ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

domingo, 31 de outubro de 2010

AS MORDOMIAS QUE PAGAMOS A QUEM AS NÃO MERECE

O semanário o Sol publica um artigo com o título “7,5 milhões de euros para salários de 46 gestores” onde se fala de vencimentos milionários e de magnânimas “ajudas” ao arrendamento e ao aluguer de carros, entre outras coisas nada conformes com a situação económico-financeira do país.
O artigo diz que “Só no ano passado, os gastos (salários e despesas) com 46 administradores de nove companhias tuteladas pelo Estado - ANA, STCP, EP, CTT, REFER, CP, ML, CARRIS E TAP - ascenderam aos 7,46 milhões de euros, ou seja, uma média de 162,2 mil euros mensais por gestor, segundo cálculos do SOL baseados nas contas anuais das empresas. Contas feiras, os gestores receberam seis vezes mais do que os trabalhadores das suas empresas, que auferiram 28 mil euros anuais”.
Maus adiante pode ler-se: “A aparente fartura do dia-a-dia destes gestores contrasta com a situação das suas empresas. Nos últimos quatro anos, o passivo destas nove companhias mais do que duplicou, de 13,3 mil milhões de euros em 2006 para 31,1 mil milhões de euros no final de 2009”.
Por isso eu volto a não entender em nome de qual saber ou competência especial esta gente recebe tão imorais remunerações!
Há, pois, muito para fazer para tornar Portugal um país competitivo sem haver necessidade de ser, como é hábito, à custa das pessoas que labutam para ganhar honradamente a sua vida.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

OS CUSTO DA CULTURA… E OS ESGOTOS DE LISBOA

1. Quem poderia imaginar que a cultura fosse tão cara?
A direcção da Fundação Guimarães Capital da Cultura 2012 custa a módica quantia de 600.000 euros por mês em salários, sendo 16.000 para a directora, perfazendo 8 milhões ao longo do mandato!
O governo e o seu ministro das finanças têm considerado “trocos” o que se pouparia com cortes nestes tipos de despesas. Porém, pela amostra acima e considerando os milhares de fundações e outras instituições supérfluas que proporcionam “jobs for the boys”, não parece que sejam “trocos” daqueles que se encontram no fundo do bolso. Seria, por certo, uma verba enorme a que se pouparia acabando com todas as entidades sem préstimo e com estas remunerações imorais. E não seria por uma vez. Seria ano após ano.
Quando o salário médio no país não vai além de cerca de 750 euros mensais e mais de dez por cento da população activa não tem emprego, em nome de qual saber ou competência se justificam os salários que, através desta fundação e de tantas outras entidades inúteis ou de utilidade duvidosa, o Estado paga a tanta gente?

2. Há dias recebi, da Câmara Municipal de Lisboa, uma factura devida pela conservação dos esgotos. E paguei, claro está, porque os esgotos são importantes para a vida e para a segurança na cidade.
Sei do descuido que há nas limpezas que são necessárias após os períodos de estiagem. Mas, mesmo assim, foi com alguma surpresa que vi a situação criada pelas fortes chuvas de hoje na Baixa de Lisboa onde as inundações atingiram áreas onde não era habitual que tal sucedesse.
O efeito das marés não se faz ali sentir e, por isso, apenas as consequências da falta de limpeza em sarjetas e outros equipamentos de drenagem podem justificar o que se passou.
Afinal paguei o quê?

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

E AGORA?

Não sou oráculo nem posso concorrer com os muitos “inteligentes” que por aí andam a prognosticar, na maioria das vezes o que nunca sucede…
Começa por me parecer estranho que, quando um pequeno valor separava os dois negociadores – dizem que na ordem de duzentos milhões de euros – o PS rompa as negociações de um modo inflexível e intransigente como disse Teixeira dos Santos.
E agora?
Teixeira dos Santos esforçou-se por justificar o injustificável, adoptando um tom jocoso e agressivo que não costumava ser seu timbre, enquanto apontava e repisava razões que não convencem ninguém. Foi deprimente!
Por sua vez, Passos Coelho não dirá muito mais até decidir que, por isto e aquilo – ele saberá o que e como dizer – vai abster-se porque se votar contra criará um problema em cuja resolução não tem modo de intervir pelo que, chumbar o OE seria agravar as circunstâncias que já estão tão más.
O seu compromisso para com o povo português, ao qual não pode pedir, de novo, desculpas por concordar com mais um PEC que o empobrece, será o de que, logo que os preceitos constitucionais o consintam, lhe proporá assumir a responsabilidade de reconduzir o país a uma rota de tranquilidade social e económica. Assim ele seja capaz.
Esperemos que seja!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O GOVERNO É INCOMPETENTE? PAGA O ZÉ POVINHO!

