Quando, ainda muito novo, lia anedotas
sobre o que seria a vida lá para 1950, o “engarrafamento” definitivo que o
aumento acelerado de tráfego fazia temer, a mesa com mais remédios e
suplementos alimentares do que comida e outras mais, estava longe de pensar que
disso me iria rir ainda em 2015! Era um ano ainda tão distante quando o século
XX parecia estar no seu auge que, de modo algum, podia entrar nas contas de
quem então vivesse.
Na realidade, talvez pela pouca atenção que
lhe dedicamos, o futuro acaba sempre por não ser aquilo que pensámos que seria.
É por isso que tenho as minhas bem fundadas
dúvidas de que, também agora, o futuro que sonoramente acolhemos nas
manifestações festivas que a chegada de um novo ano sempre inspira, seja o futuro
feliz que desejamos.
Tê-lo-á sido no passado? Agora, será melhor
ou pior?
Dependerá dos conceitos que tivermos sobre
o que isso seja. Mas duvido que, por muito tempo mais, as circunstâncias nos consintam
a esperança de poder continuar a fazer crescer o nível de consumismo que tanta
gente faz feliz mas que prejudica, de um modo cada vez mais evidente, as
condições sem as quais a qualidade de vida nem sequer existe! E não haverá vida
sem a qualidade que permite que a haja.
Infelizmente, não espero dos políticos,
aqueles a quem, tantas vezes de olhos fechados, confiámos o nosso destino na
entrega do poder que, talvez por ironia, dizem ser nosso, que acabem com os
jogos de poder e com as atitudes de satisfação pessoal que, como dizem aqueles
que sabem, estão a por em risco o futuro de todos nós.
Do muito que já vimos na queda de ídolos
perante os quais, rendidos ao seu sucesso, vergávamos a cerviz, pouco ainda nos
garante a limpeza da podridão que faz deste nosso mundo um lugar difícil para a
maioria de nós viver.
Uma vez mais, como sempre tenho visto ao
longo da minha vida, não espero que alguma mudança séria aconteça sem aquele
embate forte que, com as “estrelinhas” que sempre nos faz ver, produza a luz
que clareie o que a cegueira estúpida antes nos ocultou.
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