ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sábado, 22 de janeiro de 2011

AMANHÃ TENHO DE IR VOTAR, MAS…

Obviamente que irei cumprir o meu dever de cidadão consciente dos seus deveres, mas gostaria de poder ter outras opções que, sinceramente, não esperava que aparecessem. Mas, se é esta a política e os políticos que temos, será dentre eles que terei de escolher e não adianta votar em branco, abster-me de votar ou, como alguns fazem, riscar ou escrever coisas que ninguém vai ler e não terá qualquer influência nestas eleições ou no futuro.
Não gostei do primeiro mandato de Cavaco Silva. De todo, pois penso que poderia e deveria ter feito muito mais para travar os disparates de um governo de minoria que insistiu em arrogantes erros sucessivos que muito prejudicaram o país.
Sei que o Presidente da República Portuguesa tem muito poucos poderes, mas tem voz que pode esclarecer os portugueses sobre o que se passa de importante na política nacional. Cavaco Silva foi demasiadamente permissivo e não soube evitar as “fintas” de Sócrates que o deixou sem possibilidade de agir quando mais era necessário.
Sócrates manobrou como quis para influenciar o resultado das últimas eleições legislativas que lhe deram uma maioria relativa e lhe permitiu formar novo governo, assim como conseguiu que o tempo passasse até que o Presidente nada pudesse fazer para impedir que continuasse os seus desvarios.
Apesar de tudo isto também não votaria Alegre e nem vou dizer porque!
Aplaudo o Dr Fernando Nobre pela sua determinação mas, quem sabe, nas próximas eleições presidenciais, mais apoiado e melhor preparado, poderá ser a opção.
Quanto aos demais, não chegam a ser opções.
Resta-me uma noite para conversar com o travesseiro e… que Deus ajude Portugal!

A FORMIGA E A CIGARRA

São angustiantes as notícias que nos chegam, dando conta das grandes dificuldades de muitas famílias portuguesas por via da situação financeira degradada a que Portugal chegou.
Pessoas que, outrora, foram contribuintes de instituições de auxílio social, recorrem agora a elas para pedir ajuda depois de esgotada toda a sua capacidade para sobreviver sem auxílio.
Dezenas de milhar de crianças que sofrem de fome, muita gente que ainda não conseguiu ultrapassar a barreira da “vergonha” que as faz sofrer as suas mínguas sem queixumes e uma cada vez maior população em miséria extrema, são desgraças que não nos podem deixar indiferentes.
Os portugueses comuns são gente de causas às quais afoitamente se entregam quando confiam em quem as promove e, por isso, têm dado resposta generosa às necessidades de ajuda. Quais formiguinhas, as Instituições de Ajuda Social vão recolhendo as dádivas que atenuarão a fome dos cada vez mais portugueses que a sofrem.
Mau é saber que muito se pode agravar numa situação grave que parece não comover o governo que não reconhece os erros das suas opções já que nelas insiste. Falhou nas suas políticas de modernização que não soube pautar pelas reais capacidades e necessidades do país; Falhou nas políticas de saúde, de educação e de justiça que sacrificou a decisões que privilegiaram o investimento excessivo em infra-estruturas e equipamentos cujos custos arrastarão os encargos financeiros por anos e anos, dificultando o desenvolvimento seguro do país; Falha num “Estado Social” que consagra direitos para cuja garantia não teve o cuidado de, oportunamente, assegurar os meios necessários; Falha quando, mesmo avisado, faz “ouvidos de mercador” e insiste na bondade de projectos excessivamente onerosos e sem proveito oportuno na resolução dos problemas mais prementes dos portugueses.
O crescimento excessivo da dívida externa portuguesa (já referido em outra crónica) a que tanto desnorte conduziu e o excessivo défice orçamental são as razões de ser de um Orçamento de Estado que nos fará “apertar o cinto” como nunca.
Aumenta impostos e corta na despesa, mas fá-lo, sobretudo, penalizando os rendimentos de trabalho, mantendo quase intocáveis os gastos não reprodutivos em estruturas, organismos, benesses e remunerações injustificadas que os contribuintes suportam.
Em quaisquer circunstâncias mas, sobretudo, em tempo de sacrifícios, tornam-se escandalosas as reformas precoces e generosas dos políticos que as vão acumulando e acrescentam com outras remunerações em cargos que facilmente conseguem, os subsídios, as ajudas de custo, as mordomias e outros “extras” que os privilegiados têm, os numerosos institutos e fundações que as suas conveniências foram criando, as incontáveis empresas públicas que inventam sem fins sociais ou económicos que se compreendam e a ridícula e inoportuna insistência do Ministro das Obras Públicas na extravagância do TGV cujo contrato de adjudicação o Tribunal de Contas questionou.
Além disso, a notícia da criação de um organismo, mais um, para controlar as “grandes obras públicas” que a nossa capacidade financeira não comporta e as ruinosas “parcerias público-privadas” que deveriam ser eliminadas ou profundamente corrigidas, soa a irresponsabilidade difícil de aceitar.
Faleceu há poucos dias Errnâni Lopes que, em outros tempos de quase “bancarrota”, foi chamado para gerir as finanças nacionais que recuperou com a ajuda do FMI. Não há muito tempo, ele que conhecia bem as nossas forças e fraquezas considerou Portugal um país em risco de definhar.
Porém, o governo tem dificuldade em conter a sua ânsia de euforia como a demonstrada pelos “grandes feitos” que encheram o país de auto-estradas, de urbanizações e de edificações que ultrapassaram as necessidades, pelos negócios ruinosos em parcerias que apenas foram boas para os seus parceiros, pelo consumo desenfreado que nos tornou esbanjadores, sem cuidar de prevenir as dificuldades que o amanhã poderia trazer.
Sucessivos desvarios de quem governa mas que encantaram muitos eleitores e as “oposições” não tiveram competência para denunciar e travar, são a causa das desventuras que vivemos. Agora, quando a poupança seria útil, apenas há uma dívida monstruosa que obriga, num gesto cada vez mais oneroso, a estender a mão aos agiotas que vão cobrando mais e mais, porque às “cigarras” não se ajuda. Cantaram? Dancem agora!
Por isso, não será 2011 um ano fácil para a maioria de nós mas, se Deus quiser, superá-lo-emos com a força daqueles para quem as dificuldades são estímulos, como outrora o foram.
Um Ano Novo venturoso para todos, são os meus votos.
Rui de Carvalho
Lisboa 9 Dezembro 2010
Publicado no Notícias de Manteigas de Janeiro 2011