Apanhou-me
a meio da minha vida a “revolução” que hoje, pouco mais do que como uma
desobriga, se comemora.
Não
vejo o entusiasmo que a tanta gente fez acreditar nos méritos infalíveis da
liberdade sem limites, esmoreceu a inspiração das cantigas de intervenção que, a uns, limpavam a consciência dos tempos que viveram e, a outros, mantinha aceso o espírito que
aguentava a revolução. Calaram-se os discursos inflamados que prometiam o céu
para todos e, depois de todo este tempo, não vejo mais do que um país já por
três vezes resgatado e a viver, ainda, a austeridade que os excessos praticados lhe impuseram,
com mais de metade do seu escasso solo abandonado, entregue à sorte de uma intensa
desertificação que despreza recursos que outrora foram o ganha pão de muita
gente.
Vejo
um país lutar contra o fantasma da incerteza que coloca na alternância
democrática a esperança de uma melhoria que apenas da mudança de hábitos, de
atitudes e de leis pode resultar, se conformados com a evolução de uma
realidade que as ambições políticas geradas se recusam a reconhecer.
Continua
a ser exaltado um acontecimento sem avaliar as consequências das decisões que, em
nome dele, foram tomadas, como se sacrilégio fosse reconhecer os erros
cometidos e uma “inquisição” houvesse que não permite adaptar as decisões
tomadas às circunstâncias que o tempo inexoravelmente faz diferentes.
Gostava
de sentir o mesmo entusiasmo de então, pois tal significaria haver razões para
festejar o que a “revolução” não foi capaz de gerar, a cultura democrática da
qual, infelizmente, estamos ainda distantes.
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