As coisas já não são o que eram. É o que se diz. E não são mesmo porque, entre outras, a intransigência e a inflexibilidade nunca foram as atitudes mais adequadas a uma negociação! Negociar é, ou costumava ser, procurar aproximações de interesses ou de pontos de vista, denominadores comuns, o que nunca se conseguirá sem transigências e sem flexibilidade.
Sendo assim, apenas posso concluir que o PS aceitou negociar para tentar envolver o PSD na tragédia que serão as consequências de um OE como o que o governo socialista apresentou e quer impor.
Mesmo assim e no princípio de que “do mal o menos”, foi pena que as negociações não tenham resultado por intransigência e inflexibilidade de um governo responsável pela situação que ditou as exigências dos “mercados” que, em consequência, terá de satisfazer.
Mas a verdade é que não se pode, por malabarismos cínicos, transformar um governo minoritário num governo omnipotente que não aceita alterar o que decide.
O pior é que, todos já o sentimos em ocasiões passadas, as medidas orçamentais não serão suficientes e, até mesmo, serão penhor de uma recessão que as tornarão cada vez mais necessárias e penosas, quem sabe se num efeito insuportável de “bola de neve”.
Que o orçamento se destina a satisfazer os mercados, já todos percebemos, mas daí a afirmar que é o único orçamento que o pode fazer vai uma enorme distância. Aos mercados não interessa de onde venha o dinheiro para equilibrar as contas que o governo deixou, escandalosamente, derrapar, se dos trabalhadores e contribuintes se das clientelas políticas de que os “boys” e os “lobbies” socialistas” são a face mais visível!
A escolha do governo foi simples: paga o Zé Povinho!
Por fim a ridícula afirmação de que é indispensável a aprovação, tal como está apresentado, do OE que a incompetência de um governo tornou necessário sob pena de grave crise política e financeira, só pode significar que a continuidade do governo só será perniciosa para Portugal.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A JUSTIÇA QUE TEMOS

Para além da redundância que é dizer que a Justiça portuguesa é lenta, o Conselho da Europa também diz que, em relação à média europeia, Portugal tem um número excessivo de juízes que, ainda por cima, auferem vencimentos excessivos, quatro vezes a média nacional. Parece um contra-senso mas é o que temos. E não seria necessário o Conselho da Europa dizê-lo pois de tudo isto nós já sabíamos.
Por tudo isto é natural, pois, que a Justiça em Portugal seja cara, fora do alcance de muitos que a ela necessitariam de recorrer para defender interesses e direitos que são muito seus e alguém não respeitou. Por vezes o próprio Estado!
E quando tanto se fala do Estado Social, da saúde e do ensino gratuitos, teremos de falar da Justiça cara à qual, por ser assim, apenas poucos podem ter acesso. Em consequência, eu pergunto que Estado Social é este que não contempla a Justiça como um direito de todos e que, por isso e tal como os outros, deveria ser “tendencialmente gratuito”!
Mas descendo à Terra, a este mundo em que vivemos, a esta crise sem fim que, por incompetência de quem governa, obriga a sacrifícios cada vez maiores, a pergunta certa talvez seja: quando reconheceremos que não é a fazer vida de rico que poderemos garantir uma vida sem as carências generalizadas que fazem com que “meio mundo” quase não disponha de meios para viver condignamente?

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

DEIXAR MORRER OU REESTRUTURAR?

