ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

terça-feira, 30 de abril de 2013

A CRISE, O DESEMPREGO, O PONTO E A VÍRGULA!

Acabou o folclore do Congresso do PS que transmitiu aos quatro ventos uma promessa de melhoria profunda se os socialistas forem governo. Seguro promete, mesmo, milhares de milhões de euros que vai buscar aqui e ali que, infelizmente, são lugares onde não pode meter a mão. Assim sendo, pode até ter descoberto uma mina de ouro puro que, se não for sua, de nada lhe servirá! E não irá servir, certamente, porque a “mina” não existe.
É feio tentar ganhar o apoio de um povo que passa dificuldades, ávido de um pouco de conforto na sua vida, prometendo coisas que não pode fazer.
Há muito tempo, vários anos até, que tenho a convicção, que fundo na realidade que observo, de que não estamos a viver mais uma crise, mas sim o final de um modelo económico já rapado até ao tutano e do qual resultam situações caricatas que o bom senso nos diz não poderem durar o tempo todo.
Parecemos uns tolos agarrados a ideias de abundância infinita que não existe, procurando soluções que ninguém encontra aqui ou em outro lado qualquer porque a verdade é que a crise parece fortalecer-se a cada remédio que lhe dão para que se fine!
Como se poderá defender uma “economia” em que ao direito constitucional de cada cidadão ter direito a uma habitação digna para si e para a sua família corresponde uma situação de tanta gente sem casa ou a viver em condições demasiadamente precárias, quando há centenas de milhares de habitações desocupadas?
Como defender uma política de direito ao trabalho numa economia que parece apenas gerar desemprego?
A propósito, cito uma notícia de hoje que diz “em Março havia 19,211 milhões de desempregados nos países do euro e 26,521 milhões em toda a União Europeia”, situação que tem tendência a agravar-se.
Como pode esperar Portugal por ajudas que outros já não podem dar? Penso que apenas nos restará fazer o que ninguém fará por nós: um grande esforço para podermos viver um pouco melhor!
É evidente que, por todo o mundo, está de resto a abundância que, mesmo enquanto pareceu durar, apenas beneficiou alguns, deixando de fora extensas regiões do mundo, cada vez mais tornando necessária a solidariedade sem a qual a Humanidade terá dificuldade em sobreviver.

Aproveito para uma observação que a notícia que li me sugere. O jornal, português, que a veicula escreveu como sendo 19.211 milhões e 26.521 milhões os números de desempregados na União Europeia. É óbvio que corrigi para a escrita correcta em português, com “vírgulas” em vez de “pontos” porque senão seriam os desempregados da Europa mais do que toda a população mundial!
Os “finórios” que andam por aí a dizer “três ponto quatro”, nos jornais, na televisão e na rádio, em vez do correcto "três vírgula quatro" para parecerem muito cultos, não passam de uns iletrados que deveriam regressar à escola para aprender coisas básicas.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

CONFUSÕES...



É natural que numa vida longa se vejam muitas coisas, entre as quais algumas que caracterizam as mudanças que vão acontecendo. Estou a lembrar-me das designações dadas às profissões.
Por exemplo, quando eu era miúdo, havia lá em casa uma “criada”, nome que se dava às empregadas domésticas, designação esta que, por todas as razões e mais uma que é não entender a razão de ser da primeira, me parece mais adequada porque mais elucidativa da profissão.
De outras mudanças idênticas dei conta também, mas nem sempre no sentido de adaptar a designação à profissão a que corresponda, mais me parecendo resultados de preconceitos que acabaram por torna-las mais confusas como acontece no “assistente comercial” que substituiu “empregado de balcão”. E por aí fora…
Mas nem só nas designações foram feitas as mudanças porque, também, do modo como são atribuídas. Por exemplo, não era qualquer um que merecia a designação de “artista plástico” porque teria de ser artista mesmo e não apenas alguém que tem como obra de arte colocar, a meia haste, uma bandeira portuguesa a preto e branco!

