ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

NEBULOSAS E CERTEZAS


Se de Miguel Relvas oiço falar de dúvidas, de suspeições, de nebulosas, já do anterior governo e das Estradas de Portugal oiço falar de certezas, de tenebrosas certezas de contratos paralelos sonegados ao Tribunal de Contas para que este visasse os contratos de seis vias que custaram e custam muito dinheiro a mais, o que torna mais dura esta austeridade que tanto nos faz sofrer. Não se trata de coisa pouca mas de muitas centenas de milhões que, juntos a tantos que nos levaram à exaustão financeira e à tutela de uma troika e a um governo sobre os quais é fácil lançar todas as culpas, nos faz temer novas surpresas que mais afundam o buraco já enorme em que estamos metidos.
Mas nada disto trava a verborreia do “homenzinho da máscara” que lá continua, imperturbável, a iludir os incautos quanto ás responsabilidades pelo mau momento que vivemos, falando de nebulosas que mais não são do que a fumaça com que tenta encobrir os maus actos de gestão do governo de que fez parte!
Há uma questão grave que terá de ser esclarecida. A das “secretas” que levou gente “insuspeita” a tentar ligar este governo aos escândalos que demasiadas negligências consentiram.
E quando as grandes questões que a oposição agita para confrontar o governo nada têm a ver com os problemas que afectam Portugal e os portugueses, só podemos concluir que algo vai mal neste país onde, infelizmente, teremos de reconhecer que se continuam a colocar interesses pessoais e partidários acima dos interesses do país!
Não me compete fazer a defesa de Relvas nem, sequer, tenho modo de o fazer, mas ainda não encontrei, em tudo quanto se diz, razões sérias para formar uma culpa que faça valer a pena o tempo que, com isso, se está a perder.
Já quanto ás responsabilidades do anterior governo, vejo adensarem-se as razões para um julgamento mais sério e mais profundo que esclareça as responsabilidades das irregularidades que, tudo leva a crer, cometeu.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

UMA TRISTEZA!




Mais uma vez me afastei uns dias desta barafunda. Fui até à minha Serra, deliciei-me com as suas belezas, com a pureza da sua água, com a leveza do seu ar, com a frescura da sua terra e com a força da sua Natureza que parece irromper de todos os lados.
Enquanto lá, decidi não ler ou escutar notícias.  Retirei-me, mesmo, deste bulício que é o “diz-que-diz mas não diz, faz-que-faz mas não faz” e, sobretudo, destes fazedores de opinião pagos para dizerem qualquer coisa que preencha os dilatados tempos mortos das TVs e, também, dos oráculos que tudo sabem mas nada alguma vez provaram serem capazes de fazer. Razão tinha quem disse não precisarmos de quem saiba mais mas de quem faça melhor. Mas enfim, se lhes pagam bem e têm audiência…
Para lá e para cá, passei naquela A23 que já foi “sem custos para o utilizador” e agora mais parece uma floresta de apitos que vão alertando que mais um euro e tanto foi acrescentado à conta da travessia. Mal tinha saído da A1 que, até ao desvio para Torres Novas, me custou seis euros e já, pouco para lá de Abrantes, a conta da A23 superava aquele valor! Bem sei que não é barato ter uma auto-estrada só para nós mas, mesmo assim, parece-me caro demais. Insuportavelmente caro para quem dela tenha mesmo necessidade de se servir.
Um amigo quis ensinar-me como, tirando partido da estrada que corre perto, se podia evitar a maioria daqueles inestéticos pórticos sonoros mas, viajando sozinho, preferi fazer a viagem o mais breve possível e lá me deixei espoliar…
É uma tristeza olhar para aquela via quase deserta, o que nos faz pensar por que estará ali. Assim como tantas outras que fazem da rede de auto-estradas nacional uma das mais densas do mundo, mas sem movimento que as justifique! Então o que as terá justificado?
No regresso sempre vejo aquele alguém ali deitado, de barriga para o ar, como se estivesse na praia, apanhando banhos de sol e gozando os rendimentos. Será que acordará um dia?
Chegado aqui, as novidades eram que tinha sido encontrado, no cacifo de um deputado do PS onde fora misteriosamente colocado, um documento em que um dado juiz do Tribunal de Contas “arrasava” a notícia de que esta entidade teria encontrado irregularidades graves nas informações dos pedidos de “visto” para a construção de seis auto-estradas, as quais levaram à sua concessão indevida. Ao que o TC respondeu com a informação de que o documento que iria ser publicado teria sido aprovado por unanimidade! Além disto, o “caso Relvas” continuava na ordem do dia, com alguns “barões” do PSD a reclamarem mais a cabeça do ministro do que a própria oposição. Um caso muito nebuloso que, nitidamente, estava a ser aproveitado para preencher o vazio de ideias e a vulgaridade em que a vida política deste Portugal se tornou.
E pouco ou nada mais que valesse a pena.
Uma tristeza!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

