ACORDO ORTOGRÁFICO

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quarta-feira, 12 de março de 2014

VALERÁ A PENA A REESTRUTURAÇÃO DA DÍVIDA?

Manifesto a minha incompetência, pois não sou economista, para me pronunciar sobre os efeitos concretos que uma reestruturação da dívida possa ter. Mas não me é difícil admitir que dependerá do modo como a reestruturação puder ser negociada.
Numa reestruturação que não implique perdão de dívida que desacreditaria o país e destruiria os efeitos positivos de quase três anos de sacrifícios, a reestruturação teria como consequência simples alargar o período de amortização, tornando menor o valor da amortização anual e, com isso, a parte do produto nacional que lhe seria afectado. A reestruturação permitiria, deste modo, que mais meios financeiros ficassem na economia do país, a qual disso beneficiaria.
Mas na reestruturação confrontam-se dois interesses, o do devedor e o do credor, o primeiro pretendendo um prazo de reembolso maior que reduza significativamente a prestação anual e o segundo exigindo, naturalmente, juros que, como sabemos, crescem muito com o prazo de maturação da dívida.
Dependerá, pois, da razão “aumento do prazo/acréscimo dos juros” o eventual benefício que da reestruturação possa resultar.
Apenas um valor positivo daquela razão permitirá reduzir, efectivamente, a prestação anual, sendo que apenas um valor significativamente elevado (grande aumento do prazo e muito pequeno acréscimo de taxa de juro) fará a redução valer a pena em função de outros custos que a dilatação do prazo também implicará, incluindo o acréscimo de juros de novos e inevitáveis empréstimos sem os quais o país não sobreviveria.
É por isso que qualquer processo de reestruturação apenas possa ser avaliado no conjunto de todas as suas implicações, o que apenas o Governo, na posse de toda a informação e no conhecimento da predisposição dos credores com os quais, naturalmente, tem contactos, poderá efectuar, não fazendo qualquer sentido a convicção de que a reestruturação será, inevitavelmente, vantajosa, como se depreende do manifesto apresentado.
Por outro lado, de uma reestruturação da dívida imposta pelas dificuldades de pagamento, como parece ser o argumento do manifesto dos setenta e dois notáveis, apenas poderá resultar uma desqualificação da credibilidade que impedirá o país de, no futuro, se financiar com juros razoáveis. E tudo voltaria ao princípio, com um novo resgate, mais austeridade e mais pobreza.
Não acredito numa benevolência da União Europeia em relação a Portugal idêntica à que os “aliados” tiveram para com a Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial e lhe permitiram a recuperação que teve, como me parece que o manifesto tem como pressuposto. 


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