ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

domingo, 30 de março de 2014

E DEPOIS DO SHOW…

Há coisas que impossíveis de passarem despercebidas. São, como o cheiro do pão quente, impossíveis de disfarçar.
Assim é o facto que sempre me fizeram notar de que “bom não é ser ministro, mas sim ex-ministro”. E prova esta verdade a comparação dos rendimentos antes e depois do exercício de cargos governativos. De poucas dezenas de milhares de euros, como é corrente em profissões que exigem elevado nível de formação académica, passaram a muitas centenas de milhares ou a milhões, como no milagre da multiplicação dos pães que a Bíblia nos conta! Ou então, como ouvi Catroga dizer, num momento de humor engraçado, pelo valor que, entretanto, adquiriram no “mercado”.
Há décadas que o governo me não revela valores extraordinários, daqueles que apetece perguntar “por onde tens andado?” Não vi, quanto a rasgos de inteligência ou a feitos de notável valor, muito mais do que pessoas vulgares que fizeram conhecimentos e compilaram informação ou sei lá que mais que lhe valeu lugares muito generosamente remunerados. Posso, até, dizer que vi pessoas que, por atitudes e por decisões que tomaram, me pareceram de curto entendimento e de muito fraco empenhamento na gestão do bem comum, alcançarem, posteriormente, sucessos financeiros que uma carreira normal a alguém verdadeiramente sabedor e muito competente jamais proporcionaria.
Há, mesmo, casos em que a passagem pelo governo não passa de uma desobriga a cumprir rapidamente, bastando um qualquer pretexto para lhe por fim. Por exemplo, sempre me causou uma tremenda decepção a tão pronta demissão de Jorge Coelho, ministro do equipamento social do XIV Governo Constitucional, logo após o gravíssimo acidente da Ponte Hintze Ribeiro, em Entre-os Rios, deixando sem tutela um processo delicado e socialmente muito importante porque envolveu a morte de dezenas de pessoas em circunstâncias que deveriam ter um adequado esclarecimento relativamente às causas que o proporcionaram, por se tratar de uma infra-estrutura da responsabilidade do Estado!
E tudo acabou sem que fosse esclarecida, como deveria, a causa real de tão horrível mas evitável tragédia. Um ministro responsável tudo faria para que fosse alcançado o total esclarecimento do que se passou. Só então faria sentido retirar-se!
Por tanta coisa que tenho visto, não posso deixar de estar ciente de que ser um ministro responsável não é coisa de que muitos sejam capazes, mas que é coisa que muitos desejam pelos benefícios que trás. Seja lá pelo que for...
É que, tal como acontece aos participantes dos degradantes “reality shows” que a TV nos mostra, a vida de quem por eles passa jamais volta a ser a mesma.
Vi, há pouco tempo, numa rede social, a informação sobre como subiram em flecha os rendimentos de muitos que passaram por ministérios e fiquei esclarecido de como se forma o “valor de mercado” que não é, de todo, aquele de que Portugal necessita para se tornar melhor.
Foi essa a causa desta reflexão, pois não encontrei melhor nos filmes de “horrores” ou de “comédia de mau gosto” que, entretanto, a classe política, comentadores e jornalistas incluídos, vão montando com os episódios dignos de dó que realizam, em condições que me levam a perguntar por onde andarão a inteligência e o bom senso.
Mas, o oportunismo nota-se bem por onde anda!


terça-feira, 25 de março de 2014

CILADA OU OPORTUNIDADE PARA ESCLARECER?

Depois do que se passou num programa em que Rodrigues dos Santos entrevistou Sócrates, algumas vozes de reprovação se fizeram ouvir, havendo até quem falasse da “cilada” que a RTP montou ao seu comentarista!
O que eu vi naquela entrevista foi o que espero ver quando o entrevistador sabe do seu ofício e faz uma entrevista que dê a conhecer, àqueles a quem se destina, quem é e o que pensa o entrevistado. Quero dizer, tal como Rodrigues dos Santos mais tarde se viu forçado a explicar, que, numa entrevista séria, o entrevistador não é o “ponto” que dá as “deixas” para o discurso que o entrevistado está disposto a fazer.
Assim, quando, como na entrevista de que falo, se confronta o entrevistado com algumas possíveis contradições do seu discurso ao longo do tempo, é dada a este a oportunidade de as esclarecer ou de explicar o que tiver de ser explicado, de corrigir o entrevistador no que tenha tomado por contradições ou, por que não, explicar a sua mudança de modo de ver.
Não pode ser desculpa não estar preparado para as perguntas que são feitas ou para as questões que sejam colocadas porque se trata, apenas, de esclarecer o pensamento do entrevistado e, sobre este, melhor do que ninguém ele poderá falar em qualquer momento. Porque é o SEU pensamento.
Além disto, tratando-se de um COMENTADOR HABITUAL ao qual as audiências do canal prestam atenção para se esclarecer, será importante conhecer a clareza e a solidez do pensamento de quem, com os comentários que faz, pretende influenciar o pensamento de quem o escuta.
Por tudo isto achei perfeita a entrevista que se tornou útil por dar a conhecer a fragilidade e a inconsistência do pensamento base do “comentador” Sócrates e, com isso, a confiança que os seus comentários possam merecer.

Nota: ver "A DUREZA DA VERDADE"


segunda-feira, 24 de março de 2014

A DEMOCRACIA E O FUTURO

Uma crónica de Rui Tavares, em O Público, intitulada a Europa e o Refacismo, parece-me apropriada ao momento que vivemos, quando a “extrema direita” dá claros sinais de si e a democracia cada vez mais se deixa enfraquecer por uma confrangedora falta de ideias para se adaptar à realidade que o tempo, inexoravelmente, vai mudando.
Encalhada na tradicional “razão da maioria” que não leva em conta as cada vez mais reduzidas condições e meios para a satisfazer, a democracia entretém-se com questões menores, perde tempo em jogos de poder e adormece na monotonia da presunção de que tem soluções para todos os problemas sejam eles quais forem. A democracia esquece-se de se repensar, talvez acreditando ter o que nenhuma criação humana tem, a eternidade!
Apesar das profundas mudanças de que me dei conta ao longo da minha vida, a democracia pouco foi além dos conceitos primários de Aristóteles que viveu dois milénios antes de mim! É assim que a democracia acompanha o progresso?
É por tudo isto que, contrariamente ao que pensa, a democracia não encontra as soluções de que os tempos actuais carecem.
Dos que da democracia se estão a aproveitar para reforçar a sua influência no poder, diz Rui Tavares que “chamem-se fascistas ou não, o que esta gente tem de comum é uma insinceridade e deslealdade de base em relação à democracia. A democracia só lhes interessa para manipular até chegar ao poder. E uma democracia sem ideias abre-lhes o caminho. Uma democracia que não acredite no futuro pode bem acabar por não o ter”.
Ainda que concorde com as duas últimas frases, nas quais Rui Tavares diz evidentes e preocupantes verdades, não vejo insinceridade nem deslealdade nos que, cumprindo as regras democráticas, se podem, através de “maiorias” que pelas suas regras se criem, apoderar do poder. O que vejo mesmo é a total falta de ideias de uma democracia que não foi capaz de gerar a “maioria da razão” que as circunstâncias hoje reclamam, para substituir a “razão da maioria” que, perante os problemas que a realidade hoje nos coloca, a maioria das vezes não passa de uma utopia irrealizável e, noutras ainda, da escolha de más soluções.
Pelos vistos não estou só nas preocupações que esta democracia anquilosada me cria, pelas consequências a que pode dar lugar, pois cada vez mais as soluções têm de ser pensadas, para o que os jogos de poder dos políticos não deixa tempo.

