ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sábado, 30 de novembro de 2013

A FAMOSA PROVA DOS PROFESSORES


Não pode haver dúvidas sobre a má qualidade do ensino secundário em Portugal. Os resultados do trabalho dos professores, com mais de metade das provas dos seus alunos com nota negativa, são a demonstração clara, a evidência que se não pode negar.
É, pois, urgente que muita coisa mude para que os resultados se alterem. Não será apenas uma a causa do que acontece. Mesmo assim, não arriscará muito quem diga que a qualidade dos professores será, dentre todas, a mais importante.
Temos os alunos que temos e é para com eles o dever de organizar uma Escola adequada à sua formação, no que a qualidade e a competência dos professores é, naturalmente, um factor essencial.
Ser professor é uma profissão muito especial porque requer, para além do saber, qualidades que não são comuns à maioria dos cidadãos.
O mais sabedor não é, necessariamente, o que melhor é capaz de transmitir o conhecimento. Tenho disso provas diversas ao longo da minha carreira de estudante, com casos em que à qualidade profissional que, em alguns casos, era, sem dúvida, a melhor ou das melhores no mundo, não correspondia a melhor qualidade de docência.
É natural, pois, que os que se propõem ser professores possuam a capacidade de transmissão de conhecimento que apenas o conhecimento científico não garante, pelo que não será apenas a avaliação deste conhecimento o bastante para definir a capacidade para leccionar.
Há, pois, que pensar de outro modo a prova que confirma a aptidão para para o ensino, tanto mais que não existem escolas que formem professores.
E, por ser assim, não será uma prova dos conhecimentos científicos a que se impõe para garantir uma melhor qualidade dos professores.
Além de tudo isto, não me parece muito meritório o desempenho global do ministério de Nuno Crato que me parece responsável por demasiadas indefinições e alterações, por vezes intempestivas, excessivas e nem sempre muito compreensíveis, o que, certamente, não pode deixar de ser causa do baixo rendimento dos alunos.
Mas não avaliar os professores também não será, de todo, solução!

PREOCUPAMO-NOS TANTO COM COISAS QUE TEMOS A MAIS QUE NEM DAMOS CONTA DO QUE DE MENOS OUTROS TÊM … E, MESMO ASSIM, RECLAMAMOS!


Hoje alguém descobriu e publicou na net esta imagem confrangedora de um menino que mata a sede num pequeno charco de água pútrida! A imagem não diz quantos quilómetros teve de caminhar para chegar até ali e, sofregamente, beber a água que o seu corpo desnutrido lhe pedia.
Se fosse um caso único, não seria difícil de resolver. Mas são muitos os milhões que, por esse mundo fora constituem a sociedade dos enjeitados, daqueles que comem quando comem e o que puderem arranjar, bebem nestes charcos e não encontram qualquer sentido para a sua vida.
Não vivem com um ordenado mínimo seja de quanto for. Apenas sobrevivem enquanto forem capazes.
Preocupamo-nos com os nossos baixos rendimentos, com os cortes que nos fazem depois das lautas farras a que nos entregámos sem pensar nas consequências.
Jamais nos lembramos dos milhares de milhões de seres humanos que, por esse mundo fora, sofrem os tormentos do nosso desprezo e as dores da pobreza que o nosso egoísmo lhes impõe!
Se esta imagem pudesse sensibilizar a consciência de alguém…

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

QUANDO É O SABER A FALAR


Depois daquelas notícias preocupantes de Reitores de Universidades que cortam relações com o Governo, um inesperado e incompreensível desentendimento entre o Saber e a Realidade, foi com uma agradável “estranheza” que ouvi hoje, na rádio, o Reitor da Universidade do Porto dizer, com uma noção perfeitamente clara da situação que vivemos, que é dever da Universidade, como de todos nós, transformar as dificuldades em oportunidades para, com menos, passarmos a fazer melhor, apelando às nossas capacidades ainda não aproveitadas.
Quando já me apetecia desistir de me preocupar com o futuro negro que, tudo o faz crer, é quase impossível de evitar, surge alguém esclarecido que, em vez de reclamar, diz as palavras mais sábias que, nestas condições, se podem dizer.
Tem o Reitor da Universidade do Porto, personagem que não tenho o gosto de conhecer, uma perfeita noção do que seja a própria “universidade”, uma instituição que emerge da sociedade em que se insere para criar e salvaguardar o saber de que necessita para construir o seu futuro. Tem a noção de como é necessário um sobre esforço para conter os danos que a austeridade imposta pelas circunstâncias acaba sempre por causar.
Estou a falar de alguém de saber, com certeza. Não de quem encontra nas dificuldades a razão para protestar pelo que pelo seu esforço não alcança e, por isso, entende ser dever de outros proporcionar-lho.
Aceite os meus respeitosos cumprimentos, Sr Reitor!

