisa está em risco e o futuro de nós próprios, dos nossos filhos e dos nossos netos não está assegurado, quando o acumular de tensões pode fazer explodir milhões de barris de pólvora.
Por vezes a “informação” cheira-me a mal dizer, outras vezes a conversa de chacha e, muitas vezes também, a provocação, raramente me dando conta do bom senso que dela deveríamos esperar ou do rigor do qual nunca deveria abdicar.
Qualquer jornalista sabe o que vai ouvir se entrevistar o D Januário ou o Otelo, por exemplo, cujos discursos não variam rigorosamente nada. Discursos prenhes de ideias feitas e de lugares comuns, de distorções graves da realidade e de agravos aos princípios que a Democracia nos impõe. Por isso não vejo onde, nessas entrevistas repetidas, esteja a novidade que a informação deve conter e sem a qual o não é.
E mais uma vez foi entrevistado o “célebre capitão de Abril” que, uma vez mais, também, vem falar de revolução e, desta vez, sem cravos!
Diz Otelo, numa entrevista à Lusa, que é diariamente confrontado com “anónimos” que o convidam a fazer uma nova revolução, “agora sem cravos”. Uma entrevista que se segue a outras onde, claramente, se referiu ao mesmo assunto.
Esta angústia em que vivemos não nos deixa indiferentes a entrevistas como esta que, por certo, não deixará de ter efeitos nefastos em espíritos fracos ou enfraquecidos por tantas dificuldades que nos assolam e, por isso, se não dão conta dos disparates que contêm seja pela sua natureza anti-democrática seja pela ignorância do que seja esta “crise” que já envolve todo o mundo e se não resolverá à força.
A menos que a intenção seja dar razão ao realizador do “Planeta dos Macacos”, esse inesquecível monumento à burrice humana.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A SOLUÇÃO IMPOSSÍVEL

Enquanto existir défice aumenta a dívida pública externa; enquanto se reduzirem os rendimentos dos portugueses decrescerá a procura interna e não é de esperar que as exportações a compensem, pelo que não haverá crescimento; enquanto houver recessão decrescerá o PIB; a redução do PIB faz crescer a percentagem que corresponde ao défice e será necessária mais austeridade para a reduzir…
O que poderá fazer parar esta espiral decrescente enquanto o rendimento das famílias decrescer? Apenas um crescimento extraordinário das exportações, o que não será de esperar numa economia mal financiada e num mundo onde as dificuldades alastram a cada vez mais países, porque não parecem possíveis cortes nas despesas que permitam repor o poder de compra interno nem as reformas estruturais terão resultados oportunos para evitar o descalabro da economia nacional.
Deveria o Ministro das Finanças explicar aos portugueses por que razão o vermo-nos livres da Troika nos livrará desta fatalidade de vermos a austeridade aumentar ano após ano.
É, pois, tardio o reconhecimento do FMI de que a austeridade causa danos irrecuperáveis e incrível a desconfiança do Ministro das Finanças português quanto a este efeito que já nada permite disfarçar.
Sem outros factores, medidas e meios que, por enquanto, a Troika não consente considerar e nem o Ministro das Finanças luta para poder utilizar, não será possível recuperar a economia portuguesa.