domingo, 28 de abril de 2013

OS ÁRBITROS NÃO SÃO ANJOS



Lembro-me do futebol sem televisão, visto pela comunicação social praticamente com os mesmos meios com que todos os espectadores o viam. Se o árbitro errou ou não errou, era coisa que cada um opinava conforme julgava ter visto ou as suas preferências clubistas lhe faziam crer que vira e não havia maneira de tirar a limpo quem estava ou não estava certo. Não havia, pois, razão para aprofundar discussões que nada podia, fora de dúvidas, esclarecer.
Mesmo arrastando, desde muito cedo, multidões, o futebol estava, então, longe de ser o que é hoje porque, ao longo do tempo, foi passando de um desporto cativante a uma “indústria” de milhões envolvida em paixões cada vez mais exacerbadas mas suportada por interesses que deram lugar a outras “indústrias” que, não raramente, pervertem a consciência desportiva que herdou das suas origens.
Também o modo de ver o futebol se alterou profundamente. Olhos muito especiais observam-no de todos os lados e ângulos perscrutando todos os pormenores, de modo como nenhum ser humano o consegue ver. A “verdade” passou a ser apenas uma, aquela que as imagens gravadas e as tecnologias de repetição permitem determinar quase sem falhas de rigor.
Hoje, no futebol, já não faz sentido dizer que “perder ou ganhar, tudo é desporto”, pois estão muito para lá das sensações que o desporto pode provocar, aquelas a que os proveitos ou os prejuízos resultantes dos resultados podem dar origem.
Jogadores e treinadores chegam a ganhar salários absurdos que elevam os encargos financeiros dos clubes a níveis que se não compadecem com faltas de rigor, para além de outras formas de movimentar muito dinheiro e os correspondentes interesses que não podem ser indiferentes a tanta coisa que acontece.
Por isso se procura a “verdade” ou se faz tudo para que a “mentira” a pareça e os árbitros, a quem o sistema confere uma autoridade absoluta de decisão em casos nos quais deixaram de ser os melhores julgadores, não podem deixar de ser tidos como a causa de falsidades quando as suas decisões não conferem com a “verdade” que as tecnologias permitem determinar.
Por isso não faz sentido que, a par de tantas mudanças que no futebol tiveram lugar, se mantenha a arcaica forma de arbitrar os jogos profissionais, sujeita a erros que a condição humana do árbitro sempre pode justificar, mesmo quando fica óbvio que as suas razões vão muito para além dessas “falhas”

sábado, 27 de abril de 2013

OS CORTES DAS FINANÇAS



É uma pena que Gaspar não prefira outras soluções que não sejam, essencialmente, cortar pensões e salários.
É natural que seja assim quando se dá poder demais aos “homens do dinheiro” nos tempos em que este não abunda, fazendo com que todos os demais, a quem compete manter o país a funcionar e seguro, fiquem sem grande margem para fazer seja o que for.
Parece-me ir já longe demais a preponderância das finanças, das soluções que lhe são próprias e tolhem outras que evitariam o desconforto e as perdas que as soluções meramente financeiras provocam.
Na nossa tradição de “financeiros de banca” que pouco percebem de economia real e de problemas sociais, é deste modo mais simples e imediato que resolvemos os problemas, com austeridade crescente. Nem que tal cada vez mais nos coloque na dependência dos interesses de economias mais fortes.
Torna-se evidente como as razões se dividem no Concelho de Ministros e como, cada vez mais, sobe de tom a voz da frente que se opõe a Gaspar, sabe-se lá com ques consequências a mais curto ou longo prazo. Talvez por isso, como abutre que sobrevoa a presa, o PS espera a sua vez de não fazer melhor. Infelizmente.
Sem por de parte a necessidade de austeridade que, em tempos de ruptura financeira, não há como evitar, há tempo demais que outras alternativas deveriam ter sido consideradas, com soluções mais conformes com as razões que ditaram a crise e menos com a obrigação de a pagar.
Ontem escutei, por exemplo, um ex-Secretário de Estado da Energia falar dos erros pasmosos e grosseiros que se fazem em domínio tão sensível e que, como em outros domínios, se disfarçam com as cada vez mais célebres “rendas”, “taxas” e “portagens” que continuam a sangrar o país e a pedir cada vez mais sacrifícios aos que têm de as pagar.
É extraordinário o que se paga em cada factura de quaisquer serviços que nos sejam prestados, abastecimento de água, fornecimento de energia eléctrica, fornecimento de gás, televisão e telefone, seja o que for. Em tudo pagamos, também, ao Estado e à Câmara, entidades a quem voltaremos a pagar, ainda mais, sob outras formas.
Quantas coisas há para analisar e, por certo, para corrigir, atitudes que não fazem parte das contas do rosário do Ministro das Finanças para quem é bem mais fácil deitar a mão ao que der menos trabalho.

