ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A RESSACA


Para além de um empolgamento passageiro que não levará muito tempo a esquecer, o “je suis charlie” em breve será esquecido e substituído por outro empolgamento qualquer, sem que do sucedido se tenham aprendido as lições que tinha para dar.
Decerto porque a necessidade de uma resposta rápida, grandiosa e ao estilo de encher o peito de ar para assustar não deixou tempo para pensar naquilo que, realmente, o brutal atentado de Paris significou.
Por isso, as consequências práticas pouco irão além de uma manifestação que mais me pareceu uma mistura promíscua de interesses bem diferenciados, de um fenómeno de aumento súbito e fugaz de uma tiragem de 60.000 para 5.000.000 de exemplares de um jornal que se diz irresponsável e muito pouca gente conhecia e do envio do porta-aviões Charles de Gaulle para participar na guerra contra os jihadistas.
Não sei bem onde, no meio de tudo isto, está a “tolerância” com que se responde à que, ao estilo do “laissez faire, laissez passer” (deixa fazer, deixa andar) que a revolução francesa instituiu, que remata dizendo “le monde va pour lui même” (o mundo caminha por si) e com a qual se justificam as inúteis afrontas à capacidade de tolerância dos que se sentem agredidos por “cartoons” a que alguns apenas acharão graça pela intolerância que revelam.
A propósito disto, é de liberdade que também se fala, sem que, apesar de tudo o que leio e oiço, finalmente consiga entender quais sejam os limites que a distingam do anarquismo que, sem eles, a liberdade seria. Por mim coloco esse limite no respeito, uma atitude da qual cada vez menos dou conta.
Em breve o Charlie será esquecido e outros ódios continuarão a alimentar guerras cuja dimensão já pede meças àquelas que julgámos as maiores. 


Sem comentários:

Enviar um comentário