ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

UM CAVALO QUE MUITOS QUEREM MONTAR


Com a vitória que alcançou, o Syrisa como que se tornou num indomável cavalo branco que todos querem montar.
Fá-lo António Costa do modo mais desajeitado que um político pode fazer, o da infidelidade à matriz socialista que desapareceu no turbilhão grego com a derrota total do PASOK, e fá-lo Catarina Martins com a ingenuidade leviana de quem pensa ter chegado a hora do seu triunfo!
À partida para uma manifestação em Madrid onde o “Syrisa espanhol”, o Podemos, também quer montar o (in)sucesso dos gregos, a porta-voz do BE afirmou que a acção do governo de Tsipras pode impulsionar os partidos que querem a mudança radical do sistema, acabando com “a ideia de que a austeridade era o único futuro”.
Errou no tempo do verbo porque a austeridade é o único futuro num mundo exaurido de quase tudo, até do bom senso de ver que o está no seu Ambiente e já em alguns dos seus recursos.
A boa notícia, porém, é que a austeridade não será, necessariamente, a desgraça que se apregoa que seja, a coisa terrível que soa a hipocrisia na boca dos que se têm na conta de boa gente mas que nem se lembram do sofrimento de quase meia Humanidade que sobrevive da caridade da outra metade, quando a ela tem acesso.
A austeridade não será mais do que o uso controlado dos recursos disponíveis para que todos possamos viver o melhor possível. Deste modo, a Terra tem-nos que bastem e, por isso, a austeridade não seria privação.
Só tira coelhos da cartola quem antes os lá meteu, pois os coelhos não nascem nas cartolas. O mesmo se poderá dizer do governo grego que, sem meios financeiros bastantes quer repor, de repente, o desafogo que, afinal, não é mais do que o desvario que levou a Grécia à falência que ao longo do tempo e apesar de todas as ajudas, se foi tornando mais profunda.
A pergunta que se impõe perante esta realidade é se a cooperação em tal leviandade que Tsipras quer ver apoiada numa “conferência para e reestruturação e perdão da dívida grega” será a maneira certa de ajudar a Grécia que, na melhor das hipóteses, poderá ter um outro resgate porque um perdão de dívida já teve, sem os efeitos que se esperava que tivesse!
Eu não acredito no “milagre grego”. Por isso não acredito que, na decisão que tomaram, os gregos tenham descoberto a cura para os seus profundos males.
Infelizmente!


LIGAÇÕES PERIGOSAS


Clama-se contra as ligações perigosas entre a política e os negócios às quais se atribuem as maiores responsabilidades na corrupção que, como factos diversos mostram, é urgente combater. Porém, pouco ou nada se faz para evitar que aconteçam. Pelo contrário, mantêm-se condições para que, sem contrariar a lei, porque é omissa, os eleitos para exercer funções de representação dos cidadãos na vigilância dos actos da governação e na elaboração das leis que nos regem, possam continuar a ter actividade privada que, em muitos casos e em especial no dos advogados é potencialmente perniciosa.
Uma notícia da qual hoje me dei conta informa que “Ministra da Justiça preparou diploma para advogados que prevê que eleitos para cargos relacionados com o poder local não possam exercer. Deputados da Assembleia da República podem”.
Uma lei que me parece aberrante depois de, desde há tanto tempo, se falar do perigo de interferência imprópria em actos legislativos que podem beneficiar clientes privados ou interesses impróprios.
Mas, para além disto, continua a existir uma questão de fundo que é a da dedicação às funções de deputado para as quais uma actividade privada, necessariamente muito preenchida e com muitos interesses em causa, deixará pouca disponibilidade.
Não gostaria de tomar como exemplo o que se diz que o novo governo grego está a fazer, substituindo assessores por mulheres das limpezas, porque as assessorias, na medida e condições adequadas, são necessárias e apenas para além disso serão os “jobs for the boys” pelos quais esperam os “jotas” dos partidos, mas veria com bons olhos a dedicação exclusiva às funções de deputado que permitiria a redução do seu número, com economia de custos e acréscimo de eficiência.
Por outro lado coloco, ainda, a questão da longevidade destas funções que, tal como em outros cargos, como os de autarcas, por exemplo, gera situações igualmente susceptíveis de "ligações perigosas" no seu desempenho.
Creio, pois, tratar-se de um domínio em que é possível muito fazer para enfraquecer as teias da corrupção que nos obrigam a tantos sacrifícios injustos. 


quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

ENTRE A DECO E A ASAE, UMA QUESTÃO DE CARNE PICADA!


