Ainda o tempo não passou o
bastante para que a História tenha uma visão clara e desapaixonada do 25 de
Abril. Um dia a sua história será contada e ficarão claros os motivos, os
objectivos e os meandros de uma “revolução” que, tenham sido eles quais forem, teve
o mérito de destituir um regime opressivo.
Em História, quarenta anos
é um pequeno instante durante o qual não esfriaram, de todo, as paixões que
distorcem a realidade. Daí a História precisar de distância e tempo para ver melhor. Decerto
por isso, a juventude que não viveu o 25 de Abril o resume a umas poucas ideias
feitas e a chavões herdados do PREC que não explicam claramente o que se passou e os seus porques.
Mas, apesar disso, quarenta
anos são tempo bastante para que a Democracia valha por si própria e se faça
aceitar pela sociedade, sem necessitar de muletas nem de padrinhos que a imponham.
Apenas deste modo a Democracia será uma realidade que o tempo aperfeiçoa e
mantém.
É altura de a Democracia
valer por si e ter forças para se libertar das amarras dos que a aprisionaram
e, deste modo, pretendem ser seus donos e seus mentores. Esta apropriação é uma
consequência normal das revoluções que, quando se não livram do cordão
umbilical, acabam por ser mal sucedidas.
Como, por vezes aqui já
escrevi, a Democracia em Portugal continua refém de preconceitos que a impedem
de olhar com mais clareza a realidade que é, hoje, bem diferente da de há
quarenta anos. Por isso continua eivada de conceitos já impróprios da realidade
que vivemos e, por isso, causadores de muitos dos dissabores de que nos queixamos.
A Democracia terá de ser,
sempre, a garantia dos direitos humanos, a resistência incansável às opressões
que contra eles se possam levantar, o que só é possível se as suas regras se ajustarem à
realidade em vez de serem impostas por preconceitos ou princípios requentados que, com o
tempo, deixaram de fazer sentido.
Por tudo isto, sem sentido me parecem as críticas de Mário Soares, para quem o programa das comemorações
do 25 de Abril “…. Nunca se refere aos militares do MFA, nunca os cita, apesar
de terem sido eles – e mais ninguém – quem nos deu o 25 de Abril. (…) É tudo e
parece não ser nada. Mas é. É tudo contra o 25 de Abril”.
É, quanto a mim, um mau
entendimento destas coisas ter mais em conta como começaram do que como prosseguem
e se ajustam à realidade para que, em cada momento, sejam alcançados os objectivos propostos.
Esta Democracia, tal como a concebe Soares é, simplesmente, uma democracia anquilosada, desajustada dos tempos que vivemos
e das soluções capazes de resolverem os problemas que enfrentamos.Os regimes que a Democracia destronou apenas esperam que ela adormeça para a destronarem, também.
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