ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

PARADOXOS DA “ALDEIA GLOBAL”


Num mundo onde as fronteiras fazem cada vez menos sentido porque nenhum dos grandes problemas da Humanidade as respeita, os políticos continuam a fingir que as dominam e os economistas julgam ser macroeconomia a que ignora o meio mundo onde, em vez de viver, se vegeta.
Mas os grandes problemas que a Humanidade enfrenta não se podem confinar, sejam os ambientais, os sociais, os radicalistas ou a crise financeira que, qual epidemia, alastram a todo o mundo, porque eles atravessam todas as fronteiras, sejam elas quais sejam.
É por isso que me confunde a ideia de acreditar no pensamento político redutor que crê poder resolver os problemas do país à revelia dos problemas do mundo.
O chavão “bolsos cheios em vez de cofres cheios” é o paradoxo maior na ideia de reanimar o Estado Social que se não sustenta com cofres vazios, porque é um requisito liberal que no socialismo não se encaixa.
Por isso, o programa socialista de António Costa que um liberal imaginou e coordenou não é mais do que isso, a ilusão de podermos gastar sem preocupações quando a contenção e a solidariedade são as atitudes certas para ultrapassar a austeridade que a exiguidade de dimensão mundial impõe.


segunda-feira, 27 de abril de 2015

UM PLANETA CADA VEZ MENOS AZUL


Há alguns dias tive a oportunidade de conversar um pouco com um economista, também jornalista bem conhecido pelos seus programas sobre economia num canal de TV, que me pareceu bastante céptico àcerca de “estas coisas das alterações climáticas” que, pensava, não passariam de aproveitamentos que alguns fariam de fenómenos naturais, com propósitos interesseiros, citando um nome ou outro entre os que mais se têm notabilizado no combate ao que, com origem na actividade humana, dizem ter influência no “aquecimento global”. 
Não me surpreendeu muito esta posição comum a quase todos os economistas em cujas teorias a escassez permanente e os efeitos nefastos e insalubres do crescimento económico contínuo não encaixam.
É visível, na vasta literatura sobre este assunto, uma conversa de surdos entre “cientistas” que desvalorizam factos e circunstâncias e outros que eles dizem serem pagos para os empolar. É evidente o aproveitamento que é feito de uma realidade cuja influência perigosa na vida da Humanidade que, por interesses diversos, se desvaloriza ou se sobrevaloriza.
Mas a realidade deixa poucas dúvidas quando, cientificamente, se comprova um aquecimento global que facilmente se relaciona com o aumento da concentração dos gases de estufa na atmosfera, dos quais conhecemos bem as origens.
Mas é natural que, em certos casos, se enfatizem excessivamente certos aspectos negativos, porventura para chamar a atenção para um problema grave que é, sem dúvida, a alteração ambiental que o aquecimento global provoca e pode atingir níveis dificilmente suportáveis pelo Ser Humano.
Porque o assunto é muito sério e é urgente considerá-lo nos planos que fizermos para o futuro, é fundamental não confundir a realidade com os aproveitamentos egoístas que dela se façam.


SALVEM O MUNDO!


Recordo-me daquela história bíblica em que um pai moribundo chamou para junto de si os seus filhos, aos quais pediu que lhe trouxessem um molho de vides. Pediu a cada um deles que partisse um ramo e todos foram capazes de o partir. Depois perguntou qual seria capaz de partir o molho inteiro. E nenhum teve força bastante para o fazer! Foi esta a lição que um pai, preocupado com os filhos que deixava neste mundo, entendeu ser a melhor para mostrar como a UNIÃO FAZ A FORÇA!
Mas também me lembro da história real, assaz recente, de quando, nos Estados unidos da América, competia ao Exército, à Marinha e à Força Aérea, à vez, fazerem as suas tentativas de lançamento de foguetões espaciais, no que falhavam uma após outra, enquanto a União Soviética lançava no Espaço o seu Sputnik que as todos espantou!
Depois, decidiu o governo americano juntar todos e criar a NASA que, antes de mais ninguém, conseguiu o feito inacreditável de colocar o Homem na Lua e, assim, dar aquele "pequeno passo para o Homem mas enorme para a Humanidade".
E agora que, finalmente, tantos já sentem grandes preocupações pelo que se passa no mundo em que vivemos e onde tantos factos e indícios nos fazem temer os problemas sérios que o futuro nos pode trazer, a par de outros que, no seu egoísmo não dão ou fingem não dar conta do que possa acontecer, cada qual se agarra à sua causa, aquela que, porventura, mais o sensibiliza ou, por qualquer razão, resolveu adoptar.
Mas neste mundo cada vez mais hipócrita onde “ser Charlie” trás mais proveitos do que “ser humano”, não se salvam as baleias, as árvores, os ursos polares ou seja o que for de per si.
Apenas a vontade de todos pode salvar a Humanidade, respeitando a casa única que Ela tem para viver, poderá surtir o efeito de evitar a extinção que, por culpa de todos nós, parece aproximar-se a passos que a nossa indiferença apressa.


sábado, 25 de abril de 2015

41 ANOS DEPOIS


Apanhou-me a meio da minha vida a “revolução” que hoje, pouco mais do que como uma desobriga, se comemora.
Não vejo o entusiasmo que a tanta gente fez acreditar nos méritos infalíveis da liberdade sem limites, esmoreceu a inspiração das cantigas de intervenção que, a uns, limpavam a consciência dos tempos que viveram e, a outros, mantinha aceso o espírito que aguentava a revolução. Calaram-se os discursos inflamados que prometiam o céu para todos e, depois de todo este tempo, não vejo mais do que um país já por três vezes resgatado e a viver, ainda, a austeridade que os excessos praticados lhe impuseram, com mais de metade do seu escasso solo abandonado, entregue à sorte de uma intensa desertificação que despreza recursos que outrora foram o ganha pão de muita gente.
Vejo um país lutar contra o fantasma da incerteza que coloca na alternância democrática a esperança de uma melhoria que apenas da mudança de hábitos, de atitudes e de leis pode resultar, se conformados com a evolução de uma realidade que as ambições políticas geradas se recusam a reconhecer.
Continua a ser exaltado um acontecimento sem avaliar as consequências das decisões que, em nome dele, foram tomadas, como se sacrilégio fosse reconhecer os erros cometidos e uma “inquisição” houvesse que não permite adaptar as decisões tomadas às circunstâncias que o tempo inexoravelmente faz diferentes.
Gostava de sentir o mesmo entusiasmo de então, pois tal significaria haver razões para festejar o que a “revolução” não foi capaz de gerar, a cultura democrática da qual, infelizmente, estamos ainda distantes. 


