Os incêndios por esse país fora, tantos e tão
intensos que parecem querer varrer o centro de Portugal do mapa, são, sem a
menor dúvida, o castigo da incúria dos governantes que, para além de não terem
tempo disponível para pensar nestas tragédias que, ano a ano, se vão tornando
maiores, também não se dispõem a escutar os que, por lhes doer na pele,
apresentam proposta que evitem ou minimizem os estragos que representam, para
além de enormes prejuízos materiais, perdas ou severos danos em vidas humanas.
Não há memória de uma época de incêndios como
a que está a acontecer e talvez vá, apenas, a meio.
Não me dou conta de, tal como das demais
vezes, esteja a ser feito mais do que procurar reduzir os prejuízos que os
incêndios possam causar e depois, atabalhoadamente, fingir que se ajuda os que
tudo perderam.
Fala-se muito e pouco se faz com vista ao
futuro.
E quando me lembro que numa conferência que
fiz, há cerca de quarenta anos, no Instituto Sá Carneiro, me referi ao ordenamento
do território como indispensável ao desenvolvimento do país, fico bem triste porque,
tanto tempo depois, não vejo que se tenham alterado significativamente, para
melhor, as causas dessa minha antiga afirmação.
Pelo contrário e sem que se atenda às
características naturais do nosso país, adoptamos cegamente as políticas da
Europa que nos deixaram sem as pescas tradicionais, sem muitas culturas e modos
de aproveitar as terras que agora estão, na sua maioria, ao abandono, tudo isto
porque não pensamos no que temos e, simplesmente, ou aceitamos o que outros nos
impõem ou copiamos o que outros fazem sem, sequer, o adaptar.
É uma atitude de preguiça que, no limite, vai
fazer desaparecer a nacionalidade, já que pouco do que existe em Portugal é
português!
Pouco mais seremos do que os funcionários das
empresas que os estrangeiros têm no país.
Há um ano atrás, o grande incêndio de Arouca e
S. Pedro do Sul foi como um sino que tocou a rebate, foi a chamada de atenção
final que o Governo não escutou, como não quis saber das propostas que lhe
apresentaram as autarquias mais afectadas por incêndios.
A tragédia levou o Governo a perguntar às
Câmaras que condições tinham para prevenir e combater incêndios!
Muitas câmaras responderam, apontando a falta
de meios financeiros e humanos, assim como a falta de cadastro das terras e a
impossibilidade de agir em terrenos privados.
Solicitaram mais responsabilidades nas
políticas de prevenção e de florestação e, naturalmente, a disponibilização dos
meios financeiros que permitissem cumpri-las.
Que seguimento teve tudo isto? Creio que foi
o de sempre, quando as desgraças de uns são a oportunidade de negócio de
outros.
É extraordinária a capacidade que os
oportunistas têm de, de qualquer coisa, fazer negócio, seja o da madeira
ardida, o dos meios aéreos o do SIRESP e sei lá mais o que, negócios que uma
adequada política florestal prejudicaria.
E, como sempre, o Governo é coarctado pelo
poder das forças sinistras que vivem das desgraças dos outros!
Naturalmente, as coisas pioraram um ano
depois, com este ano horribilis que estamos a viver.
E que vai fazer o Governo agora, para além
das visitas de cortesia que alguns dos seus membros fazem aos locais afectados
que talvez não sirvam para mais do que para tentar minorar os efeitos que tanta
incúria possa ter nas eleições autárquicas que se aproximam?
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