ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A UNIVERSIDADE SEM PROFESSORES E SEM EXAMES?



É natural que, ao longo do tempo e por força do que vemos e vamos vivendo, tenhamos de ajustar os modos que usamos, seja para o que for, às novas realidades que vão surgindo. E o modo de aquisição de conhecimentos está, por certo, entre os que mais necessidade têm de evoluir com a realidade.
Uma notícia que fala do sucesso Xavier Niel, homem de negócios francês na área das tecnologias de telecomunicações, diz que, aos 16 anos, ele recebeu de seu pai um Sinclair ZX81 com o qual, em vez de se divertir com jogos gravados em cassetes, treinou e desenvolveu linguagem de programação que já dominava completamente três anos depois, o que lhe trouxe muito sucesso e dinheiro.
A notícia compara-o, mesmo a Mark Zukerberg e Steve Jobs que, sem passados académicos notáveis se tornaram mestres muito bem sucedidos nos seus empreendimentos em novas tecnologias.
A notícia continua dizendo que “assim, em 2013, depois de afirmar que o sistema educativo de França não funcionava, começou a pensar em como melhorá-lo. A resposta foi a École 42 em Paris, uma experiência pedagógica para formar programadores em que não há professores, exames, horários ou graus académicos, é gratuita para os estudantes e é totalmente financiada por Xavier Niel”.
Deu-me que pensar esta notícia, sobretudo pela afirmação de não funcionar o sistema educativo em França, bem como a resposta que deu com a sua École 42 e o modo como funciona.
É, com certeza, um projecto magnífico este que parece funcionar bem para quem deseja especializar-se em “ciências tecnológicas”, sem preocupação por outros conhecimentos.
Esta escola acaba por selecionar 1000 entre os 80000 que se inscrevem, dos quais cada um alcançará o nível de que for capaz no domínio exclusivo do saber que escolheu.
É aqui que entra o meu total e frontal desacordo com este modo de aprender que faz do conhecimento alcançado o ponto de partida para ser milionário mas, ao mesmo tempo, o torna refém de um conhecimento específico fora do qual pouco mais será do que ignorante.
É a especialização levada ao extremo que faz, de quem a adquire, um robô que executa com mestria as suas funções, mas desconhece a importância social, o sentido e a razão de ser do que faz.
O mundo não pode reduzir-se a esta tecnologia que cria um ambiente virtual que pouco ou nada tem a ver com a realidade. Daí o desconhecimento, cada vez mais generalizado, das grandes questões da vida, dos problemas que o nosso próprio modo de viver nos cria e da inaptidão para os reconhecer e dar-lhes solução.
O face book, o tweeter, enfim, o telemóvel ou o ipad não devem absorver todo o tempo para além das obrigações sociais que tivermos, porque, no aproveitamento dos tempos livres, a convivência directa e os momentos de reflexão são indispensáveis ao equilíbrio social que a virtualidade tecnológica vai destruindo.
Pelo contrário, a vida exige mais do que a simples auto-aprendisagem e, muito mais ainda, do que a especialização precoce em pequenos nichos de saber que nos afasta do seu verdadeiro e global conhecimento.
A indisponibilidade de tempo a que esta vida atribulada que levamos nos conduz, exige, sem dúvida novos modos de transmitir conhecimentos que cada vez menos passa pela pouco mais do que inutilidade de decorar a matéria mas sim por compreendê-la, por saber raciocinar a partir de conhecimentos mais básicos, para o que não conheço livro ou manual que ensine a fazer. Daí a indispensabilidade do professor que, de facto, o seja.


terça-feira, 28 de novembro de 2017

APESAR DE DOIS, HAVERÁ TRÊS OU QUATRO?



