ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sábado, 31 de maio de 2014

QUAL MUDANÇA?

Será mudança o poder andar de mão em mão sem poisar tempo bastante para se poder afirmar nos seus propósitos, reflectir sobre os seus caminhos e consolidar os resultados que alcançar?
Será mudança fazer promessas de melhores dias, baseado em suposições que não domina e que, depois, se não conseguem realizar?
Será mudança seguir outro rumo qualquer apenas porque parece diferente?
Ou será mudança o propósito de voltar aos erros do passado?
Afinal, onde é que este ou outro caminho nos conduzirá, se traçado por políticos que não entendem o mundo em que vivem porque não é regido pelas regras de qualquer regime político que tenham adoptado nem governado pelos preceitos de qualquer “constituição” que regule o mundo virtual que tenham idealizado?
Pensam deter um poder que não têm porque nada pode contra uma realidade enorme que a sua miopia lhes não permite enxergar e não são capazes de contrariar as “máfias” económicas que lhes impõem as regras que, de facto, constituem o poder efémero que a realidade já começou a fazer declinar.
Quando pensarão os políticos ser a hora de fazer o balanço do passado e planear o futuro com os ensinamentos que, de tal, balanço resultarem?
Não me parece que alguma vez façam de livre vontade e em consciência um plano que envolve muito mais do que o seu curto entendimento consegue abranger e ultrapassa, em muito, o tempo que às suas efémeras ambições corresponde.
Não é este jogo de cadeiras que se joga cá por casa que me preocupa, pois não são Passos, Seguro, Costa ou Cavaco quem determina o rumo das coisas no mundo, nem o Tribunal Constitucional ou a Troika quem, na verdade, dá o aval ao que se possa ou não fazer.
O futuro será o grande mestre que nos mostrará o caminho que, sejam as contestações quais forem, teremos de seguir.
Os sinais são muitos, cada vez mais claros, mas, como diz o povo, o maior cego é o que não quer ver!
O Povo diz mas, ao modo de S Tomás... 


sexta-feira, 30 de maio de 2014

PELA BOCA MORRE O PEIXE!

Não pode deixar de causar espanto a atitude de António José Seguro quando confrontado com a “revolta interna” que os recentes resultados eleitorais geraram e pelos quais lhe é pedida a marcação de um Congresso extraordinário para eleição de um possível novo Secretário Geral, cargo para o qual António Costa prontamente se disponibilizou.
Considerada notável por uns mas “de Pirro” por outros, a vitória socialista ficou muito distante do castigo que o PS pediu aos eleitores para a “maioria parlamentar” que, contestada por manifestações de desagrado do povo já cansado de austeridade, não teria já a legitimidade democrática de que o governo por ela apoiado necessitaria para se manter.
De algum modo, o que sucedeu nas eleições europeias que o PS pretendeu fossem um teste de legitimidade do Governo, é uma derrota do líder que não conseguiu alcançar um objectivo por si definido como fundamental para a recuperação do país, pelo que teve de conter-se no pedido de eleições legislativas antecipadas que uma esmagadora vitória lhe permitiria reclamar.
É, por isso, estranho que Seguro afirme ser "uma situação única no PS e na democracia portuguesa a contestação a um líder que (….) está legitimado democraticamente" quando alguém entende ser o fracasso sofrido motivo bastante para o seu afastamento.



UMA MOÇÃO DE CENSURA OU UM TOQUE A FINADOS?

Os significativos pouco mais de 4% dos votos que os eleitores portugueses lhe concederam, o que corresponde aos 12% que recebeu dos 34% que votaram, fez o PC embandeirar em arco e apresentar uma moção de censura ao Governo na qual, sem qualquer novidade, vociferou as acusações da ordem e gritou os chavões do costume, como é próprio de um partido anquilosado que procura refúgio nos procedimentos próprios de uma ideologia que a História há muito desmistificou.
Não seria a moção de censura digna de qualquer reparo se não fosse o incompreensível apoio que o Partido Socialista lhe dispensou, votando-a favoravelmente, apesar dos ataques que, dela vindos, teve de suportar.  
Uma contradição sem sentido tanto pelas razões da própria moção como pela renúncia a princípios antes definidos pelos socialistas e pelos quais a moção seria um frete ao Governo que, apoiado na sua maioria, facilmente impediria o seu sucesso.
E que conclusões tirar do facto de até o cabeça de lista socialista nas eleições europeias recusar o voto favorável que o PS, apesar de tudo, decidiu dar à moção comunista, quebrando a disciplina de voto que lhe era imposta?
É assim, feita de desencantos e de equívocos, a balbúrdia instalada no PS onde se cantou a grande vitória que não passou do apoio de apenas 10% dos portugueses com direito a voto!
Mas não menos preocupados deverão estar os que apoiam o Governo porque não conseguiram mais do que 9% dos que ainda se decidiram a dar mais uma oportunidade a uma democracia estagnada em conceitos caducos e à qual falta o entendimento das grandes questões de um presente que se não compadece com as fantasias que as suas regras consentem.
Foi da maior gravidade o que aconteceu. Uma clara chamada de atenção aos políticos incapazes de proteger os cidadãos dos interesses perversos que, cada vez mais, os sufocam e sugam o suor do seu esforço como os vampiros sugam o sangue às suas vítimas.
Apesar do claríssimo reparo feito pelos cidadãos eleitores, não acredito que, tanto em Portugal como na Europa, os poderes instalados façam muito mais do que os habituais truques de magia com que ainda iludem os cada vez menos tolos que, com eles, se deslumbram.

  

quarta-feira, 28 de maio de 2014

FALAMOS DENTRO DE DIAS…

Numa das múltiplas crónicas que li a propósito dos resultados eleitorais, chamou particularmente a minha atenção uma a que o autor deu o título “a direita já não sabe de que terra é”, na qual afirma: “PSD e CDS estão a fumar charuto num spa desde domingo. Mas Passos, se soubesse, teria votado em Seguro. Para que o PS, ganhando por um pouco mais, ficasse quedo. A luta socialista é um sismo na esquerda que terá réplicas na direita. E o alívio durará pouco. Falamos daqui a dias, quando o Tribunal Constitucional voltar aos salários e às pensões”.
Realço em especial a última frase que, por associação de ideias, me faz lembrar a troika! De facto, Tribunal Constitucional e troika são os verdadeiros governantes de um país levado ao descalabro financeiro por gestões incompetentes e condicionado por uma Constituição escrita em circunstâncias de euforia populista bem distintas das que resultam das preocupações que a perspectiva de bancarrota iminente provoca.
Sempre me pareceu inevitável a austeridade que resultou das leviandades de um governo que, em desespero de causa pela continuidade do poder, fez uma mais do que arriscada fuga para a frente em disparatadas decisões sucessivas que faziam acreditar numa suposta riqueza que, de facto, não existia. Como também me pareceu que deveriam ser decisões de justiça social as que deveriam ser tomadas nos cortes que as circunstâncias tornaram inevitáveis, em vez de discutíveis conquistas revolucionárias que seja o que for consagre.
Foi para isso que aquela frase “Falamos daqui a dias, quando o Tribunal Constitucional voltar aos salários e às pensões” chamou a minha atenção. Mas onde pensará o jovem cronista que o governo vai buscar o dinheiro que uma decisão do Tribunal Constitucional torne necessário? Aos impostos com certeza!
É por isso que lhe digo que falamos dentro de dias, conforme o que o Tribunal Constitucional decidir quanto aos salários e às pensões…


LIMITAR A IDADE DE PERMISSÃO PARA CONDUZIR?