Infelizmente!


A DUREZA DA VERDADE

Por vezes, as surpresas acontecem. Que o diga José Sócrates que, em vez da habitual interlocutora no programa de comentários que lhe consentem na RTP teve, pela frente, um jornalista experimentado, José Rodrigues dos Santos, que resolveu confrontar o agora comentador político com afirmações que fez nos seus tempos de primeiro-ministro.
Pareceu-me bem o que Rodrigues dos Santos fez, agora que Sócrates se dispõe a participar na campanha eleitoral do PS que deseja regressar às vitórias eleitorais, mesmo à custa de recusas de atitudes que muito beneficiariam Portugal.
Mas a memória onde tudo se guarda é, sempre, uma caixinha de surpresas da qual podem sair as coisas mais extraordinárias. Puxou por ela Rodrigues dos Santos que, naturalmente, quis entender por que razão, como comentarista ou oposicionista, Sócrates olha as coisas de um modo diferente de quando detinha o poder.
Sócrates parece ter esquecido o que sentia e pensava naqueles tempos de chefe do governo, quando se declarou, tal como Passos Coelho agora diz em face da crise grave que dele herdou, disposto a fazer tudo o que for necessário para alcançar as metas orçamentais, para o que um consenso é muito importante! E nisso se incluíam os abaixamentos de salários, os cortes e tantas demais coisas causadoras da austeridade que as circunstâncias impediram de evitar.
Foi tal a atrapalhação e a irritação de Sócrates perante a realidade a que Rodrigues dos Santos o expôs que acabou por confessar não estar “preparado” para tratar destas questões, como jamais o estará quando tem como explicação única serem agora as condições diferentes, porque o seu era um governo minoritário!!!

Será este o Sócrates que vai dar alento à campanha eleitoral do PS que recusa o “consenso” que antes pediu e não concorda que este governo faça os “cortes” necessários para alcançar das metas orçamentais, tal como antes o PS também fizera e mais se dispunha a fazer?


domingo, 23 de março de 2014

A “CRISE” E O AGRAVAMENTO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

Começo por destacar o que considero a notícia do dia: “O mais negro relatório sobre os impactos das alterações climáticas anuncia um futuro cheio de inundações, secas, conflitos e perdas económicas, se as emissões de carbono não forem controladas. O relatório está pronto para ser anunciado pelos cientistas das Nações Unidas.”
Há muito que dura o impasse no esclarecimento sobre a real influência da actividade humana nas alterações climáticas que começaram a manifestar-se sob a forma de um aquecimento global consequência da acumulação, na atmosfera, de gases com efeito de estufa.
Estes gases que a actividade económica, dos mais diversos modos, lança em quantidades crescentes na atmosfera, dificultam a saída, para o espaço, dos raios solares reflectidos na Terra alterando, de modo cada vez mais sensível, o balanço de que resulta o equilíbrio térmico no nosso planeta.
A degradação biológica da cada vez maior quantidade de resíduos sólidos que produzimos, os gases digestivos dos ruminantes que criamos em número cada vez mais elevado, os gases de escape do crescente número de viaturas em todo o mundo e tantas outras coisas que poderia citar, próprias deste modo de viver e desta economia que morre se parar de crescer e, portanto, se deixar de criar gases cujo teor na atmosfera vai aumentando, contribuem para o já bem conhecido “efeito de estufa” é, apenas, uma das múltiplas formas como esta nossa forma de viver afecta, profundamente, o Ambiente indispensável à vida.
Não vale a pena, sequer, sobrecarregar o já negro quadro com outras cores bem escuras que lhe dariam a poluição dos oceanos e dos continentes, o acréscimo de toxicidade um pouco por toda a parte, as contaminações, as alterações da actividade biológica e outras cuja evidência torna já dispensável a comprovação, para concluir que a ambição do Homem se tornou maior do que o temor das calamidades que pode desencadear.
Há dezenas de anos que a Ciência chama a atenção para este fenómeno que, estupidamente, estamos a acelerar, sem que os políticos e economistas lhe prestem a devida atenção, tentando iludir a realidade com “esquemas espertos” em que colaboram “cientistas de pacotilha” que, em negações já impossíveis, hipotecam a sua “competência” mas não enganam a Natureza.
Quanto aos efeitos do acréscimo de temperatura, por exemplo, imaginem o efeito da subida de vários metros do nível do mar, a destruição do “permafrost” nas regiões mais frias do planeta onde o aumento da temperatura descongelará a água do solo diminuindo a sua resistência e fazendo afundar o que esteja à superfície como florestas, cidades…


quarta-feira, 19 de março de 2014

FALAR É FÁCIL. COMPREENDER, NEM TANTO!

