Clama-se contra as ligações perigosas entre
a política e os negócios às quais se atribuem as maiores responsabilidades na
corrupção que, como factos diversos mostram, é urgente combater. Porém, pouco
ou nada se faz para evitar que aconteçam. Pelo contrário, mantêm-se condições para
que, sem contrariar a lei, porque é omissa, os eleitos para exercer funções de
representação dos cidadãos na vigilância dos actos da governação e na
elaboração das leis que nos regem, possam continuar a ter actividade privada
que, em muitos casos e em especial no dos advogados é potencialmente
perniciosa.
Uma notícia da qual hoje me dei conta
informa que “Ministra da Justiça preparou diploma para advogados que prevê
que eleitos para cargos relacionados com o poder local não possam exercer.
Deputados da Assembleia da República podem”.
Uma lei que me
parece aberrante depois de, desde há tanto tempo, se falar do perigo de
interferência imprópria em actos legislativos que podem beneficiar clientes
privados ou interesses impróprios.
Mas, para além
disto, continua a existir uma questão de fundo que é a da dedicação às funções
de deputado para as quais uma actividade privada, necessariamente muito
preenchida e com muitos interesses em causa, deixará pouca disponibilidade.
Não gostaria de
tomar como exemplo o que se diz que o novo governo grego está a fazer,
substituindo assessores por mulheres das limpezas, porque as assessorias, na
medida e condições adequadas, são necessárias e apenas para além disso serão os
“jobs for the boys” pelos quais esperam os “jotas” dos partidos, mas veria com
bons olhos a dedicação exclusiva às funções de deputado que permitiria a redução
do seu número, com economia de custos e acréscimo de eficiência.
Por outro lado
coloco, ainda, a questão da longevidade destas funções que, tal como em outros
cargos, como os de autarcas, por exemplo, gera situações igualmente
susceptíveis de "ligações perigosas" no seu desempenho.
Creio, pois,
tratar-se de um domínio em que é possível muito fazer para enfraquecer as teias
da corrupção que nos obrigam a tantos sacrifícios injustos.
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