Por mais razões que tenha para
me queixar da austeridade em que tenho de viver, tanto mais que, pela vida
regrada que sempre fiz, para as suas causas não contribuí, não vejo como possa
culpar este Governo do facto de a sofrer. Não terá ele sempre feito o que talvez
melhor fosse de fazer mas, pelo que vejo acontecer por todo o mundo, não me
parece que os políticos e os economistas que, imprudentemente, levaram a economia ao limiar de
uma ruptura mais cedo ou mais tarde inevitável, estivessem preparados para fazer
melhor aqui ou em outro lado qualquer. Aliás, continuam a não fazer!
É evidente que a ruptura terá
de acontecer com mais ou menos graves consequências, pois não é possível fazer
crescer sem limites o que tem um meio fisicamente limitado, efeitos ambientais
devastadores e altera a estrutura social de um modo preocupante.
Ainda que a população
mundial continue a crescer, triplicando desde que nasci, estabilizou ou
decresce já nas sociedades economicamente mais activas onde, na estrutura
etária, são cada vez mais notórias as distorções que, além de enfraquecerem a
sua sustentabilidade, afectam, também, as condições da solidariedade sem a qual
as sociedades não conseguirão sobreviver.
Temos, em Portugal, uma
natalidade em declínio, já muito abaixo do mínimo necessário para a renovação.
Por isso uma faixa etária jovem cada vez mais estreita, enquanto a dos mais
idosos atinge proporções excessivas, resultado de um processo iniciado há longo
tempo. Não pode, sendo assim, atribuir-se à austeridade desta governação, como os ambiciosos de
poder que a tornaram inevitável querem fazer crer, a razão de ser desta realidade da qual a
ânsia de crescimento económico é a verdadeira causa, tal como o é do
enfraquecimento da estrutura familiar, o insubstituível núcleo das
sociedades estáveis.
É pena que seja assim e
que, pelo menos explicitamente, se não reconheça que caminhamos no sentido da uma
extinção infeliz e da deseducação cada vez mais sentida como o torna evidente
esta anedota de um letreiro supostamente colocado à porta de uma escola “Aqui
transmitimos conhecimento. A educação deve vir de casa”.
Mas de qual casa? Das
creches, dos infantários, das escolinhas onde se depositam os pequenos seres
para os quais os pais deixaram de ter tempo?
Então, mais vale que não
nasçam!
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