ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

ENTRE VAGAS E ONDAS




Provocou-me uma profunda tristeza a notícia da morte de Alvin Tofler.
Conheci-o em “O choque do futuro” que escreveu em 1970 e foi uma previsão notável do que se seguiria, no qual reflecte sobre o impacte que a evolução tecnológica e sobrecarga de informação que traz consigo, terá sobre uma Humanidade sedenta de novidades e que, por elas, se torna desapegada do que antes a fez feliz.
Entre a menina do passado, de quem a boneca de sempre fazia as delícias, era a companheira inseparável dos jogos que jogava e, a seu lado, dormia as noites tranquilas de então, até à menina moderna que a troca, sem mágoa, pelo último modelo que, ansiosamente, já esperava, Tofler apercebe-se da desumanização e da transitoriedade do futuro, da ansiedade e da ganância com que será vivido.
Ler aquele livro deixou-me profundamente impressionado e porque encontrei sentido e razão de ser em tudo o que nele me disse, fiquei atento ao caminho que a Humanidade estava a seguir sem cuidar de avaliar as consequências do “banquete” com que, imprudentemente, se refastelava.
Seguiu-se-lhe “a segunda vaga” que pouco me pareceu que fosse além da chamada de atenção que o seu anterior trabalho me fizera.
Mas outras “vagas ou ondas” se seguiram, na crista das quais chegou até à análise dos cada vez maiores efeitos do armamento, do poder bélico, da torrente imparável da tecnologia, enfim, de tudo o que tornava o capitalismo imparável e os seus efeitos cada vez mais devastadores.
A visão do mundo actual e as preocupantes conclusões da Ciência sobre as consequências das leviandades que cometemos dão razão a tanto que antecipou e poderia ter evitado o desassossego que agora sentimos na vivência das suas previsões.
Paz à sua Alma!


quarta-feira, 29 de junho de 2016

ATÉ QUANDO SE PODE SUPORTAR O MAL QUE FAZ PELO BEM QUE SABE?



Uma notícia recente dá conta de um estudo científico, publicado no jornal “Nature”, do qual se conclui que morrem, anualmente, mais de três milhões de pessoas, vítimas da excessiva poluição aérea, um número superior às mortes causadas pelos gravíssimos problemas de saúde pública que são o paludismo ou o HIV.
Acrescenta o estudo que, a não serem tomadas medidas rápidas, drásticas e adequadas, o número de casos mortais pode duplicar até 2050, o que corresponde ao brevíssimo horizonte temporal de 33 anos!
Se a esta conclusão juntarmos, mesmo sem apresentar números que, sem dúvida serão mais elevados do que aqueles, as consequências para a saúde humana originadas pela poluição do solo e da água, incluindo a dos oceanos onde os lixos menos biodegradáveis já formam ilhas de milhares de quilómetros quadrados, chegaremos a números assustadores para as vítimas mortais da poluição.
Como nada me diz que as conclusões do estudo publicado pela “Nature” inclua as consequências das alterações climáticas que a poluição aérea acelera e das quais resultarão efeitos ambientais que obrigarão a uma adaptação muito difícil de suportar pela Humanidade, serão ainda muito mais elevados os efeitos negativos do tipo de economia que os gera.
Depois de tudo isto e sem acrescentar outros efeitos para além da “poluição”, os quais não são, de modo algum, desprezáveis, apenas me apetece fazer uma pergunta simples, cuja resposta me não parece difícil:
- se o tipo de economia que adoptamos é o que, a não longo prazo, nos pode matar, como poderemos pensar que é com ela que nos poderemos salvar? 

sexta-feira, 24 de junho de 2016

“Á ESPERA DE GODOT”



Não é difícil reparar como as questões mais importantes quase passam despercebidas no FB onde mais se cuida do ego e de trivialidades do que das coisas sérias que estão a acontecer no mundo.
É um retrato da maioria e das suas preocupações, é a caixa ressonância de políticos à procura de notoriedade, é o altar da “geringonça” que nada diz dos problemas sérios que, muito em breve, nem saberemos como os tratar.
No FB ninguém espera por nada que não seja de pouco interesse ou o quarto de hora de fama de cada um.
Mas neste mundo cada vez mais confuso, continuamos à espera de Godot, o personagem que Becket criou em 1940, ainda que apenas o tenha publicado em 1952, por quem todos esperam sem saber quem seja nem o que dele possam querer.
Desde há anos já que publico as minhas reflexões no blogue que para tal criei e onde, sem qualquer ordem ou regra, registo o que, a cada momento, me parece mais relevante.
É certo que os poucos leitores que tenho, não passam de uma quantas centenas mas espelhados por todo o mundo, me continuam a seguir e estão fartos de saber as preocupações que sinto e os problemas que mais temo neste mundo de políticos idiotas que não são capazes de preocupar-se com outros prolemas que não sejam a politiqueirice em que são mestres.
O que virá depois, que interesse terá para eles que, entretanto, vão pondo a bom recato, ainda não sei para que, as fortunas que acumulam e que para nada lhes servirão porque não são sequer vento que um turbilhão espalhou, não fazemos ideia. Nem eles, talvez...
É assim o mundo que criámos mas que, um dia não mundo distante, pode morrer de uma síncope que ninguém, imagine-se, esperava!
Os mais novos não se aperceberão das mudanças que se notam por toda a parte e nos comportamentos, nas leviandades que são cada vez maiores, nem fazem ideia dos perigos que os espreitam. Para eles sempre tudo foi assim.
Os copos das Sextas-Feiras limpam as preocupações menores que os afrontam e outros divertimentos dão-lhe os motivos de confrontação que não dispensam.
Serão, alguma vez capazes de cooperar nas situações de graves riscos que se aproximam?
Não sei.
Quem sabe Godot chegue um dia, abra a mala e dela tire as soluções que não temos. Mas, por mais que o deseje em nome dos que deixarei neste mundo, duvido!
Becket não o deixou ficar por cá.


