Para além de um empolgamento passageiro que
não levará muito tempo a esquecer, o “je suis charlie” em breve será esquecido
e substituído por outro empolgamento qualquer, sem que do sucedido se tenham
aprendido as lições que tinha para dar.
Decerto porque a necessidade de uma
resposta rápida, grandiosa e ao estilo de encher o peito de ar para assustar não
deixou tempo para pensar naquilo que, realmente, o brutal atentado de Paris
significou.
Por isso, as consequências práticas pouco irão
além de uma manifestação que mais me pareceu uma mistura promíscua de
interesses bem diferenciados, de um fenómeno de aumento súbito e fugaz de uma
tiragem de 60.000 para 5.000.000 de exemplares de um jornal que se diz
irresponsável e muito pouca gente conhecia e do envio do porta-aviões Charles
de Gaulle para participar na guerra contra os jihadistas.
Não sei bem onde, no meio de tudo isto,
está a “tolerância” com que se responde à que, ao estilo do “laissez faire,
laissez passer” (deixa fazer, deixa andar) que a revolução francesa instituiu, que remata dizendo “le
monde va pour lui même” (o mundo caminha por si) e com a qual se justificam as inúteis afrontas à
capacidade de tolerância dos que se sentem agredidos por “cartoons” a que
alguns apenas acharão graça pela intolerância que revelam.
A propósito disto, é de liberdade que
também se fala, sem que, apesar de tudo o que leio e oiço, finalmente consiga
entender quais sejam os limites que a distingam do anarquismo que, sem eles, a
liberdade seria. Por mim coloco esse limite no respeito, uma atitude da qual
cada vez menos dou conta.
Em breve o Charlie será esquecido e outros
ódios continuarão a alimentar guerras cuja dimensão já pede meças àquelas que
julgámos as maiores.
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