UMA VIA MUITO ARRISCADA PARA PORTUGAL

Já não se disfarçam as divergências no seio da coligação que apoia o Governo e os protestos nas ruas sobem de tom e de forma.
Ninguém parece estar contente com as medidas de austeridade para o próximo ano, mas economistas ex-ministros das finanças que, longamente, ouvi falar, afirmam que pouco diferente deste poderia ser outro qualquer orçamento, tendo em conta a situação de Portugal. Mas reparei que não deixam de ter dúvidas sobre a sua exequibilidade.
Mas não oiço alguém explicar claramente a situação que obriga a tamanhos sacrifícios nem falar das expectativas de abrandamento deste tipo de decisões que, sucessivamente, se agravam. Fica a ideia de que assim será, sempre, até ao ponto de ruptura que nem imagino qual seja.
Na sua apresentação do OE2013, o Ministro das Finanças disse que “"Recusar este Orçamento do Estado é recusar o programa de ajustamento e escolher uma via muito arriscada para Portugal".
Mas porque será que ninguém apresenta alguma ideia do que poderá ser o nosso futuro nem vê outro objectivo que não seja o “ajustamento” financeiro de um país destruído?
Será que a “senhora da jaqueta” perante quem não desistimos de ser subservientes, quer secar toda a Europa à sua volta para melhor a dominar? Há um certo espírito hitleriano em tudo isto.
Será que, depois das conclusões a que chegou o FMI quanto aos efeitos negativos da austeridade ninguém tira esta “receita” do mercado?
A curto prazo tornou-se evidente que o futuro apenas será de sacrifícios que para muitos serão insuportáveis e a muitos outros obrigarão a profundas mudanças de vida, mesmo para além daquelas a que, salvo a minoria que grandes fortunas protegem, já foram obrigados.
Olhando à volta, seja por onde for, excepção talvez aos concertos musicais onde todos os sacrifícios parecem valer a pena (!), não evitamos pensar que a visão do deserto se aproxima e que o Inverno que aí vem, por mais ensolarado que as mudanças climáticas o façam, será negro como breu.
Mas onde está a ideia do que sucederá a mais longo prazo? Quais são, afinal, os riscos que Portugal corre se não for assim? E quais os que correrá sendo assim?
É aqui que todas as dúvidas se adensam, é nesta perspectiva que me parece que a ignorância é completa e faz desta via de austeridade exactamente aquilo que o Ministro das Finanças diz que seriam as consequências da não aceitação deste orçamento: uma via muito arriscada para Portugal.
É como conduzir à noite no deserto sem estrelas este modo de governar que ninguém sabe onde nos irá levar.
O pior é que outros, cada vez mais, erram neste mesmo deserto em que o mundo parece querer tornar-se.
Os de fora da Europa ainda vão conseguindo disfarçar a desgraça pelos efeitos, necessariamente temporários, que a desvalorização da moeda ou o lançamento de mais moeda no mercado podem produzir, mas que a política monetária da Europa não permite.
E assim temos um mundo dividido em grandes blocos, cada um adoptando as suas medidas para tentar evitar um crise que se revela mais forte do que todos eles.
Estamos a cuidar do dinheiro que nos deslumbra mas isto não é, não é mesmo, aquilo de que o futuro da Humanidade mais carece!

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

NO MOMENTO DA VERDADE...

Por maiores que sejam os “melhoramentos” que resultem de um fim de semana de trabalho a “cortar na despesa” para aliviar os impostos, não creio que que, mesmo assim, o OE2013 possa tornar-se num plano de preparação de um futuro sadio para Portugal.
Estas diligências finais e apressadas são a melhor prova do que tenho afirmado ser a incompetência e o desleixo do Governo na preparação deste documento tão importante para a recuperação de uma economia que nos proporcione uma qualidade de vida satisfatória.
Quando se deixa para o ministro das finanças a tarefa de endireitar as finanças do Estado, o resultado é sempre o mesmo, o apertar do cinto que, no nosso caso, já nem furos tem para tanto aperto.
Custa-me reconhecer como fui defraudado nas minhas expectativas de uma governação sensata, decidida e adequada à realidade de um país pequeno e de recursos limitados. Esperava que os tão falados “cortes nas gorduras do Estado” fossem, de facto, feitos, assim como esperava uma maior determinação nas renegociações das famosas PPP, fossem as consequência quais fossem. Reparar erros graves e grosseiros como os que neste casos foram cometidos, nunca poderia desprestigiar quem o fizesse, simplesmente porque é justo!
Não era fácil a tarefa, concordo, mas mais difícil será, agora, arranjar uma saída airosa para a situação criada.
Era evidente a aposta das oposições num falhanço como o que aconteceu. A extrema esquerda porque não tem outra função e o PS porque necessitava, a todo o custo, de fazer esquecer tudo quanto de mau fez nas suas governações, para o que nada seria melhor do que o falhanço da que se seguisse.
E em todas estas manobras que esta democracia sectária fomenta, Portugal é o prejudicado.
Esperemos para ver o que vai sair daqui.

domingo, 14 de outubro de 2012

COMO VAMOS SALVAR PORTUGAL? A DORMIR, À BRUTA OU COM A LEGITIMDADE QUE TEMOS?

