ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

A ECONOMIA DO LIXO



É a mesma lógica simples dos que dizem não ser possível meter o Rossio na Rua da Betesga que, desde há muito, me leva a crer ser esta crise, da qual há anos se diz que estamos a começar a recuperar, nos levará, finalmente, a entender a realidade que vivemos e nos fará viver em função da Natureza a que pertencemos ou nos criará o problema mais bicudo de quantos já tivemos para resolver. Tão bicudo que talvez seja insolúvel.
Todos falam na recuperação da economia, mas nunca me dei conta, ao longo das muitas dezenas de anos que já levo vividas, de tantas dificuldades como vejo agora, mesmo naqueles momentos em que até parece que tudo vai voltar ao tempo de abastança em que gastar mais e mais era o segredo do sucesso.
A economia tornou-se nisso, no consumismo sem barreiras sem cuidar de pensar nas consequências que terá para além de em nós desenvolver o vício de consumir inutilidades.
Disso a economia passou a viver, do usa e deita fora que agora se pretende atenuar com a reciclagem que cada vez menos se afirma como solução, pois continuamos a produzir montanhas de lixo todos os dias, do qual temos de nos desfazer, o que na maioria das vezes significa, simplesmente, deitá-lo fora.
Sempre nos habituámos a pensar que para cada problema o Homem sempre encontra, através da Ciência, uma solução.
De facto, na exploração que foi fazendo do seu mundo, o Homem foi encontrando recursos que soube aproveitar e, assim, melhorar o seu modo de viver, até chegar à imprudência de gastar mais recursos do que os que a Natureza disponibiliza nos seus ciclos de renovação.
Disso a Ciência já se deu conta e, tal como outrora mostrava, orgulhosa, as descobertas que fazia, avisa agora dos perigos que corremos nesta corrida desenfreada que fazemos, dos receios que tem quanto ao futuro difícil que, já não rejeita essa hipótese, poderá destruir-nos.
As consequências morais e sociais são terríveis e a sociedade que sempre teve a tendência de se afastar do simples “crescei e multiplicai-vos”, pelas guerras constantes das quais fez um modo de vida, pelas agressões ao Ambiente que o crescimento económico vai tornando cada vez maiores e pelas guerras em que parece querer voltar a envolver-se, acerca-se de perigos dos quais pode não ser capaz de se livrar.
É que a penúria de que nos aproximamos, recorda-me aquele ditado que alerta para os perigos de uma casa sem pão.
Recordou-me o face-book algo que realcei há cinco anos: “O ex-comunista e agora socialista Vital Moreira afirmou que a atual crise é "duradoura", para cujo fim não há "atalhos" ou "milagres", garantindo ser "a primeira vez" em que não existem perspetivas de uma vida melhor...", o que correspondia ao que, por diversas vezes eu dizia ao escrever que “as luzinhas ao fundo do túnel que muitos diziam ver, não passavam de alucinações” porque, ao contrário do que parecia acontecer noutros tempos, cada solução encontrada tem efeitos secundários perversos, mais graves do que os que pretende resolver.
Talvez, sem disso ainda termos consciência, entrámos na agonia que se não sabe quanto tempo durará.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

FAZER A GUERRA COM UM GUARDA-CHUVA?



