ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

E A CRISE CONTINUA

A 28 de Junho de 2010 eu escrevia pela primeira vez nestas “reflexões em tempos de crise” porque decidi juntar num lugar apenas o que ia dizendo e escrevendo por aqui e por ali e, como num diário, mais tarde pudesse ler para recordar e, porque não também, avaliar os juízos que, ao longo do tempo, fui fazendo.
E comecei assim “Sinto-me, sem dúvida, preocupado com o rumo que este país leva. Custa-me a entender como se pretende governar ao arrepio da sensatez, contra o que a maioria entende que deveria ser o caminho a seguir e numa táctica de “fuga para a frente” quando pouco ou nada se saberá dos tempos que se aproximam. Por isso, temerariamente se trilham caminhos desconhecidos, cujos perigos se não medem nem se acautelam”.
Multiplicavam-se as auto-estradas feitas em regime de PPP que tantos problemas hoje nos causam, insistia-se em projectos megalómanos como o novo aeroporto de Lisboa e os TGV, aumentavam-se o défice e a dívida cujos juros cresciam constantemente, caminhava-se, alegremente, para uma situação insustentável da qual a bancarrota seria o desfecho inevitável.
Tudo isto se fazia quando, já por todo o mundo, eram cada vez mais as vozes que alertavam para as consequências do que se passava numa economia onde os sinais de declínio se multiplicavam.
Também escrevi, nesse dia, que “A Europa está cheia de problemas e todos os países, sem excepção, têm de fazer reformas e cortes significativos. Por isso me preocupa a ligeireza do governo e, sobretudo, do Primeiro-Ministro que diz sentir-se só a puxar pelas energias do país, quando tem como política a construção de grandes  infra-estruturas que não correspondem às necessidades do país neste momento em que a pobreza cresce e a dívida externa se encontra já em níveis altamente preocupantes.
Terminei dizendo “ este será o erro de Sócrates quando pretende preparar o futuro segundo as mesmas regras que conduziram à crise!!!”
Erro que, com o a sua atitude política o revela, o PS nunca corrigiu.

Passaram já quase cinco anos e continuamos com sérios problemas que soluções mais ou menos atamancadas vão tentando resolver, com os economistas e políticos continuando a não querer ver onde está a verdadeira causa de tudo isto.
E a crise continua, pondo a nu as fraquezas de uma economia que parece não encontrar soluções para se manter, assumindo aspectos e originando circunstâncias que, por todo o mundo, promovem tensões sociais que acabam por descambar em violência, dando razão a quem diz “casa onde não há pão…”
Entretanto, o que vou lendo nas redes sociais não passa, maioritariamente, de chavões e maldizeres, senão mesmo piadas de muito mau gosto, em vez das reflexões que cada um de nós deveria fazer para descobrir a atitude mais certa nestes tempos conturbados em que cada um não quer ver as culpas que lhe cabem pelo modo como vive.



quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

CRIMINOSOS QUE O MUNDO NÃO PUNE

A ONU já deu por certa a culpa de Bashar al-Assad em numerosos crimes contra a Humanidade na Síria que insiste em governar, mesmo que, dia a dia, novos crimes sejam cometidos contra o seu povo, ao qual não permite que, facilmente, seja prestada ajuda humanitária. Porém, depois disso nada de concreto foi feito para acabar, definitivamente, com os massacres cruéis e constantes nem para levar à justiça al-Assad e os seus sequazes que, sem dó nem piedade, continuam a infringir verdadeiras torturas a multidões doentes e esfomeadas.
Hoje, as notícias dão conta de uma cidade fantasma, não muito distante de Damasco, Yarmouk, habitada por numerosos refugiados palestinianos, da qual um jornalista da BBC disse, ao vê-la, que “é como se um terramoto tivesse acabado de acontecer”.
Onde já viveram 180.000 pessoas, sobram pouco mais de vinte mil que estão cercadas pelo exército de presidente criminoso, desde Julho de 2013.
Sem ajudas ao longo de meses, mais de uma centena de pessoas foi vítima de fome e de falta de assistência médica desde Outubro do ano passado.
A Agência da ONU para os refugiados palestinianos descreve a cidade como uma “cidade fantasma”, o que as fotografias disponíveis confirmam.
Parece-me estranho como o mundo consente, em consequência dos interesses seja de quem for, que situações como esta possam acontecer e não haja, no âmbito do Direito Internacional, modo de poupar tanta gente aos suplícios que reconhecidos criminosos lhe impõem.
Qualquer povo deveria ter o direito à ajuda total do mundo inteiro contra a prepotência de governantes que a ONU tenha reconhecido como autores de crimes contra a Humanidade.


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

ECOS DO ORIENTE EXPLORADO

Há muito que o Ocidente se quis livrar do trabalho pesado de fazer as coisas e as deixou para os países orientais menos desenvolvidos as fazerem, em lugares onde a miséria obriga as pessoas a aceitar os trabalhos mais penosos em troca de meia dúzia de tostões.
Foi a mão-de-obra barata que começou por tornar o Oriente tão atractivo para instalar indústrias mão-de-obra intensiva, das quais os “lordes” ocidentais sem reclamar se livraram e as multinacionais aproveitaram para alcançar maiores lucros.
É assim como o que sucede entre nós que nos habituámos a trabalhos menos pesados e melhor remunerados, ou até a não trabalhar, quando está na hora de apanhar a azeitona, de colher as uvas e os morangos, eu sei lá! E acontece que um país de desempregados tem de recorrer a mão-de-obra mais barata, também desta vez de lugares mais a leste, porque não há por cá quem se sujeite à “indignidade” de tais trabalhos. Temos doutores, investigadores, cientistas e outros privilegiados, mas não temos quem faça os trabalhos indignos de um povo de pobretanas. Esse fica para romeno ou búlgaro fazer, tal como fica para outros ainda mais a oriente fazerem o que a nossa “elevada” consciência cívica não permitiria que alguém fizesse por aqui. São trabalhos perigosos que resultam de procedimentos, de técnicas e de condições que constituem um total desrespeito pela dignidade humana.
Aproveitam-se disso as grandes multinacionais que maiores lucros conseguem e aproveita-se, também, cada um de nós que nos preços mais baixos que paga se não preocupa com o sofrimento causado em muitos para os conseguir.
Mas a transferência de indústrias para o Oriente, para aproveitar os seus ridículos custos de mão-de-obra, também lucra de outros modos que, por aqui, não seriam consentidos.
Num documentário que vi sobre a indústria têxtil na China, na Índia e no Bangladesh, onde as grandes marcas mandam fazer os seus produtos, dei-me conta de atrocidades inimagináveis contra a Vida Humana e contra o Ambiente, em processos de produção que utilizam produtos de elevada periculosidade que roubam a saúde às pessoas, poluem terras que tornam estéreis e tornam os meios hídricos perigosos de aproveitar.
À mão-de-obra escrava se juntam processos industriais baratos e perigosos para quem trabalha mas também para quem usa as roupas deles resultantes. Riscos que vão das simples alergias a doenças graves, são o resultado de uma atitude que, como tantas outras, está a tornar este mundo num inferno que, espero, não dure muito mais tempo. Se não for pelo despertar das consciências que a ganância adormeceu, sê-lo-á, por certo, pelas consequências que tanta inconsciência provoca.
Seja como for, um dia o mundo se dará conta da tragédia que é esta “economia” que, a um tempo, estraga a vida e o ambiente de que necessita para existir.