Ouvi falar numa sinistra ideia de limitar a idade de permissão para conduzir viaturas, apontando como razão de ser de tal proposta o aumento dos acidentes com idosos!
Não imagino qual cabecinha tonta, porventura esperançada em jamais envelhecer, terá feito tal exercício de reflexão que, por certo, a deixou exausta. Mas não me surpreendo, infelizmente, com estas tiradas de génio próprias de imaturos que nem imaginam o que seja a realidade em que vivem e, por isso, não possuem a competência que se exige a quem exerce ou se propõe exercer funções com capacidade de decisão em questões sociais, seja a qual nível for.
Num país onde os idosos são uma parte cada vez maior da população total, numa percentagem que tende a crescer enquanto se reduz em outras faixas etárias, anormal seria que os acidentes rodoviários provocados por idosos não aumentassem, sem que tal tenha de ser o resultado de uma incapacidade própria da idade.
Além disso, qualquer análise para suportar uma tal decisão deveria abranger diversos intervalos etários e demonstrar corresponderem os acidentes provocados por idosos a um “índice de sinistralidade” excessivamente desviado da média, o que, estou convencido, não acontece. Pelo contrário, penso serem outras razões, que não a idade avançada, as da elevada sinistralidade em Portugal.
A capacidade para conduzir deverá continuar a ser avaliada nos testes para revalidação da carta tal como a lei exige, nos quais devem ser tidos os maiores cuidados para não permitir a condução a quem não possua as necessárias condições físicas e mentais. O reforço destes cuidados será benéfico para todos, para o próprio e para os demais, enquanto qualquer limite ditado pela idade não passaria de uma inadmissível agressão aos direitos de cada um.
Mas para que, mesmo assim, seja uma atitude socialmente justa, deverão outras situações merecer idêntica atenção da lei quando se trate de circunstâncias potencialmente incapacitantes seja qual for a idade e, por isso, muito perigosas.
A ideia deve ser o resultado do modo como as notícias de acidentes são divulgadas, nas quais, sempre que se trate de um idoso, tal facto é realçado, decerto por jornalistas jovens que se esquecem de que, com sorte, também serão idosos um dia.

REABRIR COM NOVA GERÊNCIA…

Achei curiosa a afirmação de Sérgio Sousa Pinto que, a propósito da reclamada deposição de Seguro do cargo de Secretário Geral do PS, afirmou que “António Costa pode estar em melhores condições para o que o país espera”, acrescentando que o partido precisa de ser reorganizar internamente para “travar a política de direita que tem dividido o país”.
A curiosidade começa na “punição” que o PS quer impor a Seguro por não ter sido capaz de fazer com que o país, como insistentemente lhe pediu, a impusesse ao Governo.
Depois, a divisão que atribui à “direita” e não à incapacidade do PS para, às suas promessas de regresso aos tempos de abastança, fazer corresponder programas de acção adequados às capacidades do país e às circunstâncias que as condicionem.
E vêm-me à ideia aquelas manobras com que se procura reanimar um negócio falido colocando à porta, de modo a que todos bem o vejam, um letreiro que informa “reabre com nova gerência”!

Bem gostaria que Portugal tivesse o Governo que nos desse a segurança que as circunstâncias actuais não consentem. Mas não creio que seja com Costa que tal acontecerá, pois não vejo como, sem mudar o modo de ver as coisas, se pode governar com sucesso.
Para além disso e tal como antes escrevi, este golpe palaciano no PS, não passa de uma manobra de diversão para mascarar a falência das políticas que defende.


terça-feira, 27 de maio de 2014

“POR QUEM OS SINOS DOBRAM”?

Em consequência dos comentários a que os resultados eleitorais dão lugar, Miguel Sousa Tavares afirmou, na sua habitual intervenção televisiva, que “é uma desonestidade dizer que Partido Socialista tinha sido um dos derrotados da noite, porque um dos derrotados foi António José Seguro”. Ao contrário, eu diria que é uma desonestidade transferir para Seguro a responsabilidade que cabe a todo um partido que, cinicamente, dela deseja descartar-se na hora do ajuste de contas com o eleitorado que não correspondeu à solicitação de uma punição severa do Governo em troca das promessas que, em nome do Partido Socialista e por todo o partido apoiadas, Seguro lhe fez.
Ao longo de três anos, Seguro foi o líder que, por significativa maioria, o PS escolheu, foi a voz que todo o PS apoiou, marcou o rumo que, sem contestação, todo o PS seguiu, foi o pregoeiro da negação de todo o partido em participar na procura de soluções consensuais para a solução dos problemas do país!
Às bem sucedidas eleições autárquicas em cujos resultados todos os socialistas se reviram, seguiu-se, desta vez, o insucesso que travou a euforia no que todos julgavam ser o caminho triunfal para o poder sem o qual o PS tem dificuldade em sobreviver. Por isso, tal como acontece com os “amigos” que, nas más horas voltam as costas, também agora se multiplicam as vozes dos que puxam o tapete a Seguro, o líder em quem, ao longo de três anos, todo o PS se reviu, combateu o Governo com a demagogia que todo o PS apoiou e arriscou a sua carreira pessoal no tudo ou nada que jogou porque o PS lho exigiu.
Para Mário Soares o resultado do PS nas eleições europeias foi "uma vitória de Pirro", que "não deveria ter sido aclamada com o entusiasmo com que o seu líder o fez". Esqueceu o ex-presidente outros que, antes de Seguro, entusiasticamente a aclamaram, sobretudo Assis, o cabeça de lista, que afirmou que o futuro seria o PS e que quem quisesse nele participar seria ao lado do PS que teria de faze-lo!
Manuel Alegre também a cantou da forma épica tão própria da sua natureza.
António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, decide, finalmente, tomar a atitude que todos já sabiam ele desejar tomar há muito tempo, dizendo “sinto que é meu dever corresponder a um anseio da maioria dos socialistas e dos cidadãos”!
Mais uma vez um socialista tem o condão de sondar a mente do povo e considerar-se o salvador de um país que, em vez dele, precisa de muito mais do que do voluntarismo socialista para garantir o seu futuro.
Enfim, como é costume em casos tais, quebrou-se o verniz da unidade, caíram as máscaras da solidariedade, derrubaram-se as barreiras da vergonha e o PS entrou na convulsão inevitável de uma ideologia voluntarista que não pode ter futuro num mundo esgotado que exige cuidada contenção.


