ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

AS UNIVERSIDADES DE VERÃO


“Universidade” tem tudo a ver com uma realidade, o seu ambiente e com as razões que a motivam. Por isso, qualquer “universidade” tem a personalidade do ambiente do qual emerge, traduz as suas preocupações e vai ao encontro dos seus interesses.
Analisando uma “universidade”, ficaremos com uma ideia clara sobre a “sociedade” da qual faz parte.
Por isso me dei ao cuidado de ouvir o que se publica sobre as “universidades de verão” do PSD e do PS pois, como cidadão consciente que não pode alhear-se do que pode influenciar a sua vida e a dos seus, precisa de estar atento aos sinais que lhe indiquem como uns ou outros o podem fazer.
Do que vi, pareceu-me que na “universidade” do PSD o propósito fundamental é revelar pensamentos diversos sobre como olhar a vida actual e abordar os problemas que a condicionam, uma reflexão urgente sobre questões e circunstâncias que vão para além dos interesses e dos conflitos partidários. Já a do PS me pareceu ter como propósito dominante as críticas ao Governo que, pelo que me dei conta também, se baseiam nas propostas socialistas que não terá acatado.
Esperaria eu que, na sua “universidade de verão”, o PS pudesse esclarecer as razões de ser de tais propostas que sempre me pareceram mais demagógicas e mais manipuladoras do que racionais porque nunca tiveram como fundamento uma realidade autêntica, as reais capacidades do país, a situação difícil que atravessa, mas sim as atitudes cativantes de quem lhe pode devolver o poder que a sua incompetência lhe tirou.
Não quero tomar partido ou fazer juízos de valor excessivos. Tampouco me vou render a simpatias ou antipatias apenas pelo que constatei. Mas que tirei conclusões que reforçam as minhas dúvidas sobre a capacidade do PS para governar o país, tirei! Mais do que isso, reforcei a certeza de uma incapacidade gritante para entender uma realidade que está distante da utopia de uma vida feliz sem esforço!

A LIÇÃO DE BARRETO: CASA ONDE NÃO HÁ PÃO...

António Barreto, o conhecido sociólogo que foi Ministro da Agricultura e Pescas no primeiro governo de Mário Soares, afirmou, na Universidade de Verão do PSD que "os consensos entre os partidos estão quebrados", o que é fácil de verificar nos debates parlamentares ou nos remoques constantes, tantas vezes sobre questões de menor importância, deixando para trás a reflexão sobre os graves problemas do país e do mundo, dos quais parece nem quererem saber.
Falou, também, no que a promiscuidade foi ligando, “os negócios, a banca, as empresas, as multinacionais, as autarquias, o governo central, os partidos principais”, o que a abundância de meios permitiu, mas a crise financeira já não mais consente, inviabilizando as negociatas que, a todos, permitiam satisfazer.
Seria esta possibilidade de ganhar com os consensos que os tornaria possíveis, seriam os interesses satisfeitos pelas concessões que uns fariam aos outros o que que tornava a convivência mais tranquila. Enfim, seria o muito que se podia esbanjar, bastante para a todos satisfazer, o cimento que os ligava ou a “galinha dos ovos de ouros” da qual todos eram fervorosos guardadores.
Mas agora que a galinha está doente, os poucos ovos que ainda ponha tornaram-se no pomo da discórdia porque já não são partilhados, porque cada um pretende deitar a mão a quantos puder alcançar, sem dos outros querer saber.
No fundo, é este o espectáculo ridículo a que todos os dias assistimos, de políticos, empresários, trabalhadores, sindicalistas, professores, prémios Nobel e analistas a dizerem barbaridades sobre uma situação que tornam complexa quando , afinal, é muito simples.
No mundo finito em que vivemos, nada é, obviamente, inesgotável. Então, que futuro terá um modo de viver que assenta numa “economia” que pressupõe a disponibilidade permanente dos recursos necessários ao seu crescimento constante e exponencial?
O mundo ainda não está totalmente esgotado, mas quase. Está no ponto de escassez que gera desentendimentos e conflitos, mais do que a cooperação que seria necessária para a enfrentar.
É, precisamente, quando os maiores gigantes despertam para o consunismo, as famosas economias emergentes, que a carência de recursos se faz notar de um modo cada vez mais evidente, com poluição e produção de resíduos que elevam a degradação ambiental a níveis muito perigosos para a sobrevivência da própria Humanidade.
Geram-se turbilhões sociais em cada vez mais lugares do mundo, erguem os homens de bem a sua voz para pedir a contenção sem a qual nos perderemos, todos os dias vemos como ardem, em incêndios florestais, recursos que, outrora, bastavam para a sobrevivência de muita gente.
E muito mais poderia dizer para mostrar como a vida se alterou profundamente e se afastou dos caminhos naturais que não são, por certo, os da ganância que foi o motor do que, ao longo de mais de dois séculos, se chamou desenvolvimento mas não foi mais do que a delapidação que nos conduziu a este impasse em que já nem os consensos são possíveis!
Afinal, a “lição” de António Barreto fez-me recordar o que venho escrevendo há tantos anos, o que já li que outros escreveram muito tempo antes de mim.
Falou, António Barreto, verdades que, embora não dizendo nada de novo, são advertências sempre oportunas dos perigos graves que se aproximam. 
Mas duvido que seja, no final, a lição mais recordada, porque todos ainda continuam crentes de que a abundância voltará.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

