O
terrível acidente de Santiago fez vir ao de cima várias situações
de falta de cuidado da parte de quem controla os comboios,
nomeadamente os maquinistas. É uma forma do vulgar “casa roubada,
trancas na porta”.
Depois
de se saber que houve negligência no caso de Santiago de Compostela,
logo surgiram notícias e provas de atitudes reprováveis de
maquinistas na Argentina, país onde ocorrem frequentes acidentes
ferroviários. Diversos periódicos publicaram fotografias de
condutores de comboios que falam ao telefone, lêm e até adormecem
enquanto o comboio lá vai galgando quilómetros sem ninguém atento
ao que possa suceder e ao cumprimento das regras que, sem dúvida,
haverá para cumprir.
É
natural que, por isso, os acidentes aconteçam quando menos se
espera, com as consequências sempre trágicas que se sabe que sempre têm.
Os
maquinistas argentinos não gostaram da denúncia e, vai daí, entram
em greve por tempo indeterminado, porque se sentem humilhados pela
campanha que os faz parecer irresponsáveis!
E
mais uma vez a greve se constitui numa arma de arremesso disfarçada
de direito cívico, porque não vejo que seja este o modo certo de
lutar contra factos que a realidade prova e mostra serem responsáveis
por perdas graves de vidas e de bens.
O
sindicato daqueles profissionais deveria, em vez da greve, pedir
desculpas por alguns maus profissionais indignos de pertencerem à
classe e actuar no sentido de evitar que tais factos voltem a
acontecer, com a atitude digna e pedagógica que se espera de quem
seja responsável.
Sempre
me pareceu que as greves arbitrárias não passam de reminescências
toscas dos confrontos excessivos que, em outros tempos, as
circunstâncias justificariam.
Há
diversos tipos de greves, de prevenção, de retaliação, de
solidariedade, eu sei lá... quando não deveriam passar de uma
atitude extrema que o bom senso das partes sempre deveria tentar
evitar.
Hoje
as coisas deveriam passar-se de modo diferente e, tal como
acontece em vários princípios e procedimentos que vêm de há muito
tempo, as atitudes dos sindicatos e a prática de greves deveria ser
ajustada a novas realidades, a leis e a modos de julgamento que
evoluiram e, por isso, permitiriam novas formas de defesa dos
direitos dos trabalhadores. Talvez as novas formas de luta com que,
por vezes, se ameaça mas sempre acabam sendo a mesma.
Em
primeiro lugar a própria definição dos direitos cuja defesa
justifique a greve como medida final e, depois, o modo de os fazer
respeitar.
O
que me não parece que se coadune com a realidade actual é o direito
de fazer greve quando e pelas razões que os trabalhadores
entenderem, nestes tempos que, insisto, são dos mais difíceis e
determinantes para o futuro da Humanidade que se confronta com riscos
muito sérios, tal como muitas outras espécies que, consigo, habitam
a Terra.
Se
tanto se fala da necessidade, para a economia, de estabilidade e de
previsibilidade que permita aos investidores tomar decisões conforme
regras e condições que não lhes tragam surpresas desagradáveis e,
com elas, excessivos riscos para os seus investimentos, por que razão
a lei da greve se não ajusta às novas necessidades também?
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