A LIGA DOS CAMPEÕES E A GREENPEACE

Sensibilizou-me a acção da Greenpeace que a polícia portuguesa fez abortar e se destinava a uma manifestação pacífica contra a poluição excessiva do Ártico pela empresa russa Gazprom.
Escondidos já há vários dias dentro do próprio Estádio da Luz onde iria decorrer a final da Liga dos Campeões Europeus, certamente em condições de grande sacrifício, um grupo de dez indivíduos de diversas nacionalidades, pretendia desfraldar uma faixa na qual pedia para que fossem paradas as agressões que aquela empresa faz ao ambiente da Terra cada vez mais degradado pelas consequências da exploração excessiva de recursos.
Foi pena que a acção tenha sido abortada, porque seria uma excelente oportunidade para denunciar, perante o mundo, as agressões que, por todo o lado, se fazem à Natureza, seja no Ártico, na Amazónia, em qualquer floresta tropical, nos oceanos e um pouco por toda a parte com particular incidência no meio hídrico.
São cada vez mais incisivos os alertas da comunidade científica a propósito da situação extrema em que a actividade económica vai deixando o ambiente, com consequências já irreversíveis e que mais se ampliarão se não forem tomadas atitudes de contenção imediatas que possam minorar os efeitos que vão tornando o mundo que legaremos aos nossos filhos quase inabitável.
É uma organização mal conhecida a Greenpeace e, muitas vezes, até incompreendida. Mas merece a nossa admiração e o nosso agradecimento pela sua acção contestatária e pedagógica em defesa do Meio Ambiente indispensável à vida.
A Greenpeace existe desde o início da década de 70 do século XX, fundada por imigrantes americanos no Canadá.
Actualmente, a sua sede está em Amsterdão, tendo delegações em quarenta países, contando já com alguns milhões de activistas dedicados.


segunda-feira, 26 de maio de 2014

AFINAL, QUEM MAIS PERDEU NAS ELEIÇÕES?

Um Primeiro-Ministro sem um discurso convincente, um líder da Oposição palavroso e excessivamente focado na conquista do poder e uma vivência democrática oportunista são os grandes protagonistas numas eleições cujos resultados podem significar mais do que uma visão rápida revela.
Como seria inevitável, o governo a quem coube a tarefa de tomar as medidas de austeridade inevitáveis numa situação de ruptura financeira como a que herdou, não teve a maioria dos votos expressos. Nada que não fosse de esperar porque não foge à regra própria da alternância democrática mais regida pelo imediatismo dos resultados aparentes do que pela consistência e oportunidade das medidas de mais longo prazo das quais uma situação como a de Portugal tem absoluta necessidade para que se torne equilibrada de modo eficaz e duradouro.
Por outro lado, um líder da Oposição ávido de poder pessoal e, ao mesmo tempo, Secretário-Geral de um Partido que não sobrevive muito tempo sem distribuir as benesses que os seus apoiantes esperam e apenas o poder consente, preferiu o confronto permanente a uma postura de Estado que, a todos nós, tornasse a recuperação menos austera.
Seguro tentou desse modo, em proveito próprio e do seu partido, capitalizar o desgaste inevitável de um Governo obrigado a decidir medidas austeras para, com isso, apressar a mudança que recolocaria o PS na governação, fazendo do resultado das eleições europeias a razão de ser da exigência de eleições antecipadas que toda a oposição ao governo naturalmente apoiaria.
Porém, confrontada a dimensão da “derrota governamental” com a da que seria a “punição exemplar” que o PS reclamava, notaremos uma diferença enorme que nos leva a concluir ser a derrota óbvia do Governo bem menos significativa do que o falhanço do projecto socialista para forçar as tão almejadas eleições legislativas antecipadas.
Ao que seria a oportunidade de uma mudança pela qual o Partido Socialista prometia o que, era a cada dia mais evidente, jamais poderia proporcionar, responderam os eleitores com indiferença ou, quem sabe, com o bom senso que um povo deve ter quando se trata da sua sobrevivência.
Não será fácil ao Partido Socialista superar, em tempo útil, o falhanço de objectivos que os resultados das eleições traduzem, os quais significam o descrédito da política de desgaste, do Governo e do país, pela qual enveredou em vez da política de salvação nacional que aos portugueses teria sido mais útil.
Enquanto ao PS apenas uma mudança radical de estratégia e de política poderá granjear mais apoio, o que, todavia, significa o reconhecimento dos profundos erros cometidos, ao Governo bastará ir transformando os resultados da estabilidade financeira alcançada em alívio progressivo da austeridade, em consonância com um discurso mais determinado e mais objectivo.
É caso para perguntar: afinal, quem mais perdeu nas eleições?


domingo, 25 de maio de 2014

E A MONTANHA PARIU O RATO

Quando, nas previsões, a abstenção ultrapassa 65%, parecem-me ridiculamente despropositadas as declarações de Assis porque a “grande e inequívoca votação dos portugueses no Partido Socialista”, a qual diz ser o “início de uma mudança” que o seu partido irá liderar, não passa, afinal, de pouco mais de 12% dos potenciais eleitores portugueses! Além disto, quando comparada com outras vitórias que, em circunstâncias idênticas, alcançou, é uma evidente derrota, do que os partidos da Aliança Portugal se não livraram, também.  
Os magros resultados alcançados pelos partidos do chamado “arco da governação” são, sem a menor dúvida, a verdadeira hecatombe, o “terramoto político” que aconteceu, enquanto a “vitória” que faz o PS considerar-se vencedor e ter o apoio da maioria dos portugueses não passa de um fracasso evidente de quem pediu uma punição exemplar para o Governo que considera responsável por todos os males que sofremos.
Se aconteceu a derrota esperada dos apoiantes de um Governo obrigado a uma inevitável política de austeridade que lhe não poderia granjear simpatia e, por longos períodos, não soube conduzir da melhor forma, também não aconteceu, de todo, o voto de confiança que faça de qualquer outro o partido obviamente preferido dos portugueses.
Foram poucos, muito poucos os portugueses que se dignaram corresponder aos apelos dos vários candidatos demonstrando, pelo contrário e muito claramente, o baixo nível de consideração em que têm os responsáveis pelas políticas das quais resultam os males que poderiam ter sido evitados.
O mesmo parece acontecer por toda a parte nesta Europa onde o protesto na condução política tradicional foi o mote de uma contestação que, ainda que em vários tons, foi suficientemente sonora para que seja ignorada.


sexta-feira, 23 de maio de 2014

ENTRE O ÓDIO E A IMBECILIDADE!

