ACORDO ORTOGRÁFICO

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

E PAGA O JUSTO PELO PECADOR


Ao longo desta crise sem fim, tenho notado dois tipos de atitudes, a dos que ainda esperam o regresso do rentável e cómodo mundo de “conquistas” e de “direitos” a que se habituaram e os que, perante a realidade, se fazem à vida e procuram as soluções que o inevitavelmente comedido “Estado Social” não proporciona com a generosidade de outrora.
Estes são poucos, por enquanto, mas serão muitos no final porque a “economia” já não tem as “soluções” que tinha quando as “engenharias financeiras” conseguiam encobrir as chagas que, impiedosamente, iam aparecendo.
A “economia” perdeu a capacidade de adaptação que parecia ter e ficou dependente de constantes “ajudas” que, no entanto, têm como resultado evidente compromete-la cada vez mais.
E a “doença da pele curta” instalou-se de vez. Fecha-se daqui mas abre-se dali, tapa daqui descobre acolá sem que seja possível esticar mais o que já não dá para cobrir todos os buracos.
Perante a inércia de uma “economia” que não consegue retomar o dinamismo de outrora, o Banco Central Europeu vê numa “inundação” de euros a solução para tirar a Europa da crise. Mas não me parece que seja deste modo que se resolvem problemas que têm a sua génese no excesso de consumo de coisas não essenciais.
Os 50 mil milhões de euros que, por ano, o BCE se propõe injectar na banca dos vários países para lhes dar liquidez com que possam financiar as empresas que produzirão mais do que cada vez menos podemos comprar, não passarão de mais uma fantasia inútil que nos conduzirá, direitinhos, a mais um buraco que se junta aos que já cavámos e não conseguimos tapar.
A propósito, vi uma reportagem sobre mais uma daquelas feiras tecnológicas, sempre muito curiosas pelas novidades nos deixam de olhos arregalados. Um aproximar da porta que faz abrir a fechadura da casa, liga o ar condicionado, desliga o alarme e nem sei mais o que, tudo coisas que facilmente fazemos com as nossas próprias mãos se, porventura, tivermos fechadura, ar condicionado, alarme, fogões que se activam automaticamente e nos preparam as refeições e outras coisas que a imensa maioria das pessoas do mundo não têm. E se tivermos, por que haveremos de deixar de as fazer como sempre fizemos?
Será nada fazer o futuro que a Humanidade almeja? Talvez seja, com todas estas coisas que, embora custando cada vez mais, sempre terão quem as compre enquanto houver crédito para o fazer.
Porém, as dívidas que os esbanjadores contraem e muitos acabarão por não pagar, como já aconteceu e acontece, acabarão por ser pagas pelos que não se endividaram, na próxima e inevitável ronda de austeridade. Um processo de empobrecimento sucessivo que acabará numa catástrofe.
Por isso, quando o BCE injectar 27 mil milhões de euros na banca portuguesa para dinamizar o consumo, ficando a responsabilidade desta “ajuda” no Banco de Portugal sem qualquer solidariedade europeia, todos nós acabaremos por pagá-los. Mais cedo ou mais tarde. E apagaremos caro se não tivermos a contenção sensata que evite novos endividamentos excessivos.


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