O TEMPO DO VOLUNTARISMO JÁ PASSOU

Ouvi ontem, um filósofo arengar sobre o “voluntarismo político” que considera indispensável para sairmos desta situação que nos levou a perder quase tudo, mais dizendo que é preciso um povo ter vontade e brio para poder ser o dono do seu destino.
Tempos houve em que tal discurso estaria certo e levaria ao rubro as emoções, nos tempos do “querer é poder” que faria de nós o que quiséssemos, independentemente de todos os demais. Mas hoje não é assim nesta “aldeia global”, como alguém muito bem chamou a este mundo onde todos têm a ver com todos e ninguém é verdadeiramente dono do seu destino, onde já ninguém pode estar só nem esconder-se porque nada fica mais distante do que um pequeno passo.
O voluntarismo que despreza o entendimento das coisas e coloca na vontade todo o poder para conseguir o que se quiser tem sido a causa do drama que vivemos neste país que deixou de pensar por si e neste mundo que julga ser o Homem capaz de superar todas as dificuldades, tenham elas a dimensão ou a natureza que tiverem.
Começa a ser longo demais o tempo que nos mostra o erro deste modo de pensar, pois são demais as tentativas falhadas para superar os problemas que, em vez disso, se acumulam, as teorias contrariadas pela dureza da realidade, bem como demonstra a inutilidade do voluntarismo ante o saber que é indispensável para o entendimento sem o qual estes problemas de sobrevivência não têm solução.
Já não são as mezinhas de outrora que podem curar as doenças de uma civilização enviesada, mas uma reflexão profunda que, finalmente, nos faça compreender o mundo em que vivemos. Há que avaliar as consequências de cada atitude que tomamos mas, sobretudo, há que reconhecer os problemas causados pelas más decisões tomadas se é nossa vontade evitar o desastre a que este caminho que trilhamos nos conduz!


terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

EMPOBRECEMOS OU ÉRAMOS POBRES?

Muito se criticou, em tempos, a afirmação de Passos Coelho de que teríamos de “empobrecer” para reequilibrarmos as nossas finanças. Apesar de compreender o que o Primeiro Ministro queria dizer com a afirmação que fez, surpreendeu-me que o tenho dito daquele modo chocante que não é, de todo, o que os políticos costumam usar e, para além disso, nem sequer correspondia à realidade.
Na verdade, os pobres não empobrecem, porque já são pobres! E pobre estava Portugal naquela situação de pré-ruptura que foi a razão de ser de um “resgate” do qual ainda não saímos, como pobre estava, também, a maioria de nós, porque era artificial o nível de vida que resultava de empréstimos que, muitas vezes, ultrapassavam a capacidade que tínhamos para os honrar.
O país e o seu povo estavam pobres porque tinham compromissos financeiros excessivos, dos quais resultavam dívidas, pública e privada, que atingiram níveis demasiado elevados, perante os quais lhe começaram a ser exigidos juros cada vez mais caros, até atingirem valores impossíveis de suportar. Deste modo, a bancarrota, uma catástrofe financeira que nos atingiria cruelmente, seria inevitável sem a ajuda do resgate a que tivemos de recorrer e nos obrigou à austeridade que temos de viver.
Não deveria, pois, Passos Coelho ter feito a afirmação que fez porque estaria mais correcto dizer que teríamos de assumir a nossa pobreza real, aquela que empréstimos sucessivos disfarçavam, fazendo-nos acreditar numa riqueza que não tínhamos.
E começou a dura tarefa da recuperação que já atingiu um ponto que, como parecem consenti-lo os indicadores económicos, levou o líder parlamentar social-democrata a afirmar que “a vida das pessoas ainda não está melhor, mas a do país está muito melhor”. Outra forma pouco “política” de fazer uma afirmação cuja razão de ser compreendo mas não posso aceitar como explicação seja do que for.
Terão as pessoas atingido o “empobrecimento” de que falou o Primeiro Ministro ou, como me parece mais certo dizer, estaremos a sentir uma realidade da qual as “manobras” financeiras nos não permitiam dar conta? É, por certo, esta última a explicação para as provações que ainda sentimos, das quais apenas com trabalho e bom senso nos veremos livres se conseguirmos manter o país no rumo do controlo financeiro que nos permitiu chegar até aqui.
Por muito que me custe aceitá-lo, não creio que haja condições para evitar o “pacto de agressão” de que fala o PCP, a política do “roubo” de que fala o BE ou a política da “incompetência” de que fala o PS. A menos que queiramos ainda mais austeridade ou, mesmo até, a bancarrota da qual podemos ter-nos já livrado.
É uma realidade dura de suportar, difícil de reconhecer, impossível de ignorar.


domingo, 23 de fevereiro de 2014

O PAÍS, OS SEUS POLÍTICOS E A SUA GENTE

No “contra-congresso” com que o PS seguiu a reunião dos sociais-democratas, foi motivo de escândalo uma frase do líder parlamentar do PSD, a qual serviu, na perfeição, os interesses da batalha de contra-propaganda montada pelos socialistas.
Foi nisto que, infelizmente, se tornou a disputa política em Portugal onde, seja para qual facção for, o “poleiro” se tornou mais importante do aquilo em que se apoia, o que é pouco surpreendente nestes tempos de políticos de pequena estatura, de fracas ideias mas com muito fortes ambições.
Disse Luis Montenegro que “as pessoas ainda não estão bem mas o país está muito melhor”.
Qualquer pessoa que não tivesse como propósito um ataque político, daqueles que caem bem e são bem sucedidos nesta sociedade que, para seu mal, ainda não identificou bem os problemas graves que tem pela frente, teria compreendido o que Montenegro quis dizer, porque o país é mais do que o conjunto daqueles que o habitam ou nele nasceram.
O país tem o seu território, os seus recursos, a sua História, as suas tradições e a sua cultura, a sua organização, os seus órgãos de poder, as suas leis, as suas relações internas e externas, os seus compromissos, enfim, muita coisa que vai para além das pessoas que o habitam.
Seria, pois, natural compreender o que Montenegro disse, não fora a guerrilha instalada que nada ajuda neste tempo em que o “toque a rebate” deveria ser o que nos levaria a todos a cooperar na tarefa de recuperação do país que é o nosso e não alimentar a guerrilha do partido em que nos arregimentámos.
Mas são tiques difíceis de ultrapassar, pelo que um político experiente, como, por certo, o é um líder parlamentar, deveria pensar melhor o que diz ou, talvez, cuidar melhor o modo como diz a “verdade” que pretende transmitir.
A verdade é que quando o povo sentia que estava bem, o país estava mal, muito mal, e disso é prova a ajuda urgente que teve de pedir. Agora que o país está melhor, ainda que não tanto que não necessite de mais esforço ainda, os sacrifícios necessários para ser assim, fazem o povo sentir-se mal, mesmo que tenha melhores condições para, depois, vir a sentir -se melhor.
Mas é um descuido ou uma incapacidade deste governo as muitas gafes tem cometido no seu relacionamento com o povo do país que governa, gafes que alimentam a maledicência de uma oposição que as procura com a mesma avidez com que uma galinha procura alimento com as bicadas que dá no meio da areia, em vez de promover a participação no esforço sem o qual o país se não erguerá ou o fará com mais sacrifícios e dor.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A NOVA GUERRA SERÁ FRIA OU QUENTE?