sexta-feira, 24 de abril de 2015

NUNCA DÁ BOM RESULTADO QUANDO SE DEIXA A ESTUPIDEZ VOAR...


Há cerca de quarenta anos, quando a Junta de Salvação Nacional “governava” este país, não eram raras as divergências que aconteciam nas suas reuniões pois dificilmente se chegava a acordo sobre algumas matérias bastante delicadas. As visões mais românticas, aquelas mais ditadas pelo coração do que pela razão, seriam as dominantes e, se deixadas “voar”, nem sempre o resultado seria um final feliz.
Um dia, numa dessas reuniões, dois desavindos estariam prestes a atingir um plano de confronto em que até já se falaria em utilização de meios militares.
Foi então que o incontornável Almirante Pinheiro de Azevedo interveio e propôs que se fizesse um ponto de situação, com o que todos concordaram. E o velho Almirante perguntou, a um e a outro dos desavindos “olha lá, assim em 24 horas quantas G3 tu conseguirias ter do teu lado?”.
Ambos responderam e o Almirante deu a “vitória” ao que disse conseguir arranjar mais!
Uma boa gargalhada se seguiu a esta intervenção que a todos mostrou o ridículo da coisa e tudo, depois, correu bem e os problemas puderam ser analisados com a cabeça apenas.
Ficou demonstrado que tudo resulta melhor quando se não deixa a estupidez voar.
Eu acho esta maneira excelente para resolver conflitos em vez de andar por aí a fazer mal às pessoas, a estragar-lhes a vida, seja em guerras que matam e estropiam tantos inocentes seja em greves que tramam a vida e causam problemas sérios a tanta gente.
Por exemplo, no caso da TAP em que me parece que o sindicato pôs o piloto automático programado para o desastre (o que parece querer tornar-se moda), ao mesmo tempo que se diz que são cada vez mais os pilotos que discordam da greve e se propõem trabalhar, seria de fazer, também, o ponto da situação.
O sindicato diz que a greve terá uma adesão de 90% que é, francamente, mais do que os 50% que se diz dela já se terem desvinculado.
Acho que devia passar à História que ganhou o sindicato e a TAP seguiria o seu curso normal, voando normalmente e sem causar problemas a ninguém. Simplesmente!
Porque quanto a participação no capital social da empresa em caso de privatização e outras coisas mais, estamos conversados, não há nada para ninguém. Como pode não haver se a brincadeira continuar e a TAP ficar vazia de vez!




quinta-feira, 23 de abril de 2015

UM DESABAFO


É uma verdade inegável que nunca fui um apreciador das qualidades de Mário Soares, agora ou fosse quando fosse. Mesmo quando participei naquela manifestação na Alameda D Afonso Henriques, em tempos que faziam perigar o futuro da “liberdade” do nosso país, com perigo de substituição de uma ditadura por outra mais dura ainda!
Mas não vem, agora, ao caso ir por aqui.
Tantas vezes critiquei e critico certas atitudes que Mário Soares toma, sobretudo agora que, notoriamente diminuído, diz e escreve coisas de bradar aos céus, teorias e certezas que parecem tiradas de papeis guardados numa arca velha onde traças deles se alimentam.
Por uma condição inelutável do Ser Humano, há um tempo para sair da cena em que fomos influentes, para abandonar as lutas que até dirigimos e é a temperança a atitude que nos defende das incapacidades que, com o tempo, sempre acabam por chegar.
Quando tal não acontece, são inevitáveis factos que não podem deixar de prender a minha atenção, como a de tanta gente. E nem todos reagem do mesmo modo. É uma questão de sensibilidade e de valoração quanto à sua importância na nossa vida em comum, tão comum como nunca antes fora, pois jamais a Humanidade esteve tão unida no destino que as circunstâncias lhe destinam.
Digo assim porque já me não parece o Homem capaz de controlar o monstro feroz que criou, esta civilização que ainda se não deu conta de que, na sua ânsia de crescimento económico contínuo, está a destruir o Ambiente que sustenta a sua vida.
Quanto a Soares, apesar do desagrado que a maioria das suas crónicas domingueiras me causa, nunca foi nem será minha intenção agredi-lo na sua dignidade de Ser Humano, contribuir para uma exposição que me incomoda pela demência que já revela e à qual o tempo acaba por não poupar alguém a quem a vida permita chegar tão longe.
Por isso repudio os excessos que algo que eu publiquei possa ter causado, como aponto o dedo aos que lhe facultam as condições para se expor e aos familiares que não o resguardam de certos ridículos a que se presta, porque não evitam o seu aproveitamento vil, seja pelos jornais, pelas rádios ou pelas televisões, porque Soares, goste-se ou não dele, tem direito a um recato digno. Como qualquer de nós.
Mas se continuar a dizer o que diz… não poderei calar a minha indignação nem deixar de tentar minorar os efeitos que possa causar em tantas cabecinhas tontas que, com isso, os certos demagogos ávidos de poder querem manipular.
Faz-se este aproveitamento dos ditadores quando já não servem para mais do que ser um símbolo, debotado e roto que, sem piedade e a bem do regime, se manipula. 
Soares não é um ditador. Será, apenas, um "democrata à sua maneira". Por isso, não lhe façam isto!


