ACORDO ORTOGRÁFICO

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sexta-feira, 24 de junho de 2016

E DEPOIS?



Sempre me lembrarei do que, naquele dia, já longínquo, quando visitei as obras de construção do túnel da Mancha, me disse um dos colegas ingleses que me acompanhou na visita: “finalmente, a Europa vai deixar de estar isolada”.
Uma das muitas brincadeiras que por aí se dizem, afirmou ele com aquele ar que nos deixa na dúvida quanto às verdadeiras intenções com que se dizem certas coisas.
Ao longo do tempo, reparando no comportamento dos ingleses nas suas negociações com a Europa e nas excepções ou vantagens que, com elas, iam conseguindo, fiquei com poucas dúvidas de que ou lhes davam tudo o que queriam ou, mais cedo ou mais tarde, sairiam.
E fizeram um referendo!
O apuramento de resultados da votação foi divulgado por áreas, revelando-se a disputa bastante acirrada. O "sair" começou à frente e chegou a ser ultrapassado pelo desejo de continuar na UE, mas logo retomou a liderança e foi ganhando vantagem até atingir quase os 51,9% dos votos que lhe deu a vitória por cerca de 1.200.000 votos.
O referendo, que englobou toda a Grã- Bretanha que inclui, para além da dominante Inglaterra, o País de Gales, a Irlanda do Norte e a Escócia, mostrou, nos resultados apurados, um Reino Unido desunido.
Apesar da vitória global do "sair", votaram pela permanência a Escócia (62,0%), a Irlanda do Norte (55,8%) e a região de Londres (59,9%). Todas as demais regiões da Inglaterra e o País de Gales votaram por "sair", com percentuais que variaram de 52,5% (País de Gales) a 59,3% (West Midlands).
Na Escócia, o "permanecer" venceu em todos os distritos. Como se esperava, aliás, pelas intenções separatistas que esta votação terá reforçado.
A chefe de governo escocês, Nicola Sturgeon, disse que "A votação aqui mostra claramente que os escoceses vêem seu futuro como parte da UE". E se antes desta Separação, à independência da Escócia quase se opunha a eventual saída da UE, as circunstâncias mudaram e o independentismo ganha novas forças.
Por sua vez, o chefe do movimento Sinn Fein, da Irlanda do Norte, afirmou que vai pedir um referendo sobre a união do país com a Irlanda que, como sabemos, faz parte da UE.
Por outras “nações” sem Estado que abundam por essa Europa fora – só aqui na vizinha Espanha – a Catalunha e o País Basco reivindicam independências – a geografia política tenderá a alterar-se. Quem sabe, até, se novos casos, até agora sossegados, não virão a surgir.
Parece que o “small is beautifull, aquele ideal de economia em que “as pessoas contam” que EF Schumaker divulgou, poderá fazer o seu caminho contra a ideia de quanto maior melhor, tanto mais que as conclusões aterradoras de um estudo muito recente, feito com equipamentos e dados fornecidos pala NASA, não levam para além de umas dezenas de anos a perspectiva de futuro da Humanidade tal como a conhecemos.
É a vitória do individualismo sobre a carneirada que, mesmo sem deixar de ter os seus “senões” nos pode afastar desta vereda que nos conduz à despersonalização, bem visível quando não é o meu nome que permite encontrar a minha ficha, mas o número de contribuinte!
Ao contrário dos “inteligentes” que, em breve, farão a antevisão do que vai passar-se, eu não faço ideia do que vai suceder. Mas que muita coisa vai mudar, isso vai!
Irão seguir-se negociações que não serão fáceis, nas quais espero a UE saiba olhar-se como o todo que uma parte quer deixar e não o contrário, assuma o seu estatuto e entenda, finalmente, os riscos dos erros que tem cometido.
Após o “brexit”, vai ter de ser invocado o artigo 50 do Tratado de Lisboa que prevê um prazo de dois anos para a negociação da saída de um Estado-membro do bloco europeu, processo que Cameron não quis comandar e, por isso, se demitiu.
Assinado a 13 de Dezembro 2007, e em vigor desde 01 de Dezembro de 2009, o Tratado de Lisboa que emendou o Tratado da União Europeia e o Tratado sobre o Funcionamento da UE prevê, pela primeira vez, de forma explícita no seu artigo 50, a possibilidade de qualquer Estado sair da forma voluntária e unilateral da União.
É o que vai suceder com a Grã-Bretanha.
E depois, quem vai seguir-se?

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