UM MANJAR REGADO COM O SUOR DOS POBRES?



Mais uma vez oiço falar dos restaurante e bar da Assembleia da República.
Hoje este texto chamou a minha atenção: “Consta do Orçamento da AR para este ano (publicado em Diário da República) a rubrica: “Serviços de restaurante, refeitório e cafetaria – 960.850,00” (quase 1 milhão de euros). Prevendo-se a receita de 260 mil euros proveniente da venda de senhas de refeição. Isto é: tendo em conta o preço de custo, as receitas não ultrapassam os 30 por cento, o que equivale a uma venda abaixo de custo na ordem dos 70 por cento.”
E dou comigo a pensar como podem não sentir azia os representantes de um povo que tem tantos famintos, a viver de esmolas e a comer na “sopa dos pobres” depois de se deliciarem com estes petiscos a tão baixo preço. Mas logo penso que tal não pode ser verdade porque aqueles que o povo elegeu para seus representantes não podem ser tão indignos assim…
Não quererá a ilustre Presidente da AR esclarecer, de vez, se isto que se diz é ou não verdade?

A PROPÓSITO DOS COMBATES A INCÊNDIOS



A Natureza é o mais preciso dos bens, do qual somos uma pequena parte. Porquê maltratá-la ou destruí-la se, sem ela, não há vida?








Não me senti bem com as declarações do Primeiro-Ministro a propósito dos incêndios florestais e do que considerou ser adequada disponibilidade de meios para os combater.
Poderia ter dito Passos Coelho que estes incêndios brutais e excessivamente consumidores de vidas e bens merece uma análise especial para que do sucedido se tirem as lições que nos ajudarão a fazer melhor no futuro. Um mínimo de bom senso ditaria esta afirmação, porque não acredito que não seja possível fazer mais para tornar menos castigadora esta “época de incêndios” que se tornou parte integrante do calendário anual, como que um “ciclo” fatal que tem de acontecer.
Há iniciativas diversas indispensáveis de tomar e que só podem começar pela prevenção à qual se dá pouca atenção.
Custam os combates a incêndios florestais quatro vezes mais do que o que é gasto na sua prevenção! Qualquer juízo dirá que se trata de um absurdo, porque a esta diferença brutal há que juntar o incalculável valor do que nos incêndios se perde.
É uma análise que tem de ser feita por quem coloque as questões humanas e sociais acima das questões financeiras com que os governantes habitualmente mais se preocupam.
A realidade diz que todos quantos, até hoje, se ocuparam desta questão tão particularmente grave porque consome meios, destrói riqueza e ceifa vidas, falharam.
Há que iniciar uma nova era, adoptar outros procedimentos e fazer um novo planeamento para que, no futuro, os danos sejam bem menores.