quarta-feira, 22 de abril de 2015

DIA DA TERRA. UM TOQUE A REBATE


Criado em 1970 pelo senador norte-americano Gaylord Nelson, o Dia da Terra tem como objectivo criar uma consciência alargada dos problemas graves que este Planeta enfrenta em consequência do modo de vida que a nossa civilização predadora instituiu, desta economia que tem de ser esbanjadora para sobreviver.
Inicialmente eram os problemas da poluição e das agressões á biodiversidade os que mais preocupavam.
Desde então, diversas outras acrescentaram o rol das nossas preocupações que os nossos economistas teimam em não ver, como se os recursos naturais fossem infinitos e a capacidade de regeneração ambiental quase instantânea. São o acréscimo das radiações UV que atingem a Terra, os resíduos plásticos, os resíduos tóxicos, a exaustão de recursos, as alterações climáticas e outros.
Este ano o tema de reflexão é o Aquecimento Global cujas consequências serão, certamente, mais sérias do que imaginamos se o aumento da temperatura média ultrapassar os 2ºc a 3ºC que provocarão problemas muito graves.
Para além de derretimentos intensos de geleiras e da neve que cobre as altas montanhas, a continuação do aquecimento intensificará a desertificação, provocará graves problemas na agricultura, causará epidemias, obrigará a migrações maciças, para além de mil e um desastres ambientais difíceis ou impossíveis de controlar.
Apesar das múltiplas cimeiras e protocolos, nada parece evoluir como as circunstâncias recomendariam e, por isso, a possibilidade de sérios desastres é cada vez maior.
É certo que há quem se sirva desta realidade para lhe dar formas ainda mais alarmistas das quais procura tirar proveitos. Mas não devemos confundir a realidade com o mau aproveitamento que dela se faça.
Importante é ter consciência de que a Terra é a nossa única casa e que todos temos de nos comprometer no esforço para a manter saudável e em condições de nela podermos viver.


AFINAL, O QUE PARECE NEM SEMPRE É


Agora que as campanhas eleitorais já atingiram uma fase de maior intensidade, nas quais se não distingue muito bem quem é quem ou o que quer para além do poder que deseja alcançar, preocupa-me não ver mais do que a disputa do costume, com as estratégias a que já nos habituaram, embrulhando em palavreado oco a falta de ideias que a ultrapassagem da situação complicada que vivemos exigiria dos que se dizem dispostos a resolve-la.
Já lá vão os tempos em que os nossos problemas eram os nossos problemas e os outros tinham os seus. E cada um os resolvia como melhor entendesse ou fosse capaz.
Os tempos mudaram e já não é mais assim.
Não é mais possível ignorar o caos em que o mundo vive e faz os problemas dos outros reflectirem-se nos nossos, como a tal borboleta que bate as asas em Pequim e causa um vendaval em Nova Iorque. Hoje, é exactamente isso que acontece e como são cada vez mais as borboletas que tentam esvoaçar, pode ser muito grande a tempestade que se aproxima. E sabe-se lá por onde começará.
Cada qual tem o seu parecer que, melhor dizendo, não passa do interesse que tem nisto ou naquilo sobre que opina. E a questão será saber qual deles acabará por se impor pelo pouco tempo que um outro necessita para lhe tirar o protagonismo fugaz que os oportunismos sempre determinam.
Tornou-se evidente que há milagres que não existem e que, quando o pano é pouco, o fato sai justo demais, o que incomoda e tolhe os movimentos.
Parece ser este o colete de forças com que nos debatemos quando insistimos nos disparates que já sabemos que são, quando procuramos na hipocrisia as soluções que o não são.
Se há coisa com que concordo com os economistas é que “não almoço de graça” ou, como diz o povo, “ninguém faz nada por nada”.
Parece que estamos na era da queda dos ídolos endeusados e adorados mas que, afinal, tinam os pés de barro. Aqueles cujos milagres não passaram de burradas.
Será que lhes vão retirar as comendas, as medalhas e outros louvores, daqueles que se distribuem em certas cerimónias ridículas? Não! Pode bem ser que vamos endeusar outros, pois há lições que nunca se aprendem.
E por quanto tempo mais a comunicação social continuará e coar as verdades numa atitude que retém as que não interessam?
Afinal onde, na listagem que fez para anunciar a reforma de Costa, deu relevo à fonte dos recursos que, supostamente, pagarão as ilusões? Às pensões de reforma, naturalmente, que tanto mais serão cortadas quanto menor for a boa vontade dos outros!
E o que farão certos indivíduos na fotografia do grupo dos iluminados? Talvez treinem a pose de “estrelo” que os espera!


terça-feira, 21 de abril de 2015

QUEM GASTA O QUE TEM, A PEDIR VEM!


Em resumo, o que os economistas de Costa vieram dizer foi, nem mais nem menos, o que se esperaria de socialistas que pensam que o dinheiro cai do céu.
Diz a Bíblia que foi assim enquanto os judeus, fugidos da escravatura do Egipto, erravam pelo deserto. Do Céu caía o “maná” que os alimentava.
Parece que não bastaram as experiências que mostraram que não é assim e que, em vez de esperar pelo “maná” que possa cair, melhor será pensar que “quem quer bolota, trepe”.
E os chavões que se vão ouvir na campanha eleitoral estão aí, prontinhos a serem usados: bolsos cheios em vez de cofres cheios, numa clara contradição ao que disse a Ministra das Finanças quando quis passar o recado de estarmos agora mais a recato das perturbações que no mundo se possam passar, em vez de completamente falidos e desprevenidos como das políticas falsamente socialistas sempre acaba por resultar.
Se os cofres voltaram a estar cheios, eu não sei. Mas, pelo menos, não estão vazios como governos do PS já os deixaram por três vezes, esquecidos de que até o muito se gasta depressa quando se não faça por ter mais.
Estavam cheios sim quando a “revolução” os encontrou!
Mas pouco tempo bastou para ficarem vazios e para, por uma primeira vez, se ter de recorrer a um resgate, ao qual a política socialista de Mário Soares nos condenou. Foi a hora de meter o socialismo na gaveta e de reconhecer que até o muito se acaba. Foi a primeira lição.
Seguiram-se o atoleiro de Guterres e os desvairos de Sócrates que nos deixaram pelintras e cheios de dívidas, numa situação que põe de pantanas a velha máxima de vão-se os anéis mas fiquem os dedos, porque estamos cheios de anéis mas sem dedos para os usar.
Mais duas lições não aprendidas.
E para começar a festa, vão ser subsídios e mais subsídios que contrariam o sábio princípio de que se não mata a fome de um homem dando-lhe um peixe mas ensinando-o a pescar.
E como nestes casos acontece, à primeira cavadela … minhocas!


