ACORDO ORTOGRÁFICO

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quarta-feira, 19 de março de 2014

FALAR É FÁCIL. COMPREENDER, NEM TANTO!

De uma crónica de Daniel Oliveira, a propósito dos consensos que, pelos vistos, divergências insanáveis não consentem, retirei estes pedaços com os quais quase me apetecia concordar, mas não concordo:
Quem resume o debate sobre a crise à forma não deve esperar conteúdo. Pede encenação, tem encenação.
Quem quer mais da política que o jogo e a aparência, gosta de gente inteligente, com cultura e memória. Gente que conheça a história e saiba tirar dela a experiência que o tempo que a vida nos dá não nos pode garantir….”
A verdade é que continuo a ouvir falar de crise e não a vi, ainda, definida de um modo claro. Ninguém me disse, ainda, o que, de facto, ela é!
Começou com a famosa “bolha da construção” nos Estados Unidos ou começou, antes disso, com as falências estrondosas de companhias e de bancos de cuja solidez ninguém duvidava? Que influência teve todo o “lixo tóxico” que a avidez de lucros e a insensatez dos ávidos foram acumulando ao longo de muito tempo?
Será esta crise apenas mais uma ou, em vez disso, será o acumular das pontas soltas que foram ficando das outras que, ao longo de décadas, aconteceram, formando assim como que a “bolha das crises” que, mais cedo ou mais tarde teria de rebentar?
Pois, é da forma da crise que tenho ouvido os economistas falar e procurar, na memória das experiências das crises do passado, as soluções que não encontram.
Por isso, retenho, do que disse Daniel de Oliveira, a primeira das frases que citei: “quem resume o debate sobre a crise à forma não deve esperar conteúdo”. E, nisso, tem toda a razão na forma como o diz mas não no modo como trata a questão pois, de seguida, fala da experiência do passado, de gente que conheça a História e dela saiba tirar a experiência que o nosso curto tempo de vida nos não dá.
Mas creio que restringe a memória a uma História curta demais para a experiência de que necessitamos. A História que nos pode ajudar vai muito para além do tempo desta “economia” em que se insere a “crise” que, afinal, a história das crises não faz compreender nem dá experiência para resolver. A não ser assim, não seria já esta “crise” mais longa do que os intervalos entre as outras que a antecederam e bem mais profunda e mais ampla do que todas as demais.
Os factos sugerem-nos, pois, que pensemos se o tempo que vivemos é de crise económica ou de crise civilizacional como outras que a Humanidade já viveu e profundas mudanças provocaram.
Penso que esta será a dimensão histórica certa para reflectir sobre o conteúdo da “crise” cuja solução não passa pelas atitudes que a ideologia política que conheço a Daniel de Oliveira e mesmo outras preconizam.
Mais cedo ou mais tarde haveremos de compreender a essência desta “crise” que não encontrará inspiração para uma solução definitiva numa experiência histórica limitada.
Seja como for e quanto a Portugal, será sempre necessário este caminho de reajustamento até uma economia interna equilibrada que, por muito que nos custe, significa um modo de vida também equilibrado e, nestes primeiros tempos, difícil e cheio de carências de que a anterior “superabundância” é, naturalmente, a causa.
Mas não se pode descurar a preparação do futuro para o que são inevitáveis os consensos que as ideologias e os interesses partidários atrapalham porque é de amplo conhecimento histórico e de conhecimento científico sobre o mundo em que vivemos que necessitam.
De falatório já basta!


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