E DEPOIS?



Sempre me lembrarei do que, naquele dia, já longínquo, quando visitei as obras de construção do túnel da Mancha, me disse um dos colegas ingleses que me acompanhou na visita: “finalmente, a Europa vai deixar de estar isolada”.
Uma das muitas brincadeiras que por aí se dizem, afirmou ele com aquele ar que nos deixa na dúvida quanto às verdadeiras intenções com que se dizem certas coisas.
Ao longo do tempo, reparando no comportamento dos ingleses nas suas negociações com a Europa e nas excepções ou vantagens que, com elas, iam conseguindo, fiquei com poucas dúvidas de que ou lhes davam tudo o que queriam ou, mais cedo ou mais tarde, sairiam.
E fizeram um referendo!
O apuramento de resultados da votação foi divulgado por áreas, revelando-se a disputa bastante acirrada. O "sair" começou à frente e chegou a ser ultrapassado pelo desejo de continuar na UE, mas logo retomou a liderança e foi ganhando vantagem até atingir quase os 51,9% dos votos que lhe deu a vitória por cerca de 1.200.000 votos.
O referendo, que englobou toda a Grã- Bretanha que inclui, para além da dominante Inglaterra, o País de Gales, a Irlanda do Norte e a Escócia, mostrou, nos resultados apurados, um Reino Unido desunido.
Apesar da vitória global do "sair", votaram pela permanência a Escócia (62,0%), a Irlanda do Norte (55,8%) e a região de Londres (59,9%). Todas as demais regiões da Inglaterra e o País de Gales votaram por "sair", com percentuais que variaram de 52,5% (País de Gales) a 59,3% (West Midlands).
Na Escócia, o "permanecer" venceu em todos os distritos. Como se esperava, aliás, pelas intenções separatistas que esta votação terá reforçado.
A chefe de governo escocês, Nicola Sturgeon, disse que "A votação aqui mostra claramente que os escoceses vêem seu futuro como parte da UE". E se antes desta Separação, à independência da Escócia quase se opunha a eventual saída da UE, as circunstâncias mudaram e o independentismo ganha novas forças.
Por sua vez, o chefe do movimento Sinn Fein, da Irlanda do Norte, afirmou que vai pedir um referendo sobre a união do país com a Irlanda que, como sabemos, faz parte da UE.
Por outras “nações” sem Estado que abundam por essa Europa fora – só aqui na vizinha Espanha – a Catalunha e o País Basco reivindicam independências – a geografia política tenderá a alterar-se. Quem sabe, até, se novos casos, até agora sossegados, não virão a surgir.
Parece que o “small is beautifull, aquele ideal de economia em que “as pessoas contam” que EF Schumaker divulgou, poderá fazer o seu caminho contra a ideia de quanto maior melhor, tanto mais que as conclusões aterradoras de um estudo muito recente, feito com equipamentos e dados fornecidos pala NASA, não levam para além de umas dezenas de anos a perspectiva de futuro da Humanidade tal como a conhecemos.
É a vitória do individualismo sobre a carneirada que, mesmo sem deixar de ter os seus “senões” nos pode afastar desta vereda que nos conduz à despersonalização, bem visível quando não é o meu nome que permite encontrar a minha ficha, mas o número de contribuinte!
Ao contrário dos “inteligentes” que, em breve, farão a antevisão do que vai passar-se, eu não faço ideia do que vai suceder. Mas que muita coisa vai mudar, isso vai!
Irão seguir-se negociações que não serão fáceis, nas quais espero a UE saiba olhar-se como o todo que uma parte quer deixar e não o contrário, assuma o seu estatuto e entenda, finalmente, os riscos dos erros que tem cometido.
Após o “brexit”, vai ter de ser invocado o artigo 50 do Tratado de Lisboa que prevê um prazo de dois anos para a negociação da saída de um Estado-membro do bloco europeu, processo que Cameron não quis comandar e, por isso, se demitiu.
Assinado a 13 de Dezembro 2007, e em vigor desde 01 de Dezembro de 2009, o Tratado de Lisboa que emendou o Tratado da União Europeia e o Tratado sobre o Funcionamento da UE prevê, pela primeira vez, de forma explícita no seu artigo 50, a possibilidade de qualquer Estado sair da forma voluntária e unilateral da União.
É o que vai suceder com a Grã-Bretanha.
E depois, quem vai seguir-se?