A ECONOMIA DA MORTE


Aumenta o número dos que encontram a morte no caminho da salvação prometida pelos que lhes vendem, pelos últimos tostões que arrebanham, a quimera de uma vida melhor.
Há muito que me apercebera, pelos vestígios que então já se notavam, que este assalto à Europa pelos desesperados de África e do Médio Oriente acabaria por ser uma realidade desastrosa.
É um amontoado de crimes que origina tudo isto, desde os que são cometidos nos lugares de origem dos que fogem ao inferno, aos que cometem os que os amontoam nos barcos que, sem condições, têm num naufrágio, o seu fim quase garantido, mas foi um crime, também, a solução, politicamente hipócrita e interesseira, das “independências” que, pelo modo como aconteceram, em vez de paz trouxeram o desassossego a tantos territórios e a tanta gente que, de mal, passaram a bem pior. E não me parece que as coisas se encaminhem para melhor, tantos são os ódios que despoletaram, as incapacidades que revelaram.
No Mediterrâneo, são adultos, homens e mulheres, e muitas crianças os que assim se vão entregando a uma morte para fugir de outra que lhes batia à porta, também.
São tremendos os esforços que dia a dia se fazem para salvar o maior número possível dos que compraram aquela lotaria cuja taluda, conseguir chegar a um destino que julga seguro, não paga os danos terríveis que causa.
Deixou a Europa que este problema se criasse, se tornasse maior e se constituísse no drama que agora é. Afadiga-se a procurar soluções que evitem que a tragédia se agigante e a procurar como distribuir os seus males por uns e por outros, para que não seja a sobrecarregada Itália a suportá-los todos.
Mas isto não passa de uma panaceia ineficaz no tratamento de um problema que tem causas mais profundas num Continente e numa Região onde viver é cada vez mais um castigo! Curiosamente o Continente onde os primeiros Homens apareceram na Terra e a Região do mundo onde as primeiras civilizações se fundaram. Que estranho!
Todos são sábios quando apregoam os benefícios da prevenção, mas todos acabam preocupados em como resolver os problemas que não preveniram!
Os problemas não estão no Mediterrâneo. Estão no início dos caminhos que a ele vão dar. E todos sabem quais são!
Mas esses não se resolvem porque fazem parte daquele mal larvar que mantém viva a economia da morte.


sábado, 18 de abril de 2015

O DRAMA DA ALBERTINA


É bem provável que já tenha contado esta história alguma outra vez e por algum propósito que, na sua essência, nem diferirá muito daquele por que o faço hoje. Mas são cada vez mais as vezes que, pelo que vejo acontecer, esta história me vem à ideia porque o que se passava com a Albertina a transportar um simples prato de sopa se passa agora com pessoas que têm de fazer coisas bem mais complexas.
Uma época houve em que a sopa, uma parte da refeição que lá para os lados onde nasci, por diversas razões se não podia dispensar, vinha da cozinha já no prato que alguém levava até à mesa. A sopa não era uma simples mistela, mas um produto culinário que devia ser comido sem delongas, para que o calor e o gosto se não degradassem.
Essa função de transportar o prato cabia, algumas vezes, à Albertina que tinha alguma dificuldade em mantê-lo equilibrado. E quando alguém lhe chamava a atenção para que a sopa estava quase a vazar por um dos lados, logo ela se apressava a corrigir a situação de modo a que o lado por onde a sopa vazava passava a ser o outro.
Apesar de pequeno ainda, lembro-me bem de ouvir o meu pai dizer que a Albertina só tinha “miolos” de um lado, o que lhe não permitia prestar atenção a toda a periferia do prato ao mesmo tempo!
Aquela operação seria, sem qualquer dúvida, de extrema simplicidade para muita gente, sobretudo para os “crâneos” que têm de encontrar soluções que garantam outros equilíbrios neste mundo que, mau grado os esforço que são feitos, cada vez está mais desequilibrado.
Não vou, desta vez ainda, entrar em reflexões sobre a estrutura etária cuja deformação acelerada tantas coisas alterou, sobretudo no domínio da solidariedade em que se baseia o Estado Social nem me vou envolver em outras questões que, também, se relacionam com a preocupação de o manter.
É, afinal, mais um prato que a "Albertina" terá de tentar equilibrar, ora vazando de um lado ora do outro, porventura até que o prato fique vazio!
É nisto que se baseia, afinal, uma pergunta “ingénua” de José Gomes Ferreira, numa sua crónica no Expresso, quando pede que lhe expliquem, devagarinho e em pormenor, “como quer o Governo provocar um rombo de mais de 400 milhões de euros por ano nas receitas da segurança social com a TSU dos patrões e ao mesmo tempo convencer os portugueses de que é preciso fazer cortes de 600 milhões de euros nas responsabilidades dos sistemas de pensões. …. como é que se explica aos contribuintes que a sobretaxa de IRS tem de continuar até 2019 e a contribuição extraordinária das empresas da energia acaba dois anos antes”.
O drama da Albertina não é, como cantava o António Variações, ter dado o nome de Vanessa à sua filha. O que não passa de uma questão de gosto… É mesmo não ter “miolos” bastantes que lhe permitam entender, a um tempo, todas as implicações de algo que faça. O que é uma questão de competência…

