Parece que Mário Soares já
não consegue ver para além da salinha onde se senta e escreve, por certo de
janelas fechadas que evitam as correntes de ar mas que, também, quebram os ecos do
mundo onde as coisas se passam de um modo muito diferente daquilo que, no seu delírio
de sonho, ele imagina.
Esqueceu, obviamente, as
razões por que, em tempos de dificuldades, meteu o “socialismo na gaveta” e nem
faz ideia das voltas e reviravoltas que o mundo deu desde então e que tão
diferente o fazem daquele que conheceu.
Não lhe bastaram as
aventuras mal sucedidas em campanhas para isto e para aquilo e lhe deviam ter
feito reparar que o seu tempo de político activo já passou, como as críticas que os seus escritos suscitam lhe deveriam fazer ver que o seu tempo de "mentalizador" acabou também.
Ignora as tragédias da “esquerda”
que, em vez de se repensar e encontrar as soluções que o mundo de hoje necessita, se desfaz em cacos que os ventos espalham
por um enorme espaço vazio de ideias e de soluções e nem imagina, sequer, os
sarilhos graves em que se meteu o “capitalismo” para o qual o seu “socialismo”
não encontrou, afinal, qualquer alternativa.
Parece nem saber, sequer,
do que se passa um pouco por toda a Europa e também onde, com o seu amigo
Mitterand, sonhava com as delícias de um mundo encantado que Le Pen parece querer, agora,
destruir.
Continua fã do
voluntarismo que tudo resolvia quando os bolsos estavam cheios e, por isso, não
sabe lidar com os problemas que o “cotão” que restou não consegue resolver.
Mas Soares, sem soluções alternativas para as políticas que critica, continua a julgar-se a
voz do povo e fala por ele quando diz “o
povo não pode ouvir mais – nem ver – este Governo inepto e sem vergonha e o
Presidente, porque ambos estão a concorrer para a desgraça de Portugal…”,
esquecendo, nas suas conjecturas serôdias, que não são as dores da cura que
matam o doente, mas sim os excessos que cometeu e o levaram a adoecer.
E na decrepitude a que
vidas longas, mais cedo ou mais tarde, inevitavelmente dão lugar, dá uma dimensão
senil aos chavões que podem até fazer empolgar multidões mas, como a História o
demonstra, não são capazes de gerar as soluções de que o mundo necessita, como estes de que
lança mão na sua última crónica “a
Direita já deu o que tinha a dar… “Demitam-se! Está na hora, está na hora, de o
Governo ir embora!”
Não me agrada ver a ruína
na casa dos outros, sobretudo quando a minha, também um dia, começará a estremecer. Mas, então e se for caso disso, eu gostaria que me não deixassem fazer estas figuras…
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