Foi no domínio que o ódio e a imbecilidade balizam que Sócrates afirma ter decorrido a campanha eleitoral da Direita. Mais disse, continuando a referir-se ao mesmo sector político, que “perderam a vergonha, a boa educação, o respeito pelos outros, mas vão também perder as eleições”.
E eu fico perplexo perante o descaramento de quem, pela sua incompetência arrogante, meteu o país num sarilho difícil de resolver. Fico surpreendido pela falta de pudor de quem foi o responsável pela gestão leviana que obrigou ao pedido de um resgate financeiro depois de ter visto rejeitado o seu famoso pack IV que previa tanta ou mais austeridade do que o resgate gerou.
Que a Comunicação Social o oiça e faça das suas palavras manchete que desperte a curiosidade mórbida de quem a tenha por sua única consciência, não me causa espanto. 
Mas que o povo profundamente lesado por uma governação leviana que foi a causa maior e decisiva de uma austeridade que duramente suportou e que, apenas a partir de agora, poderemos ter a oportunidade de começar a aliviar um pouco, lhe preste atenção, faz-me temer a decisão que, nas urnas, possa tomar quem mostra tanta dificuldade em perceber as consequências da falta de consciência das necessariamente limitadas capacidades que temos para construir um Estado Social do qual, com segurança, possamos usufruir. 
Faz-me temer as consequências de novos devaneios que, seguramente, nos lançarão na maior confusão que alguma vez vivemos e serão causa, então sim, de uma pobreza generalizada que destruirá toda a possibilidade de solidariedade sem a qual o Estado Social não existe de todo.
Assim, esperar que as promessas de Seguro, mesmo as feitas sob a “palavra de honra de um beirão”, possam resolver os problemas que temos faz-me lembrar a vâ esperança de ver uma vaca voar ou um rinoceronte por ovos, quando é mais fácil a montanha parir um rato!
Como beirão que sou, daquela Beira da qual os naturais sabem que sem esforço e sem dor não se garante o futuro, não consigo perdoar a Sócrates o oportunismo perverso que é próprio dos incompetentes bazófios nem a Seguro a leviandade de julgar estúpido um povo distraído que, infelizmente, tarde demais poderá acordar para a realidade que ele tenta mascarar com o voluntarismo pacóvio com que o tenta iludir.

sábado, 17 de maio de 2014

EUROPEIAS! COMO VÃO AS COISAS POR AQUI?

Todos temos reparado, por certo, que as intervenções dos candidatos ao Parlamento Europeu, tal como os programas eleitorais de diversos partidos, não apresentam ideias para combater a grande “desilusão europeia” que, a continuar, nos faz temer sobre o futuro de uma União em declínio ao ponto de por em risco os ideais dos que a conceberam como um espaço de solidariedade. Quase apenas se abordam temas de disputa local de poder e, mesmo assim, de um modo demagógico, não baseado em programas coerentes de acções e de atitudes pelas quais o futuro se possa tornar menos pesado do que este presente de desilusões.
Enquanto a Oposição faz apelo a uma grande “tareia” no Governo para o castigar pela sua “política de austeridade” que empobrece o país, os partidos que o apoiam têm de defender-se e pouco mais podem fazer. Naturalmente! É uma campanha para eleições europeias que, apesar disso, não inspira temas europeus e nos nacionais não vai além da altercação palavrosa que tem substituído a cooperação que a “salvação” de um país, também ele em declínio, necessitaria para sobreviver.
Para além das promessas atraentes que quem se apresenta a eleições sempre tem de fazer, não tem a Oposição propostas esclarecidas como alternativa e é evidente o seu único propósito de aproveitamento do desagrado de tantos e tantos a quem uma inevitável política austera retirou benesses e o regresso a uma vida de ilusório desafogo financeiro é o futuro feliz que desejam. Não apresenta soluções para o desemprego que em 2008 era crescente e ultrapassava já os 12%, nem para a emigração que, também então, era já tão intensa como o continuou a ser depois e não diz como, com o cotão do fundo dos bolsos, vai pagar o Estado Social esbanjador. Um Estado Social que consome recursos que não possuímos nem somos capazes de gerar, desorganizado, corrompido, prestador de maus serviços e acumulador da dívida que obrigou ao resgate que nos fez cair no poço húmido e escuro de onde tentamos sair, quando apenas um Estado Social racionalizado, bem dimensionado e compatível com o esforço de que somos capazes é possível de sustentar.
Mesmo sabendo não possuir quaisquer condições para fazer significativamente diferente daquilo que está a ser feito, a não ser trilhar, de novo, os “socráticos” caminhos de um endividamento que conduzirá a outra situação de ruptura financeira tal como Mário Soares antes já o havia feito, um governo do PS apenas pode ser penhor de uma tremenda desilusão ou de uma situação bem pior do que aquela que já vivemos, enquanto a Europa continua a ser qualquer coisa que se olha como uma teta em que se mama enquanto não secar de todo!
Mesmo sem ser um admirador rendido à eficácia de um Governo que, tenho de reconhecer, carecia de melhor preparação para enfrentar a gravíssima situação financeira que, antes dele, foi gerada, faço da incapacidade que vejo por toda a parte para ultrapassar uma situação diferente das outras crises, pelos vistos mal resolvidas também, e da ausência de solidariedade a que as dificuldades, paradoxalmente, dão lugar, a atenuante que não serve para quem o regresso aos erros do passado é a grande promessa eleitoral!
Mas a prova maior do oportunismo político dão-ma alguns famosos “sociais-democratas” a quem a ordem natural das coisas ou a sua mediocridade política fez perder o prestígio que, porventura, nunca haviam merecido. “Identificam-se”, agora, com o programa eleitoral do PS! Quem diria e por qual razão será?
São assim os políticos de pacotilha que abundam por aí. São assim os votantes “distraídos” a quem um piscar de olho basta para tomar a decisão de votar, uma vez mais, em promessas incumpríveis.