NOTA: podem ler o artigo de Gomes Ferreira no expresso ou no endereço http://expresso.sapo.pt/nao-percebo-facam-o-favor-de-me-explicar-devagarinho-e-em-pormenor=f920449.


sexta-feira, 17 de abril de 2015

QUESTÕES DE PROPORCIONALIDADE


Como pode esperar-se que a Justiça seja justa se não passa de um conjunto de regras e de procedimentos, tantas vezes mais discutidos do que a própria matéria a julgar e que, por “irregularidades” que a oportunidade de investigação nem sempre evita cometer, não poucas vezes deita fora evidências e provas que, sem qualquer dúvida, condenariam os criminosos?
Como pode esperar-se que a Justiça seja temida pelos prevaricadores se, por habilidades jurídicas que sempre conseguem passar por entre as descontinuidades que qualquer lei humana não consegue evitar, se pode encontrar uma “verdade” mais verdade do que aquela que faria a autêntica justiça?
Como pode ser a Justiça respeitada se nem sempre actua de modo a deixar a sensação de que justiça foi feita nos actos que praticou?
Ainda vivi tempos de uma justiça simples que julgava segundo as leis que uma convivência sã ditava, mas que tinha o defeito de alguns excessos a que apressados desejos de condenação convidavam.
Hoje passam-se as coisas de um modo bem diferente. Até o mais evidente culpado não passa de apenas um suspeito e o que toda a gente viu fazer não é mais do que algo presumivelmente feito porque, na Justiça, sempre pode haver maneira de o desdizer!
Parecem mais respeitados os direitos dos criminosos do que os das suas vítimas e pautam-se as penas por critérios de proporcionalidade difíceis de entender.
Mas que proporcionalidade existe entre seis, oito ou 10 anos de privação de liberdade e os não sei quantos anos de vida que alguém deixou de viver? Como se comparam alguns anos de cárcere com uma vida inteira atormentado pelo acto ignóbil da violação ou pelo vício porco do pedófilo que destrói, nos que apenas começaram a viver, a possibilidade de toda uma vida que podia ser feliz?
Como se justifica tanta preocupação com o recato de personalidades que apenas podem merecer o desprezo da sociedade que, deste modo, a Justiça continua a expor às suas depravações criminosas?
Tempo virá, decerto, em que as questões serão melhor entendidas e julgadas mais em conformidade com o que a sociedade sente do que com o que qualquer código possa dispor.
Basta encontrar o peso certo no modo de julgar.
Entretanto, continuo a pensar que a pedofilia é um caso especial que se não conforma com a “proporcionalidade” que a Justiça adopta entre a sua penalização e os malefícios que causa, assim como penso que os pedófilos não
merecem o modo como a Justiça protege a sua identidade.


quinta-feira, 16 de abril de 2015

PRAGAS COM RAZÃO…


É notícia que um deputado, multado por excesso de velocidade, contestou a coima imposta pela GNR, alegando que o velocímetro do seu carro não indicava a mesma velocidade que o radar que registou a sua suposta infracção. Em consequência, o deputado terá mandado selar o aparelho de radar em causa, pois será o modo de se poder verificar se o seu funcionamento está correcto ou não.
Porque haveria de ser o velocímetro do carro e não o equipamento de radar que estava avariado?
Não conheço o deputado em causa, mas até compreendo a sua atitude porque também eu admito que o equipamento possa não estar a funcionar correctamente ou, até, que haja qualquer “equívoco” na sua leitura… A gente tem visto tanta coisa! E logo agora que os agentes passaram ou se diz que vão passar a mostrar a sua “productividade” nas infracções que controlarem.
Pois também comigo aconteceu coisa parecida quando me deslocava numa estrada onde a velocidade máxima permitida era de 90Km/h.
Logo a seguir a uma curva sem visibilidade porque um denso pinheiral a impedia, aparece-me um sinal de limitação de velocidade a 60km/h que me obrigou a reduzir a velocidade, coisa impossível senão em algumas dezenas de metros.
Seguia-se uma pequena recta, com uns sessenta metros talvez.
Um outro carro havia passado por mim na curva anterior e lá o vi seguir pela outra curva no final recta.
Mas eu fui interceptado porque um radar manual indicava que eu circulava acima de 60km/h!
Em primeiro lugar era absolutamente natural que tal acontecesse pois fui apanhado em fase de redução num curto troço que pouco mais seria do que o necessário para atingir a velocidade indicada e em segundo lugar ninguém me fez prova de ser verdade a razão da infracção que me foi atribuída.
Por isso não aceitei a decisão e esperei que um juiz tomasse, perante as circunstâncias, uma decisão justa.
E no tribunal, onde me foi dito que estava ali para expor as minhas razões, acabei condenado, sem explicação alguma, a inibição de conduzir por 15 dias, apesar de ter solicitado a substituição por uma coima já que não conduzir seria demasiado penoso para o trabalho que era o meu ganha pão.
Fiquei com a clara sensação de ter sido injustiçado, sem nada poder fazer para o esclarecer como ao deputado é possível.
Foi profunda a raiva que senti e não pude conter uma praga surda, daquelas que parecem sair do fundo da alma, de que “partisse uma perna”…
Mas parece que nem o perdão que, logo de seguida, pedi a Deus valeu de alguma coisa porque, passado uns tempos, quando por ali passei de novo e decidi ir almoçar a uma estalagem à beira da estrada, a perna partida, toda engessada, estava ali bem na minha frente!
Há quem diga que “Deus escreve direito por linhas tortas”, mas também já ouvi dizer que “pragas com razão, nem ao rabo do meu cão”.