Na sua função de informar dos seus associados e o público, desta vez a DECO foi verificar a qualidade da carne picada que é vendida em 26 talhos, entre os quais alguns em grandes superfícies comerciais.
Os resultados foram que, em 23 deles, a qualidade era de molde a desaconselhar o seu consumo, pelo perigo que constitui para a saúde o enorme excesso de sulfitos encontrados e, também, pelas condições de conservação a temperaturas excessivamente elevadas!
Como seria de esperar, reagiram as entidades oficiais, quer do Governo quer da ASAE que dele directamente depende.
Da parte do Governo, o Secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar,  no final de uma reunião da Comissão de Segurança Alimentar que decorreu hoje no Ministério da Agricultura para analisar, entre outros assuntos, o estudo realizado pela DECO, afastou a hipótese de proibir a utilização de carne picada que "pode e deve ser consumida no momento em que ela é picada".
Por sua vez, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) desvaloriza as conclusões de um estudo da DECO com o argumento de que "as metodologias implementadas carecem de informação clara e científica", acrescentando que "a amostragem realizada é claramente insuficiente tendo em consideração o universo em causa".
É, no mínimo, estranha a atitude defensiva em vez de atenta quer do membro do Governo quer da própria ASAE num caso sério de saúde pública, escudados num estranho momento de consumo e num conceito vago de “amostra significativa” de um “universo”, em vez de atenderem à percentagem elevadíssima, 88%, dos casos em que, pela DECO, foram detectadas irregularidades graves numa amostra em que, por esta razão, aquele argumento de insuficiência perde razão de ser.
Para além da intervenção desastrada do membro do governo, fica-me a dúvida da qualidade do trabalho feito pela ASAE no domínio da qualidade.
Obviamente, a recomendação de não consumir feita pela DECO não será definitiva porque a carne picada não é, em si mesma, um perigo que boas condições de fiscalização, em vez de desculpas, podem evitar.
Aqui deixo a recomendação da DECO que considero prudente: "não compre carne previamente picada e vendida a granel. Quando muito, escolha uma peça e mande picar na loja".


quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A “EUROPA BOA” E A “EUROPA MÁ”?


É, no mínimo estranho que, perante a derrota do PS grego, o PASOK, o PS português se sinta tão feliz pela vitória do Syrisa e, sem nada dizer acerca das razões que podem ter ditado a derrota do seu congénere, tome como modelo do sucesso que pretende alcançar nas próximas eleições, aquilo que levou a extrema-esquerda grega à vitória.
Afinal, na política, tal como o que interessa é fazer crer que é aquilo que convinha que fosse para enganar os distraídos, também as fidelidades ideológicas são a treta que permite derivar para a posição de momento mais conveniente para dela tirar o melhor partido. E deste modo, quanto à ideologia que apenas faz sentido se for universal, a socialista, o PS tornou-se errático, oportunista e da sorte do seu “camarada” PASOK, tal como Pilatos fez com Cristo, lavou as mãos.
Não é surpreendente a vitória que, na Grécia, alcançou uma proposta de desespero, porque só pode ser esta a solução que um povo desesperado pode tomar, tão bem traduzida no popular dito “perdido por 1 perdido por 100”.
Não me parece fácil o caminho que a Grécia ira percorrer neste seu acto de desespero em que dizendo que vai enfrentar ferozmente a Europa, mais não fará do que entregar-se à caridade a que a Europa esteja disposta depois dos resgates e do perdão de dívida que os gregos não foram capazes de aproveitar. E não me parece que possa ser generosa essa caridade em que os gregos depositam tantas esperanças.
Dos gregos entendo as razões para e euforia leviana que a vitória do Syrisa gerou, mas de António Costa não compreendo a que mostra porque o mais certo é poder gerar-se um diferendo Norte-Sul, do qual talvez resulte, quem sabe, uma “Europa Boa” e uma “Europa Má”, solução que parece estar na moda para resolver os problemas que outra não seja capaz de resolver.
É uma situação a que podemos ser condenados porque o futuro bate à porta, de um modo cada vez mais forte. À nossa e à dos outros que não compreendam que os excessos têm os dias contados pois, como é evidente, nem o Tesouro americano nem o BCE criam riqueza quando inundam os mercados de dólares e de euros. Apenas lhes dão um novo pequeno alento aos mercados que a realidade rapidamente consumirá.
Veremos. 
O que mais me preocupa é que, na divisão da Europa que pode acontecer, nós, quase por certo, ficaremos na dos produtos tóxicos!


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

EM MEMÓRIA


(Aristides de Sousa Mendes, 1940)

Setenta anos depois de acabadas as torturas em Auchwitz, continua a ser muito doloroso pensar nas barbaridades cometidas pelos carrascos nazis sobre os seis milhões de judeus que são as vítimas mortais de mentes degradadas pelo ódio e pela ambição.
Um longo período de tempo que, apesar disso, não é bastante para curar as muitas feridas deixadas por tão ignóbil barbárie que me horrorizou nos meus distantes tempos de menino.
São vários os nomes que relembro nesta efeméride, alguns pela demência mórbida que vitimou tantos inocentes e outros pelos esforços nobres e desesperados que fizeram para os salvar.
O austríaco Schindler e o português Aristides de Sousa Mendes merecem ser especialmente recordados porque tudo sacrificaram para salvar a vida a milhares de pessoas que as SS de Hitler perseguiam.