Valha-nos Santa Engrácia, não a do Panteão onde ninguém depositará o que, depois de tanto disparate, sobejar de nós, mas aquela que por nós possa interceder enquanto é tempo!


sábado, 10 de maio de 2014

DEPOIS DA REVOLUÇÃO DOS CRAVOS, A GUERRA DAS ROSAS

Hoje, ao ver uma reportagem sobre o “11 de Março” que foi descrito como um golpe de Estado abortado, não pude deixar de reviver esse dia que as circunstâncias me permitiram viver muito de perto.
Eu trabalhava ali mesmo em frente do Ralis. Não precisava mais do que rodar a cabeça para, do meu gabinete de trabalho, ver aquela unidade militar onde um certo “Fitipaldi” pontificava.
Habituado ao ruído dos aviões por causa do aeroporto que não ficava longe, foi com surpresa que, naquele dia, notei que ele vinha do lado oposto e era um tanto diferente. E, da janela, vi três pequenos aviões, depois apenas dois porque um parece ter-se avariado, sobrevoar o “regimento” sobre cujo parque de viaturas lançaram “rokets” que atravessavam telhados e paredes como se fossem manteiga mas, curiosamente, depois não faziam Bum!
Da parte da unidade militar atacada não notei qualquer reacção e até um civil, com uma camisola encarnada, que fazia o seu trabalho ao fundo de um campo frontal aos pavilhões “atacados”, não alterou as suas rotinas!
Depois, foi uma corrida para o terraço de onde a vista era melhor, enquanto uns quantos “guerreiros”, suponho que vindos do aeroporto, se abeiravam do quartel, alguns dos quais tomaram posições no parque de estacionamento, ali mesmo defronte dos nossos narizes.
E eis que observo o meu colega Casanova ficar muito nervoso e gritar para baixo “amigo, ó amigo!” Pedi-lhe para se conter não fosse alguém alvejar-nos. Afinal, aquilo era uma guerra! 
Mas ele insistiu até que um “guerreiro” olhou para cima e, em voz sussurrada, perguntou “é comigo?”. O meu colega suspirou de alívio e disse-lhe “claro! Não vê que está a pisar as minhas roseiras?”.
O efeito surpreendeu-me pela positiva: “Desculpe!” e mudou de posição.

Não tão pacífico foi o que sucedeu no dia seguinte, quando vi uma das coisas mais estúpidas que presenciei na minha vida.


DA CASSETE AO DVD

É a loucura no Coliseu dos Recreios quando Jerónimo de Sousa acusa os partidos do “arco da governação” de terem “"o rabo preso na política que inferniza a vida dos portugueses e do povo, políticas que alienam o interesse nacional e comprometem o futuro do país"! É a preocupação para os que sabem que não é a demagogia solução para coisa alguma senão para os interesses de quem dela tira partido.
Refere-se o Secretário Geral do PCP ao que chama a “política de austeridade” que tem condicionado a vida de todos nós mas que, como é naturalmente evidente, não é uma política mas a consequência inevitável de gastos excessivos em planos de desenvolvimento mal congeminados e mal decididos e é, também, a lógica incontestável de um processo de recuperação do equilíbrio financeiro perdido.
Num regime em que o voto decide a entrega do poder para governar, seria pouco inteligente e completamente invulgar a austeridade como decisão política, pelo que é manifestamente demagógico o ataque de Jerónimo que jamais se atreve a explicar a política alternativa compreensível que, a ser governo, adoptaria.
Obviamente, clamar contra a austeridade não a evita, tal como lamentar os seus efeitos não os reduz. Muito menos significa uma alternativa que permita a recuperação sem, antes, garantir o reequilíbrio que é a razão de ser de políticas austeras.
Não passa, assim de um discurso oco o de um partido que, obviamente, não disputa a responsabilidade do poder, apenas se limitando a capitalizar o descontentamento confuso daqueles que se habituaram a viver das sobras que a austeridade eliminou.
É uma atitude que não só se conforma com o oportunismo dialético próprio do PCP mas que, infelizmente, foi o denominador comum na Oposição ao Governo ao longo dos últimos três anos e prova, entre outras coisas, que não é com o futuro do país que a Oposição se preocupa, porque faz da desqualificação das medidas do Governo a sua estratégia de sucesso partidário.
Não são já os argumentos da cassete clássica que o PCP utiliza porque outros melhor se adaptam ao mais moderno DVD.



UMA SIMPLES PERGUNTA

Quando leio que “o anterior primeiro-ministro, José Sócrates, disse sexta-feira à noite usufruir de uma "estranha e doce liberdade" de responder apenas perante si próprio, da qual não pretende desfazer-se tão cedo, depois de três décadas de responsabilidades políticas”, sinto como a irresponsabilidade torna os políticos estranhamente fanfarrões, sem respeito pelos que sofrem em consequência dos seus erros e incompetências. Pudera, não os chamamos à responsabilidade! Não julgamos os seus actos!
Seria assim se os políticos tivessem outro julgamento para além do político que dá azo à alternância de equívocos que, para muitos, é a razão de ser da democracia?

É a fanfarronice dos que consentimos que sejam juízes em causa própria!


A POLÍTICA DE “PESCADINHA DE RABO NA BOCA”

Mais do que a austeridade, começam a ser difíceis de suportar os disparates que por aí se dizem, mas que uma reflexão descomprometida deveria evitar, pois são a causa de dificuldades acrescidas no momento difícil que vivemos e de equívocos em decisões das quais nos poderemos muito vir a arrepender.
É certo que o Primeiro-Ministro não é, de todo, o “animal político” que melhor contorna os ataques perversos que a Oposição, naturalmente, lhe dirige. Por vezes parece, até, demasiadamente ingénuo e determinado quando a “ratice”, por outros tão bem manobrada, granjeia bem melhores resultados. A frontalidade e a determinação podem ter evitado, ao seu governo, problemas de percurso que, de outro modo, quase por certo teriam acontecido com graves prejuízos para todos nós, mas, em contrapartida, tem-lhe valido as críticas fáceis do “malabarismo palavroso” em que a nossa democracia se especializou.
No Parlamento, em resposta a uma pergunta simploriamente ardilosa, a de se iria aumentar mais os impostos, Passos Coelho afirmou que nada lhe poderia garantir não ter de o fazer pois não conhecia, ainda, a apreciação constitucional a algumas das suas propostas de redução de despesa.
Apesar de ser a resposta lógica que a alternativa cortar despesa ou agravar impostos torna inevitável num país onde o "maná" não cai de céu, foi bastante para fazer saltar a rolha, mal contida, da ansiedade dos que esperam os seus “deslizes” para os glosar em proveito dos seus interesses eleitorais, como ouvi a um jornalista (!!!) que me pareceu muito carente do conhecimento, do bom senso e da isenção que se espera de quem tenha tal profissão. Um afrontamento inaceitável à independência decisória de um tribunal que, pelos vistos, vive em outro mundo, foi como tal jornalista classificou o que disse Passos Coelho.
Não acredito que um jornalista não tenha uma noção mais clara da realidade e tome os direitos constitucionais como uma razão intransponível para negarmos as nossas responsabilidades perante os credores e os seus direitos estabelecidos num acordo firmado em hora de aflição. Nem vejo como a sua inteligência lhe consente fazer das decisões que o Tribunal Constitucional alemão em condições de normalidade, termo de comparação com as que ao Tribunal Constitucional português compete tomar em situação de resgate financeiro.
Não creio que não reconheça ser a situação que vivemos uma que a Constituição não prevê e para a qual, sendo assim, não tem solução. Tal como muitas das leis ordinárias perdem o seu sentido de aplicação em casos de “estado de sítio”, também os direitos constitucionais deveriam ser reduzidos a um simples critério de justiça e de equidade na distribuição dos inevitáveis sacrifícios que as consequências de um resgate financeiro nos impõem.
Parece de tontos esta guerrilha entre o poder político e o poder do Tribunal Constitucional que torna numa política de pescadinha de rabo na boca aquela que faz da Constituição a razão de ser de tudo quando, de modo algum, o pode ser.
Há muito que se tornou evidente a oportunidade de uma revisão constitucional profunda que a adapte a novas realidades que o espírito que a ditou desconhecia, bem como a necessidade de reconhecer como abdicação de certos direitos o acordo de resgate que, para evitar piores males, em momento de extrema necessidade foi assinado.

