António
Barreto, o conhecido sociólogo que foi Ministro da Agricultura e
Pescas no primeiro governo de Mário Soares, afirmou, na Universidade
de Verão do PSD que "os consensos entre os partidos estão quebrados",
o que é fácil de verificar nos debates parlamentares ou nos
remoques constantes, tantas vezes sobre questões de menor
importância, deixando para trás a reflexão sobre os graves
problemas do país e do mundo, dos quais parece nem quererem saber.
Falou, também, no que a
promiscuidade foi ligando, “os negócios, a banca, as empresas, as
multinacionais, as autarquias, o governo central, os partidos
principais”, o que a abundância de meios permitiu, mas a crise
financeira já não mais consente, inviabilizando as negociatas que,
a todos, permitiam satisfazer.
Seria
esta possibilidade de ganhar com os consensos que os tornaria
possíveis, seriam os interesses satisfeitos pelas concessões que
uns fariam aos outros o que que tornava a convivência mais
tranquila. Enfim, seria o muito que se podia esbanjar, bastante para
a todos satisfazer, o cimento que os ligava ou a “galinha dos ovos
de ouros” da qual todos eram fervorosos guardadores.
Mas
agora que a galinha está doente, os poucos ovos que ainda ponha
tornaram-se no pomo da discórdia porque já não são partilhados,
porque cada um pretende deitar a mão a quantos puder alcançar, sem dos outros querer saber.
No
fundo, é este o espectáculo ridículo a que todos os dias
assistimos, de políticos, empresários, trabalhadores,
sindicalistas, professores, prémios Nobel e analistas a dizerem
barbaridades sobre uma situação que tornam complexa quando ,
afinal, é muito simples.
No
mundo finito em que vivemos, nada é, obviamente, inesgotável.
Então, que futuro terá um modo de viver que assenta numa “economia”
que pressupõe a disponibilidade permanente dos recursos necessários
ao seu crescimento constante e exponencial?
O
mundo ainda não está totalmente esgotado, mas quase. Está no ponto
de escassez que gera desentendimentos e conflitos, mais do que a
cooperação que seria necessária para a enfrentar.
É,
precisamente, quando os maiores gigantes despertam para o consunismo,
as famosas economias emergentes, que a carência de recursos se faz
notar de um modo cada vez mais evidente, com poluição e produção
de resíduos que elevam a degradação ambiental a níveis muito
perigosos para a sobrevivência da própria Humanidade.
Geram-se
turbilhões sociais em cada vez mais lugares do mundo, erguem os
homens de bem a sua voz para pedir a contenção sem a qual nos
perderemos, todos os dias vemos como ardem, em incêndios florestais,
recursos que, outrora, bastavam para a sobrevivência de muita gente.
E
muito mais poderia dizer para mostrar como a vida se alterou
profundamente e se afastou dos caminhos naturais que não são, por
certo, os da ganância que foi o motor do que, ao longo de mais de
dois séculos, se chamou desenvolvimento mas não foi mais do que a
delapidação que nos conduziu a este impasse em que já nem os
consensos são possíveis!
Afinal,
a “lição” de António Barreto fez-me recordar o que venho
escrevendo há tantos anos, o que já li que outros escreveram muito tempo antes de mim.
Falou, António Barreto,
verdades que, embora não dizendo nada de novo, são advertências sempre oportunas dos perigos graves que se aproximam.
Mas duvido que seja, no final, a lição mais recordada, porque todos ainda continuam crentes de que a abundância voltará.
Mas duvido que seja, no final, a lição mais recordada, porque todos ainda continuam crentes de que a abundância voltará.
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