De uma crónica de Daniel Oliveira, a propósito dos consensos que, pelos vistos, divergências insanáveis não consentem, retirei estes pedaços com os quais quase me apetecia concordar, mas não concordo:
Quem resume o debate sobre a crise à forma não deve esperar conteúdo. Pede encenação, tem encenação.
Quem quer mais da política que o jogo e a aparência, gosta de gente inteligente, com cultura e memória. Gente que conheça a história e saiba tirar dela a experiência que o tempo que a vida nos dá não nos pode garantir….”
A verdade é que continuo a ouvir falar de crise e não a vi, ainda, definida de um modo claro. Ninguém me disse, ainda, o que, de facto, ela é!
Começou com a famosa “bolha da construção” nos Estados Unidos ou começou, antes disso, com as falências estrondosas de companhias e de bancos de cuja solidez ninguém duvidava? Que influência teve todo o “lixo tóxico” que a avidez de lucros e a insensatez dos ávidos foram acumulando ao longo de muito tempo?
Será esta crise apenas mais uma ou, em vez disso, será o acumular das pontas soltas que foram ficando das outras que, ao longo de décadas, aconteceram, formando assim como que a “bolha das crises” que, mais cedo ou mais tarde teria de rebentar?
Pois, é da forma da crise que tenho ouvido os economistas falar e procurar, na memória das experiências das crises do passado, as soluções que não encontram.
Por isso, retenho, do que disse Daniel de Oliveira, a primeira das frases que citei: “quem resume o debate sobre a crise à forma não deve esperar conteúdo”. E, nisso, tem toda a razão na forma como o diz mas não no modo como trata a questão pois, de seguida, fala da experiência do passado, de gente que conheça a História e dela saiba tirar a experiência que o nosso curto tempo de vida nos não dá.
Mas creio que restringe a memória a uma História curta demais para a experiência de que necessitamos. A História que nos pode ajudar vai muito para além do tempo desta “economia” em que se insere a “crise” que, afinal, a história das crises não faz compreender nem dá experiência para resolver. A não ser assim, não seria já esta “crise” mais longa do que os intervalos entre as outras que a antecederam e bem mais profunda e mais ampla do que todas as demais.
Os factos sugerem-nos, pois, que pensemos se o tempo que vivemos é de crise económica ou de crise civilizacional como outras que a Humanidade já viveu e profundas mudanças provocaram.
Penso que esta será a dimensão histórica certa para reflectir sobre o conteúdo da “crise” cuja solução não passa pelas atitudes que a ideologia política que conheço a Daniel de Oliveira e mesmo outras preconizam.
Mais cedo ou mais tarde haveremos de compreender a essência desta “crise” que não encontrará inspiração para uma solução definitiva numa experiência histórica limitada.
Seja como for e quanto a Portugal, será sempre necessário este caminho de reajustamento até uma economia interna equilibrada que, por muito que nos custe, significa um modo de vida também equilibrado e, nestes primeiros tempos, difícil e cheio de carências de que a anterior “superabundância” é, naturalmente, a causa.
Mas não se pode descurar a preparação do futuro para o que são inevitáveis os consensos que as ideologias e os interesses partidários atrapalham porque é de amplo conhecimento histórico e de conhecimento científico sobre o mundo em que vivemos que necessitam.
De falatório já basta!


terça-feira, 18 de março de 2014

INSANIDADE INSANÁVEL

No encontro com Passos Coelho para discutir o futuro próximo de Portugal que, depois de múltiplas insistências, não pôde recusar , Seguro não foi capaz de colocar os interesses do país acima do seu programa político pessoal, ao qual qualquer tipo de consenso, neste momento, seria fatal. De facto, como se conciliaria um consenso com o desejo que tornou público de ganhar as eleições europeias e, em seguida, exigir eleições legislativas antecipadas nas quais espera conquistar o poder?
Por isso, invocou divergências insanáveis para justificar não colaborar na preparação do futuro de todos nós, apesar da urgência com que temos de tomar decisões que não são, com certeza, as de regressar a uma gestão descontrolada que dê satisfação ao desejo do impossível regresso ao passado com que o Governo se confronta em manifestações sucessivas e nos lançaria em mais uma aventura que, desta vez, seria bem pior do que aquela da qual ainda não saímos.
Enjeitou Seguro a oportunidade de, pelo consenso, poder influenciar as soluções de governação porque, tudo o demonstra, prefere esperar a oportunidade de as decidir sozinho.
Tenho dito algumas vezes, a propósito desta economia que entrou em crise existencial num ambiente que já não suporta o crescimento continuado sem o qual não sobrevive e, por isso, da necessidade urgente de lhe mudar o rumo, que aquilo que não fizermos por vontade própria, controlando os efeitos que tiver, a realidade no-lo imporá seja qual for a dor que causar.
O mesmo me parece que vai acontecer em resultado das insanáveis divergências dos políticos deste país que ou coordenam os seus esforços para nos proporcionar um futuro melhor ou serão responsáveis por mais uma aventura macabra de que todos sairemos muito maltratados.
Não esperava de Seguro uma atitude diferente ou que não estivesse em linha com as orientações públicas de Soares para quem “está na hora, está na hora, de o governo ir embora”.
Quando as ideias são escassas mas é muita a ânsia de poder, é na simples mudança que se procuram as soluções que, obviamente, apenas pelo estudo, pelo trabalho e pelo bom senso, jamais com chavões, se conseguem encontrar.
Veremos, em breve, o que mais vale na democracia portuguesa, se as razões se as "palavras de ordem" e, com isso, qual o futuro que Portugal pode esperar.


O QUE É QUE JÁ DEU O QUE TINHA A DAR?

Parece que Mário Soares já não consegue ver para além da salinha onde se senta e escreve, por certo de janelas fechadas que evitam as correntes de ar mas que, também, quebram os ecos do mundo onde as coisas se passam de um modo muito diferente daquilo que, no seu delírio de sonho, ele imagina.
Esqueceu, obviamente, as razões por que, em tempos de dificuldades, meteu o “socialismo na gaveta” e nem faz ideia das voltas e reviravoltas que o mundo deu desde então e que tão diferente o fazem daquele que conheceu.
Não lhe bastaram as aventuras mal sucedidas em campanhas para isto e para aquilo e lhe deviam ter feito reparar que o seu tempo de político activo já passou, como as críticas que os seus escritos suscitam lhe deveriam fazer ver que o seu tempo de "mentalizador" acabou também.
Ignora as tragédias da “esquerda” que, em vez de se repensar e encontrar as soluções que o mundo de hoje necessita, se desfaz em cacos que os ventos espalham por um enorme espaço vazio de ideias e de soluções e nem imagina, sequer, os sarilhos graves em que se meteu o “capitalismo” para o qual o seu “socialismo” não encontrou, afinal, qualquer alternativa.
Parece nem saber, sequer, do que se passa um pouco por toda a Europa e também onde, com o seu amigo Mitterand, sonhava com as delícias de um mundo encantado que Le Pen parece querer, agora, destruir.
Continua fã do voluntarismo que tudo resolvia quando os bolsos estavam cheios e, por isso, não sabe lidar com os problemas que o “cotão” que restou não consegue resolver.
Mas Soares, sem soluções alternativas para as políticas que critica, continua a julgar-se a voz do povo e fala por ele quando diz “o povo não pode ouvir mais – nem ver – este Governo inepto e sem vergonha e o Presidente, porque ambos estão a concorrer para a desgraça de Portugal…”, esquecendo, nas suas conjecturas serôdias, que não são as dores da cura que matam o doente, mas sim os excessos que cometeu e o levaram a adoecer.
E na decrepitude a que vidas longas, mais cedo ou mais tarde, inevitavelmente dão lugar, dá uma dimensão senil aos chavões que podem até fazer empolgar multidões mas, como a História o demonstra, não são capazes de gerar as soluções de que o mundo necessita, como estes de que lança mão na sua última crónica “a Direita já deu o que tinha a dar… “Demitam-se! Está na hora, está na hora, de o Governo ir embora!”
Não me agrada ver a ruína na casa dos outros, sobretudo quando a minha, também um dia, começará a estremecer. Mas, então e se for caso disso, eu gostaria que me não deixassem fazer estas figuras…  


