ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

terça-feira, 26 de abril de 2016

O DISCURSO DO PRESIDENTE



Enquanto conduzia fui escutando, num programa de rádio, as opiniões de uns quantos cidadãos sobre o discurso do Presidente da República no 25 de Abril e a opinião mais frequente foi a de uma diferença profunda entre os que Cavaco Silva proferia, considerados sectários e conflituosos, e o discurso de Marcelo que consideraram apaziguador e esperançoso de estabilidade política.
Ouvi a maioria dos discursos de Cavaco ao longo do tempo e, certamente, os comentários que Marcelo foi fazendo ao longo do mesmo número de anos, os quais se têm traduzido, de forma adequada às circunstâncias, nos discursos do agora Presidente.
Nunca fui um admirador rendido aos méritos de um ou de outro. Contudo, reconheço ter o filho de Baltazar características bem mais atraentes do que o Senhor de Boliqueime. Mas espremidos bem os seus conteúdos, independentemente da forma, não me parecem tão diferentes assim. Apenas Cavaco Silva é menos hábil, será inábil até para os cargos que exerceu por conta da rodagem de um automóvel.
O discurso de Marcelo foi o que seria natural que fosse, totalmente inócuo e articulado de modo a que todos pudessem dizer que foi no sentido do que pensam. Como é próprio do seu estilo prevenido.
Todos ganhámos ou todos perdemos quando, numa situação que é, sem a menor dúvida, muito delicada, todos parecemos ficar contentes?
Esta situação mais me parece de inconsciência quanto aos graves problemas que enfrentaremos e será o futuro próximo a dizer como será, independentemente daquilo que o Presidente tenha dito.
Este e o próximo ano serão os de tira-teimas, para Portugal e para o mundo, com Obama numa cruzada europeia sobre a "globalização" com a qual pretende resolver os problemas dos Estados Unidos e não os da Europa que a cada dia são maiores.
Obviamente, seria bom para mim e para todos que não vivem dos favores da política que tudo venha a correr bem, mas pensar que se pode ser seguramente feliz no meio da infelicidade, soa-me a estultícia bacoca.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

UM CORDEIRINHO ENTRE LOBOS!



Para quem não esteja a par do que, em pormenor, se passa no Brasil, talvez hoje um dos países do mundo com a classe política mais corrupta do mundo, não é fácil julgar criteriosamente a legalidade do que sucedeu no Parlamento em Brasília quando, por uma maioria impressionante, decidiu continuar o processo de “impeachment” da Presidente Dilma Roussef que o considerou um golpe.
Para um observador longínquo e independente, como eu sou, esta questão do “golpe” parece-me redundante perante a manifestação popular que não deseja a sua continuação à frente da governação do país.
Pode até ser Dilma a anjinha inocente que, ao longo de anos em que “mensalões”, “lava jatos”, além de outros processos de corrupção que espoliaram o povo brasileiro, não se deu conta do que, à sua volta se passava. Pode ser a ingénua que convida Lula para um cargo estranho de ministro para o livrar da “injustiça” da Justiça que pretende investigar crimes que as aparências indicam que possa ter cometido.
Enfim, pode ser Dilma tudo o que se quiser, até a mais digna e fiel das criaturas, mas que é alguém agarrado ao poder que, a todo o custo deseja conservar contra a vontade da maioria do povo brasileiro, disso não pode ficar qualquer dúvida.
De que servirá o argumento de que foi eleita por 59 milhões, se esses e muitos mais, agora a não desejam?
Ou não passará a democracia de uma sucessão de ditaduras periodicamente legalizadas pela presunção de que a maioria tem razão?
Que apoios terá Dilma ido procurar fora do país para travar um processo no qual parece ter o destino traçado?
É difícil acreditar que esteja limpo quem, de corpo inteiro, mergulhou na lama e de uma coisa não posso esquecer-me neste momento em que Dilma pretende ser santa no meio de tantos demónios. É daquele dito popular “tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica ao portão”.
Mas a questão mais importante será a de saber o que virá depois da Dilma… 

DIA MUNDIAL DA TERRA



Dia após dia, aqueles para quem a Terra é importante porque não sabem que não têm outra, chamam a descuidada atenção dos que dela apenas se aproveitam para a pilhar, poluir ou dela fazer o reino de um ilusório poder já quase finado.
Julgou-se o Homem o seu dono enquanto, sem castigo, pode explorar o que nela foi descobrindo para usar em seus delírios.
Sempre se julgou capaz de encontrar maneira de ultrapassar as consequências dos danos que foi causando.
Mas tudo não passou da ilusão que nela abriu chagas profundas que, agora, como tanta coisa o demonstra, é incapaz de sarar. 
Por isso, já sente as dores do mal que fez mas, mesmo assim, pouco se esforça para o remediar e apenas tenta dilatar o tempo em que, sem perdão, a Humanidade pagará pelos seus erros.
No egoísmo profundo e irresponsável de quem diz que “quem vem atrás que feche a porta”, o Homem não arrepia caminho e, nem sequer, pára para pensar no quanto poderão sofrer os seus filhos, aqueles a quem vão deixar, por herança, esta Terra que tão profundamente destroçaram, com os ódios adormecidos que acordaram, com os muitos problemas que criaram e sem as esperanças que mataram.
Muito antes desta “civilização” destruidora, imaginada e engrandecida pelos que não foram capazes de compreender a Vida, um velho ditado índio, numa curiosa inversão do tempo aplica, à casa de todos nós, um princípio que apenas as pessoas de bem praticam:Pedimos a Terra emprestada aos nossos filhos, a quem a devemos devolver em boas condições.
Mas que Terra devolveremos nós a quem está neste mundo por responsabilidade nossa, se nunca a compreendemos e até destruímos aqueles que, tão bem, a conheciam?

