Foi, sem a menor dúvida, uma manifestação
grandiosa em que o repúdio por um acto ignóbil foi evidente, porventura nem
sequer tão grande quanto a repugnância que causou mereceria, porque a vida é um
bem absoluto, contra o qual é criminoso atentar, seja por qual razão for.
Por isso, o massacre na redacção do Charlie
Ebdo é, pura e simplesmente, condenável.
Mas creio que valeria a pena reflectir
sobre ele para lá das intenções explícitas da manifestação que, publicamente, o
condenou ou, a não ser assim, de pouco me parece ter valido a pena fazê-la e
ficarmos por aí.
Estou seguro de que não serei o único a
pensar deste modo, por mais que se fale de uma tolerância que me parece egoísta
quando se exige dos outros mesmo quando a não pratiquemos.
Quis saber o que, por aí, se diz e, nas
crónicas que tenho lido, encontrei uma afirmação que me parece muito importante
reter “o direito a viver a nossa
espiritualidade sem a impor a outros e respeitando a dos outros” porque é a
chave da reflexão à qual proponho que cada um se entregue para que a grandiosa
manifestação faça sentido.
Mas desejei, também, saber como são os
célebres "cartoons" publicados no Charlie Ebdo que nunca havia visto e, francamente,
senti-me profundamente chocado, desrespeitado até, por muitos dos que vi,
precisamente porque não respeitam a minha espiritualidade, assim como outras
que, tal como a minha, são respeitáveis também. Mas sou tolerante, apesar da reciprocidade
que os cartoons não respeitam e menos ainda quando, depois de tantos inocentes
que morreram sem imaginar porque, o próximo número do Charlie Ebdo trará mais “caricaturas
de Maomé”, como já vi afirmado!
O que é, afinal, a tolerância?
As questões não se resolvem
somente pela tolerância, seja ela o que for, porque a tolerância não pode
deixar de ter limites que, se ultrapassados, pervertem o seu próprio sentido.
Por isso, melhor será que se evite ter de apelar a uma “virtude” que não é,
com toda a certeza, a que a natureza humana mais convida a praticar.
Estou, incondicionalmente, ao lado dos que
repudiam extremismos e actos violentos, assim como estou, definitivamente, ao lado
dos que respeitam os outros para que a tolerância seja cada vez menos necessária.
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