ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

KEYNESIANO GRAÇAS A DEUS?



Passa o tempo, alonga-se a crise, as opiniões multiplicam-se e, nesta bagunça que vai ficando cada vez mais baralhada, cada um diz o que quer, até que se é “keynesiano, graças a Deus”, como se o keynesianismo que, desde 1936, fez escola, fosse agora solução.
Acontece que, desde então, tantas coisas se passaram, dentre as quais realço o triplicar da população mundial e o consumo excessivo dos recursos naturais que coloca alguns próximo da exaustão, que põem em causa os efeitos dos princípios keynesianos como solução da crise que acabará por atingir todo o mundo por causas que os políticos insistem em não querer entender.
As alterações climáticas fazem cada vez mais estragos, a escassez dos recursos naturais exige moderação no consumo, a capacidade de produção de alimentos causa preocupações e a alteração da estrutura demográfica põe em causa a solidariedade! Não será, por isso, solução gastar mais quando a economia desacelera para forçar a sua reaceleração.
A questão é que as leis naturais sempre prevalecerão sobre as convencionais e os ciclos naturais não se ajustarão às necessidades do crescimento de que esta economia necessita para se manter. São estes os pequenos “senão” de teorias que não levam a Natureza em conta, as suas leis, os seus ritmos e as suas singularidades.
As soluções keynesianas são, para esta crise única, como deitar gasolina no fogo!


O MILAGRE DA CARTA ABERTA!



A notícia do dia deve ser que “Uma carta aberta de 78 personalidades foi entregue hoje ao primeiro-ministro e ao Presidente da República. Entre os signatários contam-se Mário Soares, Eduardo Lourenço, Manuela Morgado, Siza Vieira, Lídia Jorge, Pires Veloso, Carvalho da Silva, Daniel Oliveira e Vitor Ramalho”.
Em primeiro lugar não sei qual é a proposta alternativa destas “personalidades” à política de austeridade que, necessariamente, se segue ao regabofe que levou o país de uma carência de cerca de 700.000 habitações a um excesso idêntico e de uns poucos quilómetros de auto-estradas a um notável 4º lugar no “ranking” dos países com melhores infra-estruturas rodoviárias!
Parece-me que esta carta teria razão de ser depois de ser demonstrado haver uma alternativa que não cause maiores danos ainda. Mas essa demonstração eu não conheço.
Sabido que é que a “construção civil” foi, ao longo destes anos de “prosperidade”, de longe o maior empregador de mão de obra do país que agora tem excesso de edifícios e de auto-estradas, o que tira razão de ser à continuação do crescimento, seria sensato continuar com uma política de estupidez que ainda mais nos enterraria? Não será preferível transferir a nossa capacidade produtiva para bens de maior valor acrescentado e susceptíveis de reduzirem os desequilíbrios que uma política de falso progresso causou? Não é inevitável, antes, equilibrar os gastos e os proveitos para, depois, se adoptar uma política de autêntico progresso?
E poderíamos falar, também, de diversas outras coisas tão pouco razoáveis como aquelas que antes mencionei, sobretudo o excessivo “nível de vida” que o país e que muitos de nós se permitiram ter, bem acima dos rendimentos seguros, como poderíamos falar da permissividade que tantos desmandos, desperdícios e actos de corrupção deixou acontecer.
Só posso desejar boa sorte aos “notáveis” que propõem uma mudança que não dizem qual será nem como será conseguida, mas ficarei á espera do milagre de que um novo governo será capaz porque, sem dúvida, me sentirei menos prejudicado nos cortes que a minha pensão tem sofrido. Poderei, quem sabe, vê-los repostos e compensados, o que me daria muito jeito.
Mas poderão estas personalidades ficar certas da responsabilidade que assumem nesta sua carta aberta que pode levar um povo em situação de pesados sacrifícios a pensar que uma outra via qualquer seria o céu em vez deste inferno em que estamos e do qual não sairemos se não pagarmos as dívidas que fizemos.
Aproveito para pedir às “personalidades” que exijam a avaliação das culpas dos que, por mal gerirem o que é de todos, nos colocaram em tamanhas dificuldades. Façam isso!

