ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sábado, 29 de junho de 2013

A LUTA QUE TEMOS DE LUTAR

Parece-me uma aberração, mas verdade é que ainda há quem, como Soares que, tal como Sócrates, ultrapassou os limites das nossas capacidades financeiras, abrindo brechas que o FMI depois tapou, considere ser a revolta a luta certa nestas circunstâncias de ruptura financeira grave em que a ajuda externa tem de suprir a falta dos recursos que, imprudentemente, foram esbanjados!
Parece-me irracional que se pense que o Governo exerça sobre o povo, por qualquer tipo de vingança, as “sevícias” que tantos vanguardistas lhe atribuem, porque, a menos uma incurável doença de loucura, ninguém bateria tão forte na própria cabeça. Que poderia fazer bem melhor, eu não tenho qualquer dúvida, sobretudo se tivesse a noção do que o futuro pode ser. Mas não tem, como, infelizmente, outros a não têm, também. Mas que tem feito o que, numa situação de fraqueza absoluta, lhe é imposto que faça por quem lhe faculta os meios para os seus gastos e tem seguido o que os equívocos dos “gurus” da economia têm por remédio, também é verdade.
Apenas sinto, pelo que conheço da realidade, que pode perder as esperanças quem pense dê bom resultado fazer como antes se fazia e que se espere alcançar o que antes se alcançava porque quando estiverem esgotadas as reservas que milhões de anos acumularam, restar-nos-á o que, dia a dia, nos é dado. E, com isso, a "economia crescente" não se conforma.
Depois de tanta discussão, ainda me não apercebi das virtudes das “alternativas” que são sugeridas a este “pacto de agressão” ou “espiral recessiva”, sejam as que se baseiam no que outros nos possam permitir fazer, sejam as “contas de mercearia” que tapam uns buracos destapando outros, sejam as que se baseiam no sonante mas ineficaz “não pagamos”. 
E continuo a não perceber, porque do céu não cai feito aquilo que, com as nossas mãos, a Natureza nos condenou a fazer, a razão de continuarmos a falar nos direitos do trabalho e não de como ele cada vez mais necessário.
Que os ambiciosos pelo poder queiram passar a ideia de hipotéticas farturas que a sua governação nos traria,o que não pode deixar de fazer eco na alma de quem sofre a míngua, eu entendo. Mas que quem sofre, porque não pensa ou não ouve a razão, se disponha a sofrer ainda mais por conta de falsas promessas ditadas por ambições alheias, já não está ao meu alcance compreender.


Eu penso que o melhor ao nosso alcance será o inteligente e integral aproveitamento dos recursos de que dispomos. 
Em Portugal, a confirmação da desertificação progressiva do Interior que significa o desperdício de muita da riqueza que nele se possa gerar, é o contrário do que se deveria fazer para minimizar a austeridade a que nos vemos obrigados.
Mas, por isso, qual é a luta que sai à rua?
 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

EÇA DE QUEIROZ E A GREVE GERAL



Por vezes, alguém se lembra de citar aqui na net Eça ou Pessoa que, nos seus tempos, foram capazes de dizer coisas que ainda hoje são actuais.
Hoje alguém se lembrou de que, nas suas “Farpas”(*), Eça comparou, em 1872, a Grécia com Portugal dizendo que "Nós estamos num estado comparável apenas à Grécia: a mesma pobreza, a mesma indignidade política, a mesma trapalhada económica, a mesmo baixeza de carácter, a mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se em paralelo, a Grécia e Portugal".
Recordou, também, como Eça descreveu brilhantemente, como era seu timbre fazer, o que mais de um milhar de anos antes se conta que um general romano(**), de um modo mais brusco dissera: “Diz-se geralmente que, em Portugal, o público tem ideia de que o Governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo: tira-se daqui a conclusão que somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade, e inaptos para a independência. A nossa ,pobreza relativa é atribuída a este hábito político e social de depender para tudo do Governo, e de volver constantemente as mãos e os olhos para ele como para uma Providência sempre presente.”
Não se pode estar mais de acordo com Eça de Queiroz num dia em que uma greve geral lhe dá total crédito, uma greve contra o que pretende ser o arrumar de uma casa desarrumada, a procura do crédito que se não tem, a adopção de hábitos de trabalho e de iniciativa que andam transviados, a responsabilização de cada um pelo futuro do seu país, o incitamento à iniciativa e outras coisas que acabem com a ideia que compete ao Estado tudo fazer, que a Constituição paga os direitos que consagra e que as conquistas se fazem na rua e não no trabalho árduo de que o futuro de Portugal necessita.
Lembro-me dos 150.000 empregos que Sócrates prometeu criar, dos muitos mais que, depois disso, se perderam e, agora, Seguro diz poder recuperar! Quando perderemos o mau hábito de prometer o que não podemos dar, de esperar que nos dêem o que nos compete conseguir, de sermos tão dependentes dos outros, enfim, imerecedores da independência!
Será que Eça tem razão quando diz quês somos “bons para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade, e inaptos para a independência”?
Pena seria se as consequências lhe dessem razão nesta greve cujo objectivo óbvio é forçar a demissão do Governo! 
Por certas coisas que vi, nem sequer fiquei ciente de a greve ser um direito ou uma obrigação que piquetes impõem. Mas algo me diz que esta greve não prestigiou os verdadeiros direitos dos trabalhadores. É pena.

PS:
- Agradeço ao Fernando Pereira da Silva que, num post, me recordou estas coisas que Eça escreveu.
- (*)As Farpas foram publicações mensais feitas por Ramalho Ortigão e Eça de Queirós, no mesmo ano da realização das Conferências do Casino.
- (**) Vive ali um povo que não se governa nem se deixa governar.
- No passeio que dei pela Costa do Sol vi imensos grevistas na praia...

