Se alguém era “socialista” antes do 25 de
Abril, esse alguém seria eu que julgava que o socialismo jamais consentiria os
privilégios que eu via tanta gente ter, bem como seria mais sensível à justiça que
qualquer sociedade precisa de ter, atenta e independente, para segurança de
todos nós.
Quantas vezes me chamaram a atenção para os
riscos que corria por coisas que dizia já que, quanto ao comportamento, sempre
tive o de um cidadão cumpridor dos seus deveres, consciente das suas obrigações
e zelador das necessidades da família que constituiu.
Não foram apenas uma ou duas as vezes
recusei oportunidades que me foram oferecidas, com proveitos materiais que
muito jeito me dariam, mas que me levariam a ser corresponsável por atitudes com
as quais não concordava.
Porém, depois do 25 de Abril, uma revolução
feita de modo que também me não pareceu ser o melhor e, continuo a crer, também impulsionada por algumas razões não totalmente esclarecidas, o meu posicionamento
político ficou como que perdido na indefinição gerada pelo esquerdismo
exarcebado que, mais por oportunismo ou ressabiamento do que por consciência,
se tornou moda.
Depois do meu regresso de Moçambique, de
onde trouxe o mesmo carro que para lá levara além de uma família aumentada e os
bolsos vazios, mantive os comportamentos que me levaram a abdicar, em
favor de outros mais necessitados, de vantagens materiais como uma possível
ajuda financeira e uma reforma especial pelos serviços públicos prestados no Ultramar, o que facilmente pode ser confirmado.
Grande disparate, penso eu hoje quando vejo
quem, sem as necessidades que eu, apesar de tudo, tinha então, aproveitar à
minúcia regalias que a “revolução” estabeleceu, as quais as suas fortunas
pessoais não tornariam necessárias para uma vida de nível muito superior à média
de todos nós. Regalias que todos nós, mesmo os mais necessitados, pagamos.
São os “critérios de igualdade”
característicos do “socialismo português”, nos quais se incluem o tratamento
especial devido a certas pessoas que as circunstâncias tornou conhecidas, sem se
preocupar com as que a Justiça possa ter para com os comuns mortais dos quais
se serve mas de quem, depois, se não lembra mais.
Afinal, não passam de regras que os
políticos definiram e agora me parece que alguns pensam que lhes não seriam
aplicáveis!
Todos sabemos que a Justiça não passa de um
conjunto de regras para cumprimento das leis que definem os comportamentos e as
responsabilidades que lhes caibam, bem como as sanções que quem os pratique
deva ter.
Mas é a justiça possível para quem tem de
apurar o que aconteceu em função dos indícios que haja, através de uma
investigação que tem as suas regras e, necessariamente, não é isenta de erros
porque é humana.
No caso Sócrates interessa-me menos, neste
momento, saber se ele é inocente ou culpado dos crimes contra a sociedade de
que é suspeito e de outros até, do que sentir que os preceitos comuns de
investigação, a todos aplicáveis, estão a ser cumpridos, porque não considero
que deva ter um tratamento de excepção como defende o “pai do socialismo
português”, Mário Soares, a quem não vejo nem alguma vez vi qualquer atitude altruísta
em favor dos mais necessitados.
Não seria já tempo de deixar de rezingar acerca
da prisão de Sócrates e escrever e falar sobre coisas mais importantes, se
porventura tem algumas sobre as quais possa falar?
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