segunda-feira, 17 de março de 2014

AS ESCADAS DE SÃO BENTO E OS IDEAIS DE ABRIL

Todos querem subi-las alguma vez, custe o que custar. De preferência em pose de gente importante. E não pensem que são de rosas as batalhas que se travam na luta por um lugarzinho naquele hemiciclo onde é permitido dizer o que a boa educação não consente, o que a inteligência impediria que fosse dito e tanta gente se trava de razões por motivos que aos interesses e necessidades do país vezes demais não correspondem.
Mas se assim não puder ser, força-se a subida nas “manifestações pacíficas” que os sindicalistas organizam. Não para que os trabalhadores manifestem o seu desagrado por isto ou por aquilo ou reclamem a justiça que lhes é devida, porque ninguém lhes disse a verdade das intenções, mas para que, assim mal informados e convencidos de que tudo é para seu bem, se constituam no pedestal em que os seus mentores exibem a força com que reclamam a sua quota parte do poder.
E quando leio que um dirigente sindicalista afirma que “falta cumprir Abril”, um chavão requentado dos que nem me parece que saibam o que tal signifique, vem-me à lembrança uma conversa que tive com o já quase esquecido Almirante Pinheiro de Azevedo, pouco depois daquela sessão da Assembleia da República para aprovação da Constituição saída da Revolução e onde, como membro do seu gabinete, estive presente.
Disse-me ele que os primeiros quarenta anos seriam para a poeira assentar, satisfazer a sofreguidão e a vaidade dos que se tinham apoderado do poder, aprender com os muitos erros que se praticariam, fazer nascer uma autêntica classe política e, depois, talvez aprendêssemos que democracia não é um conjunto de regras e de normas com soluções para tudo mas uma vivência de princípios sociais de que a solidariedade e o trabalho são a essência.
Não me falou o Velho Almirante das perversões a que a “liberdade” poderia dar lugar, da corrupção que se poderia instalar e tão difícil é de erradicar nem das “conquistas” que alguns, oportunisticamente, iriam alcançar.
Apenas me disse que, depois da “festa”, iríamos ter uma democracia autêntica com uma Constituição que, mesmo não sendo “a mais avançada do mundo” como se dizia ser aquela acabada de aprovar, seria a de que o país precisaria para que os ideais puros de Abril se cumprissem.
Quarenta anos já passaram. Mas muita poeira continua no ar, muita ganância por satisfazer, muita bazófia por esgotar, muito disparate por corrigir e muito pouca paciência para esperar mais tempo por promessas que ninguém cumpre.
Afinal, por onde andam os ideais de Abril?


sábado, 15 de março de 2014

AS PRESCRIÇÕES DOS CRIMES ECONÓMICOS, O ATAQUE ÁS ESCADAS DA ASSEMBLEIA... MAIS UM DIA E NADA DE NOVO!

Acordei, levantei-me e, como é habitual fazer, liguei o computador e fui dar uma vista de olhos pelas notícias do dia.
Uma volta pelas letras gordas dos jornais e fiquei a saber que nada há que seja verdadeiramente novo ou surpreendente. Nada vai além do que esperava encontrar pois todas as notícias são as que seriam esperadas neste mundo que parece já não ter, para nós, notícias agradáveis e, quanto às outras, nada as desvia da rota prevista.
A preocupação que o que vejo acontecer me causa e procuro compreender em reflexões que faço, não fica aliviada quando noto que o que acontece pouco vai além, quando vai, daquilo que previra.
Escolhi esta lista de notícias que bem confirmam o que disse. Reparem:
- Oliveira e Costa pede prescrição no caso do BPN
- Inspecção acusa mais 14 médicos de fraude nos horários (Serviço N Saúde)
- Manifestantes tentaram subir as escadarias do Parlamento. Arménio Carlos e Ana Avoila no desfile de protesto.
- Militares pedem empréstimos para pagar IRS
- Nove milhões de sírios já foram obrigados a deixar tudo para trás
- EUA acusam grandes bancos de manipulação de taxa de juro
- Dois mortos em tiroteio na Ucrânia entre pró-russos e nacionalistas
- EPAL cortou água a quase 12 mil famílias em 2013
- PM da Malásia fala em «acção deliberada» no desaparecimento do avião
- PS vai 'atacar' com legislativas antecipadas após europeias

Algures por aí leria, também, que na Venezuela continuam os protestos contra Nicolas Maduro, no Brasil continuam as manifestações contra a COPA DO MUNDO, que o Sporting continua a ser roubado pelas arbitragens, enfim, notícias que se tornaram corriqueiras...
Só tenho pena que o banho que vou tomar de seguida não consiga lavar, também, o que vai nas mentes tenebrosas que emporcalham o nosso dia a dia.
Estaremos nós entregues aos bichos?


sexta-feira, 14 de março de 2014

A COADOPÇÃO E O REFERENDO

Tal como já aconteceu a propósito do casamento entre pessoas do mesmo sexo, o meu entendimento é de que tem de haver soluções legais que respeitem os direitos naturais das pessoas, adultos ou crianças, sem que, contudo, conflituem com a normalidade dos princípios sociais relativos aos laços familiares tradicionais.
Se, em meu entender e no de muita gente, chamar “casamento” à união homossexual desvirtua o casamento tradicional que, desde sempre, foi o entendimento de uma ligação da qual pode resultar a continuação da Humanidade, também a coadopção que faz uma criança ter dois “pais” ou duas “mães” quando, natural e inevitavelmente, tem um pai e uma mãe, me parece uma perversão desnecessária à garantia dos direitos que pretende acautelar.
Haverá, por certo, soluções legais que, garantindo esses direitos, não confundam instituições normais e naturais, deste modo enfraquecendo a já tão fragilizada família natural, sem a qual a sociedade será fragilizada também.
Não haverá imaginação bastante para resolver esta questão de direitos que, obviamente, terão de ser garantidos, porém sem conflituar com outros direitos porque confundem o que não deve ser confundido? Depois, onde fica o tão apregoado direito à diferença quando se pretende que seja igual o que não é?
O orgulho da diferença não passa de uma hipocrisia?
Além do mais, não me parece que uma Assembleia da República não expressamente mandatada para legislar sobre matérias desta natureza, possa ter competência para o fazer, sendo absolutamente necessária, nestas circunstâncias, uma consulta popular por referendo.
Mas, como estou convencido de que este “assunto” passará despercebido em qualquer disputa eleitoral porque outros “interesses” se lhe sobreporão, julgo que o referendo será, sempre, o modo certo para uma sociedade se pronunciar em questões desta natureza.
Espero que a rejeição da coadopção que hoje aconteceu na AR faça os políticos pensar nas formas mais correctas de resolver um problema de direitos de uns sem beliscar os direitos de outros.
Seria esta reflexão e  a solução adequada que dela possa resultar que nos distinguiria como sociedade evoluída e não a comparação com a Rússia, com a Roménia ou com a Ucrânia que não aceitaram, também, a coadopção.