O país sabia da situação mais do que delicada em que o anterior governo socialista o havia deixado. Que tínhamos uma casa muito desarrumada, também não era segredo para qualquer de nós, tal como o não era que o desenvolvimento que o governo Sócrates proporcionou a Portugal não passava de um conjunto de obras de fachada, agora com elevados custos e pouco préstimo.
Tudo isto era já sabido a quando das eleições das quais resultou o segundo governo do  “engenheiro” que o Partido Socialista apoiou calorosamente, apesar das muitas chamadas de  atenção para os perigos que se corriam com o prosseguimento da sua política! Apesar disso, os portugueses escolheram, de novo, Sócrates para continuar uma governação com a qual dava uma falsa ilusão de prosperidade num Estado Social cujos custos estavam muito para além das possibilidades do país para o manter.
O crédito era fácil e o controlo do endividamento dos bancos e das famílias era praticamente nulo. Só a poucos surpreendia esta “riqueza” qua não a outros que a deveriam julgar caída do céu e a quase todos permitia ter casa própria, mudar de carro frequentemente, ter a melhor tecnologia em casa, encher restaurantes, estádios e teatros. Apenas uma pequena parte dos portugueses conhecia, realmente, o custo da vida e o esforço necessário para se ter alguma coisa e, por isso, temia os resultados desta euforia de desperdício, da “felicidade” neste novo paraíso onde para sobreviver não era preciso mais do que levantar o dinheiro que o Estado, a muitos, entregava a troco de nada!
Tornámo-nos num país de novos ricos que conquistaram, julgando que definitivamente, o direito de o serem! É esse direito que reclamam agora em manifestações que, em vez disso, deveriam ser um “acto de contrição” pelos muitos erros cometidos, pelo aproveitamento de uma vida fácil que, sem qualquer dúvida, alguém, alguma vez, teria de pagar.
Por tudo isto, um país cheio de dívidas e desequilibrado era o ponto de partida de uma tarefa árdua para um novo governo que tinha recebido, de uma Troika, uma pauta com as medidas que deveria adoptar em contrapartida dos financiamentos indispensáveis para evitar a bancarrota.
Todos esperaríamos um bom senso capaz de aliviar as dores que, bem depressa, tomaram o lugar da felicidade que um socialismo, desequilibrado e oportunista, antes parecia proporcionar.
Depois de opiniões e mais opiniões de muitos que, pelo que se pode ver, nem sabiam muito bem o que diziam, tornaram-se óbvios os maus resultados de uma política de dura austeridade que, para além do curto prazo, só poderia ter como consequência o descalabro.
Só não vêem isso o Governo, a Troika e a Srª Merkel, para os quais as torturas que nos impõem devem ser o castigo que julgam merecermos pelas leviandades que cometemos, porque até o FMI já reconheceu o erro do excesso de austeridade que a Alemanha insiste em impor-nos.
É tempo de alterar esta política de usura que nos pretende tirar tudo, sem nos deixar nada com que possamos recomeçar. É tempo de nos mostrarmos unidos para exigir dos governantes não o reconhecimento de sermos o melhor povo do mundo mas o direito de sermos defendidos dos usurários.
Não serão as medidas sem nexo e demagógicas da CGTP que nos salvarão deste inferno, mas sim um plano de recuperação adequado e humano, como o reconhecem o Presidente da República e dois ex-Presidentes, Ramaho Eanes e Sampaio.
Só a extrema-esquerda e Mário Soares pretendem a confusão de uma crise política que nos destruiria. E tudo fazem para que aconteça.
É hora do mea-culpa do partido Socialista que, com o Governo, deveria fazer a frente comum que se oponha ao incontornável expansionismo alemão que, antes, por duas vezes já teve por objectivo conquistar a Europa. Vamos deixá-lo, de novo, lançar a Europa no caos?