Que, sem dúvida, teremos de cortar em algumas despesas sociais porque o país não tem dinheiro, foi o que, em suma, registei da última intervenção que ouvi do ministro das finanças.
Obviamente, sem dinheiro que o suporte, o Estado Social está condenado ao fracasso, por mais méritos que lhe sejam reconhecidos.
Há muito tempo, que se conta por dezenas de anos, já o “Estado Social” era causa de preocupações, entre as quais a da sua sustentabilidade a prazo. Num artigo de opinião que então li, dizia o autor que o problema deveria começar a ser debatido e resolvido enquanto não surgissem problemas sérios para evitar que, mais tarde, nos confrontássemos com alguns impossíveis de resolver.
Não era um político que manifestava tais preocupações. Aliás, jamais me dei conta de algum político que, em matéria de previsões, conseguisse ver muito além do seu nariz! Pelo contrário, era um desses estudiosos preocupados a quem os políticos nunca prestam atenção e chamam visionários.
Não tenho dúvidas de que o ministro das finanças falava muito a sério ao dizer o que disse, ainda que, com isso, esquecesse as críticas que o governo a que pertence fez ao PSD, acusando-o de querer, com a sua proposta de revisão constitucional, “destruir o Estado Social”.
É aqui que se me coloca a questão: deixar morrer ou reestruturar antes que tal suceda?
Estou de acordo com os que consideram o OE apresentado pelo governo como uma manta de retalhos, muito longe de ser um plano de futuro como deveria ser, com objectivos definidos em função dos efeitos das medidas tomadas, tal como estou de acordo com os que consideram definitivamente urgente saber quais as razões que ditaram o estado das finanças públicas que exige tão drásticas e descuidadas medidas.
É hora de exigir responsabilidades a quem as tenha, porque este é um caso perante o qual qualquer “freeport” ou “face oculta” não passa de um caso menor.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

ERRADICAR A POBREZA: COMO PRETENDEM A UNIÃO EUROPEIA E A ONU FAZE-LO?

Neste Ano Europeu da Luta contra a Pobreza e Exclusão Social cumpriu-se, em 17 de Outubro, o Dia Internacional para Erradicação da Pobreza.
É pena que em problemas tão humanos, de tamanha importância e de todos os momentos, se dedique um dia ou um ano que seja para pensar neles, assim a modos de uma desobriga.
A pobreza é algo de terrível de que a Humanidade se devia envergonhar pelas estatísticas de horrores que lhe estão associadas.
Em todo o mundo a pobreza é uma realidade que, em algumas regiões do Globo, é a situação mais comum.
Aqui ficam alguns números relativos às pobreza num mundo habitado por cerca de 7.000 milhões de pessoas:
• 24.000 pessoas morrem de fome a cada dia que passa;
• Mais de 1.000 milhões de pessoas vivem na pobreza extrema, das quais a maioria são mulheres;
• Mais de 1.800 milhões de seres humanos não têm acesso a água potável;
• Mais de 1.000 milhões de pessoas não têm casa minimamente digna;
• Quase 1.000 milhões de pessoas estão mal nutridas, das quais 200 milhões são crianças com menos de 5 anos de idade;
• 2.000 milhões de pessoas sofrem de anemia por carência de ferro;
• Quase 1.000 milhões de pessoas não têm acesso a serviços básicos de saúde;
• 2.000 milhões de pessoas não têm acesso a medicamentos essenciais.
Mais desgraças se poderiam acrescentar a este rol já tão negro.
São louváveis os esforços de quantos a este problema se dediquem para o tentar minorar, mas não podem restar dúvidas de que todos os indicadores vão no sentido de, globalmente, se tornar cada vez maior.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A NOVA REVOLUÇÃO FRANCESA