AS DOENÇAS DA DEMOCRACIA


(o carro de um futebolista do Sporting vandalizado em nome de divergências clubistas ou de sabe-se lá que outros interesses)

Já não é a primeira vez que me refiro a uma cena que presenciei no dia 26 de Abril de 1974, quando alguém, nas barbas de um polícia, estacionou o carro em cima do passeio. Ao reparo, inevitável, do agente responsável pela ordem, o transgressor respondeu “Ó sr Guarda, isso era ontem. Hoje estamos em democracia!”
Esta atitude que, em tudo, ia contra o entendimento que eu tinha do que seria um regime por que ansiava e no qual pretendia viver a minha liberdade, preocupou-me seriamente. Seria a democracia, afinal, um regime sem regras cívicas que permitia atitudes como esta? Seria o desrespeito pelo civismo a sua marca? Estaria o relacionamento entre os cidadãos sujeito à grosseria que cada um julgasse ser seu direito praticar?
Esperei que o tempo me mostrasse que não, porque, sendo a democracia um símbolo da civilização, a liberdade que pressupõe a convivência respeitosa de ideias, sentimentos ou de religiões diferentes, jamais se transformaria num regime libertino no qual as liberdades individuais, na sua ânsia do ilimitado, inevitavelmente dariam aso a atitudes de agressão que a “tolerância democrática” tem de aceitar. Mais do que isso, seria essa liberdade de expressão aproveitada para agressões a que a obrigação de ser democraticamente tolerante daria legitimidade?
O que vejo, seja na política seja em outro domínio qualquer, é a “anarquia democrática” que transforma insultos e atentados ao bom nome em direitos que mais não são do que a capa que tenta encobrir as insuficiências da falta dos argumentos que permitiriam a discussão civilizada que a democracia supostamente seria.
Quarenta anos depois, a liberdade democrática que eu esperava ainda não conseguiu impor-se à grosseria da liberdade acéfala com que afirmam praticá-la, aos desmandos selvagens com que demonstram as suas divergências nem à “liberdade de expressão sem ideias” que muitos praticam em proveito de certos interesses.
Por isso, em nome da tolerância criticam-se os ofendidos e não os que ofendem, louvam-se os que usam a “liberdade” para atacar ou escarnecer e criticam-se os que apelem ao direito de se defender porque, deste modo, praticam uma “reprovável beligerância”.
Ao fim de quarenta anos tenho de reconhecer que, afinal, tinha razão aquele que deixou no “ontem” os princípios de civismo que uma “liberdade falsa” destruiu.
Felizmente, a democracia sã não é isto e, quem sabe, ainda um dia a venhamos a viver.



segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O PERDÃO DA DÍVIDA GREGA


Fui encontrar esta notícia de Março de 2012, sobre a qual devemos reflectir quando, pela mão do Syrisa que acaba de vencer as eleições gregas fazendo de Alexis Tsipras o seu primeiro-ministro, a Grécia exige que, tal como os Aliados fizeram à Alemanha depois de derrotada na II Guerra Mundial, a Europa também lhe perdoe a sua dívida que se tornou insustentável.
A notícia diz assim:

“O perdão da dívida grega atraiu mais de 80 por centos dos credores.
O acordo com os privados garante a Atenas o segundo empréstimo de 130 mil milhões de euros e tranquiliza, para já, os países da zona euro.
A operação de reestruturação de dívida foi segundo as autoridades gregas um sucesso.
Em termos práticos, os credores aceitaram perder mais de perder 50 por cento do valor facial dos títulos de dívida gregos
“Esta recapitalização será significativa e necessária para que o sistema bancário grego possa de novo acordar créditos à economia real” afirma Plato Moriokroussos do Eurobank.
Bancos, seguradoras e detentores do equivalente a certificados do Tesouro foram chamados a participar.
O perdão de pelo menos metade da dívida detida por entidades privadas foi uma das condições exigidas pela União Europeia e Fundo Monetário Internacional para conceder um segundo empréstimo à Grécia”.


Perdão concedido e a Grécia leva, como prémio, um segundo resgate de 130.000 milhões de euros.
Afinal, o exemplo de perdão da dívida alemã após a II Guerra Mundial que Tsipras invoca, já teve a sua réplica num perdão de que a Grécia beneficiou também, infelizmente sem as vantagens que os alemães souberam aproveitar, pois, desde então, a dívida grega não parou de crescer e atinge já quase o dobro do seu “produto anual”.
E não devemos esquecer de que Portugal também sofreu as consequências de tal medida, como sofreria se se repetisse.
Significa isto que o crescimento da dívida é inevitável sem as reformas estruturais que a permitam controlar. E mais significa que só pelo trabalho que bem aproveite os recursos naturais e pelo controlo das despesas será possível evitar que a dívida cresça continuadamente.
Que Europa poderá sustentar os caprichos de alguém que se não controla?
Mas nem será isso o que mais me preocupa neste mundo em grande desarmonia.
Como podemos queixar-nos do nosso mau viver, falar de injustiças e sermos tão egoístas quando mais de metade da população mundial sofre as agruras da fome, tem rendimentos perante os quais o nosso salário mínimo é uma fortuna, morre de doenças que uma vacina barata poderia evitar e é vítima de maus tratos que não seríamos capazes de suportar?
Será isso que, na sua política de gastar sem as limitações que a austeridade impõe, deseja o Syrisa, afinal o aliado natural da extrema direita xenófoba e racista? O que não admira porque, como é do saber comum, os extremos não passam de uma continuidade.
O que está a suceder seria, porventura, inevitável. Mas quem saberá o que vão ser as suas consequências?


