ACORDO ORTOGRÁFICO

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segunda-feira, 24 de março de 2014

A DEMOCRACIA E O FUTURO

Uma crónica de Rui Tavares, em O Público, intitulada a Europa e o Refacismo, parece-me apropriada ao momento que vivemos, quando a “extrema direita” dá claros sinais de si e a democracia cada vez mais se deixa enfraquecer por uma confrangedora falta de ideias para se adaptar à realidade que o tempo, inexoravelmente, vai mudando.
Encalhada na tradicional “razão da maioria” que não leva em conta as cada vez mais reduzidas condições e meios para a satisfazer, a democracia entretém-se com questões menores, perde tempo em jogos de poder e adormece na monotonia da presunção de que tem soluções para todos os problemas sejam eles quais forem. A democracia esquece-se de se repensar, talvez acreditando ter o que nenhuma criação humana tem, a eternidade!
Apesar das profundas mudanças de que me dei conta ao longo da minha vida, a democracia pouco foi além dos conceitos primários de Aristóteles que viveu dois milénios antes de mim! É assim que a democracia acompanha o progresso?
É por tudo isto que, contrariamente ao que pensa, a democracia não encontra as soluções de que os tempos actuais carecem.
Dos que da democracia se estão a aproveitar para reforçar a sua influência no poder, diz Rui Tavares que “chamem-se fascistas ou não, o que esta gente tem de comum é uma insinceridade e deslealdade de base em relação à democracia. A democracia só lhes interessa para manipular até chegar ao poder. E uma democracia sem ideias abre-lhes o caminho. Uma democracia que não acredite no futuro pode bem acabar por não o ter”.
Ainda que concorde com as duas últimas frases, nas quais Rui Tavares diz evidentes e preocupantes verdades, não vejo insinceridade nem deslealdade nos que, cumprindo as regras democráticas, se podem, através de “maiorias” que pelas suas regras se criem, apoderar do poder. O que vejo mesmo é a total falta de ideias de uma democracia que não foi capaz de gerar a “maioria da razão” que as circunstâncias hoje reclamam, para substituir a “razão da maioria” que, perante os problemas que a realidade hoje nos coloca, a maioria das vezes não passa de uma utopia irrealizável e, noutras ainda, da escolha de más soluções.
Pelos vistos não estou só nas preocupações que esta democracia anquilosada me cria, pelas consequências a que pode dar lugar, pois cada vez mais as soluções têm de ser pensadas, para o que os jogos de poder dos políticos não deixa tempo.

Infelizmente!


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