sábado, 13 de outubro de 2012

OS VENDEDORES DA BANHA DA COBRA

É verdade que este país necessita de uma volta séria, feita por gente que saiba o que está a fazer, por gente que conheça bem os condicionamentos e os efeitos das medidas que sejam tomadas. E isto é uma coisa muito séria, tão séria que apenas gente competente a pode fazer.
De tudo o que não necessitamos é de vendedores da banha da cobra como se está a tornar este Arménio que a todos chama camaradas e debita chorrilhos de asneiras que, infelizmente, os tolos acabam por tomar por coisas sérias e capazes de nos fazer sair de uma crise que, o tempo já o provou, é muito mais do que isso.
Em contrapartida, o governo é mudo e incapaz de marcar um calendário político e de esclarecer todo o povo que, de outro modo, jamais entenderá a razão de ser dos sacrifícios que lhe são pedidos e, por isso, não tem como alternativa senão tomar por certo que a banha da cobra é cura de todos os males.
Nem sequer me parece que o povo que acorreu a este apelo da CGTP seja representativo do povo português, mas apesar disso é gente demais para ir no logro de uma corrente política, o comunismo, cujas virtudes o tempo desmitificou e cujos defeitos a realidade bem mostrou!
O tempo não está para Arménios oportunistas que com o seu palavreado pretende apenas têm como objectivo desestabilizar o país.
Oiçam com atenção o discurso deste comunista e verão como não tem sentido nem base alguma de experiência ou de saber que o justifique.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

ONDE ESTÃO OS REPRESENTANTES DESTE POVO QUE SOFRE?

Interessante esta questão das viaturas dos deputados. Ainda nem li bem o que se passou, mas deduzo que o Grupo Parlamentar do PS adquiriu novas “bombas” que Zorrinho, o líder parlamentar do PS, leva à conta dos “custos da democracia”. Outros há que explicam a coisa perguntando se não querem que, qualquer dia, o líder parlamentar do PS ande de Clio!
Sobretudo neste dia em que mais se fala da excessiva austeridade a que o Orçamento de Estado para 2013 nos vai obrigar sem efeitos positivos que valham a pena, decerto não cai bem esta de viaturas novas, caras e potentes que, nesta altura, não passam de um descarado atentado à dignidade dos portugueses que, mesmo sem poderem, as terão de pagar.
Num país em que a fome alastra, a falta de meios obriga a sacrificar a própria saúde nos seus aspectos mais básicos, onde há cada vez mais desempregados e alguns têm de sobreviver com uns míseros euritos por semana, eu pergunto: ONDE ESTÃO OS REPRESENTANTES DESTE POVO QUE SOFRE?
Mas haverá vergonha neste país?

ESTÁ O CALDO ENTORNADO!

Christine Lagarde, diz que o FMI avaliou mal as consequências negativas da austeridade que, afinal, podem ser mais do triplo do que pensava que seriam; Durão Barroso afirma que Bruxelas nada tem a ver com as medidas que os governos tomam para ultrapassar a crise da dívida e o Governo diz que as medidas lhe são impostas pela Troika!
Depois dos disparates feitos que levaram a austeridade a endurecer em vez de abrandar após o primeiro ano em que apenas medidas drásticas poderiam surtir efeito, ninguém assume a responsabilidade pela situação a que se chegou, ninguém a corrige apesar de reconhecido o erro e tornou-se mais do que evidente uma baralhação completa da qual os resultados não serão nada simpáticos.
Apesar dos sinais claros que recebeu, o Governo acabou por ficar isolado do povo que governa e dos que formam a Troika que o apoia, para além de já não ter um só analista que o defenda nas medidas que toma!
O Primeiro-Ministro e o Ministro das Finanças mal aparecem e, quando o fazem, dizem coisas que nada significam, talvez porque não entendam o que está a acontecer.
Poucos dias restarão ao Primeiro-Ministro para o poder continuar a ser, a menos uma atitude qualquer que torne forte um governo tonto e às aranhas com a tarefa que, já disso nos apercebemos, não sabe realizar.
Mas não pretendo dizer, com isto, que os críticos do governo o saibam. Infelizmente. E isto está a ser a origem de uma onde de contestação que nem precisa de razões claras para se propagar e tornar maior.
Afinal o que significa o acordo feito com a Troika, no qual foram impostas medidas de austeridade às quais alguém chegou a chamar punitivas? Mas punitivas de quem? Só poderia ser do povo que, afinal, foi induzido  em erros grosseiros por aqueles que, agora, gozam a vida onde bem lhes apetece ou se mantêm em lugares políticos que espreitam a governação!
Afinal, as medidas de austeridade punem quem?
Por outro lado, Portugal tem sido apontado como o “bom aluno” que está no bom caminho que é, agora, aquele que uns reconhecem ser mau e outros dizem não ser da sua responsabilidade. Esqueceram Christine Lagarde e Durão Barroso o que antes haviam dito ou o que significaram as inspecções periódicas da Troika a as suas “aprovações” dos resultados das medidas aplicadas?
O Orçamento de Estado que o Governo aprovou numa maratona à boa maneira do PREC, quando os Concelhos de Ministros duravam eternidades, não contém qualquer solução que não seja, realmente, fazer-nos empobrecer. Pior do que isso, fazer-nos entrar numa crise sem precedentes da qual vamos sair muito mal tratados.
Eu havia entendido o termo “empobrecer” que o Primeiro-Ministro utilizou como uma referência a termos de viver uma vida com menos dinheiro mas, mesmo assim, com a qualidade que a evolução em muitos domínios nos permitiria. Teríamos de abdicar dos excessos, quer públicos quer privados, haveria que acabar com tantos desperdícios a que a leviandade pública e de cada um haviam dado lugar, teríamos de ser trabalhadores e empreendedores, enfim, teríamos de conquistar com dedicação e com trabalho duro aquilo que julgámos ter conquistado com revoluções, reivindicações, manifestações e greves!
Agora está o caldo entornado. Mas parece que ninguém se dispõe a limpar o que sujou.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O ENTENDIMENTO DAS COISAS