É POSSÍVEL FAZER OMELETES COM O OVO QUE A GALINHA NÃO PÔS?

As cartas estão lançadas! O Syrisa venceu as eleições na Grécia e começa um tempo de prova de novas teorias que pode ser da maior utilidade para a Europa e particularmente para Portugal. Ou poderá ser um desastre, quem sabe!
Uma relação de causa/efeito muito discutida poderá esclarecer-se agora, para que todos fiquemos a saber se é a austeridade que provoca a crise ou se foi a crise que o esbanjamento gerou que tornou inevitável a austeridade.
O velho dilema do ovo e da galinha tem, agora, uma nova forma de discussão.
Não há dúvida de que a Grécia atingiu uma situação insustentável, talvez impossível de resolver sem medidas especiais cujas causas, ao contrário do que se possa dizer, não vem apenas destes tempos em que a Troika lhe impôs as condições que tinham como objectivo travar a indisciplina característica do modo de vida grego.
Tal como em Portugal me pareceu inevitável uma crise séria que um modo de viver excessivamente permissivo não poderia deixar de gerar, também na Grécia aquele modo de viver que não cumpre regras não poderia deixar de conduzir a uma também.
Como vai a Grécia sair da embrulhada em que se meteu, eu não faço a mínima ideia.
Como vai o novo governo acabar com a austeridade, nem imagino. 
Mas porque, por aquilo que a vida me ensinou, um autêntico milagre seria preciso para que Alexis Tsipras cumpra as suas promessas eleitorais, fico a aguardar o que venha a acontecer pois, apesar do muito que já vi na vida, estou longe de ter visto tudo, especialmente este “fazer omeletes sem ovos” a que o novo primeiro-ministro grego se propõe.
Ou será que está a contar com o ovo que a galinha não pôs?


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

E PAGA O JUSTO PELO PECADOR


Ao longo desta crise sem fim, tenho notado dois tipos de atitudes, a dos que ainda esperam o regresso do rentável e cómodo mundo de “conquistas” e de “direitos” a que se habituaram e os que, perante a realidade, se fazem à vida e procuram as soluções que o inevitavelmente comedido “Estado Social” não proporciona com a generosidade de outrora.
Estes são poucos, por enquanto, mas serão muitos no final porque a “economia” já não tem as “soluções” que tinha quando as “engenharias financeiras” conseguiam encobrir as chagas que, impiedosamente, iam aparecendo.
A “economia” perdeu a capacidade de adaptação que parecia ter e ficou dependente de constantes “ajudas” que, no entanto, têm como resultado evidente compromete-la cada vez mais.
E a “doença da pele curta” instalou-se de vez. Fecha-se daqui mas abre-se dali, tapa daqui descobre acolá sem que seja possível esticar mais o que já não dá para cobrir todos os buracos.
Perante a inércia de uma “economia” que não consegue retomar o dinamismo de outrora, o Banco Central Europeu vê numa “inundação” de euros a solução para tirar a Europa da crise. Mas não me parece que seja deste modo que se resolvem problemas que têm a sua génese no excesso de consumo de coisas não essenciais.
Os 50 mil milhões de euros que, por ano, o BCE se propõe injectar na banca dos vários países para lhes dar liquidez com que possam financiar as empresas que produzirão mais do que cada vez menos podemos comprar, não passarão de mais uma fantasia inútil que nos conduzirá, direitinhos, a mais um buraco que se junta aos que já cavámos e não conseguimos tapar.
A propósito, vi uma reportagem sobre mais uma daquelas feiras tecnológicas, sempre muito curiosas pelas novidades nos deixam de olhos arregalados. Um aproximar da porta que faz abrir a fechadura da casa, liga o ar condicionado, desliga o alarme e nem sei mais o que, tudo coisas que facilmente fazemos com as nossas próprias mãos se, porventura, tivermos fechadura, ar condicionado, alarme, fogões que se activam automaticamente e nos preparam as refeições e outras coisas que a imensa maioria das pessoas do mundo não têm. E se tivermos, por que haveremos de deixar de as fazer como sempre fizemos?
Será nada fazer o futuro que a Humanidade almeja? Talvez seja, com todas estas coisas que, embora custando cada vez mais, sempre terão quem as compre enquanto houver crédito para o fazer.
Porém, as dívidas que os esbanjadores contraem e muitos acabarão por não pagar, como já aconteceu e acontece, acabarão por ser pagas pelos que não se endividaram, na próxima e inevitável ronda de austeridade. Um processo de empobrecimento sucessivo que acabará numa catástrofe.
Por isso, quando o BCE injectar 27 mil milhões de euros na banca portuguesa para dinamizar o consumo, ficando a responsabilidade desta “ajuda” no Banco de Portugal sem qualquer solidariedade europeia, todos nós acabaremos por pagá-los. Mais cedo ou mais tarde. E apagaremos caro se não tivermos a contenção sensata que evite novos endividamentos excessivos.