LÁGRIMAS DE CROCODILO


A desgraça é bem mais fecunda do que a felicidade e, sobretudo, quando se trata da desgraça dos outros, consegue-se ser poeticamente dramático, dizer as coisas com aquele ar de comiseração que faz parecer que até nos dói a nós. Foi o que me ocorreu quando, ontem num daqueles frente-a-frente periódicos e personalizados que as tv’s promovem, vi alguém referir, com lábios trementes e máscara de dor, o cruel desemprego que esta política de austeridade gerou, para o seu “minuto” livre.
Já desespero de alguma vez ouvir alguém escolher um louvor à alegria, à felicidade, ao trabalho produtivo ou à esperança, quando se trata de chamar a atenção, para despertar a simpatia que, um dia, pode render votos.
Porque estou certo de que a austeridade me afeta mais a mim do que a estes ilustres que por aí vão opinando e carpindo lágrimas de dores que não sentem, o que o desemprego de pessoas que me são muito chegadas e queridas ainda mais agrava, sentir-me-ia à vontade para dizer o que, por respeito a quem me lê, não digo aqui.
Ora favas, será a partir da austeridade que todo o mal acontece e o desemprego se instalou, ou a verdadeira causa de tanta dor é do que nos obrigou a ser austeros? E porque serão sempre os que mais culpas têm na coisa que mais areia tentam deitar-nos para os olhos e brincam com a dita (coisa ou coiso, tanto dá), em discursos maçadoramente repetitivos e agressivos da inteligência dos até menos dotados?
É por isto que não acredito na solidariedade a que apelam nem espero que, alguma vez, os políticos coloquem os interesses do povo que lhes deu o poder acima dos seus interesses pessoais. Para quem, como eu, já teve a oportunidade de, muitas vezes, escutar as conversas de bastidores, o cinismo já chateia demais e as lágrimas de crocodilo já não enganam.
Deitam-se os foguetes, corre-se atrás das canas, faz-se a festa toda, mas ninguém parece ouvir os estoiros que provocam. Se o fogo for de artifício… ainda se ergue a cabeça e se abre a boca de espanto para fazer ahhhhhh! Quem sabe se, por isso, a estes foguetes, em tempos se chamava “de lágrimas”!

segunda-feira, 21 de maio de 2012

SECRETAS & MEXERICOS


Miguel Relvas fez o que dizem que fez, ou não fez? Obviamente, não sei! Mas só a hipótese me deixa os cabelos em pé, tanto pela gravidade do que dizem que fez como pelo disparate crasso que será se o tiver feito.
Uma redacção de jornal diz que Relvas pretendeu controlar a acção de uma jornalista da qual terá ameaçado publicar factos da sua vida privada se não correspondesse à sua pressão para não publicação de algo sobre o caso das “secretas”. Foi qualquer coisa assim…
Ora, começando a desbobinar este enredo que, muito oportunamente, dá a entender ter Relvas conhecimento de eventuais “podres” da jornalista, depois de ser acusado de receber “informação classificada” à qual diz não ter dado importância, parece particularmente conveniente para quem o queira acusar, assim como seria demasiadamente ingénuo da parte dele insinuar que a tinha, porque quem anda há já tanto tempo na política tem de saber que tal seria fatal.
Alguma coisa se terá passado, seja ela o que for. Com certeza. Mas a história só pode estar mal contada por uma das partes, pela outra ou por ambas. O que me não espanta neste país onde a política se tornou negócio de comadres zangadas, mesmo quando são daquelas que tentam manter uma compostura que pode nem vir do berço.
Seja como for, bom será se tudo se esclarecer rapidamente e que, depois disso, ministro, jornalista, conselho de redacção ou seja quem for proceda em conformidade com o que os cidadãos deste país têm direito. Não digo de acordo com as suas consciências porque esta história de mexericos não garante, necessariamente, que elas tenham qualquer respeito por nós.