AS LUTAS, AS QUINTINHAS E AS ELEIÇÕES


Seja por isto ou por aquilo, mas sempre porque a situação a que chegámos não deixa margem para fantasias, acontecem os protestos, as manifestações ou as greves dos que se entendem prejudicados nos seus interesses ou pressionados com vista a um determinado fim.
Sobretudo as greves cuja regulamentação sempre me pareceu dada a propiciar excessos, tornaram-se uma manifestação egoísta da classe que a faz, se não um acto manipulado por aqueles que, por qualquer razão não laboral, as promovem.
Repare-se como são tão pouco frequentes as greves no sector privado, justamente aquele onde mais se justificariam pelo confronto entre o “capital” e o “trabalho” no qual são a “arma dos trabalhadores”. Parece que ali é mais fácil chegar a qualquer acordo como, por exemplo, o provou a Fábrica de Palmela onde os trabalhadores preferiram os acordos que eles próprios julgaram mais vantajosos para si do que os que seriam para o movimento sindical onde, tudo mo faz crer, existem interesses que se não coadunam muito bem com os dos trabalhadores.
Ao contrário, as greves multiplicam-se no sector público, seja no Metropolitano, na Carris, na TAP, na CP ou seja onde for que mais danos provoquem aos demais trabalhadores que perdem dias de trabalho ou têm de gastar mais dinheiro para poder trabalhar, para além dos prejuízos que causam às empresas públicas que, depois, os impostos sobre os trabalhadores terão de suprir!
Além disso são greves manhosas que multiplicam os seus efeitos pelo modo como são divididas em mini-greves, dos condutores, dos pica-bilhetes, dos assistentes de bordo, dos isto e aquilo que, só por si, causam os mesmo efeitos de uma greve total!
Ou aquelas greves parciais que vão das tantas às tantas para que os trabalhadores não percam o salário por inteiro mas por força das quais os utentes dos serviços podem perder todo o seu dia!
As greves assim feitas são egoístas e traem a solidariedade que os demais trabalhadores deveriam merecer.
Além do mais, as escolhas das datas para as greves são as que mais danos possam causar, nem sempre proporcionando dando oportunidade às negociações que, para as evitar, se imporiam.
Sobretudo o Natal, a festa da família por excelência, é o período ideal para as greves dos transportes. E assim fica prejudicada toda uma sociedade que nada tem a ver com os diferendos entre empregadores e empregados.
As greves, que deveriam ter um carácter apenas laboral, passaram a ter, todos o podem notar, um carácter intervencionista e político, por isso tendente a forçar acontecimentos ou a impedi-los, tal como parece ser a que se prepara na TAP cuja privatização parece criar muitos engulhos a tanta gente que ainda não esqueceu a comodidade de ser funcionário público.
E mais uma vez todos nós, aqueles a quem o Governo vai pedir o que precisa, pagaremos as fantasias de uns e de outros.
Assim se desqualifica um direito legítimo dos trabalhadores porque se pervertem os seus propósitos.


sábado, 11 de abril de 2015

CENAS QUIXOTESCAS


Tenho muita dificuldade em aceitar que a Justiça portuguesa possa tomar as decisões arbitrárias e ilegais que a “defesa” de Sócrates lhe imputa. Se tal fosse uma verdade, seríamos, sem dúvida, os palhaços do mundo num circo de incrível mau gosto.
Queixa-se a defesa de Sócrates de não ter acesso aos factos e que, por isso, não pode fazer a defesa!
Mas será que crê a defesa ter o direito de participar na investigação ainda em curso? Eu nada percebo de jurisprudência, apenas podendo raciocinar na base de inteligência e bom senso como a Justiça, decerto, o faz e, nestas condições, acho que não.
Por isso terá a defesa de se entreter a esgrimir contra o “jornalismo de investigação” que, pelo modo como se comporta, é uma autêntica acusação pública para quem, no âmbito da Justiça, não passa de alguém sob investigação por suspeitas da prática de crimes graves e que, no caso Sócrates, sobretudo o perigo de perturbação ou de impedimento do bom desenvolvimento das investigações, ainda em curso, levou à sua prisão preventiva, a medida de coacção legal para casos assim.
E porque o “julgamento” que na Justiça será feito ainda não se iniciou, vai-se desgastando a “defesa” de Sócrates numa luta contra fantasmas, numa batalha na qual jamais levará a melhor, porventura falando de coisas ou esgrimindo argumentos que podem nada ter a ver com os que, mais tarde, terá de encontrar para enfrentar as acusações que, chegados a este ponto, não poderão deixar de vir a ser feitas.
Sócrates tornou-se uma figura excessivamente mediática, não apenas pelo seu modo de ser como pelos métodos que usa para alcançar os seus objectivos e, por isso, este caso não pode deixar de suscitar paixões, por vezes quase extremas, como a de Mário Soares, um homem com formação em Direito mas que, apesar disso, proferiu argumentos inaceitáveis.
Mas para além de tudo isto, curioso é para mim que, num país que cada vez mais se insurge contra os políticos que, sem qualquer distinção, generalizadamente diz corruptos, as romarias de desagravo a Sócrates se sucedam e, em vez de um julgamento público que não faz qualquer sentido, se não reflicta sobre o significado do que se passa e da razão de ser de tantas suspeitas que, desde há tanto tempo, já pendiam sobre quem parece estar sempre no olho de todos os furacões de corrupção que acontecem!
Nem sequer sei se o “polvo” terá apenas os tentáculos que já se diz que tem ou se terá outros mais que nos poderão surpreender a todos.
E nas sessões contínuas do “julgamento público” de Sócrates não posso, por fim, deixar de referir um programa que escutei e se designava “professor”. O professor que, aparte aquela cena macaca do “inglês técnico”, terá sido único no processo de obtenção de uma licenciatura a partir de um bacharelato. E é aqui que as coisas me confundem! Um só professor para a pluralidade de matérias que, por certo, o processo envolveria? Mas estaríamos na “instrução primária”?
Francamente gostaria de ver o documento do Conselho Científico da UNI (que existia) que aprova o processo de equivalências e o plano pedagógico que fez de Sócrates engenheiro.



sexta-feira, 10 de abril de 2015

MUDAR DE GOVERNO OU DE POLÍTICA?


