Tenho
muita dificuldade em aceitar que a Justiça portuguesa possa tomar as decisões
arbitrárias e ilegais que a “defesa” de Sócrates lhe imputa. Se tal fosse uma
verdade, seríamos, sem dúvida, os palhaços do mundo num circo de incrível mau gosto.
Queixa-se a defesa de Sócrates de não ter acesso aos factos e que, por isso, não pode fazer a defesa!
Mas
será que crê a defesa ter o direito de participar na investigação ainda em
curso? Eu nada percebo de jurisprudência, apenas podendo raciocinar na base de
inteligência e bom senso como a Justiça, decerto, o faz e, nestas condições,
acho que não.
Por
isso terá a defesa de se entreter a esgrimir contra o “jornalismo de
investigação” que, pelo modo como se comporta, é uma autêntica acusação pública
para quem, no âmbito da Justiça, não passa de alguém sob investigação por
suspeitas da prática de crimes graves e que, no caso Sócrates, sobretudo o
perigo de perturbação ou de impedimento do bom desenvolvimento das
investigações, ainda em curso, levou à sua prisão preventiva, a medida de
coacção legal para casos assim.
E
porque o “julgamento” que na Justiça será feito ainda não se iniciou, vai-se desgastando
a “defesa” de Sócrates numa luta contra fantasmas, numa batalha na qual jamais
levará a melhor, porventura falando de coisas ou esgrimindo argumentos que
podem nada ter a ver com os que, mais tarde, terá de encontrar para enfrentar
as acusações que, chegados a este ponto, não poderão deixar de vir a ser
feitas.
Sócrates
tornou-se uma figura excessivamente mediática, não apenas pelo seu modo de ser
como pelos métodos que usa para alcançar os seus objectivos e, por isso, este
caso não pode deixar de suscitar paixões, por vezes quase extremas, como a de
Mário Soares, um homem com formação em Direito mas que, apesar disso, proferiu
argumentos inaceitáveis.
Mas
para além de tudo isto, curioso é para mim que, num país que cada vez mais se
insurge contra os políticos que, sem qualquer distinção, generalizadamente diz
corruptos, as romarias de desagravo a Sócrates se sucedam e, em vez de um
julgamento público que não faz qualquer sentido, se não reflicta sobre o
significado do que se passa e da razão de ser de tantas suspeitas que, desde há
tanto tempo, já pendiam sobre quem parece estar sempre no olho de todos os
furacões de corrupção que acontecem!
Nem
sequer sei se o “polvo” terá apenas os tentáculos que já se diz que tem ou se
terá outros mais que nos poderão surpreender a todos.
E
nas sessões contínuas do “julgamento público” de Sócrates não posso, por fim,
deixar de referir um programa que escutei e se designava “professor”. O
professor que, aparte aquela cena macaca do “inglês técnico”, terá sido único
no processo de obtenção de uma licenciatura a partir de um bacharelato. E é
aqui que as coisas me confundem! Um só professor para a pluralidade de matérias
que, por certo, o processo envolveria? Mas estaríamos na “instrução primária”?
Francamente
gostaria de ver o documento do Conselho Científico da UNI (que existia) que
aprova o processo de equivalências e o plano pedagógico que fez de Sócrates
engenheiro.
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