A MINHA LUTA

Farto dos paninhos quentes que coisa nenhuma resolvem, cansado das lutas estéreis dos que, pelo poder, sem pudor se digladiam, enojado pelo seguidismo de tantos que vão apanhando as “migalhas” que caem das mesas onde se espalham as iguarias das lautas bodas do poder que um dia querem alcançar, desiludido por tantos, por tantos demais, a quem os bem orquestrados cantos de sereia deixam embevecidos ao ponto de não pensar no que melhor lhes convém, entontecido pelo ensurdecedor ruído dos que reclamam conquistas que o seu trabalho não justificou, travo a minha luta que não é contra ninguém, porque é pelos que ainda estarão neste mundo quando, por um egoísmo animalesco, já estiver transformado num lugar quase impróprio para viver!
Acumulam-se os sinais de tempos jamais vividos, sente-se a proximidade da revolta dos que vão ficando fartos de serem o capacho usado pelo capitalismo selvagem, manifestam-se os que já se fartaram de ser as marionetas que outros manobram, multiplicam-se as afrontas à Natureza que já dá sinais de revolta, enfurece-se a disputa pelos recursos cada vez mais escassos e alastram até aos mais recônditos lugares do Planeta as maleitas que vão destruindo o Ambiente sem o qual a vida não continuará.
Sei que não estou só nesta luta que outros travam também. E sei, como eles, que nem as razões que nos assistem nem o bom senso a que apelamos são armas bastantes contra os gigantescos interesses contra os quais travamos esta luta desigual.
Apenas a aliança da própria Natureza, cuja revolta já se sente, nos dará a força da razão que, se for tarde demais, já de muito pouco ou de nada poderá valer.
Entretanto vamos acumulando o lixo imenso que esta economia do "usa e deita fora" insensatamente produz!

quinta-feira, 13 de março de 2014

A JUSTIÇA E AS INJUSTIÇAS QUE CONSENTE

Quando, para poupar mais uns centos de milhares de euros, o Governo vai penalizar mais pensionistas com o famigerado e injusto Complemento Especial de Solidariedade (CES), a Justiça portuguesa não condena alguém que deveria pagar um milhão de euros de coimas por irregularidades que cometeu, porque deixou prescrever o crime! Em consequência e com argumentos que radicam nas causas pelas quais tal aconteceu, outros potenciais condenados reclamam a prescrição de factos idênticos que os podem condenar.
Não é coisa de espantar que tal aconteça num país onde a equidade é mal conhecida, quer pelo governo que a não pratica quer pelos tribunais que a autorizam, e onde, também, a condenação dos “poderosos” é uma raridade. Os factos apontados são provas que se juntam a outras muitas que, ao longo do tempo, comprovam ser assim.
Estão em curso alguns processos de julgamento de crimes económicos que, pelas evidências que revelaram, a sociedade há muito já condenou. Mas das condenações sociais não resultam as penas que compete à Justiça aplicar, mas que oportunistas recursos dilatórios, apenas ao alcance de quem tenha meios para os pagar, muitas vezes impedem.
Não pode condenar-se o aproveitamento dos meios que a Justiça consinta, mas o mesmo se não poderá dizer do facto de a Justiça os consentir, com as consequências de injustiça social a que, fatalmente, dão lugar. Assim como não é condenável que advogados defendam criminosos, porque até estes têm direito a ser defendidos. Mas que esses advogados, para além do que, em tribunal, possam fazer em seu favor, façam, em público, a defesa dos que os factos já condenaram e os tribunais podem condenar, é outra atitude altamente condenável mas que se tornou habitual, porque até esta “defesa” os criminosos podem pagar.
Não são, apenas, os problemas económicos que comprometem o futuro, mas os que à Justiça dizem respeito, também.


AFINAL O QUE É A AUSTERIDADE?

A austeridade a que o resgate financeiro nos obriga, não é mais do que o rigor nas nossas decisões de gastar perante a penúria de meios a que a gestão, feita no passado, nos fez chegar.
Sem dinheiro bastante para satisfazer os encargos assumidos, o país deixaria de pagar salários, pensões, fornecimentos, tal como não poderia honrar os compromissos da dívida corrente e, consequentemente, ficaria na situação vulgarmente conhecida por bancarrota.
Seria esta a situação do país se o anterior governo não tivesse acabado por pedir um resgate financeiro que a União Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI lhe concederam a troco de compromissos constantes de um acordo assinado, cujo cumprimento uma “Troika” de representantes daquela entidades controla com muito rigor.
A realidade tem mostrado as causas do descalabro a que as finanças do país chegaram em consequência de gastos excessivos com pessoal e com a “estrutura” na Administração Pública, de decisões financeiras erradas, de contratos ruinosos celebrados para construção de infraestruturas e prestação de serviços, dos desequilíbrios atingidos na Segurança Social e no Serviço Nacional de Saúde, bem como com a falta de controlo que permitiu as promiscuidades que fez de muitos espertalhões milionários, permitiu a corrupção que desviou enormes somas de dinheiros públicos e fez florescer o “mercado paralelo” que se furta ao cumprimento das obrigações fiscais e, por isso, sobrecarrega aqueles que delas não podem escapar.
O resultado de tudo isto, para evitar a bancarrota, só poderia ser a austeridade que, necessariamente, teria por efeito um abaixamento significativo do “nível de vida” a que corresponde um efectivo “empobrecimento” e, naturalmente, um aumento da dívida pública em consequência dos avultados empréstimos recebidos na operação de resgate.
Toda esta lógica é natural após a situação alcançada por uma governação que não foi prudente nos seus gastos, não foi atenta nas acções de fiscalização da economia nacional e não foi, sequer, competente nas decisões que tomou e em muitos contratos que firmou.
Em suma, a situação financeira atingiu contornos de verdadeiro caos causado por incompetências e por actos ilícitos que deveriam ser cuidadosamente apurados, julgados e condenados, mas cuja responsabilidade, como é infeliz hábito que aconteça, acaba por ser atribuída a quem herda os problemas e tem de encontrar formas para os resolver.
Aquilo de que nos lembramos é de que vivíamos bem durante os governos de Sócrates e vivemos pior, alguns muito mal até, no governo de Passos Coelho. Logo, as culpas serão deste e não de quem causou os problemas! Esta é a lógica tola que dá lugar a reacções destemperadas como a que, na Antiguidade, levou um general a matar o estafeta que lhe trouxe a notícia da derrota numa batalha!
Nestas condições, é natural que todas as armas apontem para quem acaba por ter de desmontar e resolver os erros praticados por outrem, para quem deixou de permitir a euforia financeira dos que gostavam de ser ricos e tem, ainda, pela frente, um longo caminho de limpeza de maus hábitos que as nossas reais capacidades não podem sustentar.
Não será travando uma guerra entre os que seguem um caminho e os que, simplesmente, o contestam e confrontando as imposições do resgate concedido com os “direitos que conquistámos" que sairemos de uma situação delicada, muito complexa e mais difícil de resolver porque todo o mundo está mergulhado na “crise” económica e financeira, a maior de todos os tempos, da qual não consegue sair, o que reduz as possibilidades de ajuda que, para ultrapassar a nossa, nos possa dar.
Aliás, por todo o mundo as mesmas dificuldades se sentem, se instala a mesma incapacidade em manter os ritmos económicos que nos iludiam quanto a uma riqueza que não tínhamos e todos acabarão por se habituar ao “nível de vida” que os recursos naturais de que dispomos nos podem proporcionar e a Natureza, o meio a que pertencemos e nos permite viver, nos consente.
Por tudo isto a “austeridade” não é, afinal, senão viver conforme os nossos recursos nos consentem.
Amenizá-la resultará da valorização desses mesmos recursos e da sua utilização comedida. Com muito esforço. Certamente.

quarta-feira, 12 de março de 2014

VALERÁ A PENA A REESTRUTURAÇÃO DA DÍVIDA?