Ao longo da minha vida pessoal, pouco mais do que um nada na vida da Humanidade, a população humana mundial triplicou, a degradação ambiental causada pela actividade económica atingiu níveis preocupantes para a própria sobrevivência da Espécie Humana, foram consumidos cerca de três quartos das reservas de petróleo aproveitáveis, são lançadas na atmosfera mais quantidades de CO2 e de enxofre do que as que resultam de fenómenos naturais, os gases de estufa resultantes da actividade económica interferem sensivelmente nos processos de alterações climáticas que se estão a tornar preocupantes, aproximámo-nos perigosamente da ruptura da capacidade de suporte alimentar do nosso planeta, reduziu-se drasticamente a biodiversidade e as reservas de recursos naturais atingiram níveis perigosos de sustentabilidade.
São alterações drásticas que acontecem num curto período sem expressão temporal significativa nos cinquenta a cem mil anos de existência e evolução do Homem, mas muito marcantes da História da Humanidade que, como de outras vezes aconteceu, atingiu uma outra situação de confronto, desta vez não entre facções de si própria mas com a própria Natureza da qual, por mais que dela queira excluir-se, sempre fará parte.
Apesar disso, apesar de tantas mudanças de que me dei conta, há atitudes e procedimentos que, praticamente, nunca vi mudar.
Por exemplo, a democracia continua a ser o confronto de curto prazo em que se disputa o poder em vez de ser, como o seria a democracia da solidariedade, o projecto de futuro que realizaria o melhor possível os nossos sonhos e minimizaria os sofrimentos desta Humanidade que, tal como as demais comunidades de seres vivos da Terra, tem de se esforçar para sobreviver. Um conceito que pouco mudou desde Aristóteles!
Pelo seu lado, a Economia continua a aplicar os princípios e as regras que, desde há mais de cem anos, um mundo diferente sugeriu e não encontra, nas teorias que desse modo construiu, explicações para uma crise sem fim que resiste a todas as mezinhas e tratamentos que lhe sejam aplicados. A Economia parece ter fechado os olhos à realidade que continua a pensar que seja aquela que, afinal, já não é, em consequência de tanto que mudou.
Por tudo isto, muito simplesmente eu pergunto, aos ilustres sabedores das ciência políticas e económicas que insistem em resolver problemas que se vão agravando, com soluções que não resultam, porque, se tanta coisa mudou, não conseguem mudar o seu entendimento das coisas para encontrarem soluções que resultem?

O QUE FARÁ CORRER SOARES?