Já me parecem demais os casos em que uma fractura nítida entre a Rússia e o Ocidente (expressão que o governo russo passou, de novo, a usar) se vai alargando, seja o diferendo a Síria, a Ucrânia ou outra região qualquer onde interesses económicos e políticos se confrontam.
Ainda me lembro de como a Rússia construiu o seu império soviético após a segunda guerra mundial, como foi alargando fronteiras e forçando a submissão de diversos países asiáticos e europeus que, mais tarde, depois de derrubado o Muro de Berlim, julgaram ter recuperado a liberdade.
Não posso esquecer as preocupações que, por diversas vezes, o mundo inteiro viveu com receios de uma nova guerra que, desta vez, teria consequências bem piores, inimagináveis até. Felizmente superados os diversos incidentes que poderiam ter sido o seu começo, respirou o mundo de alívio com a esperança de uma era de paz duradoura.
Mas, nesta altura, são demasiadas os casos de instabilidade em todo o mundo e receio que as dificuldades económicas que, também por todo o lado, se sentem ou se iludem com atitudes que não podem durar para sempre, acabem por criar o clima político e social propício a uma qualquer atitude de loucura generalizada.
Preocupa-me particularmente o que se passa na Ucrânia, onde um confronto de interesses russos e ocidentais é evidente e pode gerar extremismos que ultrapassem a razoabilidade de acordos políticos. Mas não é de menosprezar o que se passa na Síria onde, constantemente, são cometidos crimes contra a Humanidade, como o não é o que se passa na Venezuela onde a inspiração de um “passarinho”, que tanto pode ser o “espírito de Chavez” como a influência cubana, conduz a políticas de catástrofe social e económica dificilmente suportáveis, bem como é preocupante o que se passa em tantos outros lugares onde desgraças e mau viver se acumulam.
Não me parecendo que a recuperação económica possível permita o regresso aos níveis de vida que uma aparente superabundância nos levou a viver, o que poderia aliviar tensões, mas que, pelo contrário, se degradarão por toda a parte, nada aplacará as desordens que perturbarão a paz e, queira Deus que não, podem extremar os conflitos de interesses que cada vez menos são possíveis de disfarçar.
Desta vez, será fria ou quente a guerra que se travará? O pior é que a fronteira entre uma e outra é tão instável como o nervosismo na ponta de um dedo que se coloca em cima de um botão.


A RIFA

Como, por vezes, acontece, ouvi parte de mais um daqueles programas de antena aberta em que cada um diz o que entender sobre um tema que é proposto. E lá aparecem os falsos moralistas puxando ao sentimento, os que falam das ideias que têm, os que debitam as ideias de outros de quem fazem seus mentores, as cassetes e chavões do costume e, também, os que se julgam os donos da razão, com ideias que são as melhores de todas, mas que o governo não quis aproveitar.
Destes últimos invejo a confiança com que avançam nas soluções, sobretudo porque me lembro de, na minha vida profissional, sempre colocar a dúvida à frente da certeza que, a bem dizer, acabava por nunca ter em absoluto, admitindo sempre que pudesse haver uma solução melhor do que aquela que encontrei! Dos demais, lamento que os que revelam ter ideias próprias sejam tão poucos em relação aos “papagaios”. E não critico as ideias que tenham, quer me pareçam boas ou más. Simplesmente me sinto feliz por haver alguém que tem ideias próprias.
Hoje o tema foi a “rifa” que o Governo vai fazer entre os que peçam facturas com o número de contribuinte, integrada no seu programa de luta contra o mercado paralelo que tanto nos lesa a todos. Sabendo que este constitui uma parte muito significativa de toda a actividade económica, é fácil intuir quanto aliviados poderíamos ser de impostos se todo o comércio fosse feito em conformidade com a lei. Por isso, só haverá que louvar o que for feito para o combater, no que, sem dúvida, o Governo estará a tentar fazer o seu melhor.
Quanto a todos nós, é um dever de cidadania o empenhamento nesta luta porque, obviamente, não pode o governo ser bem sucedido sem a nossa participação.
Se o prémio da “rifa” deveria ser um carro topo de gama ou outra coisa qualquer, deve ter sido bastante pensado e aceito a decisão tomada, ainda que a minha preferência fosse outra. Só não sei é o que farei ao carro se me sair, porque tenho o carro que quero.
Não será, pois, pelo carro que peço que seja colocado o número de contribuinte nas facturas do que pago, mas porque entendo ser meu dever participar na luta por um melhor Estado, contra os que me fazem pagar mais impostos do que pagaria se eles pagassem os seus também!


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A EUROPA DO APARTHEID

Nunca fui um europeísta convicto. Melhor talvez, sempre fui um europeísta desconfiado! Desconfiei do altruísmo com que, subtilmente, a Europa nos aliciava e nunca me enganou o oportunismo com que nela quisemos entrar, porque nunca senti, sem ambiguidades, o ideal europeu do qual resultaria um todo unido e forte que faria da União Europeia o espaço dentro do qual todos prosperaríamos em conjunto.
Por isso, aceito a participação na União Europeia como um mal menor depois do “orgulhosamente sós” que, outrora, foi o lema de uma “independência” que não pode ter hoje os mesmos contornos de então e como uma fatalidade a que a nossa localização geográfica praticamente nos condena.
Mas não seria, porém, a única alternativa para acabar com o isolamento, porque outras razões, porventura mais fortes do que a proximidade, existiam e nos poderiam ter conduzido por outros caminhos que, infelizmente, não trilhámos porque não eram os de quem se “apoderou” da Revolução de Abril, porque estavam na Europa, mais no centro ou mais a leste, os seus interesses, os seus apoios ou os seus ideais.
De qualquer modo, tentar construir um todo razoavelmente uniforme, uma união que esbatesse a desigualdades existentes nos numerosos países que dividem este pequeno Continente, procurando nela a força que, cada um de per si, não teria perante uma economia global que a um por um esmagaria, poderia ser uma intenção generosa, se não fosse egoísta como está a revelar-se, mas seria sempre arriscada, longa e trabalhosa.
Um projecto tão ambicioso e historicamente único deveria ter fundamentos e convicções muito sólidos, dos quais nunca me dei conta, em vez dos interesses económicos que a proximidade alimenta.
A construção da Europa necessitaria, igualmente, de longos tempos de adaptação e de transição para uma cultura europeia que não nasceria em breves dezenas de anos. Teria de prosseguir um projecto bem pensado e muito claro para que não houvesse dúvidas quanto às suas intenções.
Em suma, construir a Europa teria de corresponder a um processo claro, muito bem definido e cuidado, prudente e percorrido com passos cautelosos, com procedimentos bem sedimentados, o que diversas e, quanto a mim, inoportunas acelerações do alargamento nunca consentiram.
Porque foi oportunista, a construção da Europa foi descuidada. A rapidez deixou vazios enormes e fez perder a noção do espaço integrado que os seus mentores iniciais terão sonhado porque, como sempre acontece, ao sonho se segue a realidade que é a diversidade de interesses e as desigualdade de poderes que fazem, agora, da União Europeia uma manta de retalhos sem uma identidade comum e sem interesses verdadeiramente partilhados.
Sobretudo na zona do euro na qual nos integrámos, talvez sem o dever fazer, as divergências de interesses são mais óbvias ainda. O que deveria ser feito para resolver os problemas resultantes de uma errada política de desenvolvimento, não o pode ser porque os “princípios” que em cada país imperam impedem o que deveria ser feito no interesse comum.
Enquanto o Tribunal Constitucional português impede muitas das soluções que os que nos “apoiam” financeiramente nos impõem, o Tribunal Constitucional alemão torna impossível, naturalmente em nome dos interesses alemães, uma solução que proteja, definitivamente, os países em maiores dificuldades das especulações dos mercados que acabarão por destruí-los.
A crise do euro que afecta, por isso e sobretudo, as “economias” periféricas, entre as quais Portugal, constitui o maior pomo de discórdia que se tornou mais do que evidente nos procedimentos de “ajuda” que se traduziram na austeridade que há anos vivemos e da qual, matematicamente, se não vislumbra a saída sem os procedimentos que o TC alemão não consente.
Não somos únicos nesta situação de vulnerabilidade que nos faz sermos os atrasados na Europa a duas velocidades como os mais fortes pretendem, exactamente a filosofia de um “apartheid” já desfeito em África mas que na Europa faz o seu caminho.