Manifesto a minha incompetência, pois não sou economista, para me pronunciar sobre os efeitos concretos que uma reestruturação da dívida possa ter. Mas não me é difícil admitir que dependerá do modo como a reestruturação puder ser negociada.
Numa reestruturação que não implique perdão de dívida que desacreditaria o país e destruiria os efeitos positivos de quase três anos de sacrifícios, a reestruturação teria como consequência simples alargar o período de amortização, tornando menor o valor da amortização anual e, com isso, a parte do produto nacional que lhe seria afectado. A reestruturação permitiria, deste modo, que mais meios financeiros ficassem na economia do país, a qual disso beneficiaria.
Mas na reestruturação confrontam-se dois interesses, o do devedor e o do credor, o primeiro pretendendo um prazo de reembolso maior que reduza significativamente a prestação anual e o segundo exigindo, naturalmente, juros que, como sabemos, crescem muito com o prazo de maturação da dívida.
Dependerá, pois, da razão “aumento do prazo/acréscimo dos juros” o eventual benefício que da reestruturação possa resultar.
Apenas um valor positivo daquela razão permitirá reduzir, efectivamente, a prestação anual, sendo que apenas um valor significativamente elevado (grande aumento do prazo e muito pequeno acréscimo de taxa de juro) fará a redução valer a pena em função de outros custos que a dilatação do prazo também implicará, incluindo o acréscimo de juros de novos e inevitáveis empréstimos sem os quais o país não sobreviveria.
É por isso que qualquer processo de reestruturação apenas possa ser avaliado no conjunto de todas as suas implicações, o que apenas o Governo, na posse de toda a informação e no conhecimento da predisposição dos credores com os quais, naturalmente, tem contactos, poderá efectuar, não fazendo qualquer sentido a convicção de que a reestruturação será, inevitavelmente, vantajosa, como se depreende do manifesto apresentado.
Por outro lado, de uma reestruturação da dívida imposta pelas dificuldades de pagamento, como parece ser o argumento do manifesto dos setenta e dois notáveis, apenas poderá resultar uma desqualificação da credibilidade que impedirá o país de, no futuro, se financiar com juros razoáveis. E tudo voltaria ao princípio, com um novo resgate, mais austeridade e mais pobreza.
Não acredito numa benevolência da União Europeia em relação a Portugal idêntica à que os “aliados” tiveram para com a Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial e lhe permitiram a recuperação que teve, como me parece que o manifesto tem como pressuposto. 


UM CONSENSO DE OPOSIÇÃO?

É óbvio que é quem esteja por dentro dos assuntos que melhor pode avaliar as consequências das atitudes que se tomem. Disto ninguém terá dúvidas. E Passos Coelho reagiu ao manifesto dos setenta notáveis com evidente desagrado, referindo as consequências negativas que tal atitude poderá ter nos mercados, com reflexos nos juros da dívida que têm vindo a decrescer sucessivamente e permitiam antever valores ainda mais baixos a quando da saída da Troika. Mas será que, depois deste manifesto, essa tendência de descida continuará? É o que veremos.
Como irão os mercados interpretar esta atitude? Verão nela o modo como a Oposição e, com ela, o próximo Governo, vai actuar no futuro?
Os mercados sabem, com certeza, fazer as contas que os “notáveis” fizeram relativamente à capacidade de solvência da dívida portuguesa e, por isso, saberão avaliar a situação em que não estarão, por certo, dispostos a perder dinheiro. É, por isso, que as coisas devem fazer o seu percurso normal, conduzidas por quem disso tem a responsabilidade, sobretudo quando se trata de escolher a ocasião para negociar vantagens.
Seria esta a oportunidade ideal para negociar a reestruturação da dívida? Esta é a pergunta certa numa questão que, embora contabilística, tem contornos políticos delicados que, por isso, devem ser tratados com os cuidados que merecem, quanto ao modo e à oportunidade.
Como ontem disse, não acredito que o Governo não tenha em mira melhores condições para o pagamento da dívida e não tenha planeado o que fazer para a tornar menos penosa quando tal for viável.
Torna-se, por isso, um pouco estranha a oportunidade que os “notáveis” encontraram para dar á luz um manifesto em que a reestruturação da dívida é pedida como urgente, precisamente cerca de três meses antes da saída da Troika e do regresso aos mercados!
Uma certeza me fica de tudo isto, a de que, não tiveram os notáveis, ou alguns deles, em conta os efeitos adversos que a sua atitude poderia vir a ter ou, se a tiveram, que é uma mensagem de confronto com o Governo a que passaram para o mundo que poderá dela intuir que os desenvolvimentos políticos previsíveis em Portugal poderão vir a constituir riscos que os mercados poderão não estar dispostos a correr.
Em vez disto e conforme sempre pensei, gostaria de ver ser montada uma estratégia nacional, com a qualidade e com o recato que todas as negociações requerem e no qual se envolvessem os principais partidos, assim se criando o consenso de governação em vez do consenso de oposição que os notáveis conseguiram.


terça-feira, 11 de março de 2014

SUGESTÕES TRAULITEIRAS

Custa a crer que seja verdade. Mas é! Depois de tantos autênticos apelos à revolta social que aqui tenho registado, mais uma vez o incontornável Soares faz uma previsão de catástrofe que é uma autêntica provocação. Aliás, nunca é inócuo o que um ex-Presidente da República diga, pelas influências que, inevitavelmente, terão nos espíritos fracos, nos sectaristas assanhados e, naturalmente também, naqueles a quem estes tempos difíceis mais afectaram. E Soares sabe-o bem e, por isso, insiste na instigação.
Na última manifestação de polícias foi notória uma postura generalizada socialmente aceitável que as atitudes de uns quantos mais “revoltados” não foram bastantes para desmerecer. Nunca se notou a possibilidade de a manifestação descambar num confronto estúpido que teria bem mais más consequências do que proveitos.
Mas nunca seria o facto de serem polícias a manifestar-se que levaria o Governo a ouvi-los melhor a eles do que a outros quaisquer que se manifestem, porque todos somos cidadãos por igual num país em dificuldades.
Mas, tratando-se de “forças da ordem”, as consequências de desacatos que façam serão sempre de temer e ainda mais quando os militares tentam apanhar a “boleia” para fazerem as suas reclamações, também.
É por isto que me preocupa muito que Soares sugira os disparates que sugere nas suas crónicas que, há muito, deveriam ter tido um fim.
Quando, a propósito da última manifestação, Soares diz que “os polícias aceitaram e retiraram-se pacificamente, mas a gravidade da situação mantém-se” e “se o Governo não cede aos polícias, não voltarão a ser tão pacíficos”, sem dúvida está a pensar em actos violentos incompatíveis com os princípios democráticos que tanto defende.
A tal democracia que ele diz ter soluções para todos os problemas. Pelos vistos nem que seja à traulitada! A minha Democracia não é essa.
Como pode, alguém que deveria compreender bem a situação delicadíssima que o país vive vive, dizer tais barbaridades?