domingo, 17 de abril de 2016

ENTRE A PRIVACIDADE E A VIDA



A defesa da privacidade a qualquer preço está, definitivamente, em causa desde que se tornou uma aliada preciosa, porventura a mais eficaz das que, em nome de valores estranhos e reclamados como supremos e únicos, esconde a preparação de manobras que tantos inocentes já molestaram e mataram ou dificulta a perseguição de terroristas e a destruição da estrutura que os acolhe.
Está o mundo perante um dos seus maiores dilemas que a juntar a tantos problemas com que se vê confrontado, configura a “tempestade perfeita” que muitos e profundos danos pode causar à Humanidade.
É a falta de saídas para tantas situações deprimentes e de soluções para os cada vez maiores problemas a que o nosso modo de viver nos conduziu que leva ao desespero de decisões dramáticas de adesão a utopias irrealizáveis, a projectos miríficos e ao terrorismo desumano que, para muitos e apesar das promessas das recompensas garantidas, acabará em enorme tragédia.
Também a segurança em lugares públicos e não só, se vai tornando cada vez mais frágil e desaparece na barafunda das multidões que enchem ruas ou no deserto em que se tornam a horas mortas, deixando desprotegidas, entregues à sua fraqueza, os que se tornam alvos predeterminados ou casuais dos que se entregam à prática de actos anti-sociais cada vez mais frequentes e violentos.
Um direito que é de todos o maior, o direito à segurança e à vida, está cada vez mais comprometido por preconceitos que protegem outros direitos, nem sempre dignos de serem respeitados.
É o momento de encarar definitivamente esta questão de prioridade entre o direito à privacidade individual e à segurança colectiva, como o demonstram os cada vez mais frequentes actos de terrorismo já perpetrados, que mataram e estropiaram tanta gente inocente, para além de outros mais que a prevenção fez abortar.
Por tudo isso estou do lado de quem defenda o bem comum, ainda que tal custe prescindir daquela parte da intimidade que de pouco ou nada serve numa vida comum, mas beneficia os que dela se servem para planear como atentar contra ela.



sexta-feira, 15 de abril de 2016

CONSTRUIR OU NÃO CONSTRUIR BARRAGENS?



São frequentes, insistentes e praticamente constantes, os ataques à construção de barragens em linhas de água, para o que se apontam as mais diversas consequências como alterações na paisagem, nos micro-climas e na biodiversidade, bem como, por vezes, a destruição de bens ou a submersão de espaços habitados. O que é uma inquestionável verdade.
Mas a construção de obras de retenção em linhas de água é, em regra, a única resposta a problemas que as cada vez maiores necessidades de água provocam. Necessidades constantemente aumentadas por um crescimento que, apenas ao longo da minha vida, já triplicou a população de uma espécie com mais de 100.000 anos de existência sobre a Terra e mais que quadruplicará daqui a vinte ou trinta anos!
Na Natureza, a água raramente existe nas quantidades ideais e necessárias a cada momento, porque nas linhas de águas naturais, o “reservatório” a partir do qual mais frequentemente satisfazemos as nossas necessidades, biológicas, higiénicas, agro-pecuárias, etc, ocorrem acentuadas variações de caudal que podem tornar as disponibilidades escassas ou excessivas, consoante o período é de seca ou de cheia.
A regularização dos caudais é, pois, a solução que nos pode permitir dispor da água de que necessitamos a cada momento e evitar ou reduzir os malefícios das inundações por cheias cujos efeitos são bem conhecidos.
Estranho que os incansáveis detractores das obras de retenção de água em linhas naturais, como os “amigos deste ou daquele vale”, apenas façam contas a determinados aspectos de uma questão que se não avalia apenas por eles porque há outros igualmente importantes ou mais importantes até que devem ser considerados.
Não é a oportunidade para falar de todos eles, mas a intensa ocupação urbana e industrial, com desflorestação e redução da permeabilidade do solo altera as condições hidrológicas naturais, entre as quais a infiltração das águas pluviais que reduz e os escoamentos superficiais que aumenta e acelera, assim reduzindo as reservas subterrâneas que constituem o recurso alternativo quando as superficiais não estejam disponíveis.
A criação de lagos artificiais não apenas regulariza os caudais como beneficia as reservas subterrâneas, assim disponibilizando a água de que há necessidade.
Seria assim se não estivéssemos já muito em cima do limiar da carência.
Mas há outras construções e atitudes que, mais até do que as barragens, alteram as condições naturais, com os mesmos tipos de inconvenientes dos quais as culpam.
As redes de comunicação, de transporte de energia, a ocupação urbano-industrial, os procedimentos industriais e agro-industriais e a alteração da utilização da terra produzem impactes ambientais bem maiores para proporcionar aquilo de que os que reclamam da construção de barragens não prescindem, mas que não teriam se não houvesse barragens!
É o tipo de civilização que escolhemos!