É verdadeiramente notável a campanha deste "ex-muita coisa" a quem todos nós pagamos umas instalações que não são baratas, um salário que não é baixo, se desloca (e pelos vistos sem grande respeito pelas regras do trânsito) num bom carro que também pagamos, assim como pagamos o motorista que tem às suas ordens. São estranhas as atitudes deste homem que, republicano, democraya e laico" como se afirma, arranja uma desculpa populista, mas nem por isso menos “esfarrapada” para não estar nas comemorações do 5 de Outubro na Câmara Municipal de Lisboa, para estar numa reunião comício do PS, a fazer o discurso que em outro lugar lhe não consentiriam.
Pede a queda do governo que, segundo ele, “está moribundo e já ninguém leva a sério” ou diz que este ou aquele ministro se deve demitir, baseado em princípios que são os seus ou da sua “democracia” que tem soluções para todos os males, como diziam ter o “livro vermelho de Mao” ou do “livro verde de Komaini” que Feus haja!.
Tenho sido particularmente crítico deste governo em consequência de algumas medidas que tem anunciado e até do modo como as tem anunciado, reconheço que deveria ter feita mais que evitasse novos agravamentos de impostos, mas tenho apreciado, de algum modo, o facto de conseguir ouvir as queixas e os reparos que são feitos, em consequência do que se tem esforçado por melhorar as soluções que, dê por onde der, terão de preencher o vazio deixado por uma decisão do Tribunal Constitucional e pelos efeitos do agravamento da economia mundial na execução orçamental em 2012.
Tal não livra o governo das críticas da lentidão em decisões de reestruturação do Estado que poderiam estar já a mostrar efeitos favoráveis, nem o iliba das falhas mais do que evidentes nas suas relações públicas que, apesar das dificuldades que teremos de admitir que existam quando se tem de negociar, a par e passo, o dia seguinte das finanças do país falido com os seus credores, deveriam ir muito além do quase ensurdecedor silêncio que o faz parecer ausente.
Não será, de todo, fácil, governar nas condições em que este governo tem de o fazer e, por isso, posso, até, imaginar o enorme trabalho de manter unido um governo obrigado a tomar decisões difíceis com as quais nem todos se conformarão, para além do trabalho, por si também enorme, de tapar tantos buracos que outros governos cavaram e desmontar as armadilhas que vai encontrando no seu caminho a cada passo que dá.
É uma situação nova neste país que não encontra, seja onde for neste mundo a caminho da recessão global, os auxílios de que necessitaria para retomar a via normal pela qual todos ansiamos.
Para além de tudo isto, não precisa, por certo, o governo das “bocas” constantes deste senhor Soares que, para além da provecta idade que lhe deveria granjear particular bom senso, deveria possuir experiência política bastante para não tentar incendiar um barril de pólvora que nos pode queimar a todos!
Será um caso de interdição este socialista que, um dia, para resolver os problemas que o seu socialismo lhe criou o teve de meter na gaveta?

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

ORÇAMENTO DE ESTADO 20 13. O QUE VEM AÍ?