Apenas não poderemos abdicar da equidade na determinação dos sacrifícios que todos deveremos fazer.


sexta-feira, 9 de maio de 2014

UMA QUESTÃO DE ENERGIA

A questão da Ucrânia acaba por implicar um problema energético sério na Europa porque cerca de um terço do gás natural que consome é fornecido pela Rússia que, tudo o faz crer, tem em curso um processo de reconstituição da geografia da ex-União Soviética.
Perante as alternativas que a Europa tem a um fornecedor problemático, não entendo muito bem por que a Europa não se previne utilizando alternativas de importação ou, mesmo, as próprias reservas.
Sines, um porto com características perfeitas para ser um terminal distribuidor de gás natural proveniente de África, como já o é, seria uma excelente alternativa para distribuição de gás pela Europa, bem como pode ser a entrada mais adequada para as cargas provenientes do Extremo Oriente que, muito em breve, passarão a utilizar o renovado canal do Panamá para chegar ao Atlântico.
Porém apurei, também, que a Europa possui reservas extensas de gás natural, distribuídas por diversas bacias, uma das quais, a Bacia Lusitana, em Portugal, esta com reservas que abasteceriam o nosso país ao longo de 200 anos!
Será a importação de gás, contrapartida nas exportações europeias para a Rússia, o que não pode ser esquecido, mas parece-me perigoso, mesmo assim, que a Europa corra o risco de ficar vulnerável num domínio tão sensível como o energético, o que lhe retira força quando dela tanto a necessitaria como acontece neste tempo de violações bárbaras na Ucrânia, às quais se deveria opor sem hesitações. 


quinta-feira, 8 de maio de 2014

QUAL REFORMA DO ESTADO?

Paulo Portas apresenta, finalmente, o tão esperado Guião da Reforma do Estado.
Em vez da reforma que deveria ter sido uma das tarefas a considerar logo a par das inevitáveis medidas de curto prazo necessárias para estancar a “hemorragia” que estava a deixar Portugal exangue, surge apenas agora, quando três anos já são passados depois do início do programa de ajustamento, um guião que coube ao Vice-Primeiro-Ministro elaborar.
Antes de mais, não me parece que seja tarefa para um homem só ou, até, para uma pequena equipa, todo o trabalho de estudo que um plano de ordenamento do território exige para que possa constituir uma base adequada para uma reforma de Estado.
Considero esta falha o erro maior do Governo que a Oposição nunca questionou, pois as medidas de curto prazo, aquelas que são usadas para dominar uma situação descontrolada, não são a solução de longo prazo necessária, tal como a “estabilização” de um doente não é a sua cura. Por isso o tratamento conveniente deve começar tão depressa quanto possível para evitar consequências graves com reflexos num futuro que pode ser longo.
Infelizmente, não foi isso que em Portugal se fez. Em vez de um trabalho de planeamento que envolvesse todo o país e evitasse o agravamento da desertificação do Interior que, desde há muito, já se notava, foi do tipo “corte e costura” o que foi sendo feito e, por isso, cerca de dois terços do território nacional se encontram numa situação de abandono ou de subaproveitamento confrangedora, com desprezo de recursos cujo aproveitamento facilmente evitaria que cerca de um quarto da população portuguesa sentisse carências, mais ou menos severa, na satisfação de necessidades fundamentais. E não tais reformas que inverterão esta realidade.
Foram feitas reformas disto e daquilo, na Educação, na Justiça, nas Finanças, na Saúde, cada qual definindo os seus critérios que não levam em conta, pelo menos do mesmo modo, as características do território porque não se basearam num plano comum de ordenamento que permita o desenvolvimento harmonioso.
Continuo a pensar que qualquer reforma do Estado que se não baseie num conhecimento profundo do território, incluindo as suas características geo-morfológicas, as potencialidades económicas, as sociedades locais, as tradições e a cultura, sempre será uma reforma para um país de ficção que mais desarrumado ficará ainda do que o que antes se encontrava, em vez de criar as bases para o desenvolvimento harmonioso e sustentável de que tem necessidade.
Assim, Portugal continuará com uma organização administrativa que não corresponde a qualquer organização territorial que a realidade justifique e que, para além das Autarquias Locais, de nada serve.


quarta-feira, 7 de maio de 2014

AFINAL O QUE É A DITADURA?

Seria natural, com tantos anos de “democracia” como de “ditadura”, eu saber, sem qualquer margem para dúvidas, o que é uma coisa e a outra. Mas a realidade está sempre a surpreender-me e, por isso, a colocar-me dúvidas que muito me dão que pensar.
Recordo-me de, naqueles tempos em que falar demais tinha os seus custos, se contar a anedota de um menino que, aproveitando a ocasião do almoço para falar com o pai, faz a pergunta: - ó pai, o que é a ditadura? Pelo que o pai, entre surpreendido e preocupado, de imediato lhe ordena: - come e cala-te!
Lembro-me, também, do que li a propósito das reflexões de Aristóteles sobre as vantagens e os inconvenientes dos diversos regimes políticos, das quais concluiu depender das circunstância e, sobretudo, da intenção de quem detém o poder. Enfim, uma retórica longa que não é minha intenção retomar aqui.
Poderia lembrar-me, também, da "ditadura do proletariado" que, para alguns, seria o máximo expoente da liberdade. E de muito mais me poderia lembrar, até de como a "alternância democrática" por vezes mais me parece uma sucessão de pequenas ditaduras... Sei lá.
Mas do muito que, sobre o assunto, já reflecti, julgava eu já saber qualquer coisa quando, uma vez mais fui surpreendido, desta vez pela sugestão para aderir à página “você já está em uma ditadura e nem percebeu”.
Talvez a estrutura da frase me tenha despertado a curiosidade e levado a abrir a página para tentar saber do que, afinal, se tratava.
Em sub-título li “chegou a ditadura a Portugal”.
Nas observações para quem pense pedir a adesão à página, pois trata-se de um “grupo fechado”, radica o meu maior espanto:
“PUBLICAR TUDO QUE SEJA CONTRA O GOVERNO
TODOS OS MEMBROS QUE ESTEJAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DO GRUPO SERÃO CONVIDADOS A SAIR SE NÃO QUISEREM SAIR DE LIVRE VONTADE SERÃO BANIDOS DO GRUPO E BLOQUEADOS”

Mas que raio será a ditadura?!!!


