Não pude deixar de
recordar os meus tempos de estudante ao ver uma manifestação de estudantes
contra a suspensão do “passe escolar”.
Toda a gente reclama neste
tempo de austeridade porque ela não permite as “mordomias” que uma falsa
riqueza antes proporcionava. Mas a realidade é dura e não há como fugir a um
regresso a procedimentos mais exigentes de esforço.
Entendo a indignação de
quem, estando habituado a andar de rabo tremido, tenha agora de andar a pé ou
puxar dos cordões à bolsa.
Pois bem, depois de uma
"instrução primária" (agora ensino básico) em que não tinha direito nem a um ligeiro aquecimento mesmo
quando a temperatura era tão baixa, até negativa, que causava enorme sofrimento e
deixava as mãos sem condições para escrever, também nunca tive um passe que me pagasse
os transportes de casa para a escola e vice-versa.
Em Lisboa tinha de
percorrer vários quilómetros por dia quer quando a minha escola era o Liceu Camões
quer quando fazia o meu curso no Instituto Superior Técnico. Fazia os percursos
caminhando porque o dinheiro não dava para autocarros e tinha horários duplos
diários, o que me obrigava a fazer o percurso quatro vezes por dia!
Nada disto me impediu de
ter tido o sucesso escolar que tive e de ter sido quem fui ao longo da minha
vida profissional.
Admito que, depois de
tantos anos, as coisas tivessem de melhorar bastante. Obviamente! Mas que às
condições de climatização nulas em clima onde os Invernos são duros tenham
sucedido ambientes climatizados mesmo em climas temperados e que para percorrer
alguns quilómetros até tenham de ter, necessariamente, um passe, acho ser um
excesso que as nossas possibilidades, como se vê, não suportam.
Por que não poderá a
juventude de hoje calcorrear os seis quilómetros que cheguei a percorrer por dia
para ir às aulas?
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