Percorro o que se vai dizendo e não encontro um só texto que realce os feitos nem, sequer, augure um futuro fácil ao governo que quis fazer esquecer os seus mais recentes fracassos com uma cena patética de auto-elogio preparada pela Universidade de Aveiro.
A menos o Presidente da República que quer que a legislatura vá até ao fim e sem crises, todos me parecem unânimes em reconhecer que, depois de uma primeira fase em que Costa pareceu cumprir a promessa de fazer Portugal regressar à “abastança” do passado descuidado que tivera, acaba por evidenciar as suas carências de ideias e a pobreza inevitável de meios de um país não totalmente recuperado do estado de bancarrota em que outro governo socialista o deixou, o que, até há bem pouco tempo, disfarçou o melhor de que foi capaz.
E com isso convenceu muita gente de que, afinal, até um pobre pode viver como um lorde se não tiver os problemas que a austeridade lhe coloca.
Não posso esquecer o que, no momento do sucesso não eleitoral de Costa, alguém me disse da felicidade que lhe consentia a perspectiva de uma vida bem melhor, sem os “roubos” que outros lhe faziam!
Não creio que essa perspectiva ainda exista nem que haja ainda alguém que se não tenha dado conta dos malabarismos que fazem parecer que sem ovos também se fazem omoletas!
Por isso o descontentamento que tantos manifestam por não se acharem menos merecedores dos benefícios que outros já tiveram.
Curiosos foram os discursos dos “aliados” na caranguejola, nos quais se ouviram as críticas mais duras de quantas foram proferidas no Hemiciclo de S Bento, porém não bastantes para não apoiar o OE que, mesmo tão mau como dizem ser, será o que teremos.
O BE, pela voz de Mariana Mortágua, afirmou que, apesar da deslealdade do governo, mantém o seu apoio porque antes o havia prometido.
Quanto ao PCP, parece tudo ficar dito nesta frase esclarecedora do líder da sua bancada parlamentar: “não é um Orçamento do PCP, é um Orçamento do Estado do Governo PS". Acrescentando que “as partes positivas do Orçamento têm dedo do PCP, e as negativas devem-se aos espartilhos que a União Europeia impõe e que o PS se auto-impõe”. Isto para além do reconhecimento do que a todos já se tornou evidente, que o governo não toma as acções de fundo de que carece “para libertar o país daquilo que o amarra”.
Tornou-se, pois, evidente o que mantém unida a “caranguejola”.
Restam ao governo os elogios da Europa a quem nada mais interessa para além de certos números que considera indicadores fiáveis de uma governação bem sucedida, mas nada dizem de como se vive realmente neste país de opereta, nem do futuro que virá a ter.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

DOIS ANOS DEPOIS. E AGORA?



A menos os privilegiados para quem a recuperação financeira de um Portugal falido não foi dura nem difícil de suportar e, porventura, até dela se aproveitaram para ficarem mais rícos ainda, todos desejávamos ver passada a austeridade que, de tão dura, nos parecia exagerada e sem sentido porque nos sentíamos com direito a muito mais do que o que ela nos podia dar.
Pelos muitos excessos que tivemos e até por outras razões que a Justiça se esforça por apurar, talvez não tivéssemos os direitos de que nos arrogávamos, mas essa é questão que, de momento, não vem ao caso. Quem sabe se de uma outra vez.
Após as eleições que o PS não ganhou, fiquei, decerto como a maioria de todos nós, surpreendido com a solução de governo que acabou por prevalecer, liderada por um PS vencido e a quem, com grande sentido de humor, alguém chamou “caranguejola”, um artefacto carente de solidez que o tempo facilmente deitaria abaixo.
O certo é que, passados dois anos a caranguejola continua a existir, ainda que com dificuldades de funcionamento que o último meio ano tornou mais evidentes.
É difícil compreender certas atitudes e decisões que ao arrepio da mais elementar lógica, o governo vai tomando, bem como de outras que não perecem ser mais do que nada em termos de eficácia, pois não se conhece o plano global em que se integram, como se não sabe bem em que se traduzirá a “intenção” de descentralização na qual dizem caber.
Bem vistas as coisas, estes dois primeiros anos não passaram de um engodo que permitiria ao PS criar condições para poder alcançar uma maioria que eleições antecipadas confirmariam.
Acontece que as circunstâncias mudaram e não parece ser por esta via que os desígnios de uma maioria serão alcançados, pois todos começamos a sentir os efeitos dos malabarismos que fazem parecer a “multiplicação dos pães”, mas não passam de um equilíbrio instável ao longo do fio da navalha pelo qual caminhamos e não será capaz de resistir à mais pequena borrasca que se levante.
O que o PS desejava da “caranguejola” foi conseguido, mas esvaziou a “cartola” onde já não há mais coelhos para tirar.
Então que sentido fará agora aquela maquineta desafinada onde os desencontros são cada vez maiores?
Depois da euforia dos salários que à função pública foram repostos e das promessas de abaixamentos prometidos, começamos a notar o muito que ficou para trás ou, talvez melhor dizendo, deixou de ser feito nos cuidados de segurança, de saúde, de infraestruturas e de educação onde as enormes carências de meios se revelam como a cada dia maiores.
Até ao ponto em que o “balde de água fria” fez acordar os distraídos porque ficou clara a evidência de que “não há dinheiro para tudo”, como nunca houve, afinal, nem jamais haverá.
Por isso é que a “gestão” é necessária, não fazendo qualquer falta quando se pode esbanjar.
Não pretendo criticar o governo cujo sucesso seria o meu próprio no mais que poderia dar-me, mas apenas e uma vez mais, posso reconhecer o que sempre vi na minha já longa vida: quando cobertor é curto, os pés ou os ombros terão de ficar de fora, a menos que nos encolhamos, uma decisão que fica mais premente de tomar quando o frio aperta.
Então, preparamo-nos para fazer como?
Teremos de tomar uma decisão que não será, jamais, a do auto-elogio encomendado…