ARTIMANHAS SOCIALISTAS

Como é evidente, não posso conhecer as intenções profundas das pessoas, nem quando o Governo insiste com o PS para cooperar nas decisões de médio e longo prazo para o futuro do país, nem quando o PS rejeita assim proceder.
Democraticamente, esta recusa é um direito que assiste aos socialistas, mesmo que para Portugal, para a defesa dos seus interesses e alcance de significativas melhores condições de financiamento seja uma atitude fortemente penalizante para o país, o que mostra como esta Democracia não ajustada à realidade do tempo que vivemos continua a ser um regime de vistas curtas e de soluções que não vão além do muito curto prazo, quando o futuro se prepara com a antecedência bastante que a crescente complexidade dos problemas exige.
É, pois, uma tanto difícil compreender agora por que o PS desafia o Governo a clarificar o que pretende fazer em 2014, afirmando ser este o momento certo para o fazer. De facto, podendo estar ao corrente do que esteja a ser feito, através da cooperação que nega, por que julgará o PS que deve antecipadamente saber o que está a ser preparado?
Creio que qualquer pessoa de bom senso preferiria a cooperação que tornaria mais credíveis as soluções aos olhos dos “mercados” que, deste modo, nos financiariam com menos incertezas e, por isso, em melhores condições.
É fácil, por isso, pensar que este pedido do PS nada terá a ver com uma real vontade de cooperar num Orçamento que, depois, também aprovaria, mas sim com uma antecipação de críticas que tornaria mais complicado à maioria de nós entender o que esteja mais ou menos certo.
Não tenho por interessada e patriótica a atitude dos socialistas. Antes penso que, uma vez mais, pretendem criar condições de confusão das quais crêem poder tirar dividendos que os ajudassem a recuperar a situação manifestamente privilegiada que tiveram e, por total incapacidade, perderam. Uma manifestação óbvia de incapacidade perante um governo eleitoralmente fragilizado pelas medidas impopulares que, o mais provavelmente, conduziriam a uma catástrofe nas eleições que se avizinham.
Em vez disso, deixam cada vez mais óbvia a ganância de poder ao qual já deram sobejas provas de não saber dar bom uso. Por isso estamos nesta situação difícil que vivemos.
Continuam os socialistas a apostar na estupidez dos que não são capazes de ver para além do imediato e na natural revolta dos que, pelas grandes dores que sofrem, desejam uma mudança, seja qual for, na esperança de uma melhoria qualquer que dela possa resultar.
E continuo sem saber, num país com finanças arrasadas pelo despesismo socialista e ainda dependente, para o seu financiamento corrente, de quem o ajuda, como o PS acabaria com a austeridade que, com este governo ou com outro qualquer, por sua maior culpa ainda vai durar muitos anos.
Mas como não sou estúpido, se o PS explicasse como o conseguiria fazer, decerto eu compreenderia!

terça-feira, 27 de agosto de 2013

CINQUENTA ANOS DEPOIS, AINDA HÁ LUGAR PARA O SONHO?


A 28 de Agosto de 1963, faz amanhã cinquenta anos, Martin Luther King Jr fez o seu célebre discurso “I have a dream”. Passou meio século desde esse dia em que este inesquecível apelo ao fim do racismo nos Estados Unidos aconteceu. Foi um apelo à paz entre brancos e negros, um apelo à fraternidade entre raças. Hoje seria, sem dúvida, um apelo ao fim de tantas guerras que destroem a Humanidade, à paz entre todos os seres da Humanidade.
Um sonho em parte cumprido na contenção de um racismo que, apesar disso, não deixou de existir porque é difícil acabar com preconceitos e com as mais diversas discriminações que continuam a ser causa de conflitos surdos ou explícitos que não acontecem apenas por causa da cor da pele, mas por muitas outras razões, sejam físicas ou morais. Acrescentados os interesses materiais dos quais ninguém abdica e exaltados os projectos de poder que se tornam cada vez mais radicais, a paz mundial é minada por centenas de focos de conflito entre os infelizes peões que os mais poderosos escolheram para se queimarem nos jogos de guerra que jogam em função dos seus interesses.
O Médio Oriente, a quase terra de ninguém que separa orientais de ocidentais, é o vulcão do qual jorra a lava ardente que todos os demais ali concentram, aproveitando as rivalidades profundas do mundo árabe para fomentar guerras que não há bom senso que justifique.
Em vez da unidade mundial que deveria constituir o travão de mais uma guerra desumana e sanguinária como a que destrói a Síria, acontece a divisão entre dois blocos, cada qual defendendo os seus interesses e nenhum preocupado com o infeliz povo sírio que bombas, balas e gases químicos dizimam nem com os montes de escombros em que o país se vai tornando.
É mais uma evidência do cinismo que as regras da ONU podem promover com os “vetos” interesseiros que se contrapõem ao bom senso, aos propósitos que seriam a sua razão de ser e aos objectivos de paz que deveria prosseguir.
Fará, então, algum sentido dizer, como Martin Luther King o faria, que temos o sonho de ver o mundo em paz?
Fará algum sentido dizer, como Martin Luther King o faria, que temos o sonho de ver o mundo em paz?