DISCURSOS DE OCASIÃO

Os discursos políticos são isto mesmo, um chorrilho de disparates disfarçados em frases sonantes, cujo sentido os que as dizem pouco pensam.
Decerto mais cuidadosos com o ângulo de visão que os favoreça, mais preocupados com os gestos apropriados às sensações que pretendam despertar, mais atentos às inflexões de voz que façam vibrar os ouvintes do que ao que lhes estão a dizer, tal como os seus conselheiros de imagem lhes recomendam, descuram o conteúdo da mensagem onde as palavras e as ideias perdem protagonismo para o cenário montado.
Não é nada que todos não saibamos já, pois tanta gente se encantou com a voz maravilhosa do Frank Sinatra, mesmo sem fazer ideia do que estivesse a cantar!
Para o provar bastarão duas frases do discurso de Seguro.
Começando por afirmar que “a alternância é a essência da Democracia”, diz depois que “numa altura em que alguns parecem descobrir as virtudes do consenso, quero reafirmar que a alternativa é tão valiosa quanto o consenso.”
Eu traduzirei estas ideias, gasta uma e falha de inteligência a outra, dizendo que o mesmo que antes disse, que o faz e desfaz da alternância democrática deixou de ser a maneira certa de fazer quando os recursos escasseiam. Está, pois, Seguro nos antípodas da sensatez com a alternância que as circunstâncias actuais desaconselham, tal como reforça a tacanhez do seu pensamento quando desvaloriza o consenso que, também, as circunstâncias não dispensam.
Quando o tempo não abunda para evitar os perigos que não esperam para nos atacar, fará algum sentido recusar a cooperação de que podem resultar consensos, preferindo a crise que a alternância nesta condições causaria sem que tudo o que depois aconteça evite a necessidade de consensos que as circunstâncias em que vivemos jamais dispensarão?
O discurso de cavaco foi, não restam dúvidas, o momento esperado para desencadear esta ofensiva ridícula já minuciosamente preparada e que é mais uma prova do não entendimento do que se passa e de como se ultrapassa. Um cenário já preparado ao pormenor, apenas esperava uma desculpa para ser mostrado. E aconteceu o espectáculo que não parece ter convencido ninguém! A menos os tolos...
E não haverá por aí quem acuda a este país onde até já o BE se diz preparado para ser governo?

sexta-feira, 26 de abril de 2013

AGORA É A MINHA VEZ!

Não é a primeira vez que digo que às regras quase matemáticas da Democracia tradicional falta o bom senso para reconhecer que, ao contrário do que era tido por certo, ela não tem soluções para tudo. Muito menos e cada vez menos serão soluções o desfazer o que outros fizeram para fazermos o que nós entendemos ser melhor. A alternância democrática que se reclama por tudo e por nada, baseada em hipotéticas maiorias de apoio avaliadas em manifestações mas que a Assembleia da República saída de eleições não traduz, não passa do acentuar da visão de curto prazo deste princípio nefasto em tempos de evidente e cada vez mais acentuada escassez.
Cada vez mais é necessária uma gestão de longo prazo que antecipe, com o rigor que o conhecimento científico permita, as consequências das atitudes que se tomem e limitem os desperdícios de recursos escassos ao mínimo inevitável.
Terá de ser assim num tempo em que as “engenharias financeiras” são cada vez menos capazes de iludir a realidade de uma Natureza que não acompanha o ritmo descabeçado do consumismo de que a “economia” necessita para não cair. É a incompatibilidade que se tornou evidente para o bom senso a que a Democracia se tornou insensível.
Não é boa gestão insistir na técnica do buldozer potente que empurra a areia à sua frente até criar uma montanha que já não consegue mais mover. Mas é o que tem sido feito com o acumular de erros que o modo incauto de superação das sucessivas crises tem provocado.
No seu discurso de 25 de Abril o Presidente da República parece ter compreendido isso e, em consequência, apontou o consenso como a solução que uma crise política nunca poderia proporcionar.
Ainda que não veja, em qualquer dos lados da barreira que a ambição política criou, o discernimento capaz de ir ao encontro das soluções que a realidade tornaria possíveis de alcançar, porque em ambos apenas descortino o desejo de voltar a um tipo de economia que o Tempo deixou, definitivamente, para trás, espero mais de um consenso que possa resultar da análise inteligente da situação do que  do faz e desfaz que pelo princípio de que "agora é a minha vez" possa contecer.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

SERÁ QUE A DOENÇA TEM CURA?