domingo, 20 de maio de 2012

OS PASTEIS DE NATA…

O Ministro da Economia falou neles e foi motivo de chacota. Dinamizar a economia com pasteis de nata? Que ideia mais maluca… Num ápice, o Álvaro passou de incompetente a idiota sem capacidade para fazer parte do governo e muito menos para recuperar a economia nacional.
O Primeiro Ministro falou do desemprego como podendo ser uma oportunidade para iniciativas próprias e foi muito criticado. Diria, mesmo, que foi achincalhado. Mas num cenário de forte desemprego que, desde há anos, o desgoverno vem engrandecendo, as iniciativas sucedem-se e felizmente que é assim. Poderá acontecer, até, que o bem conhecido “desenrascanço” português esteja à altura das necessidades e mostre como, quando é preciso, pode gerar a inovação que nos livre de desgraças maiores. Já noutros tempos se impôs aos “velhos do Restêlo” que só previam desgraças.
A Oposição portuguesa nunca deu mostras de sentido de humor, menos ainda de capacidade para entender as subtilezas de certos discursos que pensadores eméritos traduziram em frases marcantes e o povo regista nos seus sábios ditados! Prefere dar mostras da sua veia revisteira quando brinca com coisas sérias ou fala em “coisar o coiso” em vez de ter um discurso político produtivo.
Infelizmente, as oposições fracas não tornam mais fortes os governos.
Valham-nos os portugueses que não baixam os braços nem se deixam levar nas cantigas brejeiras de quem deles apenas espera que lhe entreguem o poder.
No Fundão, na Escola de Hotelaria local, foi inventado o “pastel de nata de cereja” que, segundo parece, pela delícia que aparenta ser, poderá constituir uma excelente oportunidade de negócio. Ainda não tive a oportunidade de provar mas, a julgar pelo aspeto e pelos encómios que vi serem-lhe tecidos, parece uma boa solução para acrescentar valor a um produto típico da terra que, antes, apenas se vendia a granel. Parece ser um exemplo a seguir.
Para além disto, num concurso de oportunidades para novos negócios apareceram muitos concorrentes, alguns dos quais apresentaram ideias muito aproveitáveis!
A comunicação social vai-nos dando conta de iniciativas diversas e de resultados notáveis de portugueses nos mais diversos domínios da actividade, o que, sem dúvida, mitiga este tempo de crise que a “mania das grandezas” nos faz sofrer mas que a criatividade com que a Natureza nos dotou poderá ajudar a vencer.
Afinal, os pasteis de nata, a imaginação e o aproveitamento das oportunidades, por mais pequenas que pareçam, são ou não são importantes na economia?

A HORA DOS INDIGNADOS!

Quando o telhado mete água, ou o consertamos ou vamos colocando bacias aqui e ali onde a água cai, até que começa a ficar difícil aquela gincana por entre os aparadores de pingos que, entretanto, se foram acumulando. A partir de certa altura já não haverá reparo que valha e só um telhado novo resolverá a situação. Todos sabemos que é assim que, tantas vezes, acontece. O que uma pequena reparação poderia remediar sem grandes custos, acaba por tornar-se um problema sério cuja reparação custará bem caro. Também podemos deixar que o telhado desabe e, depois, queixamo-nos do azar, da pouca sorte ou da incompetência de quem o construiu.
A culpa nunca pode ser nossa. Por isso, temos de a deixar para outros e depois, cheios de razão, reclamar que alguém nos resolva o problema! E se ninguém atender a nossa reclamação, indignemo-nos! As coisas são mesmo assim, Sempre haveremos de encontrar motivos, como sempre arranjaremos argumentos que a sustentem. E sempre haverá, também, quem com eles concorde, seja por fidelidades que lho impõem, seja porque lhe convém, se não for, até, porque não conseguem entender mais do que isso. E quem não concordar, pode escolher entre estúpido, fascista, explorador, inimigo dos trabalhadores, conservador, liberal, burguês ou eu sei lá, o epíteto que julgar lhe seja mais adequado.
Acabo de ler que “Mais de 20 mil pessoas manifestaram-se hoje contra a austeridade e contra o capitalismo em Frankfurt (Alemanha), a culminar uma semana de ações do movimento Blockupy (bloquear e ocupar), mais conhecido por movimento dos indignados.” Por qual razão se indignam, não fiquei a saber bem.
Seja pelo que for mas, sobretudo, quando as coisas nos não corram de feição, quando nos não derem aquilo a que nos julguemos com direito, indignemo-nos! Mas se, porventura, não for esse o caso e, simplesmente, não tivermos mais em que pensar, acordarmos mal dispostos ou um calo nos incomodar, indignemo-nos também!
E quando a simples indignação não for bastante, façamos greve!
Fazem greve os que podem fazê-la, porque da sua greve resultam danos suficientemente avultados para que possa ser notada. Fazem-na os pilotos, os condutores, os controladores, os revisores e os de outras profissões cuja recusa cause bastantes transtornos seja a quem for, até mesmo aos outros trabalhadores a quem negam ou fazem difícil o direito de trabalhar! Mas também fazem greve os que, mesmo sem tais condições se deixam empolgar por palavras de ordem que, apesar de estafadas, sempre aliciam descontentes ou alienados.
Não posso deixar de ser a favor dos direitos do trabalho e, por isso, do direito à sua defesa. Mas isso não me leva a concordar com as greves políticas ou oportunistas que, em tempo de dificuldades, mais difícil fazem a vida àqueles para quem esta já não está fácil.
Sempre me pareceu excessivo o direito incondicional à greve. Impróprio, até, de sociedades civilizadas. Mais excessivo me parece quando as condições justificariam a sua contenção, tal como certas ocasiões ou circunstâncias justificam medidas de exceção.  
Julgo-o, mesmo, o principal inimigo da concertação social onde interesses comuns deveriam encontrar as soluções que façam a sociedade mais próspera e melhor, sobretudo quando a escassez se tornou tão evidente.
Habituámo-nos a crer que a Terra é imensa e os seus recursos infinitos, a pensar que sempre serão encontradas soluções para os problemas que surjam e, consequentemente, a entender que se o Estado ou o governo nos não dão mais é, simplesmente, porque não querem! O que, de todo, não é verdade.
É pena que tenhamos de o entender da maneira mais difícil!
Por agora limito-me a perguntar: quantas daquelas famílias que o desemprego lançou na pobreza poderiam ter as suas condições de vida melhoradas se lhes fossem oferecidos os prejuízos de uma greve?
Pensar nisto, indigna-me mesmo.