AS CRÍTICAS E OS COMPROMISSOS QUE IMPLICAM

Que me importa que seja este, aquele ou o outro ainda quem governa o meu país se o fizer do modo que a todos nós permita viver o melhor que as nossas possibilidades o permitam? Nada me importa, seja ele quem for. Apenas não quero, porque disso estou farto, é que o meu país se deixe enganar de novo, agora que, depois de muito tempo de sacrifícios, a sua situação financeira se tornou clara, pelo que nada justificará mais equívocos que permitam a qualquer novo governante dizer “não imaginava que o país estivesse como está” ou qualquer candidato a governante condicionar as suas promessas eleitorais pela dúvida quanto ao que irá encontrar!
Por isso me chocou o que ontem ouvi a António Seguro. Diz ele poder garantir que, quando for Primeiro-Ministro, não haverá nem mais um despedimento na função pública e a carga fiscal não aumentará! Mas quando interrogado sobre se faria decrescer os impostos que considera excessivos, afirmou não o poder garantir. Como não garantiu mais nada.
É aqui que o meu entendimento das coisas se baralha. Não deveria Seguro garantir, como promessa eleitoral, que desfaria tudo o que este governo que critica fez e ele entendeu ter sido mal feito? Obviamente! Não deveria, tal como a este governo tem exigido, garantir que se demitirá se o não conseguir?
Por isso apenas me satisfaria que prometesse fazer regressar o país aos níveis de felicidade de há três anos atrás quando, como garante, estava melhor. Assim, reintegrar todos os funcionários despedidos, fazer os impostos regressar aos níveis anteriores, refazer o Serviço Nacional de Saúde que diz destruído, entre outras coisas, deveriam ser os seus compromissos sem quaisquer reticências.
Não o fará porque a dívida que este governo deixou aumentar lho não permitirá? Apenas por brincadeira o poderá dizer já que o acréscimo da dívida ao longo do tempo deste governo é o valor do resgate e respectivos custos ou seja, o que o anterior governo gastou a mais sem rendimento que lho permitisse e, desse modo, fez o país acreditar num bem-estar que os meios disponíveis não poderiam manter!
Por isso, mais me desconcerta que o governo que, como diz o líder socialista, fazia o país estar melhor, tenha sido o que sentiu a necessidade de pedir o resgate financeiro que evitou a bancarrota e todas as tragédias que lhe corresponderiam e, desse modo, assumiu os compromissos cujo cumprimento o governo que lhe sucedeu teve de garantir. Aquele governo que, no dizer de Seguro, fez o país ficar pior, decerto porque mostrou ao país os erros perigosos do caminho leviano que trilhava!

Há, sem qualquer dúvida, um enorme equívoco em tudo isto e, por essa razão, não vejo como poderá um país acreditar nas críticas de quem se recuse a assumir, se for governante, os compromissos que, naturalmente, delas resultem.


terça-feira, 6 de maio de 2014

GISELLE, QUE DECISÃO?

Foi com uma raiva mal contida que assisti à notícia de que um tribunal português decidiu, apesar de tudo o que fazia crer que assim não aconteceria, entregar uma criança portuguesa à mãe irlandesa e residente na Irlanda, apesar do desejo explícito da criança para continuar com o pai que dela cuidava e de todas as consequências negativas, claramente explicadas pela própria criança também, de uma decisão incompreensível, aparentemente até desumana.
Está em causa o “superior interesse” de uma criança que com uma maturidade notável para a sua idade, manifesta uma vontade inequívoca de viver com o pai e é compelida, à força por policiais, a deixar os braços do seu pai para embarcar num avião onde não queria entrar e a ser envolvida por braços que não conhece, os do seu padrasto.
Vejo como tanta gente se manifesta e exige do poder político o esclarecimento dos actos que pratica, os quais frequentemente critica, quantas vezes até de um modo civicamente excessivo.
Sendo assim, por que razão se não exigirá o mesmo do poder judicial pelas decisões que toma em nome do povo português?
Decerto que quem tomou esta decisão contra a vontade clara de alguém em nome de cujo interesse supostamente decidiu, terá razões que deveria explicar a quem não pode deixar de julgar, também, os seus actos.
Infelizmente, não é esta a primeira vez que, em nome do “superior interesse da criança", parece serem cometidos verdadeiros atropelos a esse mesmo interesse. Dúvida que não deveria persistir.

Mas terá o Tribunal a coragem de esclarecer? Ou o povo em nome de quem decide não o merece?


O LINGUAJAR POLITIQUEIRO E O TOSSIR DA VACA

Ontem estive a ouvir um programa em que alguém do PS e alguém que o não era se confrontavam acerca do que teria ou não dito a ministra das finanças a propósito de uma “carta de intenções” que, com a saída da troika, o Governo português teria de enviar ao FMI.
Mais memorando para aqui e mais relatório da última avaliação para ali, sem esquecer o já famigerado DEO, o que seria, afinal, aquilo que a ministra disse? A discussão terminou, naturalmente, sem que os dois se entendessem e com a moderadora sem conseguir, a propósito da questão, demonstrar a equidistância que eu esperaria que tivesse.
Eu ouvi o que ministra disse e, como me pareceu que falou em português, entendi que a “carta de intenções” nada conteria para além do que, pelo que fora já dito, os portugueses já conheciam. Mais ainda e como é natural que a “carta” diga o óbvio que um credor quer garantido por quem tem para com ele uma dívida, não me pareceu que ela pudesse ser aquele problema bicudo que o alguém do PS entende que seja e, por isso, o quer esclarecido antes das eleições para o Parlamento europeu.
Será que o alguém do PS tem razão quando diz que o PS não fala por falar, mesmo sem explicar o porque de assim falar, ou apenas pretendeu lançar a dúvida que baralhará os eleitores de modo a beneficiar o seu partido nas eleições que se aproximam? Veremos se a “castanha” lhe não rebenta nas mãos… Sei lá.
Mais uma vez tive de concluir que, em política, o que se diz não é bem o que se quer dizer e lá vêem os “recados” nas entrelinhas que acabarão por ser o que o político discursante efectivamente quer dizer e os vários comentadores políticos traduzem cada qual ao seu modo. É um linguarejar estranho este que, tal como os camaleões, toma a cor que, na oportunidade, mais convier.
Mas, opinem os comentadores como opinarem, confundam os políticos os eleitores como melhor julgarem convir-lhes, a troika não sairá, efectivamente, tão cedo de Portugal porque existe uma dívida enorme que pretendem que seja saldada.
Este é, sem qualquer dúvida e diga Sócrates o que disser, o resultado da necessidade de a troika um dia ter entrado em Portugal porque nos endividámos excessivamente em consequência de uma política levianamente gastadora. E é isso que alguém do PS e alguém que o não é sabem perfeitamente.

