ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sábado, 10 de janeiro de 2015

SER OU NÃO SER CHARLIE


No pouco tempo que passou depois dos trágicos acontecimentos em França, ainda não consegui recuperar da confusão em que me deixaram certas dúvidas que, em casos como este, sempre me assaltam.
Apesar de muito apreciar a liberdade de expressão que me permite dizer aquilo que penso, escasseiam-me as certezas sobre o modo de a exercer sem coarctar a que aos demais também assiste.
Por mais que pense, a responsabilidade é a atitude que me parece mais adequada, especialmente quanto à liberdade religiosa que a lei que me rege garante e a minha formação cristã me impõe, por ser fundamental pelas razões que dá para estarmos aqui e pelas perspectivas que revela quanto ao lugar que é o nosso no universo intemporal a que pertencemos. Daí o meu respeito pela que outros, seja a religião qual for, têm a liberdade de professar.
Falo de religiões, não dos maus aproveitamentos que delas se façam. Obviamente!
É no respeito que me mereçam as atitudes de que me apercebo que fundamento o meu comportamento ou os juízos que delas faça, os quais jamais serão de simples tolerância perante as atitudes de desrespeito ou de irresponsabilidade que tiverem. A menos que fosse o santo que não sou ou o hipócrita que não desejo ser.
Por isso, perante os antagonismos que as liberdades sempre provocam, coloca-se-me a questão de saber qual liberdade será legítimo usar nos confrontos a que as divergências, inevitavelmente, dão lugar.
Nem por um momento ponho em causa a ilegitimidade de actos como os que tiraram a vida aos “cartoonistas” do Charlie Hebdo e aos demais que a barafunda apanhou, assim como não oculto a repugnância profunda que me causaram, porque tirar a vida é o atentado maior contra a liberdade que, sem ela, nem sequer existe.
Mas questiono-me sobre o direito de afrontar a liberdade alheia por qualquer modo que, mesmo sem roubar a vida, seja uma qualquer forma de violência que a agrida nos seus valores maiores.
Sem a menor dúvida, prefiro o confronto de ideias esclarecedor à agressão que o impede. 

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