Ao longo desta crise sem fim, tenho notado
dois tipos de atitudes, a dos que ainda esperam o regresso do rentável e cómodo
mundo de “conquistas” e de “direitos” a que se habituaram e os que, perante a realidade,
se fazem à vida e procuram as soluções que o inevitavelmente comedido “Estado
Social” não proporciona com a generosidade de outrora.
Estes são poucos, por enquanto, mas serão
muitos no final porque a “economia” já não tem as “soluções” que tinha quando
as “engenharias financeiras” conseguiam encobrir as chagas que, impiedosamente,
iam aparecendo.
A “economia” perdeu a capacidade de
adaptação que parecia ter e ficou dependente de constantes “ajudas” que, no
entanto, têm como resultado evidente compromete-la cada vez mais.
E a “doença da pele curta” instalou-se de
vez. Fecha-se daqui mas abre-se dali, tapa daqui descobre acolá sem que seja
possível esticar mais o que já não dá para cobrir todos os buracos.
Perante a inércia de uma “economia” que não
consegue retomar o dinamismo de outrora, o Banco Central Europeu vê numa “inundação”
de euros a solução para tirar a Europa da crise. Mas não me parece que seja
deste modo que se resolvem problemas que têm a sua génese no excesso de consumo
de coisas não essenciais.
Os 50 mil milhões de euros que, por ano, o
BCE se propõe injectar na banca dos vários países para lhes dar liquidez com
que possam financiar as empresas que produzirão mais do que cada vez menos
podemos comprar, não passarão de mais uma fantasia inútil que nos conduzirá,
direitinhos, a mais um buraco que se junta aos que já cavámos e não conseguimos
tapar.
A propósito, vi uma reportagem sobre mais
uma daquelas feiras tecnológicas, sempre muito curiosas pelas novidades nos
deixam de olhos arregalados. Um aproximar da porta que faz abrir a fechadura da
casa, liga o ar condicionado, desliga o alarme e nem sei mais o que, tudo
coisas que facilmente fazemos com as nossas próprias mãos se, porventura,
tivermos fechadura, ar condicionado, alarme, fogões que se activam
automaticamente e nos preparam as refeições e outras coisas que a imensa
maioria das pessoas do mundo não têm. E se tivermos, por que haveremos de
deixar de as fazer como sempre fizemos?
Será nada fazer o futuro que a Humanidade almeja?
Talvez seja, com todas estas coisas que, embora custando cada vez mais, sempre
terão quem as compre enquanto houver crédito para o fazer.
Porém, as dívidas que os esbanjadores contraem
e muitos acabarão por não pagar, como já aconteceu e acontece, acabarão por ser
pagas pelos que não se endividaram, na próxima e inevitável ronda de
austeridade. Um processo de empobrecimento sucessivo que acabará numa
catástrofe.
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