ACORDO ORTOGRÁFICO

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domingo, 4 de janeiro de 2015

O SOCIALISMO PORTUGUÊS


Se alguém era “socialista” antes do 25 de Abril, esse alguém seria eu que julgava que o socialismo jamais consentiria os privilégios que eu via tanta gente ter, bem como seria mais sensível à justiça que qualquer sociedade precisa de ter, atenta e independente, para segurança de todos nós.
Quantas vezes me chamaram a atenção para os riscos que corria por coisas que dizia já que, quanto ao comportamento, sempre tive o de um cidadão cumpridor dos seus deveres, consciente das suas obrigações e zelador das necessidades da família que constituiu.
Não foram apenas uma ou duas as vezes recusei oportunidades que me foram oferecidas, com proveitos materiais que muito jeito me dariam, mas que me levariam a ser corresponsável por atitudes com as quais não concordava.
Porém, depois do 25 de Abril, uma revolução feita de modo que também me não pareceu ser o melhor e, continuo a crer, também impulsionada por algumas razões não totalmente esclarecidas, o meu posicionamento político ficou como que perdido na indefinição gerada pelo esquerdismo exarcebado que, mais por oportunismo ou ressabiamento do que por consciência, se tornou moda.
Depois do meu regresso de Moçambique, de onde trouxe o mesmo carro que para lá levara além de uma família aumentada e os bolsos vazios, mantive os comportamentos que me levaram a abdicar, em favor de outros mais necessitados, de vantagens materiais como uma possível ajuda financeira e uma reforma especial pelos serviços públicos prestados no Ultramar, o que facilmente pode ser confirmado.
Grande disparate, penso eu hoje quando vejo quem, sem as necessidades que eu, apesar de tudo, tinha então, aproveitar à minúcia regalias que a “revolução” estabeleceu, as quais as suas fortunas pessoais não tornariam necessárias para uma vida de nível muito superior à média de todos nós. Regalias que todos nós, mesmo os mais necessitados, pagamos.
São os “critérios de igualdade” característicos do “socialismo português”, nos quais se incluem o tratamento especial devido a certas pessoas que as circunstâncias tornou conhecidas, sem se preocupar com as que a Justiça possa ter para com os comuns mortais dos quais se serve mas de quem, depois, se não lembra mais.
Afinal, não passam de regras que os políticos definiram e agora me parece que alguns pensam que lhes não seriam aplicáveis!
Todos sabemos que a Justiça não passa de um conjunto de regras para cumprimento das leis que definem os comportamentos e as responsabilidades que lhes caibam, bem como as sanções que quem os pratique deva ter.
Mas é a justiça possível para quem tem de apurar o que aconteceu em função dos indícios que haja, através de uma investigação que tem as suas regras e, necessariamente, não é isenta de erros porque é humana.
No caso Sócrates interessa-me menos, neste momento, saber se ele é inocente ou culpado dos crimes contra a sociedade de que é suspeito e de outros até, do que sentir que os preceitos comuns de investigação, a todos aplicáveis, estão a ser cumpridos, porque não considero que deva ter um tratamento de excepção como defende o “pai do socialismo português”, Mário Soares, a quem não vejo nem alguma vez vi qualquer atitude altruísta em favor dos mais necessitados.
Não seria já tempo de deixar de rezingar acerca da prisão de Sócrates e escrever e falar sobre coisas mais importantes, se porventura tem algumas sobre as quais possa falar?


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