Quanto a mais austeridade, um temor que não há modo de sair do nosso dia-a-dia, aquilo que já podemos saber, e não é tudo, faz-nos pensar em como será duro de passar o próximo ano. Decerto bem pior do que este está a ser.
Não pensava eu que tivesse de ser assim, que tivesse de ser ir tão longe no “apertar do cinto”, nas falências e no desemprego, ainda que soubesse que bastante dureza seria inevitável.
Escrevi, há bastante tempo já que, apesar da mudança de modo de viver que as circunstâncias naturais mostram ser inevitável, esta “economia” esgotada iria tentar sobreviver o mais que pudesse, daria mais umas umbigadas para tentar resistir a um destino fatal e os economistas tudo fariam para que esta fosse mais uma crise que se ultrapassaria com umas quantas receitas que algum Keynes, Friedman ou outro laureado qualquer tenham, em tempos, prescrito. Mas a cada dia é mais evidente que todas as receitas falham e que nem a desvalorização da moeda na já segunda maior economia mundial, a China, nem as injecções maciças e ilimitadas de dinheiro na primeira, os Estados Unidos, evitam o caminho para a recessão global que, tudo o indica, acabará por dominar o planeta, o que, aliás, um mero raciocínio físico não fazia difícil de prever, também.
Aqui em Portugal onde, na sua pequenez territorial, mesmo assim tão mal aproveitada, as coisas deveriam ser mais simples de resolver, deixámo-nos encantar por projectos megalómanos que “nos deixariam muito bem colocados na partida para um crescimento económico imparável”, a leviandade fez-nos cair numa situação de dependência humilhante por dívidas que nem todo o rendimento nacional de um ano inteiro consegue pagar.
Quando do logro nos demos conta, era urgente afastar do poder os que nos colocaram nesta medonha situação e foram afastados; era justificada a esperança num novo governos que tudo fizesse para dela nos livrar, e tivemos esperança; eram inevitáveis medidas duras de austeridade num país que gastou demais e elas foram aplicadas; era de esperar o ”redimensionamento” do Estado esbanjador e ultra benemérito que permitisse poupar recursos escassos, mas tal não aconteceu; era natural que reagíssemos a mais medidas de austeridade que um mau trabalho do governo não permitiu evitar e reagimos; eram de prever novas medidas de austeridade e elas estão a chegar! Faltam já poucos dias para sabermos quais.
E o rosário continuará se, muito rapidamente, não tomarmos consciência de que o mundo está diferente e, por isso, antigas receitas deixaram de resultar e de que da riqueza enorme que julgávamos possuir apenas pouco mais do que cotão nos resta no fundo dos bolsos. Por isso, não poremos fim ao rosário se nos não convencermos de que o Estado Social não é um maná que sempre tem de cair do Céu quando é preciso e, por isso, nos não dispensa do esforço pessoal do qual nunca poderá ser mais do que um complemento. E mais continuará se não regressarmos à iniciativa e ao trabalho que a maioria de nós trocou por empregos que julgou seguros e com direitos que jamais alguém nos poderia retirar.
Sinto a frustração de uma esperança que não vi concretizada e vivo o temor de um futuro que não sei o que nos reserva, tantos me parecem os disparates que por aí se fazem.
Muito cuidado com o que seja feito, com a crise que poassa acontecer, porque as consequências serão terríveis.
Mas que é necessário que nos manifestemos... isso é! 

domingo, 7 de outubro de 2012

O PROBLEMA É O DIA SEGUINTE OU SABER O QUE DELE FAZER?

Esta curiosa notícia não podia deixar de me suscitar uma reflexão profunda: “O Congresso das Alternativas juntou duas mil pessoas, em Lisboa. A esquerda uniu-se para mudar o Governo, o País e a História. Dizem que têm a força e a vontade, o que lhes falta mesmo é uma agenda política”.
Insistem os políticos em manter uma estúpida divisão na Sociedade que necessita de um projecto comum para ultrapassar este “Cabo da Tormentas” que nunca será ultrapassado na luta de uns contra outros, mas com a colaboração de todos.
Diz a notícia que “discutiram propostas sobre Economia, Finanças, Cultura, Europa ou o Mundo. Durante dez horas traçaram o destino do País.”
Não sei do que falaram do mundo, mas, decerto, se esqueceram do mais importante, do estado em que se encontra, do Ambiente que as políticas degradaram, dos recursos que exauriram, da Biodiversidade que dizimaram e de tantas outras coisas que, por certo, se não resolvem nem, tampouco, se abordam numa reunião política, nem que dure um ano inteiro. E a razão é simples, a Política sem Conhecimento NÃO É NADA! É preciso conhecer bem o que há para o poder gerir, é necessário conhecer bem os problemas para os poder resolver!
Em conclusão, NÃO SERÃO OS POLÍTICOS QUEM RESOLVERÁ SEJA O QUE FOR, porque não conhecem aquilo de que dispõem para o fazer, desconhecem os limites até onde podem ir e, finalmente, pensam que com uma simples agenda política poderão resolver qualquer coisa quando a mudança do mundo é tarefa longa e árdua para quem saiba, para quem estude a fundo as questões que os políticos apenas tratam pela rama.
Acho  até graça que alguém “quisesse que daquele grupo de homens e mulheres de esquerda surgisse um partido. A consequência lógica deste Congresso seria a criação de uma associação política. Senão, não fizemos mais do que uma conversa sobre o sexo dos anjos".  Como foi...
Esta seria a forma de, derrubado o governo, este não cair na rua porque cairia, direitinho, num colo acabado de aquecer! Como se pode ser tão ingénuo? Ou não foi apenas ingenuidade o que, como é próprio da política, ali esteve?
Acordem senhores, O MUNDO É OUTRO onde as coisas já não podem ser pensadas da mesma maneira, onde a política se não pode fazer do mesmo jeito, porque há novas questões a resolver, novas e maiores dificuldades a ultrapassar, as quais se não encontram identificadas em qualquer manual económico, financeiro ou político que, por isso, não têm as soluções necessárias para mudar o nosso suicida modo de viver!
Reunam-se os HOMENS SÁBIOS DESTE PÁIS e do mundo, sem políticos ambiciosos de poder, para ensinarem aos governos os limites entre os quais terão de se mover e as metas que ninca vão conseguir alcançar. Acabem com os preconceitos de uma esquerda que apenas sabe viver com os meios que ao capitalismo reprovam e dentro dos princípios por ele definidos, mas que a realidade tornou impossíveis, deixando sem meios os grandes projectos que arquitecta . Tomem consciência de que não será com medidas de ocasião que, embora permitam conquistar o poder, não resolvem problemas que apenas têm solução a longo prazo.
Quando forem colocados em causa os princípios desta política que uns senhores dizem querer organizar numa agenda e, em vez deles, for mostrada a necessidade de percorrer outras vias e, até, de aceitar outros destinos, começarei a ter alguma esperança de que o Homem seja capaz de vencer a estupidez que o cega ao ponto de não ver o abismo para que caminha!
OS PRINCÍPIOS JÁ EXISTEM, MAS OS POLÍTICOS DESCONHECEM-NOS.