A REESTRUTURAÇÃO DA DÍVIDA E O AMUO DO PS

O Consenso que os políticos em desempenho de funções, os que compõem e apoiam o Governo e os activos do PS, ainda não conseguiram, exibem-no, agora, setenta personalidades políticas das mais diversas tendências, num manifesto público sobre as vantagens da reestruturação da dívida portuguesa.
Não me surpreende que assim procedam, tais são as vantagens de uma reestruturação que, mesmo dilatando bastante o tempo de pagamento, tornaria um pouco mais leves os efeitos da austeridade que não evitariam de todo e não poderiam fazer abrandar o rigor orçamental que evitará que, outra vez, caiamos na situação de descontrolo e de carência financeira como a que nos levou à intervenção de resgate da qual estamos prestes a sair.
Nem, sequer, me passa pela cabeça que esta atitude não esteja nos planos do governo e que diversas iniciativas não tenham sido feitas nesse sentido. Sabemos, até, de uma que levou o ministro das finanças alemão a dizer publicamente que não era a altura para fazer tal proposta porque, sem dúvida, daria um sinal de fraqueza indesejado quando o período de tempo até ao final do resgate era ainda tão longo! Talvez, por isso, tenha sido adiado…
Mas é um caminho com diversos escolhos que começa por não depender apenas de nós e cujos efeitos junto dos mercados não são de menosprezar, sobretudo se não se aperceberem da existência de condições que não tornem maiores os riscos dos empréstimos que fizerem, como as que resultariam do tal consenso a que o PS se recusa, dizendo-se mal tratado pelo Governo ao longo desta governação.
A um conhecido socialista ouvi ontem dizer, num programa de TV, que o Governo não quis saber do PS na privatização da TAP ou da ANA, por exemplo. ..
E fiquei a pensar o que estas decisões teriam a ver com os planos de longo prazo, planos que ultrapassam o mandato, aqueles que estão em causa nos consensos de que Portugal necessita. E recordei-me, a propósito, dos pedidos que, a certo ponto com mais do que insistência, eram feitos ao governo socialista de Sócrates para não cometer as loucuras que foi fazendo! Os quais não atendeu também.
É este amuo inacreditável e egoísta do PS, o qual não consegue disfarçar a sua ansiedade na tomada do poder, que pode dar lugar às desconfianças que dificultem a reestruturação que estas setenta personalidades sugerem e que tantas vantagens nos poderia trazer. Mas haverá sempre um enorme "se" a condicionar.
Por isso me parece que o manifesto deveria ser bem escutado pelo PS.


domingo, 9 de março de 2014

E ABRI A BOCA DE ESPANTO!

Recordo-me bem da equipa de “volei” dos meus tempos de estudante do Técnico, a eterna campeã que fazia do fair-play uma característica que, aos poucos, as outras equipas também foram praticando.
Naqueles toques ligeiros quase impossíveis de detectar, o jogador era o primeiro a acusá-lo, impedindo que o árbitro cometesse um natural erro de avaliação que beneficiaria a sua equipa. Aquela prática jamais impediu que o Técnico vencesse os seus jogos e fosse campeão quase ao longo de duas décadas. Penso, até, que o efeito seria o contrário…
Depois vi perder esse hábito próprio do desporto e vi nascer o seu contrário, a arte de enganar o árbitro, um hábito de enganar que se treina como algo que faz parte da estratégia para vencer.
As faltas bem “arrancadas”, “oportunas” ou, até, “inteligentes” como por vezes são chamadas, fazem agora parte da arte de jogar nos desportos de equipa, com gestos estudados e reclamações que procuram tirar proveito de qualquer dificuldade de visão de quem observa os lances, se o fizer com a imparcialidade, o que também é raro de acontecer.
Vemos a falta manhosa ou oportuna constantemente, fazendo parte das atitudes normais em jogos que, pela falta de fair-play que o "desporto" abandonou, são dele autênticas aberrações!
Foi, por tudo isto que, com verdadeiro espanto, li a notícia de que o atleta Aaron Hunt, jogador do Werder Bremen, disse ao árbitro que não tinha sofrido falta, depois deste ter assinalado grande penalidade a favor da sua equipa. Um verdadeiro espanto esta atitude que não impediu a sua equipa de vencer o jogo!
Gostaria de voltar a ver tais atitudes com que me habituei no desporto da Escola onde estudei. Mas não me restam dúvidas de que as não verei mais.
Por isso, para além das classificações reais, há quem organize as que seriam se erros grosseiros não fossem praticados. Uma verdadeira paródia do desporto que deixou de ser escola de Homens para se tornar na arte de ganhar a qualquer preço.
Enfim, gostava de ver o “sistema” desfeito para que voltasse a haver desporto.


UMA SAÍDA ACAUTELADA OU NÃO?