Quando até já há quem pense que Cristo deve voltar à Terra para meter na ordem os que cada vez mais cometem barbaridades nunca antes vistas, em Portugal é António Costa o redentor que trás consigo a verdade e as soluções de que os nossos problemas carecem.
É, agora, depois de alijar o mandato de Lisboa a menos de metade do tempo com que se comprometeu, um “cristo” que se dedica à pregação a tempo inteiro, arrastando consigo os discípulos que esperam, em redenção, com ele entrar no reino tão desejado do poder.
Em tempos, fazia de Costa um outro juízo que o vazio de ideias que agora tem revelado completamente alterou.
Ouvi um resumo de um discurso público que fez em Almada no qual, de um modo nada recatado, perverte realidades, afirmações, circunstâncias e responsabilidades, do modo que mais convém para descrédito dos actuais governantes.
Este modo de fazer é, para além dos enganos que induz nas mentes descuidadas dos não pensam e das distorções deliberadas que faz da realidade, a técnica de nivelar por baixo, na qual dizer mal dos outros, rebaixando-os, faz parecer maior a insignificante estatura que possui.
O mal maior desta democracia que se não actualizou, que ignora a realidade e continua a seguir o velho princípio de que “o que parece é” para que a “alternância” aconteça sejam as razões quais forem, verdadeiras ou não, é a facilidade com que se convencem os que, por natureza, estão predispostos a acreditar nas balelas que lhes impingem e a crer que, mudando, as coisas ficam melhor. Ou os que esperam da mudança a sua oportunidade de ser alguém...
Revela Costa uma total ignorância da nossa realidade ou da de todo o mundo cuja situação nos afecta também se, pior do que isso, não revela um total desprezo pelo futuro de um país que está a recompor-se de uma destruição que lhe causou grandes dores, quando nada mais do que os vulgares lugares comuns do voluntarismo constituem a razão de ser das mudanças que considera necessárias sem, contudo, jamais dizer quais sejam. Ou melhor, para além da mudança de governo de cuja mudança enfatiza a afirmação de ser a condição necessária para construir um futuro melhor.
Não consegue articular um discurso revelador de um projecto de futuro, limitando-se à já estafada conversa de ser necessário mudar.
É nesse sentido que todos os dias agora aparecem ridículos “factos” novos que são a contribuição de alguns cérebros da Comunicação Social que, quais investigadores da vírgula, andam a cheirar os traques que cada um possa ter dado para, no fim, apurar qual cheirou pior.
Será possível que num país que já teve grandes homens, a estatura dos políticos seja agora tão rasteirinha?

Talvez por isso apenas têm em mente alcançar o que é mais fácil, a mudança do governo, porque de mudar a política que, de facto, é aquilo de que necessitamos, são perfeitos incapazes.


quinta-feira, 9 de abril de 2015

O NOME DAS COISAS


Chamem-lhe como quiserem, austeridade ou controlo de gastos, empobrecimento ou ajustamento à realidade, mesmo outra coisa qualquer como um desses chavões escritos nos panfletos ou nos cartazes de propaganda política, mas a verdade é a que a realidade mostra, a que as evidências não permitem escamotear e o reconhecimento de não ser mais possível manter o consumismo que exaure recursos não se pode mais negar. Porque chegou a hora de reequilibrar as coisas ou de as destruir completamente.
Os problemas acumulam-se e até se vão tornando maiores e assumindo formas mais graves porque as decisões tomadas não têm a eficácia que se julgou que tinham quando pareciam resolver problemas cuja causa não era a “escassez permanente”, um conceito novo com o qual economistas e políticos não sabem lidar. Por isso, a solução tem sido ignorá-lo, porventura esperando algum milagre e não levando em boa conta os “limites naturais” que a Ciência, há tanto tempo, já coloca no horizonte das preocupações mais sérias da Humanidade.
Há uma realidade da qual é urgente tomar consciência, como alguns governos e instituições internacionais já não conseguem deixar de reconhecer, a qual obrigará a uma reflexão política profunda que alterará muitos conceitos e comportamentos próprios de uma vivência ultrapassada.
Será uma mudança profunda que muitos confundirão com retrocesso mas que, a ser bem feita, corresponderá ao “desenvolvimento social” que o crescimento económico não promoveu. Será, mesmo, uma guerra dura entre os interesses de alguns e os direitos de todos a uma vida decente como será, também, uma tarefa difícil de abertura de mentalidades ainda muito fechadas a uma realidade que não pode mais ser ignorada.
Depois de uma experiência dolorosa a que maus procedimentos governativos obrigaram, estaria Portugal em excelentes condições para encetar o novo caminho que a realidade está a impor. Mas, em vez disso, as promessas levianas com que se conquista o poder continuam a ser mais fortes do que a realidade que a Natureza nos impõe.

Será assim que o oportunismo político poderá ter a preferência de um eleitorado que está, ainda, alheio aos grandes problemas do nosso tempo.