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

“AI DE MIM SE NÃO FOSSE EU”!

Hoje dei de caras, no face book, com este dito no qual encontro o reconhecimento do valor próprio para resolver os problemas que a vida constantemente coloca a cada um de nós ou a todos nós em conjunto. É um desabafo que interpreta bem a importância do esforço próprio, o único capaz de conseguir o que os favores dos outros jamais podem fazer.
É, porém, o contrário do que habitualmente acontece, porque o mais frequente é que se espere do Estado, da Sociedade e da solidariedade que nela se pode encontrar que façam por nós mais do que o que nós próprios estamos dispostos a fazer, ou até tudo como pensam os oportunistas que tomam a “caridade” por um direito do qual se podem aproveitar, assim tirando aos realmente carenciados uma boa parte daquilo que lhes é devido.
Oportunistas são tanto os que se fazem passar por necessitados para tirar proveito do dó que inspirem, como os que se sentam em cadeirões de poder que julgam serem-lhes devidas benesses e direitos que o comum dos cidadãos não tem.
E, assim, mais fica de esforço para os que não conseguem ultrapassar os limites que a dignidade lhes impõe e, por isso, têm de tomar a consciência de ser o seu próprio esforço o que mais os pode ajudar, depois do que dele lhes é retirado para alimentar o oportunismo de outros.
Não sei quem seja o autor de tal “desabafo”, mas o maior elogio que lhe posso fazer é sentir que gostava de ser eu!


OS COMPROMISSOS NECESSÁRIOS

Nas reflexões que tenho feito sobre Democracia, sobre o momento de Portugal e sobre a saída do programa de resgate, tenho colocado a tónica na adaptação de alguns princípios e procedimentos democráticos às novas circunstâncias que o tempo vai criando, apesar de, por alguns saudosistas de um tempo que já não existe, além de outros puristas defensores da manutenção de absurdos, serem considerados como sagrados.
Aliás é um princípio inquestionável que o que não consegue adaptar-se, morre! E, mais do que isso, é um princípio que a cada momento é reclamado quando se trata de outras coisas, como sejam, por exemplo, os direitos das minorias.
A superiorização das maiorias e a sua inquestionável razão, são conceitos ultrapassados pela Ciência, pela própria razão e cujos resultados da sua adopção simples desmitificaram há muito tempo. Só o não verá quem estiolou, quem parou no tempo e se não dá conta do que se passa ou, por que não, quem não está disposto a perder certas regalias.
Agora estamos na era dos consensos, da reflexão que nos conduza ao que seja melhor para todos no mais longo prazo, deixando de fazer qualquer sentido certos tiques de uma Democracia entorpecida pela imobilidade e que corre o risco de se deixar ultrapassar por ideais autoritários que, depois de antes apenas espreitarem, agora se mostram já de corpo inteiro para influenciar o futuro de uma Europa que dele nunca bem soube cuidar. Talvez porque não seja essa a intenção dos que mais o podem influenciar...
Então por que não haverá de mudar-se o que durante tempo demais foi considerado inalterável, aceitando, de vez e como as circunstâncias eloquentemente demonstram, que há princípios que já não fazem qualquer sentido, mesmo se reclamados pelos que foram os “monstros sagrados” da Democracia mas que, pelas infelizes declarações e propostas que agora fazem ou pelas posições que tomam, são a prova eloquente da desactualização das suas ideias e convicções.
Há que deixar a visão de curto prazo que a Democracia da alternância obrigatória não pode ultrapassar, para dar caminho aos procedimentos próprios de circunstâncias que nos não consentem já os desvarios de outrora em que muitos recursos havia para esbanjar e o tempo sobejava para tomar e alterar decisões ao sabor dos interesses do momento.
Não faz mais sentido a “guerra do Alecrim e Manjerona” que bem retrata a comicidade dos confrontos políticos que já se não suportam e se torna imperativo por um fim à dominância dos que continuam a fazer da democracia do curto prazo, do faz e desfaz para voltar a fazer, a razão de ser da sua vida.
A pouco e pouco o vão dizendo aqueles que, ainda não há muito tempo, o recusavam. E no mesmo “Lisbon Summit” em que Seguro debitou os seus argumentos falidos e deu conta dos receios que a sua atitude de não cooperação não quer desfazer, um alto dirigente do Banco Central Europeu (BCE), Peter Praet, sugeriu que faz sentido pensar numa terceira solução para o período pós-resgate: os partidos do arco da governação devem “encontrar uma maneira de assinalar o compromisso em fazer reformas nos próximos anos”. O que aqui tenho constantemente reclamado e não passa, afinal, do PACTO DE REGIME que Seguro descarta, porque as reformas estruturais indispensáveis exigem compromissos políticos de longo prazo, do que apenas uma democracia modernizada será capaz.


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

BEM PREGA FREI TOMÁS

Pode parecer embirração minha, mas não consigo encontrar uma razão séria e inteligente para a preferência que as sondagens atribuem ao PS de Seguro, por força dos lugares comuns de que o líder socialista se serve no seu estéril discurso político, debitando princípios e vulgaridades que bem poderiam constar de um qualquer compêndio de economia para totós.
Mais uma vez a minha boca se abriu de espanto perante as suas declarações no Lisbon Summit, em Cascais  onde, peremptoriamente, afirmou que o que o separa do Governo é a estratégia orçamental!
Pensava eu que seriam coisas mais profundas as que diferenciariam um “socialista” daqueles que considera “neo-liberais”, que seria um projecto de sociedade o que distanciasse Seguro do Governo ou, não havendo essa “separação”, como parece que não há, pelo menos explicasse de modo claro como promoveria o investimento num país financeiramente desacreditado, antes de, suficientemente, o organizar e regularizar as suas contas, de modo a recuperar a confiança que perdeu.
Afirma Seguro que "é fundamental equilibrar as contas públicas através da gestão da despesa e criar riqueza através do investimento", como se tal fosse uma descoberta notável da qual mais ninguém se lembrara ou coisas que não tivessem de ser, no início do processo de recuperação, planeadas de modo a que os efeitos de uma influenciassem positivamente os da outra, numa sequência em que, obviamente, não seriam os efeitos do investimento os primeiros a esperar.
De facto, como poderia um país quase falido, dependente dos mercados de capitais até para os financiamentos correntes da sua actividade administrativa, atrair os financiamentos que o fariam, de imediato, crescer economicamente? Terá de haver, naturalmente, uma sequência lógica que o OE não pode deixar de reflectir e corresponde a começar pela gestão da despesa, reduzindo-a a valores adequados à inversão da dinâmica financeira negativa, e da adopção de medidas e de incentivos que criem o desejo de investir como, aliás, começa a acontecer e corresponde à afirmação, também de Seguro, de que "Portugal deve criar um ambiente amigo e propício a esse investimento". Parece-me ser o que o Governo procurou fazer, melhor ou pior, o que, sem dúvida, requer tempo, porventura mais do que o que tem de tempo esta governação!
Como a maioria, certamente, eu gostaria de ver muitas coisas mudar para melhor, entre elas reaver a reforma a que, pelo meu trabalho e contributos ao longo de cinquenta anos, ganhei direito, mas não espero que isso aconteça com o país a ser governado por Seguro.
Esperava mais de um “socialista” que me parece, em vez de preparar o futuro que as circunstâncias consentem, se preparar para se aproveitar do que agora diz serem os erros do Governo, para deles tentar tirar proveito no seu tempo de governação. Se o tiver…