terça-feira, 27 de novembro de 2012

UMA SOLIDARIEDADE CÍNICA E DESUMANA



Quem, depois de uma vida de trabalho, do qual uma parte foi receita do Estado em contrapartida de uma prestação futura, em tempo de velhice, se sente uma “ má despesa” que a Troika quer ver cortada, não pode deixar de exigir do Governo uma declaração de repúdio por esta manifestação de crueldade da “solidariedade” externa cínica que suportamos em dura austeridade.
Não faz qualquer sentido que a quem já não tem outro modo de sobreviver senão o que os descontos que fez para a Segurança Social lhe asseguram seja tão ou mais sobrecarregado em cortes e em impostos do que outros dotados de recursos físicos que os idosos já não têm.
Se, para além disso, é considerado uma MÁ DESPESA, está desmascarada uma “solidariedade” cínica e sem coração que é esta de uma “ajuda” interesseira mas não interessada na humanidade que qualquer administração consciente não pode deixar de ter em conta.
Não têm os idosos sindicato ou lobby que defenda os seus direitos. Têm, apenas, o direito ao voto que todos têm mas que de pouco ou nada vale num país de tão maus políticos.
Não posso deixar de registar aqui a minha repulsa por mais esta manifestação de desumanidade que, se acontecer como a Troika pretende, se manifestará na redução das reformas a que, pelas suas contribuições, têm direito e nos cuidados de saúde nos quais, muito provavelmente, serão preteridos.
Que pensará a Troika de um tal “sei lá se é” acerca do direito à vida de alguém que, apesar de ser idoso, é gente que merece ser tratada com respeito pelos mais novos que trouxeram a este mundo.
Tenho sido compreensivo com as medidas a que um governo de socialismo demagógico obrigou, apesar para tal não ter contribuído com gastos que não pudesse suportar e do momento tardio da minha reforma aos 74 anos, mas não posso deixar de manifestar, por mim e pelos demais idosos, o mais profundo repúdio pela desumanidade que a posição da Troika manifesta.
Espero que o Governo o faça também!

O HOMEM DO SACO - Homenagem a Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar solo fora da Terra



