ACORDO ORTOGRÁFICO

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terça-feira, 4 de março de 2014

O 25 DE ABRIL, SOARES E A DEMOCRACIA ANQUILOSADA

Ainda o tempo não passou o bastante para que a História tenha uma visão clara e desapaixonada do 25 de Abril. Um dia a sua história será contada e ficarão claros os motivos, os objectivos e os meandros de uma “revolução” que, tenham sido eles quais forem, teve o mérito de destituir um regime opressivo.
Em História, quarenta anos é um pequeno instante durante o qual não esfriaram, de todo, as paixões que distorcem a realidade. Daí a História precisar de distância e tempo para ver melhor. Decerto por isso, a juventude que não viveu o 25 de Abril o resume a umas poucas ideias feitas e a chavões herdados do PREC que não explicam claramente o que se passou e os seus porques.
Mas, apesar disso, quarenta anos são tempo bastante para que a Democracia valha por si própria e se faça aceitar pela sociedade, sem necessitar de muletas nem de padrinhos que a imponham. Apenas deste modo a Democracia será uma realidade que o tempo aperfeiçoa e mantém.
É altura de a Democracia valer por si e ter forças para se libertar das amarras dos que a aprisionaram e, deste modo, pretendem ser seus donos e seus mentores. Esta apropriação é uma consequência normal das revoluções que, quando se não livram do cordão umbilical, acabam por ser mal sucedidas.
Como, por vezes aqui já escrevi, a Democracia em Portugal continua refém de preconceitos que a impedem de olhar com mais clareza a realidade que é, hoje, bem diferente da de há quarenta anos. Por isso continua eivada de conceitos já impróprios da realidade que vivemos e, por isso, causadores de muitos dos dissabores de que nos queixamos.
A Democracia terá de ser, sempre, a garantia dos direitos humanos, a resistência incansável às opressões que contra eles se possam levantar, o que só  é possível se as suas regras se ajustarem à realidade em vez de serem impostas por preconceitos ou princípios requentados que, com o tempo, deixaram de fazer sentido.
Por tudo isto, sem sentido me parecem as críticas de Mário Soares, para quem o programa das comemorações do 25 de Abril “…. Nunca se refere aos militares do MFA, nunca os cita, apesar de terem sido eles – e mais ninguém – quem nos deu o 25 de Abril. (…) É tudo e parece não ser nada. Mas é. É tudo contra o 25 de Abril”.
É, quanto a mim, um mau entendimento destas coisas ter mais em conta como começaram do que como prosseguem e se ajustam à realidade para que, em cada momento, sejam alcançados os objectivos propostos.
Esta Democracia, tal como a concebe Soares é, simplesmente, uma democracia anquilosada, desajustada dos tempos que vivemos e das soluções capazes de resolverem os problemas que enfrentamos.
Os regimes que a Democracia destronou apenas esperam que ela adormeça para a destronarem, também.



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