GUERRA DO ALECRIM E MANJERONA

A questão do momento é, sem dúvida, a da saída do programa de resgate, dizendo uns que seria bonito sair dele “à irlandesa” enquanto outros preferem um programa cautelar que, dizem, impediria os desmandos que, sem ele, poderão vir a ser cometidos depois da saída da Troika.
Realmente, é esta uma preocupação justa quando se ouvem constantemente, do líder da Oposição, as críticas que faz à austeridade que nunca se pode evitar depois dos excessos e as propostas simplórias, muitas vezes totalmente descabidas, sobre como a evitar e regressar à bela vida que, se for governo, nos promete dar.
Mas, desde o falhanço da política socialista de Hollande que Seguro elegeu como modelo que aqui desejava replicar, tornou-se claro que as questões a resolver são bem mais complicadas e imunes às políticas de boa-vontade que, afinal, não acontecem. E nunca mais alguém ouviu, da boca do incansável líder, o que antes dissera sobre como Hollande meteria a Srª Merkel na ordem e acabaria com as suas exigências de ajustamento sem as preocupações sociais que revelava.
Foi pena que assim não tivesse acontecido, pois deveria a Alemanha recordar como lhe foi atenuada a tarefa da recuperação após a odiosa guerra hitleriana que tantos danos causou ao mundo inteiro. Mas lá diz o saber do povo “não peças a quem pediu…”. Mas também não é tão simples assim, porque aquilo a que chamam crise é uma questão bem mais profunda, em relação á qual podemos, igualmente, colocar a questão de saber como dela sair.
Entretanto, lá diz também o ditado, “em Roma sê romano” e outro remédio não teremos senão, em conformidade com o mundo em que vivemos, viver com as suas regras mas, por sensata precaução, ir tomando cuidados que evitem os graves problemas da mudança que, inevitavelmente, acontecerá.
Nestas circunstâncias, que melhor poderia acontecer a Portugal do que Governo e PS unirem esforços para garantir a confiança dos mercados e, com isso, conseguir juros mais baixos para a dívida que teremos de pagar, como aconteceria se lhes déssemos o sinal de unidade e de vontade que uma cooperação entre o Governo e o PS lhes daria?
Mas, com isso, o PS entregaria ao Governo o sucesso que jamais desejaria que tivesse, porque é outra coisa o que lhe convém para sair vencedor nas próximas eleições legislativas. Por isso, Seguro considera o convite de Passos Coelho como um aceno para a galeria…

E assim se vai desenrtolando esta guerra tristemente cómica do alecrim e da manjerona.


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

HERÓIS, AVENTUREIROS E DEMAGOGOS

Enquanto o Financial Times aponta Portugal como o herói inesperado da retoma europeia, apontando as exportações e o turismo como os sectores mais influentes, a Ministra das Finanças alerta para a necessidade de controlo financeiro ainda ao longo de muitos anos, receando que os sucessos já alcançados possam levar a crer estarem passados os problemas que nos obrigaram à austeridade a que loucuras passadas nos condenaram.
Eu diria que não será por muitos anos, mas para sempre, que Portugal terá de controlar os seus gastos e, mais do que isso, terá de deixar de ser perdulário no aproveitamento dos seus recursos naturais.
Hoje, amanhã ou daqui a muitos anos, os descuidos ou as atitudes demagógicas que levem a gastar mais do que os proveitos que a Natureza e o esforço permitam, sempre terá como consequência o descalabro a que o desprezo pela realidade dá lugar.
É este um ponto essencial do entendimento que tenho do estertor final desta economia consumista que, por egoísmo e ganância dos que dela se aproveitam, se alimenta dos vícios que facilmente adquirem e do comodismo a que rapidamente se acostumam os que produzem o trabalho produtivo do qual resulta a riqueza de que os especuladores, habilmente, se apropriam.
Portugal não tem dimensão territorial nem população que lhe permita ter algum peso significativo na economia global ou apenas europeia, de que ficará, de novo, refém quando a procura interna crescer sem que a produção interna a satisfaça, quando, de novo, julgarmos poder manter as “conquistas” em vez de nos entregarmos ao trabalho que a criação de riqueza exige.
É, por isso, que me espanta, ou talvez não, o pouco esforço que se investe no aproveitamento de tantos recursos, continentais e marítimos, sempre tão falados mas continuadamente desprezados. São temas de propaganda mas jamais campos de acção que deles retire as riquezas que poderiam gerar pelo esforço que, pelos vistos, não estamos dispostos a fazer. 


AS BRUSCAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

Apesar do Protocolo de Kioto que tem em vista compromissos internacionais para a redução da emissão dos gases de estufa que a grande maioria dos cientistas considera responsáveis pelo efeito antropogénico do “aquecimento global”, alguns ainda persistem na negação desta influência por considerarem muito pequena a variação da quantidade de gases de estufa na atmosfera. Mas fazem-no, sobretudo, porque as medidas cautelares que aquele fenómeno requer prejudicam profundamente a economia do consumismo que alimenta tantos interesses.
Mas os termómetros são categóricos na detecção de aumentos que, desde há algumas décadas se verificam na Terra. As estatísticas são eloquentes e os efeitos que se previam já começaram a chegar, ano após ano, de um modo cada vez mais sentido.
Porém, não serão apenas os gases de estufa que a actividade económica abundantemente produz, os responsáveis pelas variações climáticas que já ninguém pode dizer que não nota nos rigores dos invernos e dos verões, com vagas de frio e de calor cada vez mais sensíveis, com cheias e secas cada vez mais prolongadas.
Há variações enormes na superfície da Terra, com zonas urbanizadas cada vez mais extensas, com grandes reduções nas áreas de florestas nas zonas tropicais, com uma acentuada poluição dos oceanos onde, para além da poluição difusa, se acumulam resíduos, na sua maioria plásticos, o que reduz significativamente a sua capacidade de absorção de dióxido de carbono que, em consequência, se vai acumulando na atmosfera cujas características altera.
Cientistas descobriram que as profundas alterações climáticas que se verificam na América do Norte e na Europa se devem à desaceleração da “corrente de jacto”(*) norte, o que, sei lá, talvez seja consequência das alterações na densidade na atmosfera, resultantes da sua progressiva poluição.
Enfim, haverá, ainda, muito para estudar e para concluir para explicar estas alterações excessivamente bruscas a que estamos a assistir, as quais se não conformam com a lentidão típica das alterações naturais que acontecem ao longo de milénios ou de milhões de anos.
Os políticos não têm sido diligentes na procura de alternativas a este tipo de vida que muitos crêem ser a causa da brusquidão das alterações, sobre o que há cada vez menos dúvidas. Em vez dos cuidados que a situação exige, os políticos, muitas vezes pela boca de pseudo-cientistas que estão ao serviço de fortíssimos interesses económicos, tem procurado desdramatizar os seus efeitos, ao sabor dos interesses ocasionais, uns recusando o protocolo, outros através de num novo tipo de “economia” que promove compras de quotas de poluição dos países mais poluentes aos que, com actividade económica residual, pouco poluem, mas esperam a sua vez de, dinamizando a actividade económica, assumirem o seu “direito” a poluir.
 Mas os efeitos têm já tal dimensão que se começa a notar preocupação séria com o que se passa e a serem notadas atitudes que alertam para o perigo que será atingir um ponto de não retorno nestas mudanças que, a continuarem, alterarão profundamente o nosso modo de viver.