Eu sou partidário da tese da Argentina e também do Brasil que quando estavam nessa situação disseram: 'nós não pagamos'. Não pagaram e ninguém morreu por isso”, disse Mário Soares numa entrevista a um jornal do Brasil.
Eu nem sei o que dizer desta esta afirmação de alguém que, pelas funções que desempenhou, jamais deveria assumir a posição de não respeito por compromissos do Estado, dos quais os governos do partido que fundou são profundamente responsáveis.
Associando estas afirmações às atitudes de recusa do PS na participação no esforço patriótico de procura de soluções para o futuro de Portugal, fico a pensar que o plano socialista não será aquele conjunto de simples intenções não sustentadas que Seguro propala mas talvez o isolamento rebelde de que Soares se revela partidário. Como se tal fosse possível neste mundo de agora, como se tal atitude nos fosse consentida.
Como ficariam, neste caso, as responsabilidades dos que nos levaram à necessidade de pedir ajuda externa porque foram os promotores de gastos inoportunos em condições financeiras dispendiosíssimas e lesivas dos interesses do Estado, dos que se aproveitaram da situação para obter ganhos ilícitos?
Mas, para além destes casos casos que à Justiça competiria resolver, como pensa Soares que ficaria a maioria de nós que, ao contrário dele e dos culpados pela austeridade que sofremos, não tem condições para superar os tempos dificílimos que se seguiriam a tal tomada de posição nem para se proteger da barafunda social que se instalaria?
A verdade é que, em consequência dos desmandos que uns, os que conseguiram condições para superar a crise, praticaram, outros têm os seus salários e reformas cada vez mais reduzidos, enquanto outros ainda não prescindem das benesses e mordomias que os mais pobres lhes pagam…

UMA HISTÓRIA DO 25 DE ABRIL



Eu estava, desde 1970, em Lourenço Marques, hoje Maputo, quando o 25 de Abril de 1974 aconteceu.
O destino levara-me até ali para evitar uma terceira ida à tropa quando já era casado e tinha três filhos. Viajámos, eu e toda a família, numa longa viagem em que fizemos amizade com alguns militares, de alguns dos quais, passado não muito tempo, já só restava a lembrança…
Foi bem melhor estar ali, naquela terra bonita, como civil a trabalhar no LEM e a ensinar na Universidade, do que ter de abandonar a família e embrenhar-me no mato de onde ninguém podia ter por certo que sairia vivo.
Mas ninguém poderia deixar de perceber que, numa terra enorme e cheia de potencialidades, o futuro não passaria pelo resultado de uma guerra impossível de vencer, porque apenas poderia ser construído num espírito de cooperação que poucos quiseram entender.
Por essa razão poucos compreenderam, desde logo, o significado de uma “revolução “ que aconteceu subitamente, sem a preparação de uma mudança preparada de modo a que para todos fosse proveitosa. Por isso, talvez, a maioria se deixou levar na miragem simplória de que “agora é que a vida vai ser boa e livre”. Aconteceu de ambos os lados...
Mas houve um facto que, manhã cedo a 26 de Abril, me abriu os olhos para uma realidade bem para além do sonho de acabar com a ditadura, me esclareceu sobre o entendimento que muitos faziam das consequências do que estava a acontecer e me deu a medida do alcance de uma liberdade que, para ser verdadeira, só poderia significar a responsabilidade que, sem ela, nunca tivéramos.
Tinha acabado de deixar a minha mulher no seu local de trabalho quando me apercebi de algo impensável naquela cidade organizada, onde todos cumpriam, com rigor, as regras estabelecidas. Alguém estava a estacionar o carro com as rodas em cima do passeio! De imediato, como vulgarmente acontecia, um policial lhe chamou a atenção, ao que o prevaricador respondeu: “isso era ontem. Hoje estamos em Democracia”!
Era no significado de Democracia, da liberdade que lhe é própria que estava o segredo do sucesso que poderíamos alcançar. Mal compreendida, só poderia dar maus resultados.