De França chegou-me a crítica de que Portugal “nem uma revolução de jeito soube fazer”, talvez por ter sido uma revolução sem a violência que as revoluções costumam ter. A verdade é que, mesmo assim, sem tiros, sem matar ninguém, o objectivo da revolução foi alcançado.
Não vejo que o mesmo resultado positivo possa ser alcançado em França, um país “civilizado” onde a falta de civismo anda na rua em manifestações e actos de selvajaria que, estou seguro, não têm qualquer razão de ser.
Não querem os franceses que a idade da reforma passe dos 60 para os 62 anos e, porque o governo Sarkosi baseado na realidade e na sua mais do que provável evolução a curto prazo o julgou necessário, cometem desacatos que nada têm de democráticos. De facto, que culpa terão os proprietários dos veículos que incendeiam, os donos das lojas que destroem, enfim, todos aqueles que gostariam de viver tranquilos e assim não podem viver?
Definitivamente, a liberdade, a igualdade e a fraternidade tornaram-se conceitos esquisitos por aquelas bandas.
A realidade demográfica a curto prazo mostrará aos franceses que a reforma aos 62 anos não bastará porque mais tempo de trabalho se tornará necessário para equilibrar as receitas com os custos do pagamento das pensões de uma cada vez maior população de reformados cuja esperança de vida claramente se dilatou.
O mais curioso destas atitudes, social e democraticamente reprováveis, num país que, tantas vezes, se afirmou por um avanço cultural notável, é que serão os que agora manifestam selvaticamente o seu desacordo aqueles que mais virão a sofrer com a ruptura financeira que o não prolongamento do tempo de trabalho activo e correspondentes contribuições inevitavelmente provocará.
Depois do célebre Maio 68 que nunca alguém, a não ser de modo “intelectual” confuso, explicou, a França parece ter ganho o gosto por estes surtos de violência e de instabilidade social que, certamente, a não beneficiará.
É de louvar a Senhora Ministra da Saúde por uma palestra que, há poucos dias, lhe ouvi e na qual, muito claramente, demonstrou a necessidade desta forma de solidariedade que consiste em prolongar o tempo de actividade um pouco mais para que os que já menos podem trabalhar tenham como viver condignamente.

sábado, 16 de outubro de 2010

OS "PEC" E O CAVALO DO ESCOCÊS

Os sucessivos "PEC" de que o Orçamento do Estado, ontem ou hoje apresentado, é apenas mais um e, por certo, não o último, fez saltar, da minha arca das recordações, uma das muitas anedotas que o meu pai me contou.
Utilizava-as, a propósito, para ilustrar ideias que desejava que ficassem bem marcadas.
Um dia, quando me falava das más consequências que os excessos sempre trazem, foi esta a que me contou:
Um escocês, daqueles que fazem jus à fama de “poupadinho” que este povo tem, comprou um cavalo. Mas depressa se deu conta de que alimentá-lo não era assim tão barato…
Começou a cortar na ração do animal com a intenção de o habituar a não comer, até que quase não se alimentava.
Pouco tempo depois, o bicho finou-se...
Surpreendido e desolado, o escocês exclamou – Azar! Agora que quase estava habituado é que morreu!

PS: Depois, encontrei na net uma fotografia de um frango depenado a que chamaram "contribuinte 2013 - depenado mas de cabeça erguida". Será que vai durar muito tempo?

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

QUEM SE CURA… NÃO SE REGALA, NEM TEM BOM FUTURO QUEM VIVE DE EXPEDIENTE

Muitas vezes ouvi este dito quando era rapazinho com a rebeldia própria da pouca idade e avesso às xaropadas que, quando adoentado, me impingiam.
Penso que ele se pode aplicar, também, à doença grave de que sofre este país que, em vez de mezinhas, necessita de tratamento profundo.
Mezinhas e nada mais é o que me parece que são as medidas avulsas de vez em quando tomadas ainda que, mesmo assim, muito penalizadoras. Não são, de todo, o tratamento de que Portugal carece para, em vez de passar a vida a penar, se cure de vez, dimensionando a sua economia e o seu modo de vida às suas reais capacidades.
Não pode fazer vida de rico quem o não é porque, muito rapidamente, sofrerá as consequências. Um país a correr riscos de bancarrota teve e pretende continuar a ter “luxos” a que países mais ricos se não permitiram nem permitem. Entre outras e sobretudo, a gestão das Obras Públicas tem sido uma verdadeira aberração e a culpada da maioria desses “luxos” dos quais uma minoria é o verdadeiro beneficiário.