Parece-me natural que o ministro das finanças que nos conduziu até aos resgate financeiro, aquele ministro que aceitou, sem protestar, os devaneios de um governo que duplicou o endividamento público e permitiu que Portugal e se financiasse com juros crescentes que considerava sustentáveis até sete por cento, tenha bastante para dizer sobre o modo de dele sair.
E julgo, também, que deva ser escutado porque, sem dúvida, muito terá pensado sobre isso e, consequentemente, aprendido com os erros que cometeu, erros que, estou certo, hoje não repetiria.
Mas deveria, creio, falar de outro modo. Não daquele jeito, um tanto empertigado, de quem simplesmente diz como deve ser feito, mas com a humildade reconhecida de quem quer evitar que outros cometam erros que ele cometeu.
Ainda me lembro da sua primeira entrevista depois da queda do governo do qual fez parte, a qual esperei com bastante expectativa mas me defraudou pela defesa que tentou fazer de coisas indefensáveis! Condesso que fiquei desiludido e chocado.
Mas isso já lá vai e tenho, agora, que lhe dar razão quando diz ser uma saída “acautelada” a que o Governo deve adoptar, para prevenir as incertezas da “crise”, na Europa e no mundo ainda não ultrapassada, por mais que Seguro e o PS, por motivos egoístas que bem se entendem, gritem que faze-lo seja a maior prova do falhanço do Governo. Mesmo, assim, desdizendo o que, tempos antes, haviam afirmado!
Pela dívida enorme que acumulámos e, naturalmente, teria de crescer ainda mais após o resgate, por muitos anos haveremos de nos submeter ao controlo dos nossos credores para que mereçamos a sua confiança, até que a dívida regresse a um nível razoável, o que significa até conseguirmos reduzi-la com o que a austeridade, o controlo financeiro, o nosso trabalho e o rendimento que conseguirmos com exportações nos permitam.
Da austeridade que não poderemos, de todo, por muito tempo ainda abandonar, eu não duvido, pois quem não tem dinheiro para gastar, outra coisa não pode ser senão austero. 
No trabalho de que necessitamos para produzir o que, sem ele, teremos de importar ou deixar de ter, eu deposito a esperança na capacidade que todos tenhamos para o realizar, depois de perdidos os tiques de “novos ricos” que uma vida de ilusões em nós causou. Mas receio as recaídas que algumas melhorias possam provocar, pois ter uma vida de rico é, sempre, uma tentação.
Quanto às exportações, tenho sérias dúvidas de que o seu crescimento seja o que nos dará os meios de recuperação que nos torne financeiramente autónomos, pois tal pressuporia uma dinâmica de sucesso para a “economia” mundial, a qual não me parece ser uma realidade.
A tudo isto juntarei o aproveitamento dos muitos recursos naturais que temos desperdiçado, indispensável para sermos um país onde se vive bem
Apesar dos incitamentos envenenados da Europa que prefere não se comprometer com o “programa cautelar” que nos protegeria, bem como da histeria maldosa do PS que, sem qualquer pudor, tenta o Governo a ter uma atitude de alto risco que a todos nós atingiria, eu continuo a pensar, tal como Presidente da República, Teixeira dos Santos e outra muito boa gente, que uma “saída acautelada” será a primeira decisão certa de um conjunto extenso de decisões sensatas que o futuro nos exige que tomemos.


sábado, 8 de março de 2014

DEMOCRACIA, VISÃO DE CURTO PRAZO OU DE FUTURO?

Quando é o futuro? Agora, amanhã, daqui a cem ou mil anos?
O futuro é tudo isso e mais até.
Mas fiquemo-nos pelo futuro previsível, aquele que nos julguemos capazes de controlar. Esse será até quando? Dez, vinte, trinta anos ou apenas o prazo de uma legislatura, findo o qual muitos entendem que “outros” devem ter a sua oportunidade de mostrar o que valem? Se for este, não passará de ser o equívoco dos que julgam que é mudando que os problemas se resolvem. Mas porque se não resolvem mudando mas sim pensando e melhorando, a mudança é, também, o erro dos que deixam para a “dinâmica democrática” a solução dos problemas que ela, só por si e ao contrário do que alguns afirmam, não pode resolver. Porque a democracia, como um conjunto de normas que é, obviamente não pensa. Simplesmente actua, mesmo que o não faça do modo mais adequado ao ambiente a que se aplique nem ao momento que se vive.
Mas é um velho hábito português não valorizar o esforço já feito, desperdiça-lo até, preferindo a ruptura, a aventura de um recomeço incerto que promessas de sucesso lhe insinuam. Foi quase sempre esta a razão da alternância que temos vivido, à qual, apesar de a culparmos de logros em que já caímos, continuamos a dar todas as oportunidades.
Mas não será com disputas estéreis, como demasiadas vezes acontece, em vez da cooperação que a solução dos problemas exigiria, que a democracia portuguesa se consolidará e deixará de ser, como alguém com oportuna ironia já disse, “a suspeita periódica de que a maioria tem razão”.
Não é uma democracia consolidada a que temos, tampouco aquela de que necessitamos para preparar o futuro difícil que temos pela frente e que fica muito para lá do curto prazo que a sua profunda miopia não tem conseguido ultrapassar.
O futuro de Portugal exige que esta democracia que, por demasiadas vezes, adopta procedimentos abrejeirados, se redima dos erros que já cometeu e se concentre no que é importante, exclua das suas disputas interesses que não sejam os de todos nós e, em vez de experiências falhadas, encontre e prepare, com bom senso, com ponderação e com cuidado, as soluções das quais temos urgente necessidade.  


sexta-feira, 7 de março de 2014

A PRODUCTIVIDADE EM PORTUGAL

Chamou-me a atenção uma afirmação de Belmiro de Azevedo na cerimónia de entrega dos diplomas de finalistas da Porto Business School. Diz o conhecido empresário que, em Portugal, "os salários só podem aumentar - e oxalá que isso aconteça - quando, de facto, um trabalhador português fizer uma coisa igual, parecida, com um trabalhador alemão ou inglês, seja o que for", "pura e simplesmente porque os alemães, por hora, fazem três ou quatro vezes mais do que os portugueses". Se, em vez de dizer “os alemães”, dissesse “os trabalhadores na Alemanha... ou seja o que for", Belmiro teria razão.
Mas importante é saber por que.
Alguém poderá acreditar que um trabalhador na Alemanha, na Inglaterra ou “seja o que for”, o qual pode até ser português, produza, apenas pelo seu mérito, duas, três ou quatro vezes mais do que um trabalhador em Portugal? Em termos médios, de modo algum, porque outros factores existem, como a formação, a organização do trabalho, o ambiente, os equipamentos e outros aspectos, cuja influência na productividade é muito relevante. E todos estes factores são da responsabilidade dos empresários e não dos trabalhadores.
Eu diria, em consequência, que estas diferenças de productividade apenas poderão ser reduzidas se os empresários criarem as condições indispensáveis para tal.
Tendo em conta quem fez aquelas afirmações, direi que nunca reparei que na Alemanha, na Inglaterra, na França e em muitos outros países onde já fiz compras em supermercados, tenha sido melhor e mais rapidamente atendido do que no “Continente”, pelo que a diferença de productividade que possa existir para justificar as diferenças salariais, terá, certamente, outras causas.
As responsabilidades dos empresários portugueses na baixa productividade são, para mim, evidentes desde há dezenas de anos.
Cedo ainda, na minha carreira profissional, fui escolhido para me especializar em hidráulica de “docas secas” para, depois, conduzir os ensaios laboratoriais em modelo reduzido da doca que seria construída na Margueira, na época a maior doca seca comercial em todo o mundo.
Na Holanda, em visitas que fiz a estaleiros navais da NDSM e da Wilton Feyenoord, foi-me referida, expressamente, a elevada qualidade das centenas de portugueses que ali estagiavam para, depois, trabalharem nos estaleiros em construção na região de Lisboa. Em jeito de brincadeira me disseram também que, perante a sua qualidade, não iriam, por certo, “devolver” todos…
A minha experiência, ao longo de cinquenta anos comprovou-me que os trabalhadores portugueses poderão fazer tão bem ou melhor do que outros quaisquer, sejam alemães, ingleses ou o que for. 
Tenho a esperança de que me comprove, também, que os empresários portugueses também serão capazes do mesmo, pois não me restam dúvidas de que lhes cabe a maior responsabilidade pelas razões que Belmiro de Azevedo aponta para os baixos salários dos trabalhadores em Portugal.
Aliás, até em Portugal têm sucesso as empresas bem organizadas.