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

LIBERDADE E EDUCAÇÃO


Um daqueles estudos que comparam os países da União Europeia, este sobre educação, revela estarmos bem abaixo da média europeia no que respeita a níveis educacionais, porque a maioria dos portugueses nem o nível secundário completou e continuam a ser minoria os que acedem ao ensino superior. Somos, pois, conforme estas estatísticas, um país de gente pouco instruída e com baixo nível de conhecimentos quando comparado com as outras democracias da União.
Não vejo, porém, tirar desta realidade que a nossa comunicação social realça, quaisquer conclusões como, por exemplo, a que responda à pergunta se estarão os eleitores portugueses em condições de decidir, com consciência bastante, nas escolhas difíceis que, em breve, terão de fazer.
E não serão, de todo, fáceis as decisões que tanto nos poderão levar por caminhos tortuosos, mais até do que aqueles que temos vindo a percorrer, como poderão aliviar um pouco a austeridade que as circunstâncias nos têm imposto.
Sabem-no bem os políticos que disso se aproveitam para convencer aqueles que, por si, não são capazes da análise que uma decisão tão importante exige. E deveríamos sabê-lo nós, porque não é a informação correcta a que os políticos com mais frequência nos transmitem.
Como a lenga-lenga parlamentar constantemente mostra, o propósito é o de fazer crer que é aquilo que mais convém que fosse, o que facilmente convence os menos capazes de, por si, analisar os factos e as circunstâncias que deveriam determinar as decisões.
São prova disso aqueles programas de antena aberta onde, salvo raríssimas excepções, é constante a ressonância dos argumentos e dos chavões que cada tendência vai criando.
De resto, se a educação não serve, também, para proporcionar a capacidade de análise de que um povo necessita para, em autêntica liberdade, tomar as decisões que, em face das circunstâncias, sejam as melhores, para que serve a educação?


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O SYRISA E O FUTURO


Não falta muito para que saibamos os resultados das eleições na Grécia. Os resultados eleitorais e os outros que, por certo, nos afectarão porque a Grécia está na zona euro da qual também fazemos parte.
Mas até talvez para além da zona euro as consequências se façam sentir. E não pouco!
Mas a vida ensinou-me a não fazer grandes contas em circunstâncias como esta porque quase sempre saem furadas!
Será que o Syrisa vence? Se vencer vai cumprir as suas promessas eleitorais? Se as tentar cumprir que resultados alcançará?
Enfim, poderia fazer mil perguntas, tentar construir outros tantos cenários que lhes respondessem e dificilmente acertaria.
Apenas sinto que se o Syrisa vencer tanto poderá ficar tudo na mesma como muita coisa poderá mudar. Tudo pode ficar calmo como uma grande confusão se poderá instalar e dela, certamente, alguma coisa resultará. Apenas não sei o que!
O melhor seria que, finalmente, alguma luz se fizesse nestes espíritos obscuros que, armados em mágicos de meia tigela, há tempo demais se esforçam por tirar da cartola o coelho que ninguém lá meteu. Talvez porque já foi comido!
Quem sabe se os “inteligentes” da coisa aprenderão, de vez, que sem “galinhas” não há ovos, sem ovos não se fazem omeletes, o deserto não dá couves, rio poluído não cria peixe e outras coisas vulgares que são próprias do conhecimento comum que nos faz sentir que acabou a era dos milagres que o esbanjamento permitia, porque cada vez há menos para esbanjar e, assim, os “curandeiros” não vêem as suas mezinhas resultar.
Li que alguém disse “a crise é pior do que a guerra porque esta, um dia, iria acabar”, assim como anotei a notícia de que um estudo concluiu que “da riqueza total do mundo, apenas 1%, os mais ricos, possui uma parte maior do que a que cabe a todos os demais”!
Parece que não será difícil entender que os limites foram atingidos e que quando tal acontece o castelo se desmorona.
Depois o que sucederá? 

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A REGIONALIZAÇÃO, A DESCENTRALIZAÇÃO E ANTÓNIO COSTA


Como vejo num "desenho" que um jornal hoje publica, o tema da regionalização é sazonal. Aparece em ano de eleições e passa depois delas. Também me faz lembrar o casos dos submarinos que emerge ou imerge consoante os interesses de momento.
Faz parte do “show” em que as campanhas eleitorais se tornaram.
Mas a confusão entre descentralização e regionalização é coisa que se não pode perdoar a um político com pretensões como António Costa porque num caso se realiza o que o poder central decide e noutro se decide o que é melhor para a região, consoante os seus recursos, as suas potencialidades e a sua vontade. Dentro dos limites que constitucionalmente forem fixados porque continuaríamos a ser um país. Obviamente!
Ainda me lembro bem do imbróglio que o referendo sobre a regionalização criou, apesar de a Constituição a impor, bem como dos disparates grosseiros que, a propósito, foram ditos.
Mas haverá tanto a fazer para regionalizar que esta não pode ser, sequer, uma promessa eleitoral porque é um projecto de longo prazo no qual a cooperação de todas as forças políticas é indispensável.
Mais inutilidades, disparates, incompetências e mentiras como aconteceu quando a regionalização que a Constituição impõe foi referendada (!?) é que me parecem inúteis e agressivas.
Mais importante me parece que, em vez de manobras de distracção que só podem convencer os distraídos, Costa esclareça como irá fazer para cumprir as promessas que sugere na sua total oposição ao Governo e que tanta gente espera lhe devolva o “bem-estar” que julgava ter antes de o último governo socialista esgotar os cofres que com os nossos impostos tínhamos enchido…
É esta a minha condição para, porventura, votar nele.