Também me lembro quando, acabadinho de chegar a Lisboa há quase sessenta anos, descobri um modo de vida que, por completo, desconhecia: “viver de expediente”, coisa que, lá para as Beiras de onde vim, ninguém então fazia ideia do que fosse!
Pois, bem vistas as coisas, é de expedientes que vivemos neste país que, em vez de se organizar, trabalhar e zelar pelos seus interesses, vai “esfolando” os seus cidadãos para preencher os buracos que o governo, com a mania das grandezas e apesar de avisado, foi cavando ao longo dos últimos anos.
Não é esta, por certo, a altura mais conveniente para tomar a medida certa que seria romper com um modelo de gestão desastroso, porque apenas dentro de quase meio ano poderá haver eleições legislativas. Mas é necessário que tal atitude seja, muito rapidamente, tomada.
Aproveitar as circunstâncias para tentar colocar o ónus do dever patriótico na Oposição que acusa de graves danos por não se ter decidido a aprovar o Orçamento de Estado que o governo ainda não tinha apresentado não é manobra que se desconheça. Mas é preocupante que dela se não aperceba, definitiva e completamente, um país que tem andado adormecido.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O TRIPLO BURACO

No facebook deparei-me com uma questão que, embora jocosa, me deu que pensar. Alguém perguntava: se foi de quase três meses o tempo para retirar 33 pessoas de um buraco, quanto mais será necessário para retirar 10 milhões?
Este problema que uma regra de três simples resolveria, não é, porém, tão simples assim porque o tamanho conta e os mineiros chilenos estavam, apenas, a pouco mais de 600 metros de profundidade, abaixo da qual não podiam cair mais.
Connosco, a questão é mais complexa.
Não sei a qual dos três buracos nacionais o autor da questão se quis referir. Mas admitamos que foi àquele que mais preocupa os agiotas, a dívida externa.
Portugal tinha, em 2004, uma dívida externa da ordem de 60% do PIB, valor considerado razoável e, até, inferior ao da maioria dos países.
Desde que o governo Sócrates tomou conta deste país ao qual fez crer que era rico, Portugal endividou-se até um valor superior ao PIB, se considerarmos apenas valores líquidos porque com juros... nem quero fazer a conta. Isto significa que, apesar do acréscimo do PIB (uns 14%), a dívida externa aumentou cerca de 80%!
Tendo em conta que as medidas de austeridade que o OE nos vai impor se destinam a colmatar outro buraco, o do défice das contas públicas, que os juros externos estão a cerca do dobro daqueles antes praticados e que das ditas medidas de austeridade advirá uma recessão, a dívida externa aumentará com certeza.
Não é possível solver tamanha dívida sem uma negociação que a reescalone em moldes razoáveis, sem necessidade das condições de empobrecimento geral que as medidas de austeridade implicam. Para isso seria necessária a solidariedade da UE que, de todo, não existe. Outros poderes mais altos se levantam!
Por isso, não estranho as pressões patéticas dos banqueiros nem de Durão Barroso para que o OE seja viabilizado, porque uns e o outro defendem interesses bem conhecidos. Já estranho, porém, a posição de certos “economistas” que não conseguem descortinar outra saída que não seja a do buraco global em que, definitivamente, nos enterraremos.
São, pois, três os buracos em que caímos por obra e graça de um socialismo esquisito que, depois, diz defender o Estado Social! Só não diz quem vai pagá-lo.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

APROVAR OU NÃO O ORÇAMENTO?

Não é fácil ordenar as ideias quando se ouvem coisas tão díspares como as que dizem “políticos” e “pensadores” que por aí andam a encher colunas de jornais e telas de televisão.
Até alguns que já não se movem pela ribalta se colocam em bicos de pés para dizer coisas que, por vezes, perecem rematados disparates!
Por sua vez, a Assembleia da República perde a noção do respeito que deve ao povo português, não evitando discursos que agridem a sua inteligência, desperdiçando o tempo que se destinaria a pensar seriamente e a participar na solução dos problemas de Portugal.
Ultrapassando a verborreia dos “partidos de cassete” incapazes de mais do que bem conhecidos juízos de valor repetidos à exaustão, para uns, a reprovação do Orçamento do Estado (OE) que o governo impõe sem discussão, será uma tragédia; quem não o aprovar cometerá, por isso, um crime de lesa-Pátria. Outros, porém, pensam que é chegada a hora de não perder mais tempo para começar a reconstruir o país, redimensionando-o à medida das suas reais capacidades e em função dos seus interesses.
Duas questões aqui se colocam. Será uma tragédia se o OE não for aprovado? E se tal acontecer, quem será o criminoso?
À primeira nunca será possível responder de modo a não merecer contestação, porque não se poderá fazer a prova. Siga-se o caminho que se seguir, não haverá como voltar atrás para testar o outro.
À segunda será a democracia que responde, mostrando se é ou não uma prática democrática não aceitar a crítica e rejeitar a negociação, mesmo quando se finge que se deseja.
Tem um governo minoritário direito a que seja aprovado o seu OE ou será sua obrigação negociá-lo para o tornar consensual?
Em conclusão, quando Portugal mais precisa de toda a sua energia, força e inteligência para corrigir os efeitos de disparates repetidos ao longo de demasiado tempo a seguir um caminho que não é o seu, cada um pensa nos seus interesses, no modo de não perder o poder que domina ou de alcançar o que não tem.
O pior de tudo é que os portugueses parecem ter esquecido o “gesto curto mas eloquente que Bordalo imortalizou no barro” e deixam que brincadeiras perigosas perdurem tempo demais.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O INCONTORNÁVEL DÉFICE…

