ACORDO ORTOGRÁFICO

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sábado, 25 de abril de 2015

41 ANOS DEPOIS


Apanhou-me a meio da minha vida a “revolução” que hoje, pouco mais do que como uma desobriga, se comemora.
Não vejo o entusiasmo que a tanta gente fez acreditar nos méritos infalíveis da liberdade sem limites, esmoreceu a inspiração das cantigas de intervenção que, a uns, limpavam a consciência dos tempos que viveram e, a outros, mantinha aceso o espírito que aguentava a revolução. Calaram-se os discursos inflamados que prometiam o céu para todos e, depois de todo este tempo, não vejo mais do que um país já por três vezes resgatado e a viver, ainda, a austeridade que os excessos praticados lhe impuseram, com mais de metade do seu escasso solo abandonado, entregue à sorte de uma intensa desertificação que despreza recursos que outrora foram o ganha pão de muita gente.
Vejo um país lutar contra o fantasma da incerteza que coloca na alternância democrática a esperança de uma melhoria que apenas da mudança de hábitos, de atitudes e de leis pode resultar, se conformados com a evolução de uma realidade que as ambições políticas geradas se recusam a reconhecer.
Continua a ser exaltado um acontecimento sem avaliar as consequências das decisões que, em nome dele, foram tomadas, como se sacrilégio fosse reconhecer os erros cometidos e uma “inquisição” houvesse que não permite adaptar as decisões tomadas às circunstâncias que o tempo inexoravelmente faz diferentes.
Gostava de sentir o mesmo entusiasmo de então, pois tal significaria haver razões para festejar o que a “revolução” não foi capaz de gerar, a cultura democrática da qual, infelizmente, estamos ainda distantes. 


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