Já
Cristo dizia ser mais fácil ver um pequeno cisco no olho do vizinho do que um grande
argueiro no nosso. Quereria dizer, com certeza, que cada um vê o que mais lhe
convenha ver, consoante os seus interesses no momento ou na questão que aprecie.
A verdade, essa, será outra coisa que, muitas vezes por interesseiras razões, poucos
ou nenhuns conseguem ver.
Talvez
por isso a Justiça portuguesa dá esta triste imagem que transparece em decisões
completamente opostas quanto a candidaturas autárquicas, em consequência de uma
lei em que uma “preposição simples” parece fazer toda a diferença. Em
consequência e a menos uma decisão superior que harmonize estas já conhecidas,
em condições semelhantes haverá quem possa e não possa concorrer a um cargo
autárquico. Um modelo perfeito de Justiça, tal como aquele despacho que
considera a bebedeira um factor de productividade por ser um modo de esquecer
as agruras da vida que podem prejudicá-la. Francamente, não me parecem ser estas provas que atestem a
equidade dos julgamentos.
Mas
todos somos lestos a julgar, muitas vezes sem o cuidado que em tal acto
deveríamos colocar, não conseguindo calar os preconceitos e os interesses que possam
afectar os juízos que fazemos.
É,
por exemplo e também, o modo como se aprecia a informação de que a economia
portuguesa terá crescido 1,1% no segundo trimestre deste ano, mais do que a
alemã (0,7%) e a francesa (0,5%), assim como a de que o desemprego finalmente
teve um decréscimo significativo, superior a 1%.
Para
o Governo são bons sinais que provam ser a política seguida a que poderá
levar-nos mais longe e a proporcionar-nos, a prazo, um melhor nível de vida.
Para as oposições, a perspectiva é outra. É uma mentira este “crescimento” que
a comparação com o ano anterior mostra ser, afinal, uma recessão e, por isso,
um mau desempenho da governação.
Habituado
que fui, na minha preparação científica e profissional, a estar atento aos
múltiplos factores que é preciso considerar quando analiso algum problema e,
mesmo assim, tantas vezes erro, só posso lamentar que aqueles que tanto influem
nas minhas condições de vida, porque são os políticos que julgam, fazem e
desfazem em meu nome e no de outros que lhes consentem tamanhos devaneios como
se fossem os donos da verdade e de tudo o mais, apenas olhem para o que lhes
convém para que o resultado da sua argumentação pareça ser o que desejam.
Pobres
de nós se eles continuarem a tratar do que julgam ser os seus interesses e não
dos de todos os que sofrem com a ganância que um cada vez mais profundo desconhecimento
da realidade fortalece.
Tal
como Cícero, sinto um desejo enorme de perguntar até quando continuarão a abusar da
nossa paciência?
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