É
bem provável que já tenha contado esta história alguma outra vez e por algum propósito que, na sua essência, nem diferirá muito daquele por que o faço hoje. Mas são
cada vez mais as vezes que, pelo que vejo acontecer, esta história me vem à
ideia porque o que se passava com a Albertina a transportar um simples prato de
sopa se passa agora com pessoas que têm de fazer coisas bem mais complexas.
Uma
época houve em que a sopa, uma parte da refeição que lá para os lados onde
nasci, por diversas razões se não podia dispensar, vinha da cozinha já no prato
que alguém levava até à mesa. A sopa não era uma simples mistela, mas um produto culinário que devia ser comido sem delongas, para que o calor e o gosto se não degradassem.
Essa
função de transportar o prato cabia, algumas vezes, à Albertina que tinha alguma dificuldade em mantê-lo equilibrado. E quando alguém lhe chamava a atenção para que a sopa
estava quase a vazar por um dos lados, logo ela se apressava a corrigir a
situação de modo a que o lado por onde a sopa vazava passava a ser o outro.
Apesar
de pequeno ainda, lembro-me bem de ouvir o meu pai dizer que a Albertina só
tinha “miolos” de um lado, o que lhe não permitia prestar atenção a toda a
periferia do prato ao mesmo tempo!
Aquela
operação seria, sem qualquer dúvida, de extrema simplicidade para muita gente,
sobretudo para os “crâneos” que têm de encontrar soluções que garantam outros
equilíbrios neste mundo que, mau grado os esforço que são feitos, cada vez está mais desequilibrado.
Não
vou, desta vez ainda, entrar em reflexões sobre a estrutura etária cuja
deformação acelerada tantas coisas alterou, sobretudo no domínio da
solidariedade em que se baseia o Estado Social nem me vou envolver em outras questões que, também, se relacionam com a preocupação de o manter.
É,
afinal, mais um prato que a "Albertina" terá de tentar equilibrar, ora vazando de
um lado ora do outro, porventura até que o prato fique vazio!
É
nisto que se baseia, afinal, uma pergunta “ingénua” de José Gomes Ferreira,
numa sua crónica no Expresso, quando pede que lhe expliquem, devagarinho e em
pormenor, “como quer o Governo provocar
um rombo de mais de 400 milhões de euros por ano nas receitas da segurança
social com a TSU dos patrões e ao mesmo tempo convencer os portugueses de que é
preciso fazer cortes de 600 milhões de euros nas responsabilidades dos sistemas
de pensões. …. como é que se explica aos contribuintes que a sobretaxa de IRS
tem de continuar até 2019 e a contribuição extraordinária das empresas da
energia acaba dois anos antes”.
O
drama da Albertina não é, como cantava o António Variações, ter dado o nome de
Vanessa à sua filha. O que não passa de uma questão de gosto… É mesmo não ter “miolos”
bastantes que lhe permitam entender, a um tempo, todas as implicações de algo que faça. O
que é uma questão de competência…
NOTA: podem ler o artigo de Gomes Ferreira no expresso
ou no endereço http://expresso.sapo.pt/nao-percebo-facam-o-favor-de-me-explicar-devagarinho-e-em-pormenor=f920449.
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