sábado, 19 de maio de 2012

CIMEIRA RIO+20, UM ESCÁRNIO OU UMA BRINCADEIRA DE MAU GOSTO?



Tal como esta estúpida vida que vivemos, também os comentários que sobre a situação se façam são repetitivamente idiotas! Há já vários dias em que as únicas novidades são pegar em pequenas coisas que alguém possa dizer, separá-las do contexto em que foram ditas e fazer disso um “bicho de sete cabeças”. E, com isso, se perdem horas preciosas numa Assembleia da República que todos pagamos e cujos custos não são pequenos. Funciona assim aquela Assembleia da República à qual competiria controlar o governo em continuidade, impedindo-o de seguir por maus caminhos mas que, em vez disso, apenas reage quando o caldo já está entornado!
Por sua vez, os “inteligentes” comentadores já não conseguem ir para além de lugares comuns que esbarram nas cada vez mais estreitas fronteiras dos domínios da análise em que se inserem, perdendo de vista o todo do qual fazem parte. Entre não ver mais do que a pedra que lhes barra o caminho e “ver mosquitos na outra banda”, de tudo nos damos conta, exceto daquilo que mais sentido faria.
A limitada capacidade da mente humana fez da análise que divide a realidade em pedaços menores o seu refúgio, direi que vários refúgios onde os “especialistas” criam os seus próprios mundos com uma “realidade” que não consegue ser maior do que a estreiteza das suas próprias vistas consente. Por isso o mundo se confronta com demasiadas realidades que pouco ou nada tem a ver com a realidade do mundo!
Esquecem-se os “especialistas” da síntese que poderia conciliar as várias ideias ou formas de ver, como forma de sair deste diálogo de surdos em que as discussões infrutíferas se tornaram.
Por exemplo, vai acontecer um Junho próximo a Cimeira Rio+20 porque 20 anos depois da que, pela sua dimensão e importância ficou conhecida pela Cimeira da Terra e onde uma Carta da Terra enumerou os problemas graves que a Humanidade enfrentava em consequência do “crescimento” insustentável que promovia, a situação do nosso Planeta piorou!
Apesar de tudo o que, na sequência daquela Cimeira se disse e acordou (mas não se fez), o Fundo Mundial da Natureza (WWF), no seu recentíssimo relatório “Planeta Vivo 2012”, conclui que o mundo está gravemente enfermo e que serão muito sérias as consequências se a Humanidade não inflectir rapidamente o caminho perigoso que percorre.
Cerca de um terço da Biodiversidade foi perdido nas últimas décadas, o que diz bem da situação perigosa que vivemos, ao mesmo tempo que são mais intensos os fenómenos de desertificação e de alterações climáticas, no que a exploração excessiva dos recursos naturais que o crescimento económico continuado exige é corresponsável.
E quando, para tentar ultrapassar uma crise que parece que quase ninguém ainda compreendeu, o crescimento económico continua a ser a única solução apontada e discutida, há responsáveis cientistas que propõem uma unidade de medida do “bem estar” que considere, também, a protecção do Ambiente e dos Recursos Naturais no desenvolvimento dos países, substituindo o tradicional PIB que, perante a realidade deste Planeta que tão mal tratamos, não é, de todo, a medida apropriada. Assim o mostra a Ciência! Isso ignoram os economistas.
Nas circunstâncias em que vivemos, com as ideias que os “responsáveis” revelam, que sentido fará a Cimeira Rio+20? Serão vozes a pregar no deserto ou uma grandiosa manifestação de cinismo, ainda maior do que outras que, no passado, tiveram lugar?