(publicado no NM de Novembro)
Todos nós já algum dia olhámos para o céu tentando imaginar o que haverá para além do azul imenso que nos cerca. Para lá olharam, também, os nossos antepassados que não viam mais do que nós podemos ver hoje num simples olhar. Por isso imaginavam o que estaria para além do que a sua visão lhes revelava, até que, aos poucos, passaram a questionar coisas e fenómenos para os quais sentiam necessidade de explicações. O mistério aguçou a curiosidade que levou à procura de respostas que, aos poucos, despertaram o espírito científico que conduz ao saber.
Era doutrina oficial a de a Terra ser o centro de um conjunto limitado de astros, aqueles que conseguíamos ver e à volta dela se moviam. Seria, até, o centro de tudo o que, para além do que víssemos, pudesse existir. Era a teoria “geocentrista” que, para além de corresponder à tendência natural de fazermos de nós próprios o referencial de tudo, era o que mais facilmente se deduzia das descrições bíblicas de como Deus criou o Mundo, este planeta que habitamos e onde, para além do Homem e dos demais seres vivos que, com ele, habitam a Terra, apenas o próprio Deus, seu criador, os anjos e os arcanjos, bons ou maus, faziam parte do conjunto dos seres existentes.
De nada mais do que do Reino de seu Pai, Cristo nos falou para além da Terra. O Salvador que trocou a sua vida por uma eternidade feliz para todos nós, não nos falou de outras “Terras” onde, porventura, se passasse algo parecido com o que nesta acontece.
Vão longe os tempos em que, de modo não pacífico, Copérnico e Galileu transferiram da Terra para o Sol o centro do Universo, o que, apesar de tudo, não alterou o modo de dizer que o Sol se põe e volta a nascer, se esconde e reaparece a cada volta em torno do nosso planeta.
Mas, até esta teoria simplesmente heliocentrista já pertence ao passado, agora que equipamentos potentes nos deixam ver mais longe e nos conseguem levar para fora da Terra, ao mesmo tempo que a Física nos permite interpretar os efeitos de um “Big-Bang” que, é convicção científica actual, foi a origem de tudo o que vemos e nos rodeia, porque transformou em matéria o que, até então, era apenas energia.
Situam-se já a muitos milhões de anos-luz, distâncias difíceis de imaginar, os corpos celestes e os fenómenos mais longínquos que vamos descobrindo e conhecendo melhor. Hoje sabemos que este Sol, para nós um gigante que já pensámos ser o centro do Universo e, até, um deus, não passa de uma estrela em torno da qual nos movemos, uma entre os milhões de milhões que existem na galáxia a que pertence, para lá da qual milhões de milhões de outras galáxias, cuja existência se desconhecia ainda pouco antes de eu nascer, se distribuem por esse espaço infinito e, como no efeito de uma explosão, por ele se vão espalhando. Ainda me falaram de nebulosas que fariam parte da nossa galáxia, para além da qual nada existiria, mas que eram, afinal, outras galáxias que hoje podemos observar melhor.
Hoje já dilatámos os limites deste Universo que até ao início do Seculo XIX julgávamos não ir além do nosso sistema solar. O Homem já foi à Lua, já enviou sondas que, para além de muitas coisas, fotografaram até os misteriosos e deslumbrantes anéis de Saturno, colocou em Marte um robot explorador que nos vai dar informações pormenorizadas deste planeta que pode já ter tido as condições da habitabilidade que a Terra agora tem. Mas tudo isto é muito pouco de tudo quanto exista!
Há muito que perscrutamos o Espaço procurando sons vindos de um qualquer lugar e que possam conter indícios ou mensagens de alguma “civilização” que lá se tenha desenvolvido.
Mas não conseguimos ver, em tempo real, senão o que esteja mais próximo à nossa volta. Para além disso, apenas conseguimos ver o que aconteceu há já muito, muito tempo, apesar da enorme velocidade com que a luz viaja desde os confins do Espaço. Quem sabe se aquela estrela longínqua que um casal de namorados escolheu para ser a “sua” ainda existe?
O conhecimento que já possuímos sobre a imensidão do Universo e a quantidade quase infinita de planetas que nele existem, tornam plausível a hipótese de não ser a Terra o único planeta habitado por seres inteligentes, ainda que com estádios de civilização mais ou menos avançados do que o nosso, o que, contudo, se não pode ter por garantido. Mas se tal se verificar, mesmo apenas num caso que seja, quantas questões pode agitar, quantas dúvidas pode levantar e quantas “verdades” pode destruir!
A descoberta do “bosão de Higgs”, responsável pela transformação de energia em matéria, foi um passo enorme da Ciência na procura das nossas origens. Mas não resolveu tudo. Longe disso. Outros desafios já se colocam na identificação de outras partículas e na explicação de outros “mistérios” que poderão levar a Física para outra dimensão, num salto porventura ainda maior do que os que já deu da Fisica Clássica para a Relativista e para a Quântica, já que toda a matéria da qual nos apercebemos não passará de cerca de 5% da matéria total do Universo! É imenso o que, apesar dos meios de que dispomos, não conseguimos ver mas temos a percepção de existir, como é o caso dos neutrinos estéreis que se crê constituírem a parte da matéria que não vemos.
Seja o que for que venhamos a descobrir entre os infinitos mistérios deste Universo a que pertencemos, não nos trará grande informação sobre a nossa razão de ser enquanto não formos capazes de responder à pergunta: afinal, porque e para que aconteceu o Big Bang?
Há uma profunda diferença entre as atitudes dos nossos antepassados que davam por certo o que imaginavam porque o não podiam questionar e as dúvidas dos cientistas actuais porque, cada vez mais, se dão conta da transitoriedade das “verdades” que vão descobrindo. A cada descoberta outras se seguem que a põem em causa, a modificam ou a transcendem e quando cremos ter fechado um ciclo logo outro tem início, dando a sensação de um distanciamento cada vez maior da verdade que desejamos conhecer.
Não pode ser uma simples obra do acaso o que, seja o que tenha sido, originou tudo isto que sentimos existir e que procuramos entender, por mais reputado que seja o saber de quem o afirme, porque o infinito, do Tempo ou do Espaço, não pode começar ali porque não tem início.
Mas uma conclusão é já possível retirar sem qualquer receio de nos enganarmos: o Homem, na sua dimensão humana, não passa de um “infinitamente pequeno” participante neste drama da existência que ainda não decifrámos o bastante para podermos ter certezas sobre a sua razão de ser que apenas o desígnio de uma Vontade Superior pode justificar. Apenas em outra dimensão poderemos encontrar a resposta que procuramos.
Em contraste com tudo isto, não posso deixar de recordar o deslumbramento ingénuo com que escutei a minha avó Graça naquela noite de lua cheia já distante de muitas dezenas de anos. Dizia-me ela que aquela mancha que víamos naquele astro brilhante não era mais do que um homem que, pelo muito mal que fez, para ali foi exilado e condenado a caminhar eternamente. E com um saco às costas! Era uma certeza porque já a sua avó lho contara.
Rui de Carvalho
3 Setembro 2012