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

E O PAPA FRANCISCO APELOU À VIOLÊNCIA? QUE IDEIA!


Depois de me parecer impróprio aquele discurso de Soares na Aula Magna que, tal como eu penso e muita outra boa gente pensa também, foi de uma inoportunidade inusitada e perigosa, vejo agora o ex-Presidente chamar o Papa Francisco em sua ajuda. Afinal, o Papa apelara, ele também, à violência!
Afinal, ele, Soares, até antecedeu em dois dias o que disse o Papa da pobreza e da humildade, quando chama a atenção do mundo para as desigualdades, excessivas e injustas, que este estilo de economia cria e poderá, um dia, originar o levantamento dos que são afastados do seu quinhão dos bens deste mundo, exigindo a sua parte, também!
É este um discurso comum e antigo na Igreja Católica que apenas pode surpreender quem nunca antes dele se tenha apercebido. Os agnósticos, por exemplo, aqueles que não sabem que a medida do que se dá está no que ainda fica! E se for muito… Mas adiante.
Não se dão conta das diferenças que existem, das circunstâncias em que é feito o discurso, da oportunidade e da forma que nada tem a ver com o pedido de derrube de um governo qualquer mas com um modelo de vida que divide os humanos entre ricos e Terceiro Mundo? Tal como nada tem a ver com o ajustamento à realidade que Portugal, queira-se ou não, terá de fazer!
Francisco falou de um modelo de vida, precisamente aquele que nos levou às dificuldades que sentimos e não ao que fazemos para as corrigir.
Eu próprio poderia dizer que há anos que escrevi sobre este assunto, do que poderia acontecer de violento num mundo que vive de forma em que as desigualdades se acentuam sucessivamente (e não posso mentir porque está escrito e publicado) e não faço das palavras de Francisco a ratificação do que, então pensei, e muito menos me vanglorio da antecipação.
Eu continuo a pensar que Soares foi insensato e que as suas palavras foram indignas de um ex-Presidente da Republica Portuguesa que deveria apelar a uma cooperação que até já havia desaconselhado, deveria exortar os portugueses ao trabalho enorme de reerguer o país e jamais apelar a uma atitude que, a acontecer, terá consequências demasiado dolorosas e imprevisíveis. Para as quais não alertou, talvez porque nem delas se lembrou.
Enfim, vivemos num mundo onde os irresponsáveis já são demais, mas que não saíra desta “crise” em que vive sem o bom senso e a cooperação que a sua superação carece. E não foi a nada disto que o discurso de Soares apelou, ao contrário do papa Francisco. 

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A IRONIA E A IMAGINAÇÃO


A ironia é uma forma de expressão nem sempre muito acessível, pelo que, não raramente, é mal interpretada. Antes de mais é necessário detectá-la e, depois, compreender o que, com ela, quem a usou quis dizer.
Não estranhei que, perante o sucesso que o Sporting parece ter já alcançado depois de uma situação de ruptura financeira total a que chegou, alguém perguntasse, um dia, ao Presidente do Sporting o que acha que deveria ser feito para resolver idêntica situação que o país atravessa e está a originar esta série de disparates e de desencontros que são, precisamente, aquilo de que Portugal menos necessita para resolver os seus problemas.
Com evidente ironia, própria de um dirigente desportivo que, apesar disso, entende bem demais o que se passa na política do seu país, Bruno de Carvalho respondeu que era simples, tirava-se da bandeira o vermelho, ficava apenas o verde e aplicava a mesma receita que aplicou no Sporting! E Portugal voltaria a ser nosso.
O que a algumas pessoas pode ter parecido quase uma heresia, parece-me a mim uma resposta sensata e simples que corresponde, na realidade àquilo de que o país precisa.
Quando é mais do que necessário que todos puxem para o mesmo lado, que todos tenham o mesmo objectivo que é colocar os interesses do país acima de todos os mais, as “cores” sobejam e uma forte esperança é necessária para que as coisas corram bem e os objectivos se atinjam.
Isto significa um ideal apenas, o de salvar Portugal, conduzindo-o pelo caminho da esperança e do sucesso, um comando forte que o não deixe afastar-se da sua rota. Assim, numa imagem do país que pode ser a sua actual bandeira, se alguma cor está a mais é a vermelha porque a esperança se não poderá, jamais, perder!
Curiosamente, é o verde que é, também, a cor do seu Sporting que bem poderia servir de modelo ao que em Portugal deveria ser feito para sair dos tormentos de que padece.
Não vale a pena dizer mais nada sobre uma resposta que, apesar de não ser, como acontece na ironia, o que mais parece que é, não carecerá, contudo, de uma imaginação muito fértil para ser bem interpretada.