(*) Ventos fortes que sopram de Oeste, em correntes estreitas e pouco espêssas que se situam na parte superior da troposfera, devidos à grande diferença de temperatura entre os Polos e o Equador.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

A “PRAXE” DO MECO

Depois de tudo o que já foi noticiado a propósito do incidente trágico que causou a morte a seis jovens estudantes universitários na Praia do Meco, fica a sensação de uma cena lamentavelmente estúpida que jamais algum propósito de integração no meio académico pode justificar.
Eu sei que os tempos mudaram e, com eles, o modo como se fazem as coisas e, mesmo até, a intenção com que se fazem. Mas jamais esperaria que a “praxe” académica tivesse mudado tanto, evoluindo de procedimentos ocasionais e divertidos, próprios da juventude, até rituais definidos e impostos por organizações permanentes com “dignitários” a cujos caprichos os caloiros a que chamam “bestas” ou algo parecido e candidatos a igual dignidade se submetem de um modo aviltante.
Nestes casos, a intenção parece não ser mais do que a humilhação ou o abuso que, naturalmente, não pode fazer com que se sinta bem aquele que se pretende integrar.
Por estas razões, parecem estar seriamente comprometidos, no julgamento público, os responsáveis por tais práticas praxistas e, no caso da tragédia do Meco, o “dux” que terá promovido o fim de semana que terminou com as mortes de todos os seus “subordinados”.
Mas, mesmo assim, não será fácil de admitir que a morte seja o limite da “humilhação” a que este tipo de praxe possa conduzir, o que não significa que se não deva tentar esclarecer o que se passou bem como avaliar as culpas que, porventura, houver.
Em todo o caso, parece certo que as famílias dos jovens falecidos tentarão que a Justiça lhes dê respostas sobre o que se tenha passado, apesar das dificuldades que o caso apresenta e, se for aceite, o tornarão longo e de decisão complicada.

Mas não será de perder a oportunidade para, de vez, esclarecer e regulamentar, criteriosamente, esta questão das praxes académicas que deverão conformar-se com a intenção, exclusiva, de integração dos caloiros na vida universitária e não ser, como já foi em casos demais e terá sido, ou não, no caso do Meco, uma violência ou uma afronta à dignidade e à vida dos praxados.


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

VERDADES, MENTIRAS, PROMESSAS…

Não é de esperar que a Oposição teça elogios ao Governo. Obviamente, porque o mais natural é que o critique em consequência dos erros que encontre naquilo que o governo faz. É mesmo essa a função democrática da oposição.
São modos diferentes de ver as coisas, entendimentos diversos de como se deve fazer para resultar melhor, porque não poderão ser outras as razões pelas quais a oposição critica o governo, porque a Democracia que consente que ela exista não pode ter outra intenção que não seja o bem de todos.
Não seria de esperar que fosse de outro modo se outras intenções não houvesse, porventura bem mais fortes, como são as que geram os confrontos que, simplesmente, têm em vista a conquista do poder.
Olhando para o que se passa, sem a pretensão de julgar estúpidos os que pelo poder se confrontam, fico a pensar na ingénua ilusão periódica que nos leva a pensar que temos algum poder que, pelo voto, delegamos nos que, com o patuá circunstancial mais conveniente para explorar as nossas fraquezas e empolgar as nossas emoções, nos levam a crer serem os melhores para nos governar.
Por isso os políticos dizem, em cada momento, o que crêem que convencerá a maioria que os leve a vencer nas eleições que se seguem, assegurando a alternância que a Democracia exige para se consolidar e da qual os partidos necessitam para assegurarem o apoio das suas clientelas, as quais, depois, generosamente recompensam.
Por isso me não surpreendi ao escutar o discurso em que o secretário geral do PS põe os seus eleitores de sobreaviso para as mentiras do Governo que, diz ele, tenta convencer-nos de um “milagre económico” que não passa de uma fantasia que tem em vista as próximas eleições. Mas se, de um lado, Seguro assegura não passarem de fantasias inebriantes os sucessos que o governo apregoa, os quais, a serem verdade, tornariam mentira anteriores certezas de Seguro em que tal jamais aconteceria, do outro lado, indicadores provenientes de várias fontes e de diversas naturezas dizem que está a acontecer o que, antes, Seguro criticava por não acontecer, como o crescimento do PIB, o aumento da procura interna, o aumento das exportações, a redução do défice…
Enfim, é esta a Democracia que temos que, a continuar assim, melhor serve os partidos do que os cidadãos que, de tempos a tempos, se iludem com mentiras e com as promessas que, depois, verificam que os seus “heróis” não cumprem.
Acabo a pensar naquela história bíblica de um pai moribundo que não quis partir sem, com um simples molho de vimes, mostrar aos filhos como a “união faz a força”. Fáceis de partir um a um, resistem a qualquer força quando em conjunto.

Porque não fazemos o mesmo?

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

BASTA NÃO VIVER ACIMA DAS POSSIBILIDADES? NÃO, NÃO BASTA!

O Primeiro Ministro afirmou que estamos hoje a viver mais de acordo com as nossas possibilidades e não acima delas como acontecia num passado recente.
É verdade o que diz Passos Coelho e é, sem dúvida, importante que seja assim, que se harmonize o que se faz com aquilo que se pode fazer. Mas não basta!
Não se pode negar que o governo de Passos Coelho conseguiu reduzir os gastos ao nível das receitas, ou quase, o que lhe permite a afirmação que fez, mas isso não é bastante para se dizer que vivemos o melhor possível com aquilo que temos.
É esta optimização que a reestruturação do Estado, infelizmente nunca feita, permitiria, mesmo antes das melhorias que possamos alcançar com o crescimento económico de que, a partir de agora, sejamos capazes.
É nisto que reside a minha principal discordância com as políticas deste governo que não soube, a par da austeridade que não podia evitar, empreender as reformas adequadas à melhoria da qualidade de vida que dependerá de como soubermos lidar com a mudança inevitável a que a exiguidade de recursos nos obrigará.
Mas o pior de tudo é que a oposição que ao governo é feita peca dos mesmos defeitos, aos quais se deve acrescentar a pretensão, que julgo meramente eleitoralista, de poder repor os gastos excessivos que foram a causa dos desequilíbrios financeiros a que as contas públicas chegaram, mas que satisfariam as exigências dos que ainda não compreenderam a impossibilidade de as satisfazer e, por isso, as reclamam.
Prepararemos bem o futuro quando compreendermos que a melhoria da “qualidade de vida” dependerá muito mais das “condições de vida” que formos capazes de criar do que do “nível de vida” resultante da prosperidade financeira que esperamos alcançar. 