Lembro-me bem de Chamberlain, aquele primeiro-ministro inglês reconhecido na silhueta de um homem magro, vestimenta escura e sempre de guarda chuva na mão, razão que levou a que, durante muito tempo, este objecto com que tentamos proteger-nos da chuva fosse conhecido pelo seu nome. Era então frequente, quando ameaçava chover, recomendar “não te esqueças do chamberlain”.
Talvez fosse o homem mais bem intencionado do mundo, acreditando, até à última hora, nos bons propósitos de Hitler e nas garantias que lhe dava de não se propor fazer a guerra na Europa, mesmo quando tudo já mostrava e deixava claro que a faria.
A sua preferência pelo diálogo com quem não era capaz de o ter senão para mentir, deixou a Inglaterra desprevenida para os ataques de que seria alvo, mesmo para a invasão que Hitler planeava e se seguiria à ocupação dos Países Baixos, da Bélgica e da França.
Disto me lembro quando vejo as provocações de Kim Jong un que só podem ter como objectivo criar um ambiente de guerra, no qual espera ter a poderosa China do seu lado!
De facto, jamais me dei conta de a Diplomacia resolver casos sérios, daqueles em que os propósitos estão definidos e as partes alinhadas. Mas, enquanto dura, transmite aquela sensação agradável de paninhos quentes no rosto.
Por isso não acredito que o problema da loucura de Kim Jong un se resolva com palavras, porque apenas atitudes duras e determinadas podem evitar que outras mais duras ainda acabem por acontecer.
Trump promete uma retaliação como o mundo nunca viu e, se acontecer, muito provavelmente jamais verá.
A Rússia mostra-se preocupada com a situação, mas não define critérios para a resolver nem o partido que tomará.
A China, no mínimo faz de Chamberlain e recomenda o diálogo para resolver a situação, mas não diz qual. Quem sabe se não será Kim o desordeiro que lhe convém?
O Japão corre o risco de ser a primeira vítima de um desmando do ditador norte-coreano e, perante o último desaforo sofrido, promete não o deixar de dar resposta. Mas qual?
O presidente da Coreia do Sul privilegia, também, a diplomacia, decerto para atrasar a chuva mortífera que, quanto mais tarde melhor, lhe poderá cair em cima. De resto, que concessões se propõe fazer a quem o quer dominar?
De tudo o que vejo, nada me diz o que, afinal, pretende o louco Kim para além de fazer inimigos externos que mantenham sossegado um povo pobre e faminto que, tem todas as razões para o não suportar mais.
A verdade é que o resto do mundo ainda não teve a coragem de meter na ordem o menino travesso que a perturba. Prefere, como Chamberlain, fazer a guerra com o guarda chuva!


CORRUPÇÕES E CORRUPÇÕES



Desta vez foram uns mais uns quantos responsáveis por cargos da administração pública que tiveram de se ir embora por aceitarem favores que agora se pretende esclarecer de quem.
Outros se haviam ido já por motivos idênticos, enquanto outros talvez ainda andem às voltas com a Justiça para esclarecer quais foram, afinal, os favores que fizeram, as benesses que receberam e a troco de que!
Finalmente que, depois de tanto tempo em que a impunidade punha a salvo de quaisquer consequências os prevaricadores, por mais claras e conhecidas que fossem as suas culpas, parece ter chegado o tempo de por cobro à grande corrupção em Portugal, para que saia da lista negra dos países mais corruptos do mundo.
Aliás, a realidade parece confirmar o que sempre foi dito, mesmo sem lhe conhecer exactamente a medida. Talvez agora se venha a ter uma melhor noção de qual seja.
Por isso e por exemplo, estou ansioso por ver o que acontece quando o famigerado processo Marquês chegar ao fim, quando aqueles milhares e milhares de páginas deixarem de ser escritas e, finalmente, se revelar, ou não, aquela que parece ser a história macabra do século, na qual tudo parece convergir para formar um polvo de tamanho anormal, pois vou, então, saber onde fica, o que é ou não é o verdadeiro mundo da corrupção neste país onde se fazem leis para os outros, já que os deuses do Olimpo, sempre puros, só revelam virtudes mesmo nos pecados que cometam.
Apenas receio que, se a intenção for desfiar o novelo até ao fim, me tenham de enviar a notícia do que suceder para onde seja que eu então me encontre, pois não vai ser tão cedo que a tarefa chega ao fim.
O mesmo direi da corrupção no futebol, um desporto que muito apreciei na minha juventude, mas que a corrupção tornou num monstro bem maior do que este ainda por matar, onde a impunidade campeia, os compadrios são evidentes e os “rios de dinheiro”, sempre em cheia, também parecem correr sempre para o mesmo mar.
Tenho pena de que a Justiça aqui não chegue porque esta corrupção, já por todo o mundo conhecida, também desonra o país. E de que modo, pois em mais lado algum parece existir, impune, uma máfia assim que no mundo inteiro nos desprestigia enquanto, por cá, tudo se faz para que se não note!
É tanta coisa que vejo que me leva a crer que seja assim e mais ainda quando, de um modo cada vez mais à vista de todos, os desmandos são cometidos já sem qualquer réstia de pudor!
A Justiça parece não ter, ainda, chegado aqui, apesar da gravidade que tem. E é caso para perguntar por que será.