Um Primeiro-Ministro sem
um discurso convincente, um líder da Oposição palavroso e excessivamente focado
na conquista do poder e uma vivência democrática oportunista são os grandes
protagonistas numas eleições cujos resultados podem significar mais do que uma
visão rápida revela.
Como seria inevitável, o
governo a quem coube a tarefa de tomar as medidas de austeridade inevitáveis
numa situação de ruptura financeira como a que herdou, não teve a maioria dos
votos expressos. Nada que não fosse de esperar porque não foge à regra própria
da alternância democrática mais regida pelo imediatismo dos resultados aparentes
do que pela consistência e oportunidade das medidas de mais longo prazo das quais
uma situação como a de Portugal tem absoluta necessidade para que se torne equilibrada de modo eficaz e
duradouro.
Por outro lado, um líder
da Oposição ávido de poder pessoal e, ao mesmo tempo, Secretário-Geral de um
Partido que não sobrevive muito tempo sem distribuir as benesses que os seus
apoiantes esperam e apenas o poder consente, preferiu o confronto permanente a
uma postura de Estado que, a todos nós, tornasse a recuperação menos austera.
Seguro tentou desse modo, em proveito próprio e do seu partido, capitalizar o desgaste inevitável de um Governo obrigado
a decidir medidas austeras para, com isso, apressar a mudança que recolocaria o PS na
governação, fazendo do resultado das eleições europeias a razão de ser da
exigência de eleições antecipadas que toda a oposição ao governo naturalmente apoiaria.
Porém, confrontada a
dimensão da “derrota governamental” com a da que seria a “punição exemplar” que
o PS reclamava, notaremos uma diferença enorme que nos leva a concluir ser a
derrota óbvia do Governo bem menos significativa do que o falhanço do projecto
socialista para forçar as tão almejadas eleições legislativas antecipadas.
Ao que seria a
oportunidade de uma mudança pela qual o Partido Socialista prometia o que, era
a cada dia mais evidente, jamais poderia proporcionar, responderam os eleitores
com indiferença ou, quem sabe, com o bom senso que um povo deve ter quando se
trata da sua sobrevivência.
Não será fácil ao Partido
Socialista superar, em tempo útil, o falhanço de objectivos que os resultados
das eleições traduzem, os quais significam o descrédito da política de desgaste,
do Governo e do país, pela qual enveredou em vez da política de salvação
nacional que aos portugueses teria sido mais útil.
Enquanto ao PS apenas uma
mudança radical de estratégia e de política poderá granjear mais apoio, o que,
todavia, significa o reconhecimento dos profundos erros cometidos, ao Governo
bastará ir transformando os resultados da estabilidade financeira alcançada em
alívio progressivo da austeridade, em consonância com um discurso mais
determinado e mais objectivo.
É caso para perguntar: afinal,
quem mais perdeu nas eleições?
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