Esperar de credores outra coisa é como que esperar que a vaca tussa! Mas a vaca não tosse e como é nisto que se baseia a proposta de governação do PS, melhor será esperar sentado.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A FADIGA DA ECONOMIA E UM POEMA DE AUGUSTO GIL

Ao longo das muitas dezenas de anos que levo vividas, sempre dei conta de fases de reajustamento à realidade que uma economia ávida de crescimento não consegue evitar. São as “crises” cujos intervalos, ao longo do tempo, vi passar de dez anos a cinco, a três, a um e até ao zero que faz esta “crise” parecer eterna.
À semelhança do que acontece com os metais que, submetidos a ciclos de esforço cuja frequência se aumenta, acabam por romper, também à economia deverá acontecer algo semelhante quando os intervalos curtos tornam frequentes demais os inevitáveis reajustamentos.
Mais do que isso, vi a amplitude das “crises” passar de confinadas a um país, a uma região ou a um continente, atingir a dimensão do mundo inteiro, como nesta que agora sentimos e faz lembrar um mal que, difícil de conter, se espalha por todo o corpo até lhe consumir a capacidade de viver.
De resto, porque haveria de ter a economia um comportamento diferente do que seja próprio da lógica natural se, até nas coisas mais vulgares, em muitas das quais pouco ou nem sequer reparamos, podemos encontrar os sinais da “fadiga” que conduz à ruptura?
Na sua “Balada da Neve”, Augusto Gil refere-se às marcas que, ao passar, os caminhantes deixam na neve que cai “do azul cinzento do céu”. Sei bem como é muito fria essa neve que tantas vezes pisei, como enregela os pés e as mãos e torna difíceis os movimentos, causando a dor maior aos mais desprotegidos.
“Por entre os mais”, prendem a atenção do poeta da Guarda os “traços” que “uns pezitos de criança” deixam na neve que se vai acumulando no caminho, “primeiro, bem definidos, depois em sulcos doridos porque não podia erguê-los”!

É a imagem que esta crise económica arrastada frequentemente faz revelar-se no meu espírito. Continua a tentar caminhar, mas as marcas que deixa já são os “sulcos doridos” que prenunciam a sua queda se não for aconchegada.


sábado, 3 de maio de 2014

OS PARADOXOS DO DESEMPREGO

Leio, no Expresso, a notícia de que “há 5737 ofertas de emprego que ninguém quer todos os meses” e, para além disso, da experiência do director executivo de uma empresa que afirma, a propósito das suas necessidades de contratar trabalhadores num centro de emprego no Alentejo: "apresentaram-me 900 pessoas potenciais interessadas. Pedi para fazerem uma triagem e propuseram-me 600. Insisti para que apurassem o processo de selecção e acabaram por me apresentar 90 interessados. Passámos uma semana a fazer entrevistas e só 30 aceitaram. No entanto, só 15 se apresentaram ao trabalho. Foram inventando desculpas e, resultado, ficámos apenas com uma pessoa, ...que era estrangeira”.
Pensando nos ainda mais de 15% de desempregados no país, não é fácil acreditar nisto que acontece quando tantos se queixam das terríveis consequências da falta de emprego e outros se aproveitam dos números de uma terrível estatística para alcançar possíveis vantagens eleitorais.
Como explicar que assim aconteça? Talvez as perspectivas de recuperação de anteriores níveis salariais que a Oposição, em particular o PS, deixa antever nas suas críticas à governação e nas promessas que faz de, ao ter a responsabilidade de governar, tudo passar a ser diferente e bem melhor, com um crescimento económico que, como alguém afirmou já, será muito fácil de alcançar.
Apesar de tudo parecer indicar que as próximas eleições legislativas impedirão a actual maioria de continuar a governar, não acredito que o governo que saia dessas eleições consiga cumprir qualquer das promessas que o PS faz, temendo, até, que o resultado eleitoral origine a crise política que pode travar o caminho que, embora duro, nos pode evitar um falhanço que conduziria, quase por certo, à necessidade de um novo resgate financeiro.

Melhor seria, pois, que nos apercebêssemos das mudanças que estão a acontecer na economia, apesar de toda a resistência de um sistema que teima em não se adaptar às circunstâncias e das promessas eleitorais fantasiosas, aproveitando as oportunidades que a “economia possível” pode dar.   


A RAZÃO DE NÃO NASCER

Por mais razões que tenha para me queixar da austeridade em que tenho de viver, tanto mais que, pela vida regrada que sempre fiz, para as suas causas não contribuí, não vejo como possa culpar este Governo do facto de a sofrer. Não terá ele sempre feito o que talvez melhor fosse de fazer mas, pelo que vejo acontecer por todo o mundo, não me parece que os políticos e os economistas que, imprudentemente, levaram a economia ao limiar de uma ruptura mais cedo ou mais tarde inevitável, estivessem preparados para fazer melhor aqui ou em outro lado qualquer. Aliás, continuam a não fazer!
É evidente que a ruptura terá de acontecer com mais ou menos graves consequências, pois não é possível fazer crescer sem limites o que tem um meio fisicamente limitado, efeitos ambientais devastadores e altera a estrutura social de um modo preocupante.
Ainda que a população mundial continue a crescer, triplicando desde que nasci, estabilizou ou decresce já nas sociedades economicamente mais activas onde, na estrutura etária, são cada vez mais notórias as distorções que, além de enfraquecerem a sua sustentabilidade, afectam, também, as condições da solidariedade sem a qual as sociedades não conseguirão sobreviver.
Temos, em Portugal, uma natalidade em declínio, já muito abaixo do mínimo necessário para a renovação. Por isso uma faixa etária jovem cada vez mais estreita, enquanto a dos mais idosos atinge proporções excessivas, resultado de um processo iniciado há longo tempo. Não pode, sendo assim, atribuir-se à austeridade desta governação, como os ambiciosos de poder que a tornaram inevitável querem fazer crer, a razão de ser desta realidade da qual a ânsia de crescimento económico é a verdadeira causa, tal como o é do enfraquecimento da estrutura familiar, o insubstituível núcleo das sociedades estáveis.
É pena que seja assim e que, pelo menos explicitamente, se não reconheça que caminhamos no sentido da uma extinção infeliz e da deseducação cada vez mais sentida como o torna evidente esta anedota de um letreiro supostamente colocado à porta de uma escola “Aqui transmitimos conhecimento. A educação deve vir de casa”.
Mas de qual casa? Das creches, dos infantários, das escolinhas onde se depositam os pequenos seres para os quais os pais deixaram de ter tempo?

Então, mais vale que não nasçam!