ACORDO ORTOGRÁFICO

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quarta-feira, 15 de junho de 2016

A ECONOMIA DO VÍCIO



(Fonte: WWF)

Utilizado pela primeira vez pelo ecologista canadiano William Rees em 1992, o conceito “pegada ecológica” global significa, em superfície, a quantidade de terra e de água necessária para sustentar as gerações atuais, considerando os recursos naturais, materiais e energéticos, gastos por todos os seres humanos na sua alimentação, habitação, vestuários, transportes, educação, saúde, tempos livres e tudo o mais de que, na sua totalidade, necessita ou exige, por unidade de tempo.
Obviamente, cada ser humano tem a sua própria “pegada”, com uma grande diferença entre a dos que têm nível de vida que lhes permite utilizar recursos em excesso, como lho solicita esta economia alimentada pelo vício de consumir, e a dos que, sem recursos, passam dias sem se alimentar e, para beber, percorrem enormes distâncias para encontrar água que nem para lavar os pés teria qualidade. Deste conjunto de “pegadas” tão diferentes, uma “pegada ecológica média” pode ser calculada.
A “pegada” varia, também, de região para região, de família para família, de comunidade para comunidade, com valores tão distintos como os encontrados nas pegadas individuais.
O controlo da “pegada ecológica” permite avaliar a sustentabilidade do nosso modo de viver e a conclusão que tiramos do modo como utilizamos a biocapacidade da Terra, não nos pode deixar tranquilos.
O quadro apresentado mostra a evolução da pegada ecológica global entre 1961 e 2007, verificando-se que mais do que duplicou neste intervalo de tempo.
Enquanto a capacidade productiva da terra não vai além de 1,8 hectares globais(1) por pessoa, a pegada ecológica média atingiu, em 2007, 2,7 hectares globais, o que significa que consumimos mais 50% do que é a capacidade natural de recuperação dos recursos do Planeta!
O cálculo da “pegada ecológica” não é simples e há que não esquecer que nem todos os recursos têm o mesmo ciclo de recuperação, havendo ciclos tão longos que aos respectivos recursos naturais chamamos “não renováveis” como é, por exemplo, o caso dos hidrocarbonetos que constituem a reserva de milhões de anos de energia solar recebida pela Terra.
A Terra está já, pois, em sobrecarga ecológica que, se este modo de vida continuar, aumentará de tal modo que, em 2030 (daqui a 15 anos apenas!) necessitaremos do equivalente a 2 Planetas para satisfazer as nossas exigências ou, dito de outro modo, a Terra necessitará de dois anos para recuperar o que consumimos em apenas 1.
Insisto nas diferenças entre os ditos países desenvolvidos e os demais que, é fácil deduzir, tendem a ser cada vez maiores, com consequências sobre as quais não vejo os políticos reflectir.
Antes do último resgate financeiro, era de 4,5 hectares globais (!) a pegada ecológica média em Portugal, a qual decresceu até à média europeia em consequência da “austeridade” que lhe foi imposta, isto é, sem medidas que optimizem processos de produção, disciplinem hábitos de consumo ou por substituição de origens energéticas.
Há conclusões que devem ser tiradas desta realidade medonha.
Mas a crónica vai longa e convirá faze-lo com mais calma e cuidado.
Fica para outra vez.
(1) 1 hectare global, (hag) é uma unidade de medida empregada para quantificar a biocapacidade do planeta. Um hectare global é a média da bioproductividad de todos os hectares considerados "produtivos" na Terra. Não são considerados, pois, desertos, glaciares, alto mar, restando as áreas de terra e de água susceptíveis de produzir recursos utilizáveis.


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