domingo, 25 de novembro de 2012

OS NOSSOS "ALIADOS" DO LESTE DA PENÍNSULA



Quando um dia aconteceu passar uma férias em Tossa de Mar, na Catalunha, tive a noção de muitas diferenças entre esta Região e o resto de Espanha que eu já conhecia e alguns incidentes engraçados comprovaram-no. Visitei, também, uma boa parte do país onde se encontra a região mais rica de Espanha.
Fiquei num hotel à beira mar, muito agradável, onde, chegada a hora, fomos para a sala de jantar e ocupámos os nossos lugares. Alguém do hotel olhou para nós e colocou uma bandeira britânica na mesa! Recusei apenas por gestos. O homem olhou para mim, franziu o sobrolho e decidiu trocar por uma francesa que, logicamente, também recusei. Seguiu-se uma italiana, uma alemã que, recusadas também, deram lugar a um inevitável: então? Foi quando disse sermos portugueses. O homem abriu-se num sorriso que logo empalideceu. Que pena, aqui nunca vêm portugueses, por isso não temos bandeiras portuguesas para colocar nas mesas. Mas amanhã teremos porque queremos agradar aos nossos queridos aliados.
E o homem fartou-se de contar histórias em que a Catalunha “folgava” quando os portugueses combatiam Castela! Mas foi numa altura em que os catalães guerreavam Castela que Portugal se viu livre dos “Filipes” durante cujo reinado quase todo o Império se perdeu, cobiçado pelos piratas holandeses. Foi em 1640.
Também, numa visita à cidade pude ver onde nasceu a Rainha Santa Isabel que a  guia turística fez questão de sublinhar ser mais um elo na grande amizade entre Portugal e a Catalunha…
Também conheci, a par de tantos catalães que não ocultavam uma nítida demarcação de Espanha, alguns outros que detestavam o Barcelona e eram adeptos do Espanyol…
Apenas numa coisa não consegui corresponder à simpatia daquela gente que me dizia que, por certo e como português, entenderia melhor o catalão do que o castelhano. Mas não era verdade. A influência do francês é bem marcada e torna o catalão difícil de entender em muitas palavras de mistura. Outras são iguais, mas…
Hoje, os nossos “aliados” do leste da Península, vão às urnas, numas eleições que podem dar aso a um processo independentista que resulta de um sentimento de nacionalidade que, conforme mo disseram, nunca perderam!