AFINAL…


Há diversos anos que escrevo, neste blogue e noutros locais, o que penso sobre esta “crise” a que, normalmente, chamo “a crise” porque a considero o fim de um modo de viver que a Natureza não consentirá que se prolongue por muito mais tempo.
E no que escrevo tenho dito coisas que, aos poucos, a realidade vai reconhecendo e algumas pessoas também.
Obviamente, não sou único a dizer estas coisas, a ter estas noções que outros têm também por este mundo fora e outros, ainda, tiveram antes de nós.Mas somos, sempre, de menos, por maior que seja a nossa razão.
Tenho afirmado, pelas razões que, também, explico, que nada voltará a ser como era, que o mundo do futuro terá de ser diferente, que os que procuram remédio para este mal nem, sequer, imaginam que mal seja, que as alternativas a este governo que temos não seriam melhores do que ele, que… Enfim, tanta coisa tenho dito e tantas razões tenho apresentado para suportar o que digo que me dá gosto (se gosto a isto posso chamar) verificar que outros vão chegando às mesmas conclusões que a realidade cada vez mais coloca diante dos nossos olhos como se fosse, costuma dizer-se, um livro aberto.
Hoje deparei com um artigo de opinião de Henrique Monteiro onde, a par de outras coisas pude ler: “Sim, o Governo falhou, essa é a parte que já sei! Mas agora deem-me novidades. Jurem sem se rir que um Governo do PS seria substancialmente (reparem que eu digo na substância das medidas e não apenas no modo de as apresentar) diferente. Ou jurem-me que sair do Euro não era a tragédia que se sabe. Ou jurem-me que romper com a troika não tinha um efeito devastador”. 
E mais adiante: “O problema reside em todos aqueles que ainda não entenderam ou não quiseram entender que o mundo não voltará ser como era. O problema é que o Governo insiste numa receita e as oposições noutras, embora nem uns nem outros (nem eu, não me tomem por presunçoso) conheçam a doença. O desafio é refazer as relações sociais num mundo diferente sem perder o essencial do que construímos”.
Só posso dar razão a Henrique Monteiro que, tenho a certeza, nem imagina que escrevo este blogue onde, afinal, já escrevi, por mais de uma vez, tudo isto que ele agora diz!
Fica aqui o endereço para poderem ler tudo o que ele escreveu.
http://expresso.sapo.pt/sim-o-governo-falhou-mas-agora-deem-me-novidades=f816653#ixzz2XQVJd8rL

MUITO ESPERADO, MUITO ANUNCIADO, MAS UMA DESILUSÃO!


A curiosidade de ouvir o que o Ministro das Finanças tivesse para dizer, dois anos após o pedido de ajuda externa ainda em curso, resultou, para mim, numa profunda desilusão.
Não me interessaram nada aqueles pormenores do que se foi passando naqueles dias em que a bancarrota se aproximava a passos largos, os arrufos entre os intervenientes do “drama” que então se viveu e, menos ainda, como estavam ou estão as relações de amizade entre Teixeira dos Santos e José Sócrates.
Esperava ouvir falar das razões do que sucedeu, dos erros cometidos nas governações que fragilizaram a nossa economia e exauriram os nossos recursos financeiros, das decisões de despesismos tomadas mesmo quando se tornou evidente que a despesa pública excedia largamente o que seria razoável e muitas vozes se levantavam já, alertando para as inevitáveis graves consequências de tal política. Foram meses de alertas que o governo não ouviu, em vez do que preferiu programar mais despesa, do que, num discurso, Sócrates se orgulhou!
Em vez disso e para além da descrição histórica que fez, Teixeira dos Santos fez algumas afirmações que convém analisar.
Afirmou que o famoso PEC4 teria sido a solução que evitaria o pedido de ajuda financeira que, depois de chumbado, se tornou inevitável. Não sei o que lhe consente fazer tal afirmação porque com o PAC4 ou com a intervenção da Troika e apesar das garantias que, disse, Angela Merkl lhe deu, o descalabro global que alimenta esta “crise” não deixaria de acontecer. Eu, pelo contrário, penso que tudo teria corrido como está a correr, tendo em consideração a evolução da “crise” pela Europa e pelo mundo que o PAC4, por certo, não alteraria! Depois, ninguém pode garantir os efeitos do que não aconteceu. Alguém com a formação do Prof. Teixeira dos Santos, não se pode permitir dizer coisas destas que podem gerar conceitos políticos erróneos e perigosos.
Mas o que mais me chocou foi a sua afirmação de que “se governa em função das informações de que se dispõe”! Assim, se soubesse o que sabe hoje, não teria reduzido o IVA nem aumentado os salários da Função Pública!
Em tudo isto eu leio os princípios contrários aos da boa governação que, como qualquer outra administração, se não deve guiar pelas circunstâncias, mas proceder de modo a influenciá-las, não se deve guiar pelas aparências porque deve saber ler, para além delas, as perspectivas de futuro, porque deve ser o futuro o motivo das suas preocupações, em vez das soluções intempestivas impostas pelo que, inesperadamente, aconteça a qualquer momento.
Sem espanto verifiquei que os eventos de crítica que se seguiram não conseguiram, também eles, afastar-se dos mesmos assuntos que a entrevista tratou, da amizade e da fidelidade do ex-ministro das finanças para com Sócrates, sem explorarem os aspectos que o ex-ministro poderia esclarecer para servirem de exemplo para o futuro!
Enfim, foi mais uma entrevista política para intervir no "PREC" em curso.