Todos querem subi-las
alguma vez, custe o que custar. De preferência em pose de gente importante. E
não pensem que são de rosas as batalhas que se travam na luta por um lugarzinho
naquele hemiciclo onde é permitido dizer o que a boa educação não consente,
o que a inteligência impediria que fosse dito e tanta gente se trava de razões por
motivos que aos interesses e necessidades do país vezes demais não
correspondem.
Mas se assim não puder
ser, força-se a subida nas “manifestações pacíficas” que os sindicalistas
organizam. Não para que os trabalhadores manifestem o seu desagrado por isto ou
por aquilo ou reclamem a justiça que lhes é devida, porque ninguém lhes disse a
verdade das intenções, mas para que, assim mal informados e convencidos de que
tudo é para seu bem, se constituam no pedestal em que os seus mentores exibem a
força com que reclamam a sua quota parte do poder.
E quando leio que um
dirigente sindicalista afirma que “falta cumprir Abril”, um chavão requentado
dos que nem me parece que saibam o que tal signifique, vem-me à lembrança uma
conversa que tive com o já quase esquecido Almirante Pinheiro de Azevedo, pouco
depois daquela sessão da Assembleia da República para aprovação da Constituição
saída da Revolução e onde, como membro do seu gabinete, estive presente.
Disse-me ele que os
primeiros quarenta anos seriam para a poeira assentar, satisfazer a sofreguidão
e a vaidade dos que se tinham apoderado do poder, aprender com os muitos erros
que se praticariam, fazer nascer uma autêntica classe política e, depois,
talvez aprendêssemos que democracia não é um conjunto de regras e de normas com
soluções para tudo mas uma vivência de princípios sociais de que a
solidariedade e o trabalho são a essência.
Não me falou o Velho
Almirante das perversões a que a “liberdade” poderia dar lugar, da corrupção
que se poderia instalar e tão difícil é de erradicar nem das “conquistas” que
alguns, oportunisticamente, iriam alcançar.
Apenas me disse que,
depois da “festa”, iríamos ter uma democracia autêntica com uma Constituição
que, mesmo não sendo “a mais avançada do mundo” como se dizia ser aquela
acabada de aprovar, seria a de que o país precisaria para que os ideais puros de
Abril se cumprissem.
Quarenta anos já passaram.
Mas muita poeira continua no ar, muita ganância por satisfazer, muita bazófia
por esgotar, muito disparate por corrigir e muito pouca paciência para esperar
mais tempo por promessas que ninguém cumpre.
Afinal, por onde andam os ideais de Abril?
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