Confesso que nunca me dei bem com estas coisas do “quem recebe deve, quem entrega tem a haver”, quero eu dizer com a “contabilidade” simples que outrora se usava para saber como iam as finanças. Ora, se mal me dei com a simplicidade de contas ao alcance de qualquer comum mortal, como iria eu entender-me com a complexidade da moderna “engenharia financeira” que mais me parece magia do que realidade? Engenheiro fui eu que teve de resolver alguns problemas bem bicudos, mas nunca as soluções que adoptei tiveram nada de mágico.
Então, estes problemas do défice e da dívida externa que, à primeira vista, tão simples me pareciam, deixam-me perplexo pois não o serão de todo porque, afinal, não só ninguém parece saber como resolvê-los, como não encontro, entre os que dizem saber, consenso sobre como fazê-lo.
Mas, perante problemas tão sérios, creio ser natural a perplexidade de quem toda a vida teve de lidar com “leis” que deram muito trabalho a descobrir e, por isso, se não sente à vontade para entender aquelas que ninguém descobre!
Vivo há já dezenas de anos na esperança de poder alargar o cinto, pelo menos para o “furo” que usava quando a vida era menos complicada, quando se era mais feliz sem o consumismo desalmado que o crescimento económico impõe.
Agora vivo no temor de um cinto sem espaço para mais furos porque não compreendo como iremos sair do imbróglio que criámos.
Diz o FMI que teremos de suportar as exigências drásticas da austeridade ainda que, por efeitos dela, tenhamos certa uma recessão!
Diz o Banco de Portugal que uma medida excepcional, a de transferir o “fundo de pensões” da PT para o Estado, no valor de 2,6 (dois vírgula seis e não dois ponto seis) milhões de euros pode não ser bastante para que se atinja o objectivo do défice marcado para o final deste ano!
Diz o Primeiro Ministro que apenas recorreu a essa medida extraordinária porque, com surpresa, terá de pagar um submarino que custa cerca de 500 milhões! Ou dois que sejam…
Não conseguiu o Primeiro Ministro explicar porque sempre que disse que não iria subir os impostos acabou por subi-los nem, apesar de dizer que, desta vez, as contas foram feitas de uma forma mais conservadora foi capaz de garantir não haver nova subida porque “sempre fará o que for o melhor para o país”.
O melhor para o país! Ora deixa-me pensar… Se para reduzir o défice são indispensáveis medidas de austeridade que vão provocar recessão, que reduzem o poder de compra que vai fazer decrescer a produção que vai provocar mais desemprego que vai aumentar as prestações sociais que vão engordar o défice…
Bem, desisto!Não acredito que não possa haver outro caminho senão um bêco sem saída.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

VOTA NO TIRIRICA!

