De
uma crónica de Daniel Oliveira, a propósito dos consensos que, pelos vistos,
divergências insanáveis não consentem, retirei estes pedaços com os quais quase
me apetecia concordar, mas não concordo:
“Quem resume o debate sobre a crise à forma
não deve esperar conteúdo. Pede encenação, tem encenação.
Quem
quer mais da política que o jogo e a aparência, gosta de gente inteligente, com
cultura e memória. Gente que conheça a história e saiba tirar dela a
experiência que o tempo que a vida nos dá não nos pode garantir….”
A
verdade é que continuo a ouvir falar de crise e não a vi, ainda, definida de um
modo claro. Ninguém me disse, ainda, o que, de facto, ela é!
Começou
com a famosa “bolha da construção” nos Estados Unidos ou começou, antes disso, com
as falências estrondosas de companhias e de bancos de cuja solidez ninguém
duvidava? Que influência teve todo o “lixo tóxico” que a avidez de lucros e a
insensatez dos ávidos foram acumulando ao longo de muito tempo?
Será
esta crise apenas mais uma ou, em vez disso, será o acumular das pontas soltas
que foram ficando das outras que, ao longo de décadas, aconteceram, formando assim
como que a “bolha das crises” que, mais cedo ou mais tarde teria de rebentar?
Pois,
é da forma da crise que tenho ouvido os economistas falar e procurar, na
memória das experiências das crises do passado, as soluções que não encontram.
Por
isso, retenho, do que disse Daniel de Oliveira, a primeira das frases que
citei: “quem resume o debate sobre a
crise à forma não deve esperar conteúdo”. E, nisso, tem toda a razão na forma
como o diz mas não no modo como trata a questão pois, de seguida, fala da
experiência do passado, de gente que conheça a História e dela saiba tirar a
experiência que o nosso curto tempo de vida nos não dá.
Mas
creio que restringe a memória a uma História curta demais para a experiência de
que necessitamos. A História que nos pode ajudar vai muito para além do tempo
desta “economia” em que se insere a “crise” que, afinal, a história das crises
não faz compreender nem dá experiência para resolver. A não ser assim, não
seria já esta “crise” mais longa do que os intervalos entre as outras que a
antecederam e bem mais profunda e mais ampla do que todas as demais.
Os
factos sugerem-nos, pois, que pensemos se o tempo que vivemos é de crise
económica ou de crise civilizacional como outras que a Humanidade já viveu e
profundas mudanças provocaram.
Penso
que esta será a dimensão histórica certa para reflectir sobre o conteúdo da
“crise” cuja solução não passa pelas atitudes que a ideologia política que
conheço a Daniel de Oliveira e mesmo outras preconizam.
Mais
cedo ou mais tarde haveremos de compreender a essência desta “crise” que não
encontrará inspiração para uma solução definitiva numa experiência histórica limitada.
Seja
como for e quanto a Portugal, será sempre necessário este caminho de
reajustamento até uma economia interna equilibrada que, por muito que nos
custe, significa um modo de vida também equilibrado e, nestes primeiros tempos,
difícil e cheio de carências de que a anterior “superabundância” é,
naturalmente, a causa.
Mas
não se pode descurar a preparação do futuro para o que são inevitáveis os
consensos que as ideologias e os interesses partidários atrapalham porque é de amplo conhecimento histórico e de conhecimento científico sobre o mundo em que vivemos que
necessitam.De falatório já basta!
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