Nota: A regionalização é um tema complexo e há neste “jornal” diversas crónicas sobre o tema. 


LIBERDADE OU NIILISMO PROVOCADOR?


Penso que nunca se falou tanto de liberdade como agora, sobretudo por aqueles que fazem do conceito de liberdade total, sem limites, o seu grande mérito. Decerto porque sem ela ninguém daria conta dos seus disparates.
Para além dos humoristas ou, melhor dizendo, para além dos que têm a pretensão de o ser, também outros manifestam a sua irrealidade mental nas contradições em que caem quando expõem as suas razões de ser ilimitado algo que, de todo, o não pode ser sem ser negado a outrem.
Querer dar realidade a um conceito que a nossa limitada condição de humanos não abrange, o infinito, é como que tentar dar um sentido ao absurdo. É por isso que, não compreendendo o ilimitado, o não podemos praticar.
Entre muitos que já se manifestaram acerca dos limites da liberdade, lembro-me, por exemplo, de Saramago que disse que ela acaba no limiar do crime, o que me parece ser uma visão sensata, ainda que limitada, se crime for aquilo que não temos o direito de fazer aos outros porque afecta a sua integridade física ou moral, tendo disso consciência.
Não estou certo da “fé” dos mandantes que, em nome de Alá, levam outros, a quem incutiram uma “fé exarcerbada”, a cometer actos odiosos na presunção de fazerem o que o seu Deus de si exige! Estes “fieis” existem e continuam prontos a cometer as barbaridades que creem ser seu dever, seja onde for, algumas a que não temos prestado muita atenção, como as que acontecem no sul do Niger e na Négéria onde o Boko Haram vitimiza centenas, milhares de jovens raparigas que degola ou transforma em assassinos ou em bombas humanas para, naquela região, estender o estado islâmico. E foi ali, onde existem importantes populações cristãs, que foram vandalizadas igrejas foram assaltadas e milhares de cristãos têm de ser protegidos pela forças militares contra a fúria que o novo número do Charlie Hebdo provocou por, em nome da tal liberdade ilimitada, persistir nas caricaturas de Alá que levaram ao assassínio de quatro dos seus cartoonistas e mais oito inocentes! No mínimo.
Terá o Charlie Hebdo o direito de por em risco tanta gente, seja em França ou em outro lugar qualquer do mundo, em nome de uma "liberdade" que não passa de um niilismo provocador?
Mostra-se a força persistindo no que levou à violência, dando, desse modo, razões para mais violência ainda?
Penso que seria sensato utilizar a “inteligência” não para provocar mas para reflectir sobre como fazer para punir efectivamente ou evitar que um mal grave alastre ainda mais.
Espero que dos enormes lucros que a loucura do último número do CE gerou, alguma coisa possa caber (a maior parte, senão o todo, diria eu) aos inocentes que perderam a vida por conta alheia.
Por favor, não me falem em tolerância num mundo predisposto ao maior conflito por tudo e por nada!


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

SERÃO OS GOVERNOS TODOS IGUAIS?


Quando, há tempos, um jornalista me dizia que cada vez menos acreditava que António Costa venha a ganhar as próximas eleições ou, pelo menos, que as ganhe por grande diferença, eu não quis acreditar porque sempre vi o eleitorado cair na patranha da alternância democrática que, diz a experiência de quarenta anos, afinal nada resolve! Mas, aos poucos, vou-me dando conta de que os portugueses cada vez acreditam menos em milagres e, também, começam a não acreditar nas promessas ocas que lhes façam. Já seria tempo, afinal.
De facto, não há governos perfeitos, pelo que sempre haverá o que criticar e disso fazer razões para exigir que seja substituído. De imediato, de preferência! Seguir-se-á outro governo que perfeito não será também e novas razões dará para que seja substituído! E será.
É assim há 40 anos! É assim que temos deitado à rua tempo e dinheiro que cada vez menos temos, como acontece a quem esbanja.
Mas serão mesmo os governos todos iguais?
Como disse Orwell em “o triunfo dos porcos”, ainda que todos sejam iguais… há sempre uns mais iguais do que outros. Por isso, talvez valha a pena notar as diferenças para, pelo menos, deixarmos este jogo de salta pocinhas, de vira o disco e toca o mesmo e, por uma vez que seja, tentarmos levar alguma coisa até ao fim como o seria sair de uma situação de resgate sem logo começar a criar condições para termos de pedir outro.
Não será o que desejam os que ganharam gosto às generosas benesses das “conquistas” revolucionárias e ao muito que os “direitos” constitucionais permitem sem quase pedir nada em troca, mas será o que nos manterá os pés assentes no chão e nos poderá livrar de mais um resgate, como sempre acontece quando a “generosidade” demagógica governa. Como ao longo de quarenta anos também tem acontecido.
Não me seduz o liberalismo que pouco ou nada tem da solidariedade de que o mundo necessita para ultrapassar os graves problemas que o afectam, mas também não acredito no socialismo que, de todo, os não resolve.
Por isso, a um António Costa ambicioso e pouco confiável e, até, a um Guterres que viu a tempo as insuficiências do socialismo e, por isso, se dedicou á “caridadezinha” com a qual vai ajudando os infelizes que o socialismo ignora, eu prefiro alguém que encare a dura realidade em vez de sonhar com a abastança que não existe e cada vez menos existirá, alguém que me não prometa o céu mas o que seja possível em função da realidade e acabe com as promiscuidades político-privadas que sugam o pouco que temos para vivermos um pouco melhor.
Consciente da realidade que não consente sonhos de grandeza, não votarei em quem me prometa o que sei não ser possível, mas sim em quem me garanta continuar a justiça que, de uma vez por todas, desencoraje os oportunistas que enriqueceram e enriquecem com o que é de todos nós.
Sejam eles quem forem!