Nem imaginava que as eleições brasileiras fossem assim tão bem dispostas.
Achei, a um tempo, estranhos e bizarros os personagens e mais estranha ainda a forma como se apresentam aos eleitores.
Com tantos números, só com “cábulas” alguém consegue entender-se no meio daqueles milhares de concorrente estranhos e numerados.
Ri ao escutar um após outro mas confesso que o que mais me chamou a atenção foi o Tiririca cujo número era uma capicua perfeita, o 2222.
Um personagem fantástico que retrata bem o que a maioria dos políticos, mais ou menos, hoje em dia me parece.
Reconhecendo que nem tinha ideia do que faz um deputado “federau” em Brasília, o candidato mascarado de palhaço solicitava o voto com um ar bem sério, num “pregão” que não vou esquecer tão cedo: “vota no Tiririca! Se está mau, pió num ficaaaaa….”
Ora é isso mesmo que me fez sentir pena de não ter podido votar naquelas eleições, pois o Tiririca seria o meu preferido! Só a garantia de não ficar pior já me proporcionava algum conforto nesta minha terra onde o mal nunca é bastante e o pior está sempre para vir, sobretudo depois de Sócrates anunciar que tudo vai bem, que fomos quem mais cresceu na Europa, que o desemprego decresceu, que o TGV nos colocará na modernidade, que não vão aumentar os impostos…
Valha-me Deus, o Homem parece o serviço mentirológico dos anos 40!
E já que vai haver eleições, não haverá por aí quem possa dar as mesmas garantias que fizeram o Tiririca ser o candidato mais votado em todos os Estados do Brasil?

domingo, 3 de outubro de 2010

DIA INTERNACIONAL DO IDOSO

O passado dia 1 de Outubro foi dedicado ao idoso mas, a menos a habitual falta de consideração e de respeito que os mais novos cada vez mais revelam pelos mais velhos, nada me pareceu fora do habitual nem me dei conta de qualquer reflexão adequada ao evento.
A comunicação social, como de costume, quase reduz a questão da terceira idade à velhice desvalida, com realce para a solidão e para o abandono, e pouco mais. Este é um problema sério para o qual a sociedade terá de encontrar solução rapidamente. Mas o cada vez mais elevado número de idosos a par do decréscimo de nascimentos, o que vai transformando a “pirâmide” etária numa “árvore” com caule cada vez mais alto e mais fino, coloca problemas determinantes para o modo de viver em sociedade.
Em Portugal o número de idosos é já superior ao de crianças, sendo previsível que mais para meio do século a relação seja já de três a quatro para um, com tendência para aumentar rapidamente.
Nos últimos anos a população decresceu fortemente abaixo dos vinte e cinco anos, enquanto cresceu significativamente acima dos sessenta.
Este não é um fenómeno apenas português porque por toda a Europa a situação é semelhante, o que vai transformando o “Velho Continente” num Continente cada vez mais velho.
Governar sem levar em consideração esta “dinâmica etária” corresponderá a não fazer as previsões correctas e, consequentemente, a não preparar o país (e a Europa) para uma situação a que corresponderão problemas bem diferentes dos que agora se colocam, nomeadamente no domínio da solidariedade social.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

OS “TROCOS” E A INSÓNIA DE TEIXEIRA DOS SANTOS

Às críticas que ouviu pelos cortes que fez na despesa, sobretudo às que fizeram notar a ausência de outros que corresponderiam a casos de maus contratos e parcerias, organismos excessivos, controlo de desperdícios, etc, Teixeira dos Santos respondeu tratar-se de “trocos” pois, para a resolução dos problemas que temos, não bastam centenas de milhões porque serão necessários milhares de milhões de euros.
Parece, numa apreciação rápida, que poderá ter razão. Mas, reflectindo melhor, verificaremos que foi o desperdício de várias dezenas ou centenas de milhões durante anos e anos que deram lugar à necessidade dos milhares de milhões que o Ministro das Finanças vai buscar aos salários de trabalhadores da função pública, ao cancelamento de benefícios fiscais e à arrecadação de mais impostos, deste modo reduzindo, consideravelmente, o nível de vida de que depende a dinâmica económica.
Não sou partidário desta economia baseada no consumismo que não pode crescer indefinidamente mas já atingiu níveis incompatíveis com uma boa gestão dos recursos naturais e, cada vez mais, afecta os equilíbrios ambientais necessários à vida. Apesar disso, não creio que seja possível ou desejável corrigir abruptamente este sistema de economia em permanente crise porque, por essa via, será uma catástrofe e não uma correcção o que se alcançará.
O Ministro das Finanças já deu provas de não ser capaz da gestão equilibrada que exige previsões que nunca soube fazer, do que resultou uma sucessão de programas de austeridade, na qual, por certo, este agora apresentado não será o último. Com ele o ministro evitou a sua insónia, deixando para a maior parte de nós as preocupações que nos não vão deixar dormir descansados!