quarta-feira, 8 de abril de 2015

A NOVA NORMALIDADE

Não seria preciso ser sábio para concluir que teria de ser assim, que o crescimento económico teria de abrandar até ritmos que a realidade natural possa sustentar, em vez da insistência na aceleração que foi o motor de uma economia que, delapidadora de recursos, nos trouxe até esta crise que apenas o bom senso pode superar.
Mas nunca será, como sempre o disse, com o regresso ao passado consumista que entrou em perda definitiva porque uma incontornável “lei de continuidade” que, de um modo simples, nos recorda que “o que fica é igual ao que entra menos o que sai”, tornava há muito evidente a existência de um limite que a ambição humana recusou admitir e a imaginação do Homem julgou ser capaz de superar.
A consequência inevitável foi que o limite se atingiu depois de um curto tempo a esgotar as reservas que durante um longo tempo se acumularam.
Percebe-se melhor a realidade olhando mais atentamente o que se passa com as outras espécies que não conseguem ultrapassar os seus limites próprios nem evitar a “catástrofe” que, inevitavelmente, sucede aos seus períodos de crescimento eufórico. Catástrofe que a “inteligência” do Homem pode controlar se, finalmente, prestar atenção aos inúmeros alertas da Ciência sobre os erros grosseiros que comete na exploração excessiva dos recursos que a Natureza coloca ao seu dispor.
Depois da Assembleia anual do Congresso Nacional Popular da China, a economia mais pujante do mundo nos últimos anos, reconhecer oficialmente o fim da aceleração económica cujo ritmo desceu para um novo patamar bem inferior ao que era esperado e ao qual chamou a “nova normalidade”, é agora o FMI que, finalmente, reconhece a desaceleração que, de um modo optimista, limita aos próximos cinco anos, embora reconhecendo que a “retoma” não conduzirá aos níveis anteriores aos da crise, o que tem como consequência “novos desafios políticos”. Mas veremos quantos serão os anos de controlo que a realidade vai impor…
Tal é, nem mais nem menos, o que sempre me pareceu, desde que, há muitos anos, a minha formação científica me permitiu reconhecer, como a muitos outros também, os limites da realidade em que vivemos, deste planeta que é a nossa única casa, sem um supermercado exterior onde possamos abastecer-nos nem uma lixeira distante para onde possamos enviar o lixo que produzimos!
Esperaria, agora, ver traduzida a oficialização destas evidências em atitudes políticas adequadas à realidade finalmente reconhecida, em vez das promessas idiotas com que os ambiciosos pelo poder iludem os eleitores distraídos.
E temos nós eleições bem próximas.

  

domingo, 5 de abril de 2015

MUDAR AS MOSCAS É SOLUÇÃO?

Quando olho para o que se passa no mundo da política, fica-me a sensação de que algo se esgotou, de que um ciclo chegou, inevitavelmente, ao fim!
Tento encontrar, no que acontece, razões para alguma reflexão que me leve a entender o rumo que as coisas levam e, tal como neste mundo onde as alterações climáticas nos mostram os seus efeitos dia após dia, não descubro uma tendência clara do que se queira fazer de tudo isto, jamais se sabendo, como no tempo, se o bom vem para ficar ou se é “sol de pouca dura”.
Faz-me lembrar um camião que se atascou na lama da qual, por mais que os rodados rodem, se não consegue livrar.
As mudanças desejadas e até prometidas, sejam aqui, na Grécia ou onde for, não passam de ameaças que, depressa, se vê não serem mais do que isso mesmo, quando esbarram nos problemas que pretendem resolver sem mudar, afinal, seja o que for!
De facto, o discurso não passa do pregão de uma mudança que ninguém diz como ou para que, porque não passa da ânsia de voltar ao que já foi para, depois, voltar a ser o que agora é. Naturalmente!
Não vejo, pois, por que chamar mudança ao que não passa de um ciclo vicioso, a estas desafinações que nos confundem.
Tudo parece de pernas para o ar.
Quando esperava ver ficar mais forte e esclarecida a batalha política que as próximas eleições legislativas justificariam, são as eleições presidenciais que se agitam.
Esta batalha precocemente iniciada por candidatos insuspeitos que se intrometem numa querela que já tinha contendores anunciados, parece prometer bem mais do que a outra.
Não imagino o que esperam Neto ou Nóvoa quando, de cabeça, se atiram para o lago dos tubarões onde, sem dó nem piedade, correm o risco de ser abocanhados. Mas talvez possa restar do seu acto qualquer coisa que, de novo, dê alguma vida a este marasmo político em que caímos, porque da mudança apregoada decerto não serão capazes.
Por todo o lado, não conseguindo olhar para além do que a sua curta e ambiciosa visão lhes consente, são os políticos incapazes de tomar conta de um mundo que parece querer desintegrar-se, onde as premissas de um apocalipse qualquer parecem em vias de se perfazer.
Estão tão ocupados nas suas desesperadas tentativas para defender o pouco que sentem que lhes resta que, parece-me, até já perderam o jeito de convencer os incautos de que mudar as “moscas” é a solução.


sexta-feira, 3 de abril de 2015

ONDE ESTÁ A SOLIDARIEDADE?

Mais uma vez, num abuso de poder que a Constituição lhes consente, os sindicatos dos transportes causam prejuízos imensos em mais uma época do ano em que muitos milhares de famílias procuram um reencontro breve entre períodos de tempo que a azáfama da vida que vivemos torna cada vez mais longos.
Pervertendo os princípios mais básicos que façam justas as greves, os sindicalistas procuram, nos prejuízos que causam aos seus concidadãos mais vulneráveis, a oportunidade de dar nas vistas já que pouco mais do que isso poderão conseguir nos tempos difíceis que vivemos e para os quais as soluções não são as que procuram.
Cada vez mais me custa entender estes princípios esquerdinos que, invocando-a, vão destruindo a solidariedade que apregoam, indiferentes às dores dos que magoam, às necessidades dos que prejudicam, à fragilidade daqueles a quem nada nem ninguém dá força nem defende.
É no Natal, na Páscoa e em outras ocasiões que mais prejuízos trazem ao comum dos cidadãos que certos sindicatos se dispõem lutar contra o Governo que, obviamente, tem mais com que se preocupar do que com as reivindicações de um grupo que cria problemas a todos os demais!
Será que, desde os primórdios do sindicalismo e da vivência democrática, ainda se não encontraram modos mais humanos e mais justos de fazer reivindicações senão este modo de prejudicar quem não tem culpas ou, mais do que isso, maiores necessidades tem do que as daqueles que, pelo poder que possuem, reivindicam ter ainda mais?

Onde está, pois, a solidariedade?