ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

CRESCIMENTO ZERO, RUÍNA OU SUCESSO?

Infelizmente, ainda não consegui reorganizar muitos documentos desde a minha última mudança. Naquela confusão está um livro que comprei há cerca de cinquenta anos, de cujo autor não consigo agora recordar o nome, mas cujo tema os tempos que vivemos me têm feito recordar. Tem por título “crescimento zero”, situação que sendo para os economistas a “estagnação” que não desejam era, para quem o escreveu, a atitude que poderia ter salvo o Homem de muitos dos problemas que agora o atormentam.
Então, para um jovem engenheiro convencido das virtudes do quanto mais e mais moderno melhor, o título era, no mínimo, intrigante. Por isso o comprei, pois sempre me seduziram ideias diferentes por saber que é com elas que posso corrigir ou fortalecer as minhas. Defendia o autor, ao contrário do que eu pensava, que a pretensão de “crescer” indefinidamente iria produzir desequilíbrios dos quais resultaria, a prazo, uma situação descontrolada e difícil de resolver. Era um visionário lúcido em contra-ciclo com as ideias em voga e de cuja intuição o tempo tem revelado a sensatez. Naquela época de grande euforia do crescimento económico, não acredito que, sequer, a primeira edição do livro se tenha esgotado e, talvez por isso, nunca o vi referenciado em parte alguma. Porém, a sua leitura fez nascer em mim uma inquietação profunda, um receio enorme pela harmonia natural que a ambição humana poderia destruir.
Hoje pergunto-me como, perante a clarividência de alguém que, há tantas dezenas de anos, previu que este tipo de crise aconteceria, ainda possa haver quem corra a comprar o último êxito de vendas do “único economista que previu a crise”, na esperança de mais rapidamente a superar ou dela tirar proveitos. A verdade, porem, é que os economistas não prevêem nem resolvem as crises. Provocam-nas, porque a escassez e a exaustão dos recursos naturais, a degradação ambiental e a exclusão de milhares de milhões de seres humanos do direito à fruição dos bens do mundo não fazem parte dos parâmetros que estruturam os “modelos futurológicos” em que baseiam as suas previsões nem dos princípios de “justiça social” que regulam as decisões que tomam. Ao contrário, considerar que sempre haverá o necessário para crescer mais e mais é, para eles, uma verdade axiomática que a Natureza desmente nas rupturas dos ciclos naturais que, há tempo demais, estão a ser excedidos. Tivemos professores que nos ensinaram – ou obrigaram a saber de cor – os ciclos do azoto, do carbono, da água e outros, conhecimentos que se perderam naquele “ligar à terra” após os exames porque, por mal esclarecidos, os julgámos inúteis. Poucos, se alguns, os relacionaram com o “ciclo global da vida” que, por mais que o queiramos desdizer, é o que está em causa neste Século XXI que, tudo o indica, será da maior importância para o futuro da Humanidade, em consequência dos fenómenos perturbadores que teremos de enfrentar. Problemas climáticos e energéticos, rápido acréscimo da população mundial, escassez de alimentos e aumento da fome e de doenças nas regiões mais populosas, poluição generalizada, redução drástica da biodiversidade, destruição da camada de ozono, entre outros, poderão atingir dimensões difíceis de conter pacificamente num futuro relativamente próximo.
Mal avisados ou insensíveis às suas responsabilidades sociais, também alguns engenheiros, aqueles para quem quanto mais e maior melhor, acompanham de perto os economistas na sua ânsia de crescimento sem limites. Que melhor prova dos excessos que cometem do que o moderníssimo e insustentável Dubai com a sua gigantesca Torre Khalifa, o mais alto edifício do mundo com 828 metros de altura e uma vista espectacular sobre um deserto escaldante? Toda esta grandiosidade, inútil perante as necessidades reais da Humanidade, faz lembrar a “fase barroca” que prenuncia o fim do “estilo” que já nada mais permite inovar.
Apesar de todo o optimismo dos que persistem na recuperação do actual modelo económico da crise em que mergulhou, cada vez se torna mais evidente a sua insustentabilidade e, em consequência, a necessidade de um outro que acautele os equilíbrios naturais que garantem a vida. Adoptar um modelo que não provoque rupturas, um modelo sustentável, será o grande desafio deste século do qual, em atitudes estéreis, já se perdeu mais de uma década.
Parece-me oportuno relembrar os “limites do crescimento” a que já aqui me referi, o Relatório do Clube de Roma que, no início da década de setenta do século passado, chamou a atenção para possíveis e próximas situações de ruptura a que o excesso de consumo conduziria. Apesar do esforço dos defensores do consumismo para as desacreditar, as conclusões a que Forrester, Meadows e outros chegaram, embora quase silenciadas ao longo de décadas, continuam válidas. Assim o comprovam análises recentes como a publicada na “Scientific American” - Maio/Junho de 2009 - “Revisitando os Limites do Crescimento”. A proximidade entre a evolução da realidade e as previsões feitas mostram que o perigo é real e vai conduzindo às rupturas então previstas.
Uma coisa a investigação do Clube de Roma não considerou: a influência no clima que é uma das preocupações maiores dos tempos que correm. Mas a sua relação com o excesso de consumo parece ser evidente e as suas consequências desastrosas são cada vez mais difíceis de reverter. Porém, tal não foi bastante para evitar o fracasso da Cimeira de Copenhaga tal como o de outras antes dela e, mais recentemente, da Cimeira de Cancun sobre as mudanças climáticas onde, de novo, decisões urgentíssimas foram adiadas em prol de um crescimento económico que ninguém se atreve a conter. Há sempre uns quantos “sábios” infelizmente capazes de compromissos com interesses que não são, de modo algum, os que a Ciência mostra serem os de salvaguarda e de dignificação da Humanidade.
Sem consciência de ser o “elo mais fraco” na cadeia natural, o Homem será quem mais perderá com a “revolta” que a Natureza já iniciou. Ou será que ainda nos não demos conta das mudanças que estão a acontecer?
Rui de Carvalho
11 de Janeiro, 2011
Publicado no Notícias de Manteigas, em Fevereiro 2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

COMO CUIDA A SOCIEDADE DOS SEUS IDOSOS?

Idosos que morrem em incêndios em lares sem as necessárias condições, idosos que passam o dia na rua, idosa que morre sozinha em casa e só é encontrada 8 anos depois…
É para isto que aumentou a esperança de vida?
Como pode dizer-se que a sociedade cuida dos seus idosos se os trata assim?