No pouco tempo que passou depois dos
trágicos acontecimentos em França, ainda não consegui recuperar da confusão em
que me deixaram certas dúvidas que, em casos como este, sempre me assaltam.
Apesar de muito apreciar a liberdade de expressão
que me permite dizer aquilo que penso, escasseiam-me as certezas sobre o modo de a exercer
sem coarctar a que aos demais também assiste.
Por mais que pense, a responsabilidade é a atitude que me parece mais adequada, especialmente quanto à liberdade religiosa que a lei que me
rege garante e a minha formação cristã me impõe, por ser fundamental pelas
razões que dá para estarmos aqui e pelas perspectivas que revela quanto ao
lugar que é o nosso no universo intemporal a que pertencemos. Daí o meu
respeito pela que outros, seja a religião qual for, têm a liberdade de professar.
Falo de religiões, não dos maus
aproveitamentos que delas se façam. Obviamente!
É no respeito que me mereçam as atitudes de que me apercebo que fundamento o meu comportamento ou os juízos que delas faça, os
quais jamais serão de simples tolerância perante as atitudes de desrespeito ou de irresponsabilidade que
tiverem. A menos que fosse o santo que não sou ou o hipócrita que não desejo ser.
Por isso, perante os antagonismos que as
liberdades sempre provocam, coloca-se-me a questão de saber qual liberdade será
legítimo usar nos confrontos a que as divergências, inevitavelmente, dão lugar.
Nem por um momento ponho em causa a
ilegitimidade de actos como os que tiraram a vida aos “cartoonistas” do Charlie
Hebdo e aos demais que a barafunda apanhou, assim como não oculto a repugnância
profunda que me causaram, porque tirar a vida é o atentado maior contra a
liberdade que, sem ela, nem sequer existe.
Mas questiono-me sobre o direito de
afrontar a liberdade alheia por qualquer modo que, mesmo sem roubar a vida,
seja uma qualquer forma de violência que a agrida nos seus valores maiores.
Sem a menor dúvida, prefiro o confronto de
ideias esclarecedor à agressão que o impede.
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