É óbvio que é quem esteja
por dentro dos assuntos que melhor pode avaliar as consequências das atitudes
que se tomem. Disto ninguém terá dúvidas. E Passos Coelho reagiu ao manifesto
dos setenta notáveis com evidente desagrado, referindo as consequências
negativas que tal atitude poderá ter nos mercados, com reflexos nos juros da
dívida que têm vindo a decrescer sucessivamente e permitiam antever valores
ainda mais baixos a quando da saída da Troika. Mas será que, depois deste
manifesto, essa tendência de descida continuará? É o que veremos.
Como irão os mercados interpretar
esta atitude? Verão nela o modo como a Oposição e, com ela, o próximo Governo,
vai actuar no futuro?
Os mercados sabem, com certeza,
fazer as contas que os “notáveis” fizeram relativamente à capacidade de
solvência da dívida portuguesa e, por isso, saberão avaliar a situação em que
não estarão, por certo, dispostos a perder dinheiro. É, por isso, que as coisas
devem fazer o seu percurso normal, conduzidas por quem disso tem a
responsabilidade, sobretudo quando se trata de escolher a ocasião para negociar
vantagens.
Seria esta a oportunidade
ideal para negociar a reestruturação da dívida? Esta é a pergunta certa numa
questão que, embora contabilística, tem contornos políticos delicados que, por
isso, devem ser tratados com os cuidados que merecem, quanto ao modo e à
oportunidade.
Como ontem disse, não
acredito que o Governo não tenha em mira melhores condições para o pagamento da
dívida e não tenha planeado o que fazer para a tornar menos penosa quando tal
for viável.
Torna-se, por isso, um
pouco estranha a oportunidade que os “notáveis” encontraram para dar á luz um
manifesto em que a reestruturação da dívida é pedida como urgente, precisamente
cerca de três meses antes da saída da Troika e do regresso aos mercados!
Uma certeza me fica de
tudo isto, a de que, não tiveram os notáveis, ou alguns deles, em conta os
efeitos adversos que a sua atitude poderia vir a ter ou, se a tiveram, que é
uma mensagem de confronto com o Governo a que passaram para o mundo que poderá
dela intuir que os desenvolvimentos políticos previsíveis em Portugal poderão
vir a constituir riscos que os mercados poderão não estar dispostos a correr.
Em vez disto e conforme
sempre pensei, gostaria de ver ser montada uma estratégia nacional, com a
qualidade e com o recato que todas as negociações requerem e no qual se
envolvessem os principais partidos, assim se criando o consenso de governação em
vez do consenso de oposição que os notáveis conseguiram.
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