AS LUTAS DE GALOS E AS MUDANÇAS INEVITÁVEIS

Quando acontece a expulsão de um “histórico” e fundador de um partido político, no caso um dos “barões” do PSD, António Capucho, é caso para perguntar “mas que raio se passa”?
Mas melhor será perguntar o que se passa, globalmente, no PSD onde parece que uma nova geração substituiu a antiga que, decerto por isso, se mostra revoltada e decidiu publicamente dar conta das suas frustrações, numa postura de rebelião e numa campanha de crítica que não é fácil de aceitar como procedimentos próprios de militantes de um partido democrático.
Um partido não deve ser, obviamente, um grupo de seguidores de ideias feitas que se movem como um regimento que volta á direita, à esquerda, pára ou avança conforme lhe é ordenado, porque não se justificam, num partido político, os métodos que são próprios de outras organizações em que a “ordem unida” e a obediência são indispensáveis.
Num partido político discutem-se ideias, programas, planos, procedimentos, no que todos devem, democraticamente, participar com o propósito de melhorar uma acção comum ajustada às circunstâncias. Tudo se deve discutir no seio do Partido que, apenas deste modo, se constitui no polo de reflexão que aprimora as ideias em que baseia as propostas que, em cada momento, os eleitores considerem como as melhores para o país.
Não faz, pois, qualquer sentido o que se passa no PSD que, em conformidade com os seus regulamentos, elegeu os seus órgãos directivos, aos quais, por isso, todos os demais deveriam prestar a sua colaboração crítica interna em vez das atitudes de confronto que, publicamente, assumem. Menos sentido faz, ainda, que tomem atitudes de oposição em actos eleitorais, como aconteceu com os militantes agora expulsos, entre os quais António Capucho, porque ser militante de um partido requer respeito pelos princípios de ética que os regulamentos definem, sem os quais o partido não passaria de um ajuntamento!
O mesmo me parece passar-se em outros partidos onde são visíveis e nítidas fracturas que, mais cedo ou mais tarde, provocarão divisões. 
Signifique isso o que significar, tenha as consequências que tiver, as expulsões no PSD apenas formalizam a exclusão de que os próprios tiveram a iniciativa. Isto é, a expulsão não passa da formalização de uma situação de facto, dispensável se quem se não revê nas políticas do partido ou se não conforma com as mudanças a que o tempo sempre dá lugar, lutasse internamente pelas suas ideias e pelos seus princípios ou, por sua iniciativa, se afastasse.
O tempo é inexorável nas mudanças que provoca, às quais os políticos sentem enormes dificuldades em se adaptar. É, pois, natural, que coisas assim aconteçam e, mesmo até, que as tensões que, a cada dia, mais óbvias se tornam no quadro político actual, seja o partido qual for, acabem por transformá-lo com novos arranjos que melhor se adaptem às circunstâncias naturais que não é possível continuar a ignorar.


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

NOVOS RETORNADOS?

O referendo que fez saber que a maioria dos suíços pretende que sejam estabelecidas quotas de imigrantes no país, contrariando o acordo com a União Europeia que estabelece o direito de livre circulação, dá conta da preocupação com que, mesmo nos países com economias consideradas mais sólidas, se olha o futuro que, dia após dia, nos faz temer cada vez mais sérias consequências das más práticas do passado.
Não sei, ainda, que consequências terá o acolhimento do resultado deste referendo mas, por certo, diversas se verificarão no relacionamento com o resto da Europa onde, também, a xenofobia, contrária ao espírito de união, se reforça nas preocupações pela inutilidade dos esforços para manter o vigor de uma economia cuja globalização está a dar muito maus resultados.
Por aqui, muito se tem falado da emigração à qual, dizem também, este governo forçou os portugueses que, sem emprego na sua terra, têm de demandar novas paragens para conseguir o que lhes permitirá viver. Mas pouco ou nada se tem dito do possível sucesso ou insucesso dos que emigraram, preferindo considera-los “problemas” dos quais nos livrámos e que, estatisticamente, ajudam a melhorar indicadores e a acrescentar alguma coisinha ao minguado quinhão que, do pouco que temos, a cada um dos que ficaram passa a caber.
Mas, pelas notícias que, de fora, me chegam sobre a austeridade e o desemprego que, afinal, não são “privilégios” do nosso país, fico a pensar no que acontecerá quando o que começa a parecer uma inevitabilidade vier a acontecer, a possibilidade do regresso em massa dos que partiram à procura de condições que, por todo o lado, já rareiam.
O reforço de uma “direita xenófoba” que, por toda a Europa, se robustece, faz crescer as dúvidas sobre o futuro de uma União que se constituiu e cresceu com pouca convicção de o vir a ser. O que sempre me pareceu.
Abrimos melhor os olhos e apercebemo-nos de enormes dificuldades que se aproximam e, definitivamente, nos farão ver como são ôcas e cínicas as promessas de um futuro melhor baseado em direitos e em conquistas que nada pode sustentar senão o trabalho árduo a que a vida obriga.
Desse trabalho há, sem dúvida, muito por aqui. Mas há poucos que o queiram fazer. Esta é a questão!


A PROPÓSITO DE UM BENFICA-SPORTING ATRIBULADO

O futebol move multidões, dá vida a paixões e, sobretudo, nestes tempos difíceis, é objecto de grandes preocupações com a sua viabilidade financeira. Tal como na vida em geral, os tempos dos desperdícios e dos grandes gastos já lá vão, pelo que nada pode ser desperdiçado.
Mas porque é gente que faz o espectáculo e muita mais a gente que a ele assiste, há problemas de segurança que devem ser considerados e assegurados, o que faz do ir ao futebol um acto bem mais complexo e carente de cuidados do que o era noutros tempos.
As tragédias em estádios de futebol, quando acontecem, são sempre de proporções desmedidas, de consequências funestas, pelo que não são demais os cuidados que se tenham para as evitar.
A tragédia rondou o Estádio da Luz no passado Domingo, quando se preparava o início de um encontro entre o Benfica e o Sporting. A evacuação do estádio, felizmente feita em condições que teriam sido perfeitas não fora o caso dos adeptos sportinguistas obrigados a permanecer nos seus lugares por tempo demasiado, evitou que chapas metálicas de dimensões apreciáveis, arrancadas da cobertura pelo vento, tivessem atingido e ferido gravemente muita gente que, nas bancadas, se preparava para assistir ao jogo.
Foi um espectáculo surpreendente mas que, sei-o agora, já tinha ocorrido em menores proporções algum tempo atrás, no decurso de um outro jogo. Por isso me causa estranheza que, em dia de vendaval, não tivesse havido os cuidados adequados às circunstâncias, os quais seriam da responsabilidade do dono do estádio e do promotor da competição, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional.
Não posso conceber que, em face de condições de risco que, afinal, eram conhecidas, se não tenha evitado o perigo potencial do que ocorreu, cancelando o jogo em função dos avisos oficiais que alertavam para condições climatéricas extremas, em vez de, por más razões, se insistir em realizá-lo. É este um pormenor gravíssimo a considerar e a ponderar, tendo em vista situações idênticas futuras. Aconteceram leviandades que apenas a sofreguidão de evitar custos e o desprezo pela segurança de tanta gente pode justificar.
Mais leviano, ainda, me pareceu o comunicado do Benfica que, menos de vinte e quatro horas depois, dava como certa a realização do jogo hoje, como fora decidido na condição de poder ser garantida toda a segurança, deixando a sensação, mais do que pertinente, de ter sido a decisão precipitada por falta de tempo para que fossem tomadas todas as precauções, revistas todas as situações e fundadas as garantias que todas as razões, incluindo o mau tempo previsto para hoje, exigiriam.
Também o Presidente da Liga se precipitou nas declarações que fez ao secundar as que o Benfica tinha feito, depois de o Sporting ter exigido outros cuidados sem os quais responsabilizaria quem tomasse a decisão sem os garantir por entidade independente e competente.
Apesar da gritaria de um tal Seara num programa de televisão que, tanto quanto me apercebi, nem leu completamente o comunicado do Sporting, com deduções delirantes quanto a propósitos de que me não dei conta, a tal vistoria exigida pelo Sporting terá (?) lugar hoje de manhã, o que me parece difícil que possa ser bem feito em face das condições atmosféricas de que me apercebo, mas é a prova cabal do reconhecimento da razão do Sporting pelas entidades que não quiseram assumir a responsabilidade que o comunicado do Clube de Alvalade lhes imputava.
A segurança da vida humana é um factor demasiado importante para ficar à mercê das imprudências do Benfica ou de uma inspecção ligeira que tenha sido feita, seja por quem for, sem as condições que garantam a normalidade que o que sucedeu mostrou que não estava assegurada.
Fez bem o Sporting por não pretender tirar partido de regras que consideram culposas e dignas de castigo severo situações de risco como a que aconteceu, porque o futebol se joga no campo e não nos regulamentos. Mas não pode, mesmo assim, ficar o Benfica impune por uma situação de potencial tragédia que, felizmente, foi evitada.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