terça-feira, 8 de maio de 2012

O EFEITO HOLLANDE

Por menos de três pontos percentuais, Hollande foi eleito o presidente da França que promete acabar com a austeridade! Estranho que, com tal proposta, não tenha conseguido uma vitória estrondosa, esmagadora até, à dimensão do desejo que todos, franceses incluídos, temos de acabar com esta situação difícil que vivemos. Uma promessa assim mereceria uma vitória inequívoca, uma vitória fácil à primeira volta em vez da que, com alguma dificuldade, apenas aconteceu à segunda.

Não acredito que quase metade dos franceses seja masoquista e prefira continuar no sofrimento que Hollande prometeu que iria acabar. Ou haverá razões para desconfiar da fartura? Por alguma razão os franceses descartaram os socialistas do poder há bastantes anos e nós, por aqui, ainda não esquecemos como a sua política nos endividou ao ponto de, para evitar a bancarrota, termos de pedir ajuda! E não foi a primeira vez que, por eles, tivemos de o fazer.
Temo bastante que, em consequência, o já chamado “efeito Hollande” não seja a “libertação” que muitos esperam mas, antes, um fracasso a que as circunstâncias possam obrigar. Como não sou masoquista também, quem me dera que Hollande tivesse razão e o Estado Social que nos satisfaz as necessidades mais prementes da vida passasse a ser um modo seguro e não artificial para viver o futuro. Mas também não credito em milagres destes que tudo me indica não serem possíveis neste mundo em que vivemos.
Seja como for, não será fácil prever o que nos trarão os próximos meses ainda que, a mais longo prazo, eu creia que as coisas não vão correr ao jeito que tanto capitalistas como socialistas esperam, porque o “crescimento económico” também não será o que, para isso, teria de ser.
Muitos esperam que a vitória de Hollande beneficie Portugal, coisa na qual não deposito quaisquer esperanças porque muito mais do que isso será necessário para colocar Portugal no rumo de um futuro diferente daquele que lhe imprimiram os que acreditaram no milagre da multiplicação dos pães em vez de fundarem o futuro nas bases sólidas do trabalho e do esforço próprios, atitudes que não há ajuda que possa dispensar.

sábado, 5 de maio de 2012

SINTO-ME PEQUENO NESTA SERRA ENORME...

A vista do Vale, a partir do Poio do Judeu é espantosa! Como me senti pequenino ali debaixo daquele rochedo enorme que, na sua deslocação, o glaciar ali deixou. Já lá vão cerva de 60 anos desde que a fotografia foi tirada e uns milhões desde que a pedra ali se quedou!
Obviamente, na segunda fotografia não estou eu. Apenas desejei marcar o ponto de vista!
Francamente, continuo a não entender aquele concurso que não fez do que aqui se pode ver a maior maravilha de Portugal! Acho que não deviam permitir-se concursos viciados!
(fotografias de Miguel Esteves G de Carvalho)


sexta-feira, 4 de maio de 2012

VAI GANHAR O PS!

Uma possível vitória eleitoral de Holland nas eleições presidenciais francesas, cujo mérito maior foi o demérito de Sarkozy, é festejada pelo PS português como se de uma vitória sua se tratasse.

Sarkosy não soube ou não foi capaz de fazer melhor do que andar de braço dado com uma desajeitada e mal vestida Merkl que chefia o governo que domina a Europa. Duvido que Holland consiga melhor, apesar de uma certa mudança parecer estar a querer impor-se, mas não por qualquer mérito seu. Queira Deus não tenha de engolir certas coisas que já disse…
Seguro foi a França para assistir ao comício final e, no Rato, a noite eleitoral será seguida passo a passo, minuto a minuto!

