Chamou-me a atenção uma
afirmação de Belmiro de Azevedo na cerimónia de entrega dos diplomas de
finalistas da Porto Business School. Diz o conhecido empresário que, em
Portugal, "os salários só podem
aumentar - e oxalá que isso aconteça - quando, de facto, um trabalhador
português fizer uma coisa igual, parecida, com um trabalhador alemão ou inglês,
seja o que for", "pura e simplesmente porque os alemães, por hora,
fazem três ou quatro vezes mais do que os portugueses". Se, em vez de dizer
“os alemães”, dissesse “os trabalhadores na Alemanha... ou seja o que for", Belmiro teria razão.
Mas importante é saber por
que.
Alguém poderá acreditar
que um trabalhador na Alemanha, na Inglaterra ou “seja o que for”, o qual pode
até ser português, produza, apenas pelo seu mérito, duas, três ou quatro vezes
mais do que um trabalhador em Portugal? Em termos médios, de modo algum, porque
outros factores existem, como a formação, a organização do trabalho, o
ambiente, os equipamentos e outros aspectos, cuja influência na productividade
é muito relevante. E todos estes factores são da responsabilidade dos empresários
e não dos trabalhadores.
Eu diria, em consequência,
que estas diferenças de productividade apenas poderão ser reduzidas se os
empresários criarem as condições indispensáveis para tal.
Tendo em conta quem fez
aquelas afirmações, direi que nunca reparei que na Alemanha, na Inglaterra, na
França e em muitos outros países onde já fiz compras em supermercados, tenha
sido melhor e mais rapidamente atendido do que no “Continente”, pelo que a
diferença de productividade que possa existir para justificar as diferenças salariais, terá, certamente, outras causas.
As responsabilidades dos
empresários portugueses na baixa productividade são, para mim, evidentes desde
há dezenas de anos.
Cedo ainda, na minha
carreira profissional, fui escolhido para me especializar em hidráulica
de “docas secas” para, depois, conduzir os ensaios laboratoriais em modelo
reduzido da doca que seria construída na Margueira, na época a maior doca seca
comercial em todo o mundo.
Na Holanda, em visitas que
fiz a estaleiros navais da NDSM e da Wilton Feyenoord, foi-me referida,
expressamente, a elevada qualidade das centenas de portugueses que ali
estagiavam para, depois, trabalharem nos estaleiros em construção na região de
Lisboa. Em jeito de brincadeira me disseram também que, perante a sua qualidade, não
iriam, por certo, “devolver” todos…
A minha experiência, ao longo de cinquenta anos comprovou-me que os trabalhadores portugueses poderão fazer tão bem ou melhor do que outros quaisquer, sejam alemães, ingleses ou o que for.
Tenho a esperança de que me comprove, também, que os empresários portugueses também serão capazes do mesmo, pois não me restam dúvidas de que lhes cabe a maior responsabilidade pelas razões que Belmiro de Azevedo aponta para os baixos salários dos trabalhadores em Portugal.
Aliás, até em Portugal têm sucesso as empresas bem
organizadas.Tenho a esperança de que me comprove, também, que os empresários portugueses também serão capazes do mesmo, pois não me restam dúvidas de que lhes cabe a maior responsabilidade pelas razões que Belmiro de Azevedo aponta para os baixos salários dos trabalhadores em Portugal.
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