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

QUE FUTURO QUEREMOS TER?

Continuo a não ouvir, do Governo, do Presidente da República, do líder da Oposição, nem hoje do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa nas comemorações do 5 de Outubro, uma palavra sequer sobre o que será o futuro de Portugal. Não me refiro à chamada Extrema Esquerda porque, perdoem-me por isso, já não sou capaz da paciência que tantos disparates me esgotaram.
António Costa aposta numa atitude de rebeldia que ninguém nos consentirá, seja a Europa, o FMI ou o BCE. Concordo que sermos, apenas, bons alunos é muito pouco e que um país tão antigo como Portugal terá, sem dúvida, mais para dar à Europa do que subserviência. Mas não vejo como este país, pequeno naqueles parâmetros que hoje definem a grandeza dos países, pode obrigar a Europa a deixar a via de declínio pela qual enveredou. A menos que a mensagem seja no sentido de mostrar que temos força para a empurrar ainda mais.
Por isso, será num contexto de inevitável mudança que teremos de encontrar um lugar que seja o nosso, que teremos de adoptar uma atitude que possamos manter em vez de reclamar contra o que nos impõem. Em suma, temos de decidir sobre o país que queremos ser. E se quisermos ser o país que a realidade mos permite que sejamos, teremos de dela começar a tomar consciência, no que, a via do conhecimento que o Presidente da República apontou será indispensável. É indispensável conhecer melhor o mundo em que vivemos para melhor nele podermos viver. O que os economistas dão mostras de desconhecer...
A primeira coisa a fazer é tomar consciência de que houve uma via de crescimento que acabou e, com ela, uma atitude consumista que não poderá continuar. São razões físicas, naturais que a isso obrigam. Então porque a estultícia de querer regressar a tempos e atitudes impossíveis se serão outras a vias para um crescimento diferente e outra a riquesa que podemos alcançar?
Mas todos os projectos apontam no sentido do regresso ao passado que nos trouxe até aqui, toda a austeridade tem como objectivo esse regresso impossível e, por isso, terá de ser cada vez maior, assim como todos os protestos reclamam o regresso à “comodidade” daquele mesmo passado em que trocámos a iniciativa própria e o trabalho pelo emprego onde podemos conquistar direitos e aliviar as obrigações.
Continuam todos, como enquanto esperávamos pelo D Sebastião, à espera de um milagre que não pode acontecer porque fomos longe demais numa via que tinha limitações que deveríamos conhecer.
Daríamos outra grande lição ao mundo se arrumássemos a casa para passarmos a ser o que podemos ser, em vez de continuarmos a ser o Portugal Pequenino que sempre terá de fazer o que outros lhe impuserem que faça.
Há outros caminhos que podemos percorrer ou, mesmo, voltar a percorrer até fazermos do mundo que demos ao mundo, aquele que será o melhor para viver.
Os dois discursos que hoje escutei, no dia em que se comemora a implantação da República em Portugal, bem foram merecedores do modo como a Bandeira Nacional foi içada!