ACORDO ORTOGRÁFICO

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sexta-feira, 31 de maio de 2013

OS MANJERICOS DA CRISE...





Aí está Junho! O mês que a tradição fez de Festas e dos Santos Populares

Com cantares e bailaricos,
Pimentos, sardinha assada,
Com balões e manjericos,
Vai ser uma festa danada!

Era o tradicional programa o que estava previsto para o mês inteiro, no qual as únicas marchas seriam as dos bairros típicos de Lisboa, com as suas cantigas, os seus trajes garridos e os seus arcos alegóricos.
Mas o mês parece querer ser mais animado do que o costume! Andam a preparar outras marchas e outras festas até. Tendo o ano doze meses, por que sobrecarregar de festas um que já estava bem cheio? Falta de imaginação ou vontade de estragar a festa?
Mas enfim, se é tempo de festas que festas se façam…

De balão lá nas alturas
Na Avenida a desfilar,
Para esquecer desventuras,
Seguro, Passos, Gaspar...

A marchar, a marchar sempre,
Com o Arménio a discursar,
Com a Avoila a gritar,
Lá vai a marcha contente!

Mas a euforia sempre acaba por passar. Depois do excitante “vou p’ra festa!” há sempre um pouco entusiasmado “venho da festa…”
E voltam as preocupações que nos levam a implorar os favores que aos santos se usa pedir. Desta vez, porém, a estes se juntarão outros que as circunstâncias tornam mais desejados neste tempo de austeridade. E lá surgem quadras novas nas bandeiras dos manjericos…

Ao romântico Santo António de Lisboa, casamenteiro que conserta as bilhas que as lindas moças partem na fonte, eu pediria:
De Sto António eu quisera
Meu coração consertasse
E, como à bilha fizera,
De novo inteiro o deixasse!

E o pedido a S. João…

S. João que me trouxesse
Alho porro bem pesado,
Para malhar no passado.
E nova vida me desse!

Ao venerando S. Pedro, de quem se diz ser quem comanda as lágrimas do Céu…

A S. Pedro, a quem venero,
E do Céu as chaves tem,
Um favor peço também,
Um daqueles que muito quero...

De nuvens o céu enchesse
Para que delas chovesse,
Água tanta, tanta, tanta,
Para limpar toda esta trampa!

Mas duvido que adoçar esta vida difícil seja tarefa fácil mesmo para estes queridos e tão prestáveis santinhos.
Talvez, por isso, seja melhor chamar em nosso auxílio toda a corte celestial. E mesmo assim…

Santos da Corte Celeste
Anjos, Arcanjos, Alminhas…
Escutai as preces minhas
E livrai-me desta peste:

Viver a vida a penar,
Pagar impostos tamanhos,
E a reforma esticar,
Se encolhe todos os anos…

Se assim continua a ser,
Mais dura a vida se torna,
E quem poderá dizer
Se p’ró ano ainda há reforma?

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