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A RESSACA


Para além de um empolgamento passageiro que não levará muito tempo a esquecer, o “je suis charlie” em breve será esquecido e substituído por outro empolgamento qualquer, sem que do sucedido se tenham aprendido as lições que tinha para dar.
Decerto porque a necessidade de uma resposta rápida, grandiosa e ao estilo de encher o peito de ar para assustar não deixou tempo para pensar naquilo que, realmente, o brutal atentado de Paris significou.
Por isso, as consequências práticas pouco irão além de uma manifestação que mais me pareceu uma mistura promíscua de interesses bem diferenciados, de um fenómeno de aumento súbito e fugaz de uma tiragem de 60.000 para 5.000.000 de exemplares de um jornal que se diz irresponsável e muito pouca gente conhecia e do envio do porta-aviões Charles de Gaulle para participar na guerra contra os jihadistas.
Não sei bem onde, no meio de tudo isto, está a “tolerância” com que se responde à que, ao estilo do “laissez faire, laissez passer” (deixa fazer, deixa andar) que a revolução francesa instituiu, que remata dizendo “le monde va pour lui même” (o mundo caminha por si) e com a qual se justificam as inúteis afrontas à capacidade de tolerância dos que se sentem agredidos por “cartoons” a que alguns apenas acharão graça pela intolerância que revelam.
A propósito disto, é de liberdade que também se fala, sem que, apesar de tudo o que leio e oiço, finalmente consiga entender quais sejam os limites que a distingam do anarquismo que, sem eles, a liberdade seria. Por mim coloco esse limite no respeito, uma atitude da qual cada vez menos dou conta.
Em breve o Charlie será esquecido e outros ódios continuarão a alimentar guerras cuja dimensão já pede meças àquelas que julgámos as maiores. 


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

AO RITMO DAS NOTÍCIAS


Já ia avançado na vida quando aconteceu o 25 de Abril. Tinha uma idade em que a vida já me tinha ensinado muita coisa e, por isso, foi com mais expectativas do que com certezas que fui olhando o desenrolar das coisas que, temia eu, poderiam não ser bem como as esperavam.
Pareceu-me ruído a mais, festa a mais, trabalho a menos e não via como a vida se poderia tornar num paraíso saído do nada, nem como poderia haver um sol brilhante em dia de tempestade.
É que os meus “tempos de MRPP” tinham já passado, as ilusões já não tinham o fulgor da leviandade irresponsável dos meus 20 anos e a vida, com as responsabilidades que me foi trazendo, já se me mostrava mais como é do que como alguma vez sonhei que fosse!
E passados 40 anos, o balanço é fácil de fazer…
É o que me vem à cabeça quando acontece que, na Grécia, o Syrisa, o BE lá do sítio, o tal partido que vai mudar a Europa acabando com a austeridade, vai ajustando o seu discurso cada vez que mais se aproximam as eleições e que do seu esquerdismo extremado apenas vão ficando alguns resquícios.
Nada melhor para moderar as críticas do que a responsabilidade de fazer.
Parece-me que as eleições do próximo dia 25 na Grécia vão ser uma lição para muita gente que, finalmente, não poderá deixar de ver que o momento que vivemos é bem mais digno de atenção do que de fantasias, mais carente de reflexão do que de voluntarismos e que o tempo das vacas gordas passou sem que, como um avisado faraó o terá feito, tivéssemos salvaguardado o futuro.
Mas este é um mundo distraído que vai deitando para o fundo do baú as memórias que deveria não esquecer e votando ao esquecimento o que de mais importante vai acontecendo, substituindo-o pelo que, no momento, é notícia!
E é ser ou não notícia o que marca o ritmo dos acontecimentos a que prestamos atenção e nos leva a dar importância às coisas.
Num radical virar de página, Ronaldo tomou o lugar de Charlie, como este já tomara o de Sócrates que, por sua vez, competia em popularidade com Ricardo Salgado que…
Entretanto o mundo está a braços com problemas gravíssimos que parece que esperamos que o tempo resolva. E resolverá! Mas de que modo?
Porque não levamos nada até ao fim e não encaramos a sério nenhum dos problemas que nos afectam, não resolvemos coisa nenhuma. Apenas vamos substituindo uns problemas por outros, à medida que convenha que sejam notícia.
Não será assim que se prepara o futuro, porque é assim que se criam as grandes confusões.
Mas não podemos esquecer, nunca, que o disparate é livre e é, bem vistas as coisas, a grande conquista da Humanidade.
A notícia do dia é que Cristiano Ronaldo é o melhor do mundo. E é mesmo!
PARABENS RONALDO!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O QUE É, AFINAL, A TOLERÂNCIA?