SERÁ QUE O POVO JÁ ESQUECEU DE QUE “QUEM SE CURA NÃO SE REGALA”?

Que governo, em vésperas de eleições, tomaria, conscientemente, decisões impopulares, daquelas de que a oposição, facilmente, pode aproveitar-se para convencer os eleitores de que, mudando o governo, tudo será melhor? Um governo estúpido, com certeza, ou um governo inabalavelmente consciente das boas razões por que o faz, mas que não é capaz de as realçar para mostrar que são dores de cura e não de morte, como as que inspiraram o tão conhecido adágio “quem se cura não se regala”!
Infelizmente, a cultura da experiência de muito tempo a analisar a vida, deu lugar à sua negação, tal como o bom senso que faz os julgamentos justos deu lugar à precipitação de fazer sem pensar, porque é assim que nos dizem que é… e mais nada!
Não me canso de dizer que não vejo neste governo, nem de longe, o melhor que Portugal deveria ter nestes tempos de grandes dificuldades. Mas, pior do que isso, é que não vejo a alternativa que faria bem o que afirma que este governo faz mal. Pelo contrário, dou-me conta de um oportunismo sem par, daqueles que fazem dos sacrifícios do povo as razões para alcançar os favores do seu voto, sem jamais explicarem o que fariam para que fosse diferente e para que a abastança voltasse, sem jamais irem além da exploração das dores e da insatisfação dos que sofrem para os convencer da esperança que nenhuma razão pode trazer.
Por isso a intitulada “esquerda” fala de roubo, esquecendo, de todo e por exemplo, os que aconteceram no Serviço Nacional de Saúde e dos quais, quase diariamente as notícias nos dão conta, dizendo que o Governo quer, conscientemente, matar o que já encontrou quase morto, mergulhado em dívidas imensas, defraudado por esquemas de roubo descarado, enganado por quem lhe não dedicava o esforço a que se comprometeu.
Nem por ser, inegavelmente, assim, o incansável Arménio cala o insistente discurso da estupidez que afirma que “o Serviço Nacional de Saúde está doente porque o Governo está a degradá-lo conscientemente”, o que os insaciáveis do lucro fácil, das benesses e das conquistas não contestam, mas antes aplaudem, na esperança de não perderem o maná que lhes caía do céu. A verdade, porém, é que todos os excessos causam ressacas, como esta a que tantos excessos nos condenaram.
Não deveria o povo esquecer o que estes discursos intencionais escondem do universo das coisas reais, numa intenção óbvia de criar nos eleitores a disposição de “entregar o ouro ao bandido”, como acontece aos descuidados que, em vez de reflectir, escutam e se deixam levar pelo canto da sereia.

Talvez, depois de todas as ratazanas saírem das tocas, o Serviço Nacional de Saúde possa, finalmente, encontrar a vida e a pujança de que todos necessitamos.


SOL NA EIRA E CHUVA NO NABAL OU, FINALMENTE, A CONSCIÊNCIA REAL DOS RISCOS QUE CORREMOS?

Neste diferendo entre os que reconhecem a influência da acção humana nas alterações climáticas e os que a desprezam alegando que sempre existiram ao longo da História da Terra, no que se pode encontrar o dedo dos que pagam para não ver a verdade, é notícia que Obama e Hollande apelam a um acordo ambicioso para redução das emissões dos gases de estufa, antecipando a Conferência sobre o Tempo que, no próximo ano, terá lugar em Paris. Quem sabe se, finalmente, deixará de ser apenas mais uma das que não produzem grandes efeitos… Mas creio que será.
A Ciência já mostrou como o modo de viver do Homem influencia os equilíbrios climáticos e, deste modo, acelera os processos naturais que são lentos à “escala de tempo humana”, o que não parece ser o caso das alterações bruscas que acontecem por todo o mundo.
Muito preocupados com o efeito de estufa que se acelera com o envio excessivo de gases para a atmosfera, com efeitos diferenciados que alteram a dinâmica atmosférica, a verdade é que não bastará já apenas este cuidado, porque a actividade humana acelerada produz, também, outros efeitos.
Ao longo de muitos milhões e milhões de anos, os grandes desequilíbrios na Terra foram dando lugar a uma relativa tranquilidade, como aquela em que apareceu e se desenvolveu a Humanidade, a qual pode, no entanto, repentinamente alterar-se. Bastará que um dos “super-vulcões” adormecidos acorde e vomite o fogo e as poeiras que nos envolverão na noite escura e gélida que marcará o fim do nosso tempo.
Mas, entretanto, a questão que se coloca é bem mais simples, a de não acelerar os pequenos desequilíbrios que, ao longo do tempo, vão tendo lugar, alterando os sistemas que assim os têm mantido e foram a causa das variações climáticas sazonais que conhecíamos, às quais dávamos nomes e até marcávamos datas para começarem e acabarem, com as frequências dos fenómenos de calor, frio, chuva ou seca que os caracterizavam. É mais do que evidente que essas frequências se alteraram, encurtando os períodos de retorno de fenómenos extremos que, no passado recente, eram de dezenas ou centenas de anos, mas agora se repetem sucessivamente.
Reduzimos a menos de metade as áreas de florestas tropicais, com isso reduzindo a intensidade de diversos ciclos naturais importantes e a biodiversidade responsável por outros equilíbrios também, conspurcámos os oceanos onde concentrámos enormes “ilhas de plástico” que, para além de outras poluições, são causa de danos severos no seu papel equilibrador de fenómenos naturais, além dos, talvez ainda mais severos, que produz através das cadeias alimentares.
De outras consequências mais poderia aqui falar, entre as muitas das produzidas pelo Homem para manter o “crescimento económico contínuo” que enriquece continuadamente os mais ricos e mantém os demais a produzir a riqueza que sempre acaba nos seus bolsos, mas prefiro reduzir os argumentos ao velho ditado que milhares de anos de sabedoria consagraram: “quem tudo quer, tudo perde”.

Mas esperemos pelas acções concretas que Obama e Hollande irão propor para travar a aceleração das alterações climáticas, como afirmam. Mas não acredito que vão além das que fazem acreditar que é possível ter sol na eira e chuva no nabal o que, afinal, nunca acontece!