ACORDO ORTOGRÁFICO

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sexta-feira, 7 de março de 2014

A PRODUCTIVIDADE EM PORTUGAL

Chamou-me a atenção uma afirmação de Belmiro de Azevedo na cerimónia de entrega dos diplomas de finalistas da Porto Business School. Diz o conhecido empresário que, em Portugal, "os salários só podem aumentar - e oxalá que isso aconteça - quando, de facto, um trabalhador português fizer uma coisa igual, parecida, com um trabalhador alemão ou inglês, seja o que for", "pura e simplesmente porque os alemães, por hora, fazem três ou quatro vezes mais do que os portugueses". Se, em vez de dizer “os alemães”, dissesse “os trabalhadores na Alemanha... ou seja o que for", Belmiro teria razão.
Mas importante é saber por que.
Alguém poderá acreditar que um trabalhador na Alemanha, na Inglaterra ou “seja o que for”, o qual pode até ser português, produza, apenas pelo seu mérito, duas, três ou quatro vezes mais do que um trabalhador em Portugal? Em termos médios, de modo algum, porque outros factores existem, como a formação, a organização do trabalho, o ambiente, os equipamentos e outros aspectos, cuja influência na productividade é muito relevante. E todos estes factores são da responsabilidade dos empresários e não dos trabalhadores.
Eu diria, em consequência, que estas diferenças de productividade apenas poderão ser reduzidas se os empresários criarem as condições indispensáveis para tal.
Tendo em conta quem fez aquelas afirmações, direi que nunca reparei que na Alemanha, na Inglaterra, na França e em muitos outros países onde já fiz compras em supermercados, tenha sido melhor e mais rapidamente atendido do que no “Continente”, pelo que a diferença de productividade que possa existir para justificar as diferenças salariais, terá, certamente, outras causas.
As responsabilidades dos empresários portugueses na baixa productividade são, para mim, evidentes desde há dezenas de anos.
Cedo ainda, na minha carreira profissional, fui escolhido para me especializar em hidráulica de “docas secas” para, depois, conduzir os ensaios laboratoriais em modelo reduzido da doca que seria construída na Margueira, na época a maior doca seca comercial em todo o mundo.
Na Holanda, em visitas que fiz a estaleiros navais da NDSM e da Wilton Feyenoord, foi-me referida, expressamente, a elevada qualidade das centenas de portugueses que ali estagiavam para, depois, trabalharem nos estaleiros em construção na região de Lisboa. Em jeito de brincadeira me disseram também que, perante a sua qualidade, não iriam, por certo, “devolver” todos…
A minha experiência, ao longo de cinquenta anos comprovou-me que os trabalhadores portugueses poderão fazer tão bem ou melhor do que outros quaisquer, sejam alemães, ingleses ou o que for. 
Tenho a esperança de que me comprove, também, que os empresários portugueses também serão capazes do mesmo, pois não me restam dúvidas de que lhes cabe a maior responsabilidade pelas razões que Belmiro de Azevedo aponta para os baixos salários dos trabalhadores em Portugal.
Aliás, até em Portugal têm sucesso as empresas bem organizadas.


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