Ouvi falar numa sinistra ideia
de limitar a idade de permissão para conduzir viaturas, apontando como razão de
ser de tal proposta o aumento dos acidentes com idosos!
Não imagino qual cabecinha
tonta, porventura esperançada em jamais envelhecer, terá feito tal exercício de
reflexão que, por certo, a deixou exausta. Mas não me surpreendo, infelizmente,
com estas tiradas de génio próprias de imaturos que nem imaginam o que seja a
realidade em que vivem e, por isso, não possuem a competência que se exige a
quem exerce ou se propõe exercer funções com capacidade de decisão em questões
sociais, seja a qual nível for.
Num país onde os idosos
são uma parte cada vez maior da população total, numa percentagem que tende a
crescer enquanto se reduz em outras faixas etárias, anormal seria que os
acidentes rodoviários provocados por idosos não aumentassem, sem que tal tenha
de ser o resultado de uma incapacidade própria da idade.
Além disso, qualquer
análise para suportar uma tal decisão deveria abranger diversos intervalos etários
e demonstrar corresponderem os acidentes provocados por idosos a um “índice de
sinistralidade” excessivamente desviado da média, o que, estou convencido, não
acontece. Pelo contrário, penso serem outras razões, que não a idade avançada,
as da elevada sinistralidade em Portugal.
A capacidade para conduzir
deverá continuar a ser avaliada nos testes para revalidação da carta tal como a
lei exige, nos quais devem ser tidos os maiores cuidados para não permitir a
condução a quem não possua as necessárias condições físicas e mentais. O
reforço destes cuidados será benéfico para todos, para o próprio e para os
demais, enquanto qualquer limite ditado pela idade não passaria de uma inadmissível agressão aos direitos de cada um.
Mas para que, mesmo assim,
seja uma atitude socialmente justa, deverão outras situações merecer idêntica
atenção da lei quando se trate de circunstâncias potencialmente incapacitantes seja qual for a idade e, por isso, muito perigosas.A ideia deve ser o resultado do modo como as notícias de acidentes são divulgadas, nas quais, sempre que se trate de um idoso, tal facto é realçado, decerto por jornalistas jovens que se esquecem de que, com sorte, também serão idosos um dia.
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