ACORDO ORTOGRÁFICO

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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A LIÇÃO DE BARRETO: CASA ONDE NÃO HÁ PÃO...

António Barreto, o conhecido sociólogo que foi Ministro da Agricultura e Pescas no primeiro governo de Mário Soares, afirmou, na Universidade de Verão do PSD que "os consensos entre os partidos estão quebrados", o que é fácil de verificar nos debates parlamentares ou nos remoques constantes, tantas vezes sobre questões de menor importância, deixando para trás a reflexão sobre os graves problemas do país e do mundo, dos quais parece nem quererem saber.
Falou, também, no que a promiscuidade foi ligando, “os negócios, a banca, as empresas, as multinacionais, as autarquias, o governo central, os partidos principais”, o que a abundância de meios permitiu, mas a crise financeira já não mais consente, inviabilizando as negociatas que, a todos, permitiam satisfazer.
Seria esta possibilidade de ganhar com os consensos que os tornaria possíveis, seriam os interesses satisfeitos pelas concessões que uns fariam aos outros o que que tornava a convivência mais tranquila. Enfim, seria o muito que se podia esbanjar, bastante para a todos satisfazer, o cimento que os ligava ou a “galinha dos ovos de ouros” da qual todos eram fervorosos guardadores.
Mas agora que a galinha está doente, os poucos ovos que ainda ponha tornaram-se no pomo da discórdia porque já não são partilhados, porque cada um pretende deitar a mão a quantos puder alcançar, sem dos outros querer saber.
No fundo, é este o espectáculo ridículo a que todos os dias assistimos, de políticos, empresários, trabalhadores, sindicalistas, professores, prémios Nobel e analistas a dizerem barbaridades sobre uma situação que tornam complexa quando , afinal, é muito simples.
No mundo finito em que vivemos, nada é, obviamente, inesgotável. Então, que futuro terá um modo de viver que assenta numa “economia” que pressupõe a disponibilidade permanente dos recursos necessários ao seu crescimento constante e exponencial?
O mundo ainda não está totalmente esgotado, mas quase. Está no ponto de escassez que gera desentendimentos e conflitos, mais do que a cooperação que seria necessária para a enfrentar.
É, precisamente, quando os maiores gigantes despertam para o consunismo, as famosas economias emergentes, que a carência de recursos se faz notar de um modo cada vez mais evidente, com poluição e produção de resíduos que elevam a degradação ambiental a níveis muito perigosos para a sobrevivência da própria Humanidade.
Geram-se turbilhões sociais em cada vez mais lugares do mundo, erguem os homens de bem a sua voz para pedir a contenção sem a qual nos perderemos, todos os dias vemos como ardem, em incêndios florestais, recursos que, outrora, bastavam para a sobrevivência de muita gente.
E muito mais poderia dizer para mostrar como a vida se alterou profundamente e se afastou dos caminhos naturais que não são, por certo, os da ganância que foi o motor do que, ao longo de mais de dois séculos, se chamou desenvolvimento mas não foi mais do que a delapidação que nos conduziu a este impasse em que já nem os consensos são possíveis!
Afinal, a “lição” de António Barreto fez-me recordar o que venho escrevendo há tantos anos, o que já li que outros escreveram muito tempo antes de mim.
Falou, António Barreto, verdades que, embora não dizendo nada de novo, são advertências sempre oportunas dos perigos graves que se aproximam. 
Mas duvido que seja, no final, a lição mais recordada, porque todos ainda continuam crentes de que a abundância voltará.

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