Foi, sem a menor dúvida, uma manifestação grandiosa em que o repúdio por um acto ignóbil foi evidente, porventura nem sequer tão grande quanto a repugnância que causou mereceria, porque a vida é um bem absoluto, contra o qual é criminoso atentar, seja por qual razão for.
Por isso, o massacre na redacção do Charlie Ebdo é, pura e simplesmente, condenável.
Mas creio que valeria a pena reflectir sobre ele para lá das intenções explícitas da manifestação que, publicamente, o condenou ou, a não ser assim, de pouco me parece ter valido a pena fazê-la e ficarmos por aí.
Estou seguro de que não serei o único a pensar deste modo, por mais que se fale de uma tolerância que me parece egoísta quando se exige dos outros mesmo quando a não pratiquemos.
Quis saber o que, por aí, se diz e, nas crónicas que tenho lido, encontrei uma afirmação que me parece muito importante reter “o direito a viver a nossa espiritualidade sem a impor a outros e respeitando a dos outros” porque é a chave da reflexão à qual proponho que cada um se entregue para que a grandiosa manifestação faça sentido.
Mas desejei, também, saber como são os célebres "cartoons" publicados no Charlie Ebdo que nunca havia visto e, francamente, senti-me profundamente chocado, desrespeitado até, por muitos dos que vi, precisamente porque não respeitam a minha espiritualidade, assim como outras que, tal como a minha, são respeitáveis também. Mas sou tolerante, apesar da reciprocidade que os cartoons não respeitam e menos ainda quando, depois de tantos inocentes que morreram sem imaginar porque, o próximo número do Charlie Ebdo trará mais “caricaturas de Maomé”, como já vi afirmado!
O que é, afinal, a tolerância?
As questões não se resolvem somente pela tolerância, seja ela o que for, porque a tolerância não pode deixar de ter limites que, se ultrapassados, pervertem o seu próprio sentido. Por isso, melhor será que se evite ter de apelar a uma “virtude” que não é, com toda a certeza, a que a natureza humana mais convida a praticar.
Estou, incondicionalmente, ao lado dos que repudiam extremismos e actos violentos, assim como estou, definitivamente, ao lado dos que respeitam os outros para que a tolerância seja cada vez menos necessária.

  

sábado, 10 de janeiro de 2015

SER OU NÃO SER CHARLIE


No pouco tempo que passou depois dos trágicos acontecimentos em França, ainda não consegui recuperar da confusão em que me deixaram certas dúvidas que, em casos como este, sempre me assaltam.
Apesar de muito apreciar a liberdade de expressão que me permite dizer aquilo que penso, escasseiam-me as certezas sobre o modo de a exercer sem coarctar a que aos demais também assiste.
Por mais que pense, a responsabilidade é a atitude que me parece mais adequada, especialmente quanto à liberdade religiosa que a lei que me rege garante e a minha formação cristã me impõe, por ser fundamental pelas razões que dá para estarmos aqui e pelas perspectivas que revela quanto ao lugar que é o nosso no universo intemporal a que pertencemos. Daí o meu respeito pela que outros, seja a religião qual for, têm a liberdade de professar.
Falo de religiões, não dos maus aproveitamentos que delas se façam. Obviamente!
É no respeito que me mereçam as atitudes de que me apercebo que fundamento o meu comportamento ou os juízos que delas faça, os quais jamais serão de simples tolerância perante as atitudes de desrespeito ou de irresponsabilidade que tiverem. A menos que fosse o santo que não sou ou o hipócrita que não desejo ser.
Por isso, perante os antagonismos que as liberdades sempre provocam, coloca-se-me a questão de saber qual liberdade será legítimo usar nos confrontos a que as divergências, inevitavelmente, dão lugar.
Nem por um momento ponho em causa a ilegitimidade de actos como os que tiraram a vida aos “cartoonistas” do Charlie Hebdo e aos demais que a barafunda apanhou, assim como não oculto a repugnância profunda que me causaram, porque tirar a vida é o atentado maior contra a liberdade que, sem ela, nem sequer existe.
Mas questiono-me sobre o direito de afrontar a liberdade alheia por qualquer modo que, mesmo sem roubar a vida, seja uma qualquer forma de violência que a agrida nos seus valores maiores.
Sem a menor dúvida, prefiro o confronto de ideias esclarecedor à agressão que o impede.