ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

A CAMINHO DA DESORDEM



Acentuando uma tendência que há muito se verifica, a de que são os mais ricos quem se apodera da maior parte da riqueza do mundo, o relatório da Osfam (confederação de 17 Organizações não Governamentais), baseado na informação prestada pelo Credit Suisse, diz no seu relatório intitulado “Recompensem o trabalho, não a riqueza”, informa que em 2017 cresceu o número de multimilionários que serão agora já mais de 2000 e se apoderaram de 80% da riqueza criada no mundo ao longo do ano que passou.
Está mais do que comprovada a tese de Marx de que a sociedade capitalista cavaria um fosso cada vez mais profundo entre os ricos e os pobres, problema que, como os factos o provaram, o comunismo não resolveu!
Isto significa que, a par de muito poucos que nem fazem ideia do muito que possuem e vivem em condições de luxo que não há necessidade humana que justifique, existe uma multidão que tenta sobreviver com menos de 1 euro por dia e vive em condições muito difíceis de suportar ou mesmo insuportáveis, as quais, pelos vistos, não pesam na consciência dos que acumulam riqueza, uma desumanidade que tentam disfarçar com as falsas caridades que praticam.
E se a verdadeira caridade se avalia pelo que fica e não pelo que se dá, fica evidente, também, não tornar o mundo mais justo aquela caridade da qual muitos se aproveitam, desviando-a dos seus verdadeiros fins, como a realidade nos mostra dia a dia.
Além de tudo isto, a situação de total desequilíbrio atingida, revela uma atitude que também não será solução, a de receber quem foge a pobreza extrema dos países explorados e pode ser a mão de obra explorável para funções que o desenvolvimento capitalista tornou impróprias de gente evoluída!
Está quase completa a evolução, a única evolução de que o capitalismo é capaz, a de fazer pobre o mundo inteiro!
Pegando numa realidade mais próxima, notemos como estas verdades se traduzem em Portugal, reparando bem na informação fornecida pela figura anexa que nos reforça a ideia já não rejeitada de que num pequeno país, a maior extensão é de pobreza, desprezo, desaproveitamento, ignorância.
O que fará o capitalismo do mundo?
E de Portugal?
Começa hoje o Fórum Económico Mundial em Davos, Suiça, ao qual a Osfam deixa um estrondoso recado no seu relatório que mostra que “o crescimento sem precedentes do número de bilionários não é um sinal de uma economia próspera, mas um sintoma de um sistema extremamente problemático já que mais de metade da população mundial tem um rendimento diário entre 2 e 10 dólares (entre 1,6 euros e 8,1 euros)”.
Será que o ouvem? Duvido até que o entendam.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

É SEMPRE MEDONHO QUANDO A TERRA TREME



Estava a escrever neste mesmo computador quando, hoje, pouco antes do Meio-Dia, senti tudo tremer.
Tratava-se, sem dúvida, de um sismo e só me restava esperar que se não repetisse o drama que já vivera há cerca de 50 anos.
Felizmente, este sismo foi mais suave e bem menos duradouro.
Então, era o ano de 1969.
Estava fresco porque o mês era Fevereiro.
Era noite, cerca das 4h e eu dormia quando fui acordado por minha mulher que me alertou para um sismo que estava a acontecer.
Soubemos, depois, tratar-se de um sismo de magnitude 8 na escala de Richter, com epicentro no mar, a sudoeste do cabo de S. Vicente.
A electricidade foi quase instantaneamente cortada, os elevadores, inutilizados, estremeciam e faziam um barulho medonho que, juntamente com autênticos uivos que a Terra parecia soltar, tornavam o ambiente um verdadeiro inferno do qual qualquer deseja livrar-se rapidamente.
Entre paredes que rangiam, quadros que caiam das paredes e outros barulhos estranhos, pegámos em três crianças que, mesmo assim, inocentemente dormiam, e começámos a descer as escadas desde o décimo andar daquele edifício que, na confusão que vivíamos, nos parecia tão alto como o Empire State Building.
A Terra continuava estremecendo com violência, num estertor que parecia não ter fim.
O estremeção iria durar mais de um minuto e seria o mais intenso desde o que, em 1755 destruíra Lisboa.
As escadas, entupidas por tanta gente que fugia também, tornava a fuga complicada.
Até que chegámos à rua e me lembrei da porta de casa que ficara aberta e de uma caixa com o dinheiro com que seriam pagos os salários da empresa onde trabalhava.
Foi uma luta difícil para decidir entre poder perder o que dificilmente reporia e o medo que sentia de ser apanhado numa derrocada.
Foi em desespero que regressei a casa, subindo, a correr, mais de uma centena de escadas.
Finalmente, junto com a família, afastei-me dos edifícios com receio de alguma réplica que pudesse acontecer.
A zona do aeroporto, a mais desafogada, estava cheia de carros que eram, nas circunstâncias, as habitações possíveis e só bem tarde as pessoas começaram a ter coragem de regressar a casa.

A CANABIS E AS URTIGAS!



A quem, como comigo aconteceu, teve de conviver com a Ciência e, por isso, dela conhece as exigências, os métodos e os propósitos, não pode deixar de fazer confusão a insistência da liberalização da canábis, invocando efeitos terapêuticos que parecem longe de serem aqueles que se apregoam.
Nas pesquisas que fiz não encontrei razões determinantes das virtudes que lhe atribuem, sendo a mais antiga a de um Imperador chinês que a menciona, há cerca de 5000 anos, na sua lista de plantas terapêuticas.
Não havia então laboratórios como os que agora permitem selecionar e dosear os medicamentos, em vez da cultura livre que se deseja autorizar para produzir canábis para fumar.
Em qualquer tratamento, a dosagem do princípio activo deve ser correcta e bem definida, o que não acontece nas plantas onde a concentração varia muito.
Diversos estudos mostraram a ineficácia da canábis no tratamento dos males em que se diz eficaz e não mais do que alguns efeitos de curtos prazo serão de esperar com o seu uso.
A liberalização da droga como combate à própria droga, como há quem defenda, é assunto em que me não meto porque não sei o bastante para o fazer, não muito mais do que “o fruto proibido é o mais desejado”, para além da desvalorização do que hoje faz milionários em cartéis que dominam vastas áreas no mundo.
Mas liberalizar uma droga, a ponto de quem quiser a poder produzir, invocando razões médicas que estão longe de estarem claramente provadas, é outra questão que, certamente, poderá originar sérios equívocos.
Tudo isto me faz lembrar um ditado que, quase por certo, a maioria desconhece “dói-te a barriga? Esfrega com uma urtiga!”.
Só quem não conheça os efeitos da urtiga sobre a pele, não saberá que, perante eles, a dor de barriga é um mal menor!