ACORDO ORTOGRÁFICO

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sábado, 3 de maio de 2014

A RAZÃO DE NÃO NASCER

Por mais razões que tenha para me queixar da austeridade em que tenho de viver, tanto mais que, pela vida regrada que sempre fiz, para as suas causas não contribuí, não vejo como possa culpar este Governo do facto de a sofrer. Não terá ele sempre feito o que talvez melhor fosse de fazer mas, pelo que vejo acontecer por todo o mundo, não me parece que os políticos e os economistas que, imprudentemente, levaram a economia ao limiar de uma ruptura mais cedo ou mais tarde inevitável, estivessem preparados para fazer melhor aqui ou em outro lado qualquer. Aliás, continuam a não fazer!
É evidente que a ruptura terá de acontecer com mais ou menos graves consequências, pois não é possível fazer crescer sem limites o que tem um meio fisicamente limitado, efeitos ambientais devastadores e altera a estrutura social de um modo preocupante.
Ainda que a população mundial continue a crescer, triplicando desde que nasci, estabilizou ou decresce já nas sociedades economicamente mais activas onde, na estrutura etária, são cada vez mais notórias as distorções que, além de enfraquecerem a sua sustentabilidade, afectam, também, as condições da solidariedade sem a qual as sociedades não conseguirão sobreviver.
Temos, em Portugal, uma natalidade em declínio, já muito abaixo do mínimo necessário para a renovação. Por isso uma faixa etária jovem cada vez mais estreita, enquanto a dos mais idosos atinge proporções excessivas, resultado de um processo iniciado há longo tempo. Não pode, sendo assim, atribuir-se à austeridade desta governação, como os ambiciosos de poder que a tornaram inevitável querem fazer crer, a razão de ser desta realidade da qual a ânsia de crescimento económico é a verdadeira causa, tal como o é do enfraquecimento da estrutura familiar, o insubstituível núcleo das sociedades estáveis.
É pena que seja assim e que, pelo menos explicitamente, se não reconheça que caminhamos no sentido da uma extinção infeliz e da deseducação cada vez mais sentida como o torna evidente esta anedota de um letreiro supostamente colocado à porta de uma escola “Aqui transmitimos conhecimento. A educação deve vir de casa”.
Mas de qual casa? Das creches, dos infantários, das escolinhas onde se depositam os pequenos seres para os quais os pais deixaram de ter tempo?

Então, mais vale que não nasçam!


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