Mas será que isto faz algum sentido? Faz sentido ou dá alguma segurança que aquele que caiu do combóio tente agora agarrar outro em andamento, mesmo sem saber para onde o leva? Ou, se preferirmos, o que terá a ver o PS francês com o PS português? A “amizade” de Soares com Miterrand já se foi há anos e, hoje, o socialismo já esgotou todas as artimanhas que acabaram por fazer a sua fraqueza que não consegue, senão no papel, que o Estado Social seja a realidade que a exiguidade de meios não consente. Infelizmente.
A dureza da vida não se compadece com lirismos constitucionais, nem com conquistas irreversíveis num mundo incapaz de permitir uma vida digna a mais de metade da sua população. Ou será que também há “socialismo privilegiado”, aquele que deixa a maioria de fora?

É bom que, depois do salsifré que nos consentimos viver no desrespeito mais absoluto dos cuidados que o futuro nos deveria merecer, comecemos a pensar melhor naquilo que nos espera se, de uma vez por todas, não arrepiarmos caminho nestes avanços para o abismo em que poderemos cair.
Eu, se fosse PS, não me sentiria assim tão feliz! Não, também não sou apaniguado de ninguém porque não passo de uma gota no tsunami que parece querer varrer da face da Terra toda a porcaria que nela se acumulou!

O PINGO QUE PARA ALGUNS FOI AMARGO!

Sem qualquer juízo político ou social, o que a cadeia Pingo Doce fez no passado dia 1 de Maio foi uma acção de marketing notável, das mais conseguidas de que já me dei conta.

Provam-no as fortes e prolongadas reclamações de todos quantos por ele se sentiram lesados e que foram, sobretudo, os promotores e apoiantes das manifestações do 1º de Maio e os pequenos comerciantes.
Uns não podem perdoar que o Pingo Doce lhes tenha tirado o protagonismo que, julgavam, só podia ser seu. De facto, o grande acontecimento não foi a celebração do Dia do Trabalhador mas a “promoção” daquela cadeia de supermercados. Não foi do Dia do Trabalhador que se falou, que os noticiários se ocuparam e que a maioria das pessoas quis saber, nem foram os discursos tradicionais aquilo a que a Comunicação Social prestou atenção! O que não faz grande diferença porque devem existir as cassetes que os reproduzem tal e qual.

Os pequenos comerciantes são, também, naturalmente prejudicados, sem que, contudo, me pareça que o tenham sido agora mais do ao longo de muito tempo, nesta luta desigual entre o David e o Golias. Outros tempos em que o pequeno comércio terá de arranjar outros argumentos para ser preferido.
Quem conseguiu, e muita gente foi capaz, aproveitou a oportunidade para poupar uns dinheiritos e fez umas compras por atacado que lhes vão aliviar as finanças durante um tempinho.

Dei conta do que estava a acontecer pela quantidade de carros e de gente à porta do Pingo Doce mais próximo de onde moro. Era um pandemónio, um aperto daqueles onde quem tenha calos se não mete. Já vi manifestações bem menos concorridas.
Depois destes dias já passados, ainda não se calou o falatório sobre o sucedido e na “antena aberta” que esta manhã escutei – um bocado apenas – era a ira dos sindicalistas a que mais se fazia ouvir em “discursos” que quase raiavam a idiotice, com argumentos estafados que a realidade não suporta.

Não quero tirar conclusões de qualquer natureza sobre o que sucedeu nem me interessa se houve “dumping” ou não, se o desconto praticado revela lucros normais excessivos, porque esta será a função de quem tenha de controlar estas coisas.
Quanto à afronta ao 1º de Maio, esta nada me diz porque, apesar de uma vida inteira como trabalhador por conta de outrem, nunca me sindicalizei nem nunca fiz outro contrato que não fosse “até eu ou o patrão querer”. Os meus direitos sempre foram os que o meu trabalho competente e empenhado me conferiu e fui eu quem os defendeu.

O trabalho é uma coisa demasiadamente importante e fundamental, cuja dignidade teremos de ser nós, cada um de nós a defender sem nunca entregar essa tarefa a “profissionais” a quem pagamos para, por nós, dizerem seja o que for